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Livro conta a história de Natal a partir da história dos seus bairros

Adendo do editor: Este livraço o qual espero há tempos, desde que Eduardo Alexandre me confidenciou o projeto, há bons anos, será lançado na outra sexta-feira, 28 de setembro, na Praça do Memorial Câmara Cascudo, Cidade Alta, a partir das 17h30 até 22h.

por Eduardo Alexandre Garcia

“O Universal é o que está diante de nós”.

O ‘Das lagoas azuis ao Ponto Negro, Minha Cidade Natal: Lugares – Gente – História’ não é um livro acadêmico. Para construí-lo, porém, vali-me, especialmente, de dois grandes referenciais de nossa bibliografia histórica: Luís da Câmara Cascudo e Itamar de Souza.

Montei em ombros de gigantes.

Pesquisei em muitos livros físicos; abri livros virtuais; visitei dezenas de blogues, páginas e sítios diversos, disponíveis em Internet. Analisei fotos. Busquei fontes. Conversei. Fui a campo.

O objetivo era o de contar a história da cidade do Natal através da história de seus bairros, em crônicas.

Crônica é gênero literário, aberto, liberto, e; História é ciência definida em moldes acadêmicos, fechados, limitados aos seus conformes.

Foi trabalho que me encomendou o amigo Zeca Melo.

Ele sugeria a História fundada em acontecidos, mas escrita com a liberdade do devaneio literário da crônica leve, breve, que pudesse trazer arte à identidade de cada item pautado e refletido da cidade.

À história em crônica de alguns bairros, somei deles a vivência de artistas ou personagens que neles fizeram suas trajetórias, ampliando à dimensão do apanhado, algo de mais íntimo que pudesse trazer poesia aos escritos.

À essa soma, adveio uma história dispersa e sub-reptícia da arte natalense.

Espero que a leitura agrade e mais e mais pessoas se interessem e se debrucem sobre essa história da cidade DO NATAL, cidade berço: de fato, poética, lendária, mágica, resultante de suas mais que quatro centenárias auroras.

Eu sei que existiu, mas não sei lhe dizer onde estava localizada a Rua da Aurora natalense.

321 páginas
R$ 80,00

******************

POR DALIANA CASCUDO

O precioso da História contemporânea é a documentação para o futuro e não o juízo decisivo e peremptório. Todos os contemporâneos, para o bem e para o mal, são testemunhas de vistas, indispensáveis e ricas de notícias. Testemunhas e não juízes ou advogados. Todos testemunhas. O futuro estudará, confrontará e dará sentença. Muita gente pensa que a História é uma velhinha amável e covarde que aceita, por preguiça e senectude, as decisões dos contemporâneos. Todos nós julgamos escrever a História quando apenas escrevemos para a História.
Luís da Câmara Cascudo

O ano de 2018 tem uma importância ímpar no calendário cascudiano. Há 120 anos, nascia, nesta que sempre foi cidade, Luís da Câmara Cascudo. Sempre apaixonado por Natal, Cascudo escreveu a sua história, a História da cidade do Natal, publicada em 1947, atendendo à solicitação do então prefeito Sylvio Piza Pedroza, a quem oferece, dedica e consagra a obra. Em 1948, 70 anos passados, recebe pelas mãos do mesmo prefeito, o título de Historiador oficial da cidade do Natal. O seu encantamento, em 1986, também se deu nesta cidade da qual nunca quis sair, e aí já se vão mais de 30 anos.

Talvez por coincidência, sina ou destino, neste mesmo ano de 2018, Eduardo Alexandre Garcia retoma o tema e a paixão pela cidade, publicando o seu Das lagoas azuis ao Ponto Negro: Minha Cidade Natal – Lugares – Gente – História, panorama de uma Natal ampliada, modificada e repleta de transformações. Nesta retomada, Eduardo passeia pelos novos bairros da cidade que cresceu e se espraiou, mostrando seus lugares, sua gente e sua história, onde personagens do nosso cotidiano contam episódios e curiosidades sobre esta nova Natal.

O autor realiza, nesta obra, o que prediz Cascudo em 1947: “o futuro estudará, confrontará e dará sentença”. Sempre atento à realidade habitual e regular de Natal, registra imagens, conversa com pessoas, pesquisa bibliografias e coteja dados, trazendo para o leitor um novo retrato da cidade, que acompanha a modernidade urbana dos nossos tempos. Percorrendo caminhos antigos, aventurando-se em novas trajetórias e cumprindo, com perfeição e dedicação, sua missão de Alvissareiro da Torre da Matriz, Eduardo Alexandre reafirma que continuamos a ser testemunhas de vistas da História de uma cidade que muito amamos e da qual nos orgulhamos de pertencer.

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Jordão riscou, Mundoca esculpiu as colunas do Edifício Rio-Mar

Casado com Maria das Dores Alcântara de Araújo, três filhos, morador da Avenida Itapetinga, Conjunto Santarém, bairro Potengi, Zona Norte de Natal, Raimundo João de Araújo, o Mundoca, sente saudades do tempo em que, menino, morava no final da Ponta do Morcego, à Avenida Sylvio Pedroza, defronte à Rua Odilon Garcia, Areia Preta.

Quando não estava nas peladas ou na escola, “ficava caminhando pelas praias, de Areia Preta até a Praia do Forte”. Gostava de ficar ouvindo as conversas na bodega da esquina, a Mercearia de seu Mário, que também fazia às vezes de bar. Sem muita intimidade, ali conheceu muitos dos que faziam a Natal boêmia da época. Ele, menino “a peruar conversas”, os adultos a assuntar de tudo naquele ponto de encontro bem frequentado da cidade.

– Comprei cigarros para Newton Navarro. Ele pediu uma carteira de cigarros a seu Mário, mas seu Mário não vendia cigarros. Eu estava encostado na porta da mercearia e fiz um gesto para ele. Eu disse que ia, peguei o dinheiro e fiz carreira até O Jangadeiro, na esquina com o Hotel dos Reis Magos. Eu gostava de ouvir as conversas nas mesas daquele senhor, que chegava com rolos de desenhos e aquarelas e mostrava a todos. Eu gostava do risco dele.

Em uma de suas idas à Praia do Meio, já rapazote, Mundoca deparou-se com uma escultura de areia, deixada ao vento e à sorte das ondas do mar, que iriam consumi-la. Voltou a frequentar o lugar; a ver novas esculturas de areia, e; também, a tentar imitar o que via, “era isso o que eu queria fazer”, até conhecer o responsável pelas obras artísticas que admirava: Jordão de Arimatéia, morador ali perto, da Rua do Motor. Jordão trabalhava com Ziltamar Soares, conhecido por Manxa, ajudando-o no ateliê que este possuía na Rua Dionísio Filgueira, “esquerda da subida de quem vem de Petrópolis para a praia”.

– Nunca trabalhei com Manxa. Com Jordão, tomei coragem e fiz para ele ver as esculturas de areia que eu fazia e travamos uma amizade e uma parceria de trabalho que duram até hoje. O instrumento de trabalho que eu utilizava era só uma quenga de coco. Ele gostou. Um dia, precisou de ajuda para fazer uma escultura em cimento numa casa perto da Faculdade de Odontologia e daí fizemos outros trabalhos juntos. As esculturas do Hotel São Francisco, na rua Coronel Estevam, Alecrim, entre eles. Por essa época, ele vivia falando na possibilidade de realizar um grande trabalho nas colunas de um edifício alto que estava sendo construído na Deodoro, descida da ladeira da Rádio Poti, o Rio-Mar, já nos tijolos. Ele dizia que não fazia sozinho, mas que se tivesse um ajudante, sim. Até que um dia me perguntou se eu toparia fazer com ele aquele trabalho arriscado, nas alturas. Aceitei.

– Fiz altos-relevos em paredes, usando cimento. Trabalhei em casa de gente bacana. O doutor Francimá, dentista, tem uma escultura minha na parede de sua casa de granja, na Lagoa do Bom Fim. A porta do escritório da casa dele, aqui em Natal, eu esculpi. Era pra ser do consultório dele, na Hermes da Fonseca. Depois, ele preferiu usar a peça em sua casa no Tirol, perto do Morro Branco.

No Rio, Mundoca diz que ganhou muito dinheiro, trabalhando com Jordão. “Comprei uma Kombi”.

– Trabalhamos em escola de samba: na Unidos da Ilha do Governador, onde eu morava na casa de uma tia. Fizemos alegorias. Primeiro esculpia em isopor, depois passava para fibra. Jordão é muito doido. Uma vez, fomos na casa de um delegado de polícia muito rico, que não sabíamos quem era. O jardineiro quem indicara o trabalho. Chegamos um pouco depois das oito horas. O homem não estava; esperamos. Passou a hora do almoço, o homem não chegava e fomos a um bar por perto. Comemos, tomamos umas cervejas e voltamos. E nada do homem. É quando Jordão mira as quatro colunas em cedro da varanda da casa, belíssima, pega um papel e risca uns desenhos. É assim que a gente vai fazer, Mundoca, ele me disse. As ferramentas, a gente tinha levado. Ele pegou o lápis, riscou o planejamento do desenho de uma das colunas num papel, e me chamou: Vamos! O homem quando chegou pelo portão de trás e foi entrando na casa e ouvindo a pancada forte dos batedores, chegou brabo à varanda. Estão demolindo minha casa? Quem mandou? Quem está pagando pelo serviço? Foi reclamando e observando melhor o trabalho começado, que o encantou, nos chamou para comer e exigiu que morássemos lá por uns tempos, num quartinho que dava para a praia, enquanto fazíamos as obras que ele começou a pedir. Agora, imagine, delegado rico, com uma mansão daquela?

– Quando estávamos fazendo os painéis gigantes do Edifício Rio-Mar, os jaús, presos a quatro cabos de aço que vinham do teto, enquanto não estivessem presos por corda ao gancho do andar, o vento jogava e ficávamos à mercê da sorte. Nenhum equipamento de segurança, a gente usava. Às vezes, subíamos no ferro do guarda-corpo do jaú, Jordão para traçar, eu para cortar. Era uma coisa de doido, qualquer vacilo, seria fatal. Éramos uma equipe de seis pessoas a realizar aquele trabalho. Pedreiros jogavam a massa, Jordão riscava, eu cortava, dava a forma. Depois, parte do trabalho foi demolida, por justificativa de infiltração de água de chuva nas colunas. Colocaram pastilhas.

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Monte do Sol, em Neópolis, moradia de artistas e da tranquilidade

O Monte do Sol é um lugar diferenciado de Neópolis.

É seu ponto mais alto: onde se apreciam as mais multicoloridas auroras, os mais deslumbrantes entardeceres do bairro.

Para se ter acesso ao seu topo, existe uma longa escadaria à base de cimento, em módulos intercalados por pisos horizontais, que nasce na Rua Materlância.

Casinholas bem cuidadas sobem o monte, humildes, de bom gosto, pintadas com cores diferentes, vivas, ladeiam a escadaria que cobriu areias amareladas, dos tempos em que ninguém morava ali.

Só um dos lados do morro não é habitado, o que dá para oeste, um barranco alto, onde a declividade acentuada não permite a construção de casas.

É um dos poucos lugares não planejados do bairro: foi paulatinamente ocupado por gente que precisava de moradia e que invadiu suas áreas habitáveis.

Hoje, ali, na Rua do Monte do Sol, vivem artistas jovens, vindos de outros pontos do bairro, onde moravam emergentes que fazem o movimento cultural da cidade: Neemias Damasceno, artista plástico; Júlio Lima, músico; John Fidja Gomes, músico; Rodrigo Bico, ator, e; o músico Ricardo Baya, que ali não mora mais, mas que sempre o visita, para matar as saudades e comandar cantorias.

Muitas vezes, quando suas agendas permitem, eles se reúnem na casa de um deles em sábados, domingos ou feriado qualquer para conversas que se estendem noite a dentro, ao som de violões e instrumentos percussivos: cantam, recitam poemas, esquecem ou debatem notícias chegadas do mundo lá debaixo.

É um oásis cultural tranquilo, de um bairro tranquilo, de uma gente que se conhece e se cumprimenta, e que, lá do baixo, acostumou-se a ouvir a música doce de violões que encantam os seus silêncios, quebrados por acordes vindos do Monte do Sol.

Rua Monte do Sol é o que está escrito em tabuleta artesanal feita por morador e afixada a arame em seu poste de entrada, à Rua Materlândia, onde nasce a escadaria. Topônimo confirmado por placa de identificação de lugar da Semurb.

A Rua Materlânia não está no sopé do morro; cruza-o horizontalmente um pouco mais acima. Ela é a rua mãe da Rua Monte do Sol; Sol que é uma das maiores referências da cidade do Natal, uma cidade dunar, construída subindo e descendo morros, montes de areias sopradas do mar.

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Guaraci Gabriel: das barras de sabão à academia de artes de Paris

Do barreiro da Lagoa do Feijão das paneleiras; dos embrulhos das barras de sabão, quando começou a fazer arte, a ouro da Sociedade Acadêmica de Artes, Ciências e Letras de Paris: Guaraci Gabriel.

A arte de Guaraci Gabriel é como a ypajussara, a palmeira que dá nome ao bairro Pajuçara em que mora: alta, vistosa. De longe pode ser observada. O resultado de seu trabalho é misterioso como a copa da pajuçara, instigante, místico, mágico: requer contemplação demorada e análises mais acuradas para a tentativa de discerni-la, decifrá-la.

Ele gosta de grandiosidades. Tem suas excentricidades. Busca recordes. Ele é Guiness.

Tudo começou para ele na Lagoa do Feijão, município de São Pedro do Potengi, Rio Grande do Norte, onde nasceu. Seu pai, Júlio Gabriel Campos, tinha ali um pedaço de fazenda herdada, com vacaria, plantações e criações de subsistência. Era casado com dona Iraci de Souza Campos e tinham nove filhos. Um deles, nascido a 16 de julho de 1961, recebeu o nome Guaraci Gabriel Campos.

Na Lagoa do Feijão havia um barreiro. Dona Iraci, nas horas em que não estava dando conta da casa e cuidando dos meninos, moldava taças em argila.

– Era mamãe acocorada, moldando suas taças, e papai lendo cordel em voz alta; os meninos, em volta, pegando no sono, até a candeeira se apagar. Ele gostava do Pavão Misterioso.

Guaraci se interessou pela modelagem da mãe. Tinha mais afinidade com ela. Gostava do seu lado brincalhão, “vivia rindo, fazendo piada, brincando com tudo. Muito novo, eu fazia esculturas de corpos humanos, sem braços, sem pernas, sem cabeça. Eu me frustrava: ainda não sabia modelar.”

Não sabia, mas continuou tentando. Todos os dias, “eu tomava meu leite ferrado com pedra quente no curral e depois ia para a beira da lagoa ver as paneleiras moldando suas panelas de barro e bois, jumentos, carros-de-bois, vaqueiros. Eu adorava ver as coleções de peças que elas faziam.”

Uma vida feliz

Guaraci e seus irmãos eram felizes, mas seu Júlio não gostava da vida dali. Vivera muitos dissabores quando da partilha da herança e dizia que um dia ia vender tudo e se largar no mundo, vivendo do jeito que quisesse, gastando o dinheiro.

– Dinheiro, pra deixar pra quem? Pra mulher, eu não deixo, que é pra ela não gastar com outro homem. Para os meninos, também não deixo, que é pra eles não brigar por herança.

Em Lagoa do Feijão, Guaraci recebeu suas primeiras instruções escolares. A professora da comunidade ia a sua casa e dava as aulas de primeiros números, primeiras letras.

O menino gostava de traquinagens. Ficava escondido “no mato” e quando as mulheres chegavam e se curvavam para tirar água do cacimbão, passava e levantava “aquelas saias compridas daquele tempo. Eu gostava de ver o pano em movimento”. Castigo, e; barro a fazer bonecos, para preencher o tempo, a ociosidade, “esquecer a raiva”.

Barras de sabão: a primeira arte

Um dia, seu Júlio vendeu a fazenda e comprou o caminhão sonhado. Ia ganhar o mundo fazendo frete e se divertindo. Ele instala a família em Massaranduba, Ceará Mirim, monta uma bodega que deixa aos cuidados da mulher e filhos, e “dana-se mundo a fora em seu caminhão. Viagem que todo caminhoneiro fazia em uma semana, papai fazia em um mês, curtindo a vida, gastando o dinheiro obtido da venda da fazenda com raparigas e boemia. Mas voltava para casa.”

Na bodega, eram vendidas lascas de barras de sabão. Seu Júlio comprava quilos de revistas usadas na feira do Alecrim e trazia para o ritual coletivo dos meninos a rasgar páginas e embalar barras de sabão, produto muito procurado na bodega.

guaraci gabriel“As barras que eu embrulhava eram as mais vendidas. Eu gostava de ler o que trazia a página; de ver as gravuras impressas; não fazia os embrulhos de qualquer jeito, como meus irmãos: escolhia as páginas que continham as gravuras que achava mais interessantes e dava destaque a elas, deixando-as à mostra, na face exposta do produto. Eu era o mais lento. O que menos sabão enrolava, mas as barras que eu embrulhava eram as que vendiam primeiro. Sempre buscava a que melhor vestisse o pedaço de sabão. Arte mesmo, acho que iniciei a fazer aí.”

Quando nas horas atrás do balcão, continuou na modelagem do barro, confeccionava bois e bonecos já completos. “Eu botava no balcão e o povo comprava”.

Guaraci dividia seu tempo entre a bodega e a Escola Isolada de Massaranduba, onde estudou até o 5º Ano. O ginasial fez na Escola Agrícola de Ceará Mirim, interno.

– Já meio cansado das farras mundo afora, papai resolveu comprar uma casa em Igapó, para que os meninos pudessem estudar na capital, como insistia minha mãe.

Thomé Filgueira

Concluiu o curso de Edificações, da ETFRN, a Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte, mas sua paixão era o desenho. Matriculou-se no curso de Desenho, da mesma escola, “mas não era o que eu queria. Era o desenho de régua e compasso, desenho técnico; eu queria o desenho artístico. Fiquei frustrado, mas conclui o curso.”

Na Escola Técnica Federal, ele despertou para a existência de um ateliê, dirigido pelo professor Thomé Filgueira.

“Eu chegava colado à parede e botava a cabeça na porta. Gostava de ver os quadros, mas tinha vergonha de entrar. Passava todos os dias, e já entrava, circulava entre as peças, conversava, até que Thomé percebeu e me perguntou se eu queria pintar. Eu disse que queria; ele me deu uma tela, tintas e pincéis e disse: pinte. Thomé tinha um estilo muito próprio, dele, não impunha aos seus alunos qualquer fórmula mágica de ensinamento da arte. Ele instruía e apostava na criatividade de seus alunos, deixava-os à vontade para pintar o que quisessem, como quisessem.”

– No fim de ano, ele promovia uma exposição coletiva, com os trabalhos de todos os alunos. Na época do ateliê, eu só trabalhava com tela e tinta. Pintava quadros expressionistas. Vendia todos. Quando vendi o meu primeiro quadro, me lembrei da negra Joana Sabina, minha professora lá da comunidade da Lagoa do Feijão. Ela passava de casa em casa, ensinando aos meninos. Corria as quatorze casas do lugarejo. Um dia, ela disse para minha mãe: Iraci, bote esse menino numa escola de arte… Aquilo me encheu de sonhos grandes. Eu queria ser grande. Ser o maior. Ser um artista. Passei dois anos no ateliê de Thomé. Lá, conheci Marcelus Bob, João Natal, muitos artistas que estavam despontando para a vida artística da cidade. Foi um tempo muito proveitoso.”

Fora da ETFRN, agora Guaraci Gabriel está no mundo. Edificações? Desenho Técnico? Começa a fazer esculturas de médio porte em diversos materiais: bronze; ferro; chapas metálicas. E a inserir sucata ao seu trabalho, que cresce cada vez mais em dimensões. Sua arte já não se satisfazia com os limites de uma galeria de arte; queria as ruas; lugares que muitas pessoas transitassem e pudessem vê-la de longe. Parte a frequentar sucatarias e a sonhar cada vez mais alto.

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A Guerra de Carrapateira dos meninos de Neópolis

Eles podiam estar em suas casas, diante de um computador, divertindo-se com jogos virtuais, como a maioria dos meninos das cidades dos nossos dias.

Não estão.

Estão na quadra gasta do Tecesol, celebrando a liberdade que usufruem em um bairro tranquilo, onde nasceram, estudam, vivem os dias de brincadeiras naturais à idade em que se encontram.

A verticalização das cidades, com seus edifícios residenciais, e a violência urbana têm imposto às novas gerações uma distância a cada dia mais acentuada das brincadeiras infanto-juvenis nas ruas dos bairros onde moram.

Brincadeiras simples, baratas, coletivas, que passam de geração para geração e existem há décadas, séculos, milênios. Brincadeiras que sofrem modificações de acordo com regiões e épocas, mas que mantêm essências de origens.

Os homens, os animais, desde que o mundo é mundo, brincam, medem forças em disputas lúdicas que os preparam para a vida.

Desde as mais remotas origens, a luta pela sobrevivência é real à condição animal.

Essa luta, suas técnicas, suas estratégias, seu preparo, sua cultura própria, sua essência, são ensinados pelos mais velhos aos rebentos que chegam às suas comunidades.

É necessário passar o saber da luta pela sobrevivência adquirido, sob pena de extinção de qualquer espécie animal.
Filhotes de pássaros brincam; bebês elefantes medem forças.

Desde os mais primitivos ajuntamentos humanos, desde os primevos tempos, as disputas por afirmação social entre os homens estão presentes no dia-a-dia de qualquer comunidade.

Viver é lutar permanentemente.

Às vezes, por razões diversas, os homens entram em guerra.

Ela é uma das mais antigas práticas da civilização, gera dor, mortes, muitas lágrimas, é motivo de orgulho a vencedores; atitudes, gestos, fazeres heroicos são enaltecidos por vencidos quando sucumbem diante de forças superiores.

A guerra é uma prática essencialmente humana: só o homem, entre todos os animais, a pratica.

Os irracionais só lutam ou matam em nome da sobrevivência. Os homens, muitas vezes, fazem a guerra por outros motivos. Muitas vezes, motivos irracionais.

As brincadeiras infantojuvenis, muitas delas, buscam imitar a vida adulta, a vida para valer, do trabalho, da busca cotidiana pelo pão.

Meninas imitam suas mães: suas bonecas são suas filhas, merecem seus cuidados e carinhos; meninos brincam de guerra, como se soldados em campos de batalha fossem.

Na luta pela sobrevivência, os homens foram se apropriando de saberes utilizados no fabrico de instrumentos que lhe auxiliavam na caça: consumir carne fazia parte de sua condição animal.

Foram muitos os instrumentos que o homem criou em sua atividade de caça e criação, pecuária; coleta e plantações, agricultura.

Muitos desses instrumentos criados para sua sobrevivência, foram, depois, utilizados na guerra, adaptados para novas funções, assassinas, destruidoras.

O arco e flecha dos nossos potiguares, usados na caça para alimentação, faziam a guerra quando seus territórios eram invadidos.

Desde cedo, os curumins potiguaras brincavam com eles: imitavam seus pais em caçadas nos derredores de sua tribo.

Como o arco e flecha, o estilingue é um instrumento longevo enquanto uso da humanidade.

Construído primitivamente com forquilha de madeira em forma de Y, na qual, nas extremidades superiores, se amarram tiras elásticas para que, depois de elastecidas e soltas, propiciem arremesso de pequenas pedras ou projéteis similares.

Em grande parte do Nordeste brasileiro, o estilingue é conhecido como baladeira.

Munidos de baladeiras, meninos do bairro de Neópolis mantém uma tradição lúdica bem natalense: a guerra de carrapateira.

guerra da carrapateira

Eles colhem o fruto da planta, que cresce fácil e espontaneamente em qualquer terreno baldio da cidade; montam suas trincheiras e, munidos de baladeiras e usando o fruto da carrapateira como projétil, fazem suas guerras de brinquedo, atirando-as uns nos outros, numa disputa sem número certo de participantes.

A guerra de carrapateira dos meninos de Neópolis foi muito praticada nos bairros que deram origem a Natal.

Não há um menino natalense, hoje, com oitenta anos de idade, que não a tenha brincado.

É uma prática lúdica que resiste aos tempos, a cada ano mais difícil de se ver; mas que ainda existe.

É um jogo simples, barato, sem regras definidas, divertido, e que ensina para a vida, mas que requer proteção: ao atingir o olho de um dos contendores, uma carrapateirada pode levá-lo ao vazamento ou à cegueira.

Se for brincar de guerra de carrapateira, tenha os seus olhos protegidos, adverte o imaginário Ministério do Folclore.

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Em torno da lagoa de Manoel Felipe, a Palestina era ali, no Tyrol

São poucos os que ainda chamam o lugar de Lagoa de Manoel Felipe.

Manoel Felipe, nem Cascudo soube dar origem. Foi um morador dos arredores da lagoa. “Não sendo sesmeiro, teria comprado a terra e nela residido para que seu nome recordasse, contemporaneamente, uma existência sem vestígios na micro-história da cidade do Natal (Diário de Natal, 14 de março de 1962, p.3)”, cita Itamar de Souza em sua Nova História de Natal.

Aparece em mapa holandês dos tempos da ocupação (1633/1654), junto a outras duas lagoas, supostamente as que até bem pouco tempo eram chamadas Lagoa Seca (Tirol) e Lagoa do Enforcado (Alecrim), ambas aterradas pelo crescimento da cidade rumo Sul.

No mapa, que não lhe dá nome, é mostrada como nascente do Rio Tiuru.

Desse rio, é que Natal, desde a sua fundação em 25 de dezembro de 1599, abasteceu-se de água por décadas, mais de três séculos.

Rio de tanta importância para a existência da cidade, que era chamado rio de Beber Água.

Foi em busca da água do rio de Beber Água, que surgiu o Caminho do Rio de Beber Água, que foi juntando casinholas em suas margens, até se tornar a Rua do Caminho do Rio de Beber Água, que viria a ser chamada, muito depois, Rua de Santo Antônio, depois que nela foi construída a Igreja de Santo Antônio dos Militares, inaugurada em agosto de 1766, segunda rua da cidade.

Na verdade, o Rio Tiuru ou Tissuru, como também era chamado, nasce na Lagoa Seca, mais a Sul, que corre para o norte e toma o oeste quando se encontra com as águas sobradas da Lagoa de Manoel Felipe a caminho do Potengi.

Rio permanente, que mesmo aterrada a Lagoa Seca e conduzidas suas sobras de água através de manilhas enterradas, ainda vive com seus tintins, carás, piabas, muçus, mas sem seus jacarés.

A lagoa é lugar citado em texto de 1743.

Segundo Cascudo, o “licenciado Francisco Alves Bastos era proprietário da região. O registro da ‘data’ é de 15 de junho de 1743, e o peticionário recebeu quatrocentas braças de comprido e outras tantas de comprimento pelo Rio de Beber Água acima, compreendendo uma lagoa.” Essa Lagoa é a futuramente chamada Lagoa de Manoel Felipe, assim já conhecida nos primeiros anos do surgimento do bairro do Tirol, onde hoje está inserida, entre as avenidas Prudente de Morais e Rodrigues Alves.

Uma nota não assinada em A República da época diz que os moradores dali “resolveram denominar a Lagoa de Manoel Felippe por Lago de Genezareth”. Isso indica que a Lagoa de Manoel Felipe já era assim chamada e que a tentativa de mudar seu nome não vingou, já que, embora quase no esquecimento, permanece até hoje.

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A Ribeira Velha de Guerra não é mais a Ribeira de hoje

A Ribeira não era só bairro, era vida e tipos que moviam a cidade, faziam-na humana e inteligente, conhecedora do mundo via boca da bbarra do Potengi.

A Ribeira que eu conheci na infância não é a Ribeira de hoje, esquecida da população e dos governantes.

Era uma Ribeira ativa onde o cais da Tavares de Lyra tinha vida e albergava misteriosas caravelas vindas de não sei onde e que faziam povoar de piratas e aventuras minha imaginação de menino.

Era a Ribeira do porto movimentado, quando as estradas ainda não tinham rasgado os interiores e todo o transporte era feito por mar, necessitando dos trabalhos do despachante aduaneiro, com seus escritórios movimentados e gente a conversar sobre tipos e acontecências quase que só da cidade, já que o resto do mundo era distante e, portanto, de pouco interesse.

Era a Ribeira do casarão do maestro Alcides Cicco a abrigar araras de coloridos especiais e um sem número de passarinhos, que o atraiam a uma conversa com o meu avô despachante, José Alexandre, também ele um amante de canários belgas, pintassilgos, galos-de-campina e curiós, com seus cantos dobrados e de sonoridade sem igual.

Teatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão

Ribeira do Teatro Alberto Maranhão onde reinava, vitaliciamente, o circunspecto senhor teatrólogo Meira Pires, a contar vantagens sobre suas peças que nunca vi encenadas, mas que enchiam de curiosidade a minha imaginação.

Do casarão de Cascudo, que nunca ousei adentrar, devido ao respeito à figura que costumava ver às tardinhas em conversas amenas na velha Confeitaria Delícia do português Olívio Domingues da Silva, com sua perna dura e a sua alma imensa a distribuir sonhos de valsa e torrones que, claro, iam para a conta do meu pai, Zé Alexandre Garcia, a tomar umas no reservado com Newton Navarro, Dozinho, Mozart Silva e tantos outros boêmios que povoavam com humor e sabedoria o centenário bairro.

Como esquecer um Zé Areia, aquela figura que chegava e que atraía a atenção de todos com os seus repentes geniais a responder provocações propositais? Impossível.

A Ribeira não era só bairro, era vida e tipos que moviam a cidade, faziam-na humana e inteligente, conhecedora do mundo, via boca da barra do Potengi, cenário de memoráveis regatas bravamente disputadas entre remadores dos clubes náuticos da rua Chile.

Ribeira das companhias de pesca e da Estação Ferroviária, lenta, barulhenta e misteriosa.

Ribeira de jornalistas e de jornais, de prostitutas e prostíbulos famosos, que nunca adentrei mas que atraiam a minha curiosidade em suas janelas nem sempre escancaradas.

Ribeira do nojo do Beco da Quarentena. Do mundo fantástico das publicações da Agência Pernambucana. Dos bares invadindo calçadas. Das peixadas. Dos salões de barbearia onde de tudo se conversava. Dos salões de jogos. Dos engraxates e sapateiros a céu aberto, em suas cadeiras imensas para mim, garoto.

Ribeira nostálgica do quiosque e da pontezinha do jardim chinês que quase a memória esqueceu, destruído que foi pela construção da nova rodoviária que parece, levou-o para nunca mais voltar.

Ribeira do Grande Hotel e do major Theodorico, homem lendário a pastorar diariamente a praça da igreja do Bom Jesus das Dores, a abrigar ossos dos Amorim Garcia, lacrados em urnas em suas paredes já centenárias.

Ribeira inesquecível de “A República”, da Capitania dos Portos e da vacina contra a febre amarela, terror dos viajantes. Ribeira de Luís Tavares e de suas estórias de brigas com gringos e policiais dos idos da guerra.

Ribeira sem dúvida inesquecível. Poeticamente mágica e deliciosa, professora de gerações.

Ribeira bancária, alfandegária, comerciária, gráfica.

Ribeira cartorial.

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O início do bairro Lagoa Nova e o embrião para a maior rede de TV do RN

Bem adiante da Quinze, à direita da pista que levava a Parnamirim, fora do perímetro urbano, surgiu uma presença marcante no lugar que deu nome ao bairro: uma torre transmissora das ondas sonoras da Rádio Cabugi, fundada, “em Natal”, pelo senador Georgino Avelino, em 19 de janeiro de 1954, margeava área seca da Lagoa Nova.

Naquelas imediações, lado esquerdo da pista, em terras pertencentes ao América Futebol Clube, existia a Granja Potilândia.

Havia anos, o América não disputava o campeonato promovido pela FND, a Federação Norte-riograndense de Desportos. Estava construindo nova sede à Avenida Rodrigues Alves, Tirol, e precisava de muito dinheiro para isso.

Para arrecadar fundos para essa construção, a diretoria do clube resolveu vender o terreno da granja, loteando-o. Em fevereiro de 1961, foram iniciadas as vendas de 283 lotes, aos poucos transformados em belas residências, o lugar absorvendo o nome da granja.

Considerada área fora do perímetro urbano, o grande empecilho para a expansão da cidade rumo sul era a água.

Apesar disso, utilizando água de poços tubulares, em 1967, três grandes frentes de trabalho estavam abertas nas proximidades dessas primeiras casas de Potilândia.

Do lado direito da estrada de Parnamirim, iniciavam-se obras de construção do que viria a ser o estádio Castelão, depois chamado Machadão, já demolido, onde hoje está a Arena das Dunas; do lado esquerdo e à frente, conjuntos residenciais eram construídos pelo IPASE e pelo SESC, respectivamente.

Inaugurado o Estádio Humberto de Alencar Castelo Branco, o Castelão, em 14 de junho de 1972, Potilândia já contava com duas mil residências e o bairro de Lagoa Nova começava a se expandir para oeste, buscando terras à direita da Avenida Prudente de Morais, em direção do que era chamado Carrasco, hoje bairro do Bom Pastor. Nesse lado do bairro, seriam construídos os conjuntos residenciais Lagoa Nova I e Lagoa Nova II.

Entre Lagoa Nova e Bom Pastor, com a chegada de equipamentos urbanos e outros conjuntos residenciais, dois outros bairros surgiam: Nossa Senhora de Nazaré e Dix-Sept Rosado.

Para adiante do bairro de Lagoa Nova nascente, logo surgiriam Capim Macio e Neópolis, ao longo da BR, e; Candelária, no prolongamento sul da Prudente de Morais.

Com a chegada à Lagoa Nova do Agnelão e do Campus Universitário, que começou a ser construído em 1972, à frente do conjunto do SESC, Natal, antes pequenina, começa a se tornar cidade grande, tomando um impulso nunca antes visto ou vivido em sua história.

Foi Lagoa Nova, com a sua Quinze, que ainda se mantém quase a mesma de 80 anos atrás, a fonte que, a partir dos anos 70, forneceu planos e direções ao crescimento incontido da cidade, quando, ali, exatamente onde secara a velha lagoa dita Nova, foi instalado o Centro Administrativo do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, em dezembro de 1974.

Uma Lagoa Nova, seca, fértil, alvissareira como as notícias de crescimento que chegavam à cidade via sua torre transmissora de ondas da velha Rádio Cabugi, onde hoje está instalada a TV de maior audiência do Estado, a Inter TV Cabugi.

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O histórico bar Carneirinho de Ouro

O Carneirinho de Ouro era um festivo clube de lazer, fundado em 1936, à Avenida Tavares de Lira, Nº 54, esquina com a Rua Doutor Barata, 1º andar.

Esse ponto da Ribeira era conhecido como a Esquina do Mundo, pois era ali que se reuniam comerciantes, industriais, exportadores e importadores, comerciários, políticos, profissionais liberais de toda ordem, para o bate-papo de fins de tarde, conversas amistosas ou acaloradas discussões.

Segundo Mussolini Fernandes, o clube nasceu de uma brincadeira na porta da Charutaria de José Augusto, instalada na escadaria que dá acesso ao andar superior do prédio, onde funcionou de 1936, ano de sua fundação, até 1940, quando se estabeleceu no lugar em que ainda permanece, e onde se jogava dama, dominó, bilhar, xadrez, gamão, víspora, baralho e outros.

O nome teria sido sugestão de João de Almeida Barbalho, sócio-fundador.

Essa versão não é a mesma contada por Luís G. M. Bezerra. Segundo este, nove idealistas, comerciários, bancários, desportistas, tinham para o intervalo do almoço do comércio, encontros diários na praça fronteiriça ao cais da Tavares de Lyra e resolveram fundar um clube sócio/esportivo/cultural com a finalidade de conseguirem um ponto de encontro para confraternização.

Logo que fundado, a 08 de agosto de 1936, eles teriam alugado o primeiro andar do prédio da Tavares de Lyra, Nº 37, esquina com a Rua Chile, e aí teria sido a primeira sede da agremiação, que só em 1940 se transferiu para o primeiro andar onde hoje ainda funciona, e para onde fez a mudança de seus bilhares e sinucas. Sede própria, adquirida (só o primeiro andar do prédio) em 1975, na gestão de Júlio César de Andrade.

O clube reuniu importantes pessoas da cidade e chegou a formar equipe de futebol com seus sócios, entre os quais Djalma Maranhão, e disputava partidas amistosas em Natal e interiores, onde eram calorosamente recebidos, muita bebida e comida depois das partidas disputadas, em farras que se prolongavam até de manhã. Afora o futebol, o clube tinha equipes que disputavam torneios de pesca, futebol de salão, provas de pedestrianismo, sinuca, bilhar.

Mussolini conta que no começo não havia mensalidades, mas o sócio que faltasse a qualquer sessão da tarde pagaria rodada dupla de café para os presentes. O presidente do clube tinha mandato de uma semana e sua primeira diretoria foi aclamada em solenidade no Theatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão, tendo como primeiro presidente o juiz de Direito da Comarca de Baixa Verde, hoje Município de João Câmara, João de Brito Dantas.

Tornou-se reduto da boemia da velha guarda natalense, chegando a ter uma média de cento e vinte sócios. Hoje, mesmo com uma taxa de contribuição mensal de apenas R$ 5,00 e Ivandir Araújo de Lima, o Caixão, na presidência, o clube vive um de seus piores momentos: resiste com apenas dez sócios, que ainda disputam ali partidas em duas desbotadas sinucas gastas, servidos por um bar administrado pelo arrendatário Pedro Alcântara Machado.

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O descobrimento do Brasil foi no RN, mas não foi Cabral. Foi Vespúcio.

O descobridor do Brasil se chama Américo Vespúcio.

Esteve na costa norte do hoje Rio Grande do Norte em 1499 e, em decorrência, Dom Manoel, rei de Portugal, fez questão de tê-lo na esquadra de 1501, enviada para o mesmo lugar onde ele estivera, que tinha por objetivo oficializar a posse da terra descoberta e dimensioná-la.

Vespúcio era um navegador conduzido pela ciência e Dom Manoel sabia disso.

E sabia que onde ele estivera em 1499 eram terras asseguradas a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas, aquele que dividia o mundo entre Portugal e Espanha.

E que dali, tomando rumo sul, em “derrota”, como chamavam, muita terra devia haver, como as registradas por Cabral em 1500.

Foi nesta viagem de 1501 que Américo Vespúcio constatou tratar-se de um imenso continente as terras encontradas.

Essa concepção mereceu tanta importância que deu ao Novo Mundo o nome de América.

Não o homenageamos pelo simples quesito da nacionalidade não portuguesa.

O Rio Grande do Norte deve-lhe um Memorial junto ao Marco (de Touros) no lugar onde foi chantado. Um memorial à importância dessa viagem.

É o capítulo mais fascinante – e tétrico – do início do Brasil o relato deixado por Vespúcio da cena de canibalismo que aqui se deu e que ganhou mundo, o registro Caniballis dando nome ao lugar já sabido continental, permanecendo por anos em sequências de mapas daqueles tempos de deslumbramentos com o tudo novo que dali surgia.

O Brasil foi descoberto no Rio Grande do Norte de hoje, mas não foi na viagem de Cabral, e; a nossa primeira identificação significativa em mapas foi Terra dos Canibais.

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