Lemos estarrecidos nos noticiários que o atual Presidente do Brasil, quer, a todo custo, um dos seus filhos como Embaixador nos Estados Unidos. Recomendaria ao Governante a leitura de dois livros interessantíssimos que talvez abrissem mais sua mente e o levassem a não mais tomar atitudes esdrúxulas: ‘Bandeirantes e Pioneiros’ do escritor e diplomata Vianna Moog e ‘Raízes do Brasil’ do historiador Sérgio Buarque de Holanda.
Ainda poderia sugerir, caso tenha alguma dificuldade na leitura, que se concentre no capítulo deste livro intitulado ‘Homem cordial’. Ensaio notável, que trata da cordialidade do povo brasileiro, porém, cordialidade no sentido que remete ao coração (cor, cordis), ou seja, o jeitinho brasileiro de fazer as coisas, baseado na camaradagem, na amizade. Essa cordialidade brasileira, que a princípio seria algo positivo, pode tornar-se negativa, por sair do âmbito privado para o público. Sempre queremos beneficiar os mais próximos, “os de casa” mesmo que isso prejudique a coletividade. O tipo cordial é individualista, avesso à hierarquia, arredio à disciplina, desobediente a regras sociais e afeito ao paternalismo e ao compadrio. Evidentemente, não se trata de um perfil adequado à vida civilizada numa sociedade democrática. Mas é o que se encontra com frequência no nosso meio, infelizmente.
Por fim, se o Presidente gostasse de literatura, ainda lhe indicaria, um terceiro livro, que está completando 35 anos do lançamento, Marrons Crepons Marfins, da poeta e jornalista Marize Castro, publicado em 1984.
A história de Marrons Crepons Marfins, começaria em 1983, ainda inédito, quando venceu o Prêmio Galux de Poesia, promovido pela Fundação José Augusto. A comissão do concurso era composta por ninguém menos que Luís Carlos Guimarães, Diva Cunha e Vicente Serejo. O livro começou a repercutir meses antes do lançamento oficial e em 31 de julho de 1984, Cassiano Arruda Câmara, na sua tradicional coluna Roda Viva, também exaltou as qualidades literárias de Marize Castro, corroborando com o que falou Nei Leandro de Castro em apresentação do livro: “Marize é o grande nome da poesia norte-rio-grandense ao lado de Myriam Coeli e Zila Mamede”.
Marrons Crepons Marfins foi lançado no Solar Bela Vista, numa noite de sexta-feira, às oito horas, o calendário registrava a data 14/12/1984. Parceria da Fundação José Augusto e Editora Clima, o lançamento do livro foi um dos mais badalados e comentados da cidade. Toda a intelectualidade natalense aplaudiu e recebeu com entusiasmo a jovem poeta estreante.
Na edição do jornal “O Poti” de 13 de janeiro de 1985, o escritor e crítico literário José Jacome Barreto publicou análise positiva sobre o livro afirmando que Marize era a definitiva revelação da poesia produzida em solo norte-rio-grandense, trazendo em seus versos, “talento, coragem e muita autenticidade”. Ainda nessa mesma década, vários poemas de Marize Castro foram publicados país afora, como por exemplo, no Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro, além de merecerem uma indicação de leitura no Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo, muito simbólico para nós.
Reconhecida como uma das melhores poetas nascidas no Rio Grande do Norte, Marize Castro faz parte de uma geração que renovou a nossa tradição poética, ao lado de Socorro Trindad e Diva Cunha, tornando-se uma respeitável expressão da poesia brasileira dos últimos trinta anos.
Aqui no Estado, foi esse trio de poetas que, praticamente, deu início a uma intensa produção, valendo um grito de liberdade dentro das propostas do movimento feminista, em face da injusta situação da mulher na sociedade. Tendo sua “liberdade” cerceada por anos de predomínio machista e silêncio, elas conseguiram finalmente espaço para falar de seus corpos, de seus desejos, de seus direitos, da forma que achavam mais conveniente. Além de quebrarem um paradigma, pelo menos a nível local, expressaram o rompimento com o fazer poético provinciano, numa perspectiva de independência literária da mulher.
As três escritoras foram pioneiras, de forma mais explícita, no Estado, deixando de lado temáticas sentimentais – o amor, o sertão, a solidão, a família – para tratar em seus versos, da emancipação da mulher.
Socorro Trindad deu início, pelo menos com mais visibilidade, a esse processo de transição, na poesia potiguar, com uma poesia mais libertária, mais ousada, digamos assim, o qual vai se concretizar com Marize Castro, na época com apenas 21 anos de idade, em seu livro de estreia, e Diva Cunha com ‘Canto de Página’ (1986) trazendo a mesma proposta, onde é visível a influência de algumas poetas daquela geração, como, por exemplo, Ana Cristina Cesar.
Nas primeiras páginas de ‘Marrons Crepons Marfins’ de Marize fica evidente a marca de um trabalho sob nova perspectiva poética, onde a mulher não vai mais usar seus versos como se fossem anotações intimas, mas, sim, como um grito de liberdade. O livro tem bastante ironia, militância feminista, e claro, algumas dores e angústias do eu-lírico.
Jornalista e editora, além de poeta, com textos publicados em revistas nacionais e estrangeiras, Marize Castro começou suas atividades literárias bem jovem, no início da década de 1980, participou da Comissão de Literatura do Festival das Artes do Natal, publicou uma espécie de panfleto poético “À luz de spots”, anos depois já dentro da sua atuação profissional, foi editora do jornal “O Galo” entre 1988/1990, conseguindo manter regularidade na circulação do jornal, com excelente conteúdo de interesse local e nacional, o que a levou a receber Prêmio Incentivo à Cultura da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, entregue na Academia Brasileira de Letras.
Marize Castro destaca-se, sobretudo, pela sua produção poética, da qual fazem parte, além da obra de estreia, os seguintes livros: ‘Rito’ (1993), ‘Poço. Festim. Mosaico’, publicado em 1996 (livro bem diferente dos outros trabalhos da poeta, pois sua linguagem é muito próxima da prosa), ‘Esperado Ouro’ (2005), ‘Lábios-Espelhos’ (2009), ‘Habitar Teu Nome’ (2011) e ‘A Mesma Fome’ (2016). Está provada a sua excelente produtividade nesses seus 35 anos de poesia.
Um exemplo da poética de Marize Castro a seguir:
Nua, às três da madrugada,
ainda escavo minas
instaladas em minha alma.
Nesses versos, ao utilizar como título a palavra “Predestinada”, o eu-lírico é um ser limitado ao destino convencional da mulher, que é servir ao homem e seus desejos sexuais. A autora joga com palavras, no intuito de demarcar a presença feminina, direcionada ao anseio de não reprimir seus desejos.
Marize Castro descreve circunstâncias várias em outros versos que mostram partes do corpo feminino supostamente postas em contato intenso, e assim denota quanto o erotismo feminino evoluiu e destacou-se na poesia norte-rio-grandense.
A poeta nascida em Natal, no início da década de 1960, vai ultrapassar as barreiras da província e transformar-se numa intérprete que representa a mulher brasileira, dentro do universal com seu valor existencial, na revalorização totalizante do segundo sexo.
Ao longo dos anos iria surgir uma geração de poetas todas praticamente recebendo influências, sobretudo de Marize, que se tornou uma espécie de ícone da poesia produzida em solo norte-rio-grandense.
Voltando ao Senhor Presidente, dedicamos-lhe um poema do livro de estreia da autora:
Não há de ser tragédia.
No máximo, comédia.
Um evento multicultural que vai destacar várias linguagens artísticas e valorizar os artistas do Rio Grande do Norte. Esta é a proposta do projeto Sarau Quinta das Artes que estreia no dia 27 de junho, às 14h, no auditório do IFRN Cidade Alta. Artes plásticas, audiovisual, dança, literatura, música e teatro promoverão no ambiente das instituições públicas de ensino, encontros de pessoas (professores, estudantes e comunidade em geral) que desejam dialogar, conhecer e compartilhar as diversas manifestações artísticas produzidas em terras potiguares.
Na primeira edição em Natal estão confirmadas a participação dos artistas Carlos Sérgio Borges (artes plásticas), Valério Fonseca com o curta-metragem Pegadas de Zila (audiovisual), a bailarina Rozeane Oliveira (dança), Junior Dalberto e Marize Castro (literatura), cantora Valéria Oliveira (música) e a atriz Luana Vencerlau, com o monólogo Ventre de Ostra (teatro).
De caráter itinerante, o Sarau Quinta das Artes circulará pelos municípios de Canguaretama (11.07), São Gonçalo do Amarante (25.07), Santa Cruz (08.08), Currais Novos (22.08) e Mossoró (12.09).
“Queremos fortalecer a identidade local e produzir um sentimento de pertencimento e um desenvolvimento da consciência crítica, por meio das artes”, observa Carla Alves, idealizadora do evento. As seis etapas do Quinta das Artes serão sediadas nos Institutos Federais das cidades selecionadas pelo projeto, e envolverão alunos da rede pública estadual, afora a comunidade estudantil dos Institutos Federais.
Na visão do produtor cultural e parceiro do Quinta das Artes, Aluizio Matias, todo o conceito do projeto parte do pressuposto de que conhecer a arte que é praticada na nossa sociedade, ou grupo cultural a que pertencemos, é fundamental para construirmos e valorizarmos a nossa própria identidade. “Essa é a grande missão desse projeto: engrandecer a cultura do Rio Grande do Norte; mostrar o artista, o trabalho autoral; aproximar e fazer íntima dos potiguares a cultura de sua terra natal”, ressaltou Aluizio Matias.
O Projeto Sarau Quinta das Artes foi viabilizado pela Lei Câmara Cascudo, do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, por meio da Fundação José Augusto (FJA), com o patrocínio da Cosern/Grupo Neoenergia. Conta, ainda, com a parceria do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e da Associação das Escolas Federais Industriais e Técnicas do Rio Grande do Norte (Assefit/RN), e o apoio da Servgráfica.
Nasceu em 1962, em Natal. Formado em Educação Artística pela UFRN, foi sob a orientação de Thomé Filgueira e Alcides Sales que realizou as suas primeiras exposições. Já contabiliza mais de 500 participações em mostras – entre coletivas e individuais – no Brasil e no exterior. Como cenógrafo, figurinista e aderecista, soma uma enorme produção para espetáculos da cidade. No Quinta das Artes, Carlos Sérgio apresentará a Coletânea Inéditos, que consiste em seis trabalhos em acrílica sobre tela.
O cineasta nasceu em Natal, mas foi no Rio de Janeiro que construiu a sua carreira. Passou pelo Tablado, Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Em seu currículo, contabiliza mais de 15 curtas-metragens, entre eles o poético Pegadas de Zila. Como ator, as suas participações mais recentes foram nas novelas Velho Chico e Apocalipse. Além do Rio, Fonseca morou em Roma, Londres e Cuba.
Bailarina e pesquisadora em dança, a olindense é uma das idealizadoras do Coletivo CIDA e faz parte do sarau Insurgências Poéticas. No Quinta das Artes, dançará o solo Fragmentações.
Nascido em 1961, em Natal, o dramaturgo, poeta e romancista é premiado internacionalmente. Dentre os feitos de destaque na dramaturgia, poesia e prosa, destacam-se as obras Borderline, Reféns nos Andes, Pipa Voada Sobre Brancas Dunas, A Barca de Caronte, Titina e a Fada dos Sonhos e Blattodea. Dalberto participará de um bate-papo, onde comentará o seu primeiro livro de poemas Leveza Infinita (2014).
A poeta natalense nasceu em 1962. Formada em Comunicação Social pela UFRN, trabalha com jornalismo cultural. É também editora de livros e produz as próprias obras, que saem pela Editora Una. Estreou em livro com o volume Marrons Crepons Marfins, em 1984. Depois, publicou Rito (1993), Poço. Festim. Mosaico (1996), Esperado Ouro (2005), Lábios-Espelhos (2009), Habitar Teu Nome (2011) e A Mesma Fome (2016), o qual será tema de debate no Sarau Quinta das Artes.
Nasceu em 1969, em Natal. Cresceu ouvindo cantores populares como Ângela Maria, Clara Nunes, Luiz Gonzaga, entre outros. Em sua adolescência, teve contato com a obra de Elis Regina, João Bosco, Edu Lobo e Chico Buarque. Já se apresentou em projetos e circuitos, como o Seis e Meia (RN e PB), Circuito Cultural Banco do Brasil, Cosern Musical, a Feira da Música (CE), Projeto Cultural do Banco do Nordeste (CE) e o MPB Petrobras. Entre os registros fonográficos, destacam-se Impressões (1997), Valéria (2001), Lanterna do Futuro (2001), Canto Livre (2002), Imbalança (2004), Leve Só as Pedras (2007) e Em Águas Claras (2013). Apresentará no Quinta das Artes o pocket show Sacrário.
Atriz paraibana radicada em Natal. O início foi ainda na Paraíba no grupo TEABA. Em Natal continuou seu trabalho em grupos sediados no saudoso Teatro Municipal Sandoval Wanderley, ganhando o prêmio de melhor atriz no primeiro festival de artes cênicas. Os mais recentes trabalhos foram: Os Gigantes da Montanha, direção de Francesca Persico (espetáculo realizado no período de residência na Itália), Dom Casmurro, pela Cia. Monicreques, Os Perigos de Vitória e A Estrada, ambos com direção de Henrique Fontes, e A Barca de Caronte, dirigido por Diana Fontes, além do monólogo Ventre de Ostra.
Projeto Sarau Quinta das Artes
Auditório do IFRN – Cidade Alta. Avenida Rio Branco, 743.
Dia 27 de junho de 2019.
De 14h às 17h.
Acesso gratuito.
A morte chega sob forma de asas,
às cinco e trinta da manhã no pátio desta casa.
Resta-me abraçá-la.
O dia luminoso aplaude o cortejo.
Eu e ela sombrias e felizes
aceitamos nosso destino:
sépia, secreto, inadiável.
Eu e ela, mães dos nossos ninhos,
revelamo-nos: dois antigos e livres pássaros.
Sozinhos.
A segunda edição do Sarau Insurgências Poéticas, temporada de verão, acontece nesta quarta-feira a partir das 19h, no Bardallos Comida e Arte. Artes e vozes unidas para homenagear a poeta Marize Castro.
Vozes femininas irão passear entre a vasta obra de uma das mais importantes poetas do RN. E a homenagem estará nas vozes de outras poetas grandiosas, da uma geração anterior: Ada Lima, Marina Rabelo e Michelle Ferret.
A bailarina e pesquisadora de dança, Rozeane Oliveira, fará seu esquete. E como trilha sonora, outra decana, desta vez na seara musical, a cantora e compositora Valéria Oliveira.
Poeta em tom maior, expert em comunicação, jornalista, editora e uma das fortes vozes femininas da poesia brasileira contemporânea, Marize Castro nasceu em Natal. Formou-se em Comunicação Social pela UFRN.
Durante o biênio 1988/1990, foi editora do jornal cultural O Galo (da Fundação José Augusto); manteve com regularidade sua circulação nas principais cidades do país, reunindo em suas páginas o que de melhor e mais significativo havia nas letras norte-rio-grandenses e nacionais.
São sete livros de poesia publicados: Marrons, Crepons, Marfins; Rito; Poço. Festim. Mosaico; Esperado Ouro; Lábios-espelhos; Habitar Teu Nome; A Mesma Fome;
#Poesia Ada Lima, Marina Rabelo, Michelle Ferret e Thiago Medeiros;
#Dança Rozeane Oliveira;
#Música Dj Macacco; Valéria Oliveira;
#FeiraCriativa Estúdio Carlota e Insurgências Poéticas;
Insurgências Poéticas homenagem a Marize Castro
Quarta 16/01
19H
Bardallos Comida e Arte (Centro Histórico de Natal)
Entrada R$10
Informações e reservas: 986270893
Se este blog adiantou que o novo diretor geral da Fundação José Augusto seria indicado pelo vereador Raniere Barbosa, e o que jornalista e produtor Toinho Silveira teria negado o convite, o nome certo permanecia uma incógnita. Pois está praticamente oficializado o nome do produtor cultural Amaury Jr. para o cargo deixado pela professora Isaura Rosado. E mais: o que se cogita é que o novo diretor da pasta estadual da cultura chegará com equipe completa, sacando nomes experientes do órgão. De cá, não falo mais nada. A notícia merece tão somente uma nota. Mas boa sorte… a todos!
Por aqui também temos novidade. Se o músico e professor Giancarlo Vieira estreou essa semana neste Papo Cultura a coluna Discos que Mudaram Minha Vida, amanhã é a vez do bardo jornalista, poeta e artista plástico Eduardo Alexandre colocar seus textos de cunho histórico e folclórico para engordar nosso time de bambas.
Um dos mais importantes festivais indie pop do país comemora 20 anos em 2018 e está preparando uma grande festa! Com data marcada para os dias 12 e 13 de outubro, no estádio Arena das Dunas, em Natal-RN, o MADA (abreviação de Música Alimento da Alma) anuncia hoje mais dois nomes do line up, Larissa Luz e ÀTTØØXXÁ . Além disso, também inicia a venda do primeiro lote com ingressos a partir de R$50,00. Cordel do Fogo Encantado, Jade Beraldo, Baiana System e Nação Zumbi também já estão confirmados.
Após estreia da temporada 2018 com trabalho exclusivo da cantora e compositora, Ângela Castro em “Terra Pura”, o projeto Som sem Plugs – SSP segue com sua missão de difundir e propagar as riquezas musicais do Rio Grande do Norte através da web. Nesta segunda-feira (21), quem desembarca nas plataformas digitais do SSP é o cantor potiguar, Mago da Silva. Com gravação realizada na Redinha, nas proximidades do Rio Potengi e do mar, utilizando a parte de baixo da Ponte Newton Navarro como cenário, Mago da Silva (cavaquinho e voz) é acompanhado por Diego Brasil (violão e voz), Dinei Teixeira (percussão e voz) e Amaro Trompa (trompete) em produção exclusiva da equipe do SSP no clipe da canção, “De Onde vem o caos”.
Foram prorrogadas as inscrições para o IV Prêmio Cepe Nacional de Literatura e para o I Prêmio Cepe Nacional de Literatura Infantil e Juvenil. O novo prazo segue até o dia 31 de maio. Os concursos, realizados pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), asseguram premiação total no valor de R$ 80 mil e publicação das obras vencedoras. Para facilitar o acesso dos escritores, todo o processo de inscrição e envio de documentação será feito pela internet. Os editais com todas as informações sobre os prêmios estão disponíveis para consulta AQUI.
E para não dizer que não falei de flores, segue abaixo o resultado da parceria entre a poeta Marize Castro e o músico e também poeta Wescley Gama. Para um fim de noite mais ameno e bonito.
Natal: em cada esquina hoje há uma poeta, em cada canto, uma feminista orgulhosa de si, do espaço ocupado a duras penas e por cima de preconceitos ora camuflados, ora escancarados, ora até despercebidos pelo inconsciente machista – herança milenar.E mesmo na poesia essa dor causou chagas. Quão reprimidas foram. Por que temos tão poucas quando os poetas apareceram e hoje temos tantas poetisas potiguares? Vontade reprimida de mostrar sentimento!
Mas o Rio Grande do Norte se orgulha da história de pioneirismos femininos única no Brasil. Inclusive do feminismo, com Nísia Floresta. E ainda o primeiro voto feminino, a primeira prefeita eleita da América Latina (Alzira Soriano), primeira vereadora (Joanna Bessa) e primeira deputada estadual (Maria do Céu), maior romanceira do mundo (Dona Militana) e até a primeira professora com síndrome de down do Brasil (Deborah Seabra).
E se poetisas há pelos quatro cantos do Brasil e do mundo, o Estado potiguar tem mais e melhor por metro quadrado. Abaixo segue pequena mostra desse talento. De autoras vivas, de autoras saudosas. Poesias publicadas em livros ou no universo solto da internet. Poesias entre gerações. Poesias femininas, poesias feministas, mas todas poesias. Todas mulheres-poesias.
————
LINHAS E VÃOS
A minha pequena amiga cresceu.,
tornou-se esposa e mãe
com açúcar e radiância.
Entre o destino e a arte
há um vão – observe –
como entre as linhas, mesmo as da mão.
A minha pequena amiga me escreve
linhas e vãos, em papel com adereço.
Amoleço. Do mar que habito eu invento
a seca praça da Sé, onde mora a sua casa.
Lá, o amor é porto para nenhuma nau.
A minha pequena amiga não navega.
Tem os pés no chão e um automóvel.
(Livro: O Caos no Corpo, 2010)
————
O pânico que me escorre das mãos
não é outro
senão
o de ter que ancorar navios
no vazio.
————
A MISTURA DOS DIAS
Fez-se uma soma de sonhos:
pedaços enfileirados de coisas supérfluas,
não fundamentais aos demais dias.
Foi uma manhã desse modo como receituário botânico:
porções verdes: palhas brancas e azuis,
necessárias à cura.
Depois…tudo assentou-se
sobre os pontos dos bilros, e os marcadores do tempo,
ocuparam seus lugares de origem.
————
CORTEJO
A morte chega sob forma de asas,
às cinco e trinta da manhã no pátio desta casa.
Resta-me abraçá-la.
O dia luminoso aplaude o cortejo.
Eu e ela sombrias e felizes
aceitamos nosso destino:
sépia, secreto, inadiável.
Eu e ela, mães dos nossos ninhos,
revelamo-nos: dois antigos e livres pássaros.
Sozinhos.
(Livro: Lábios-Espelhos, 2009)
————
SEGREDOS
as operárias
atravessam a rua
com seus cabelos vermelhos.
disfarçam
planos incendiários
silêncios estratégicos
sonhos verdejantes.
quando voltam pra casa,
os companheiros
permitem toda ausência
e pudor.
o que as operárias
guardam no fundo
do formigueiro
ninguém sabe,
mas é coisa muito grande:
um esqueleto,
uma flor
————
Mulheres são trágicas
Mulheres são cômicas
Mulheres são tétricas
Mulheres são jubilas
Mulheres são góticas
Mulheres são plânulas
Mulheres são púticas
Mulheres são ângelas
Mulheres são cáusticas
Mulheres são sêdicas
Mulheres são vândalas
Mulheres são óperas
Mulheres são úteras
Mulheres são sáfaras
Mulheres são sádicas
Mulheres são másocas
Mulheres são mátricas
Mulheres são abórticas
Mulheres são cálidas
Mulheres são glácidas
Mulheres são tímidas
Mulheres são bélicas
Mulheres são sônhicas
Mulheres são algébricas
Mulheres são cúmplices
Mulheres são trânsfugas
Mulheres são fêmicas
Mulheres são mênicas
Mulheres são lúnicas
Mulheres são sômbreas
Mulheres são únicas
Mulheres são híbridas
Mulheres são fraternas
Mulheres são infernas
Mulheres são polêmicas
Mulheres são poêmicas!
(poema inédito)
————
RENASCIMENTO
A Olegária Siqueira
Manhã de rosas. Lá no etéreo manto,
O sol derrama lúcidos fulgores,
E eu vou cantando pela estrada, enquanto
Riem crianças e desabrocham flores.
Quero viver! Há quanto tempo, quanto!
Não venho ouvir na selva os trovadores!
Quero sentir este consolo santo
De quem, voltando à vida, esquece as dores.
Ouves, minh’alma? Que prazer no ninhos!
Como é suave a voz dos passarinhos
Neste tranqüilo e plácido deserto!
Ah! entre os risos da Natura em festa,
Entoa o hino da alegria honesta,
Canta o Te Deum, meu coração liberto!
(Livro: Horto, 1900)
————
Pela manhã a pressa
livrou-me da poesia
com os artelhos contraídos
três ou quatro atentados
fiz em versos
atirador de pouco prumo
minha seta bêbada
o vento leva
(Livro: Resina, 2009)
————
medindo azul
apoio em minhas costas
metade da carcaça
toda fodida da baleia
e tomamos sol juntas
eu caminhando vestida de peixe
em direção ao fim da praia,
ao palco onde os pássaros descansam
no cair do dia
e o filhote dela exercendo um peso enorme
para dentro de mim
seus olhos caçando mamãe no oceano
seus olhos caçando mamãe,
caçando oceano
e depois caçando azul, medindo azul
que horas são, é baixamar
deslizar como desliza a comida na garganta
voltar voltar voltar voltar
caçando desesperadamente um pescador
que queira experimentar seus anzois
eu não, anzol eu não tenho,
digo ao abrir as pernas e devolver
o filhote ao mar
————
VALQUÍRIA
Tua alegria está rondando meus mistérios
Na penumbra em que estamos
Escuto teus passos docemente
Pisas sonhos escuros
Vences os fogos noturnos
E um pai te desafia com uma lança
Finjo que estou ferida, adormecida
Aguardo que ouses tocar-me e que me acordes
Para que eu possa cavalgar
Dentro da tua vida
(Livro: poemas inéditos e outros escolhidos, 2010)
————
AVIADOR
Por ocasião da viagem aérea de Sacadura e Coutinho, de Portugal ao Brasil.
Alonga o voo. A imensidão recorta.
Domina assim o espaço, o Azul domina,
Já que o seio da terra não comporta,
O grandioso ideal que te fascina.
Sonha! Teu próprio sonho te transporta.
Acima de ti mesmo – Asas empinam!
Es quase um Deus! Ser homem pouco importa.
Se a conquista do céu, faz-se divina.
Ser como as águias. Voa nas alturas.
Transpõem o etéreo, as siderais planuras,
Da Via Láctea a célica mansão.
Sobe ainda mais, num frêmito inaudito.
-Percorre as cordilheiras do infinito.
Heroico bandeirante da amplidão.
————
CABALA
Quando arqueio as costas
vibro igual violino
e mesmo as amarras
mordaças e estacas
não me bastam.
A voz, a tua, arrepia
as porcelanas, os quadros
e estremeço
onde o corpo de contrai.
Meu horror é teu mandamento
consentido em meu corpo inteiro.
Se preciso eu uivo, sibilo
acendo tua vela, teu pavio, tua adaga
porque és armadilha de cilício
no meu ventre.
(Livro: Corpo Vadio, 2015)
————
CASA
vivo pra morrer de saudade
e todas as noites parecem pardas
quase incendiárias
com seus ocres e mel
escorridos pelas paredes das calçadas
Adoçam o céu
invertem as incertezas
desnuda vulcões
e trazem as erupções para dentro
do outro lado
Quase sempre a mesma calçada
na beira dessa casa em que ninguém se muda
————
MORTE NO AÇUDE
O açude sangra
sangra o coração no salto
vencida a lâmina
parede de espuma e corte.
Os líquidos trabalhados
em nuvens e chuvas
o inverno de entremeio:
açude cheio, sol e salto.
Do alto a água é curva
poço entre serrotes
o pulo abraça o mergulho
rede retesada de brilhos
recolhe do homem que salta
o alvoroço da morte.
(Livro: Pesos e penas, 2011)
————
05. [cântico do não ser]
eu já me esqueci de como se desabafa
como se contata outro ser e diz o que se sente
eu já não sento nos sofás das casas
não peço limonada, nem para ser feliz
eu acho mesmo que me tornei um sujeito indefinido
fora da oração
apático, apartidário
mal apessoado e sem feição
em textos sem caixa alta, coleciono fracassos.
————
LÁGRIMAS
Lágrima!
Pérola salgada,
A rolar, desesperada,
Pelos sulcos da face.
Amálgama de sal e água,
A rolar, sempre sentida,
Pelo salso mar da mágoa!
————
ESTRABISMO
Estrabismo
olhar atravessado
tudo eufemismo
para mudar de lado
(Livro: Vento da tarde, 2013)
————
na madrugada
a palavra não descansa
surge na mente
me obriga a levantar
ela quem manda
sou apenas
um meio
para esse todo
que entre versos
dança
palavra tem vida noturna
agitada
————
CANTIGA XVIII
Por que ciência gaia
Se tão triste é amar?
Tantas cordas tange
Neste violar,
Que viola, viola sou
Violada de amar.
Triste ciência gaia
Esta arremedilha
Afieni a viola
Caí na armadilha.
————
RESGUARDO
Na noite de me parir
minha mãe lavou uma bacia de roupas.
Depois que voltou comigo nos braços,
cozinhou para meu pai e meu irmão.
No seu resguardo, aprendeu sozinha a maternidade.
Juntas choramos os quarenta dias.
————-
RUMINAÇÕES—————–
—————-ABISMO QUE ATA E SEPARA
Anseios que espumam como água tocando em carbureto.
Como ventos que atiçam chamas óxidas.
…penduricalhos de emoções.
Discreta perturbação de maré baixa.
… Forno de barro o corpo humano se fez só.
O além, findado por limites da razão.
Comportas da alma, cerradas e umas outras arrombadas por——————-
—Vastos outros eus / mesma.
Inquebrável véu que cada ser transporta…
Chaves confusas no molho dos segredos do espírito.
Todo ser se faz revelação / pois toda alma é plástica, ossos, aura, carne,
emoções, plasma,
excrementos e possessão.
Par’além de enigmático / sexo de lábios rubros e rósea cor.
A profunda visão dos confins dos desejos.
Prisma em chamas a crepitar.
É da raça a mais rica revelação.
O alicerce.
A própria essência sublime e absoluta da humana existência.
Dela é a mais pura, ofuscante e crua linhagem de iluminação.
Ser devoração e criação \ união e partilha…
Uma fêmea deseja e vai buscar.
É da beleza a mais bruta expressão.
E-mail: Sergiovilarjor@gmail.com
Celular / Zap: (84) 9 9929.6595 Fale Conosco Assessoria Papo Cultura