A 13ª edição do Festival Gastronômico e Cultural de Martins acontecerá nesta sexta, sábado e domingo e contará mais uma vez com atrações culturais e musicais de renome regional e nacional, destacando-se o nome do Pernambucano Geraldinho Lins, do ex The Voice Brasil Kevin Ndjana e do poeta Antônio Francisco.
As apresentações na sexta-feira iniciarão às 20 horas seguindo até às 3 horas, e no sábado e domingo os shows começam a partir do meio dia.
O festival disporá ainda de restaurantes renomados de todo o Estado, vinícola, food trucks, lanchonetes, docerias, cervejaria, cachaçaria, apresentações artísticas e culturais, lojinhas de artesanato, pinacoteca e livraria, além do clima que só a Serra de Martins tem.
O evento é uma realização da prefeitura de Martins e conta com o patrocínio do SEBRAE, Café Santa Clara, Gnet, Minha Vida FM e TV Oeste Cidade e com o apoio da Cerveja Stela Artois, Gondim e García e Técnico Plantas.
O Alferes Onofre José da Silva nasceu a 23 de janeiro de 1787, em Olivença, distrito de Portalegre, Portugal. O que talvez seu pai, o soldado José da Silva, jamais fosse imaginar é que o filho iria atravessar o Atlântico e contribuir para a formação de uma nova árvore genealógica, ou seja, praticamente um novo tronco familiar, numa pequena cidade brasileira chamada Martins. E assim, podemos dizer, se fez a união dessas duas cidades – Olivença e Martins – separadas pelo oceano, porém, ligadas por laços de família.
Olivença é uma antiga vila do Alentejo e a sua origem nos remete ao século XIII, período da reconquista cristã pelos Templários. O lugar passou definitivamente a território português em 1297, quando assinado o Tratado de Alcanises, por D. Dinis, rei de Portugal, e Fernando IV de Castela, que definia os bens territoriais de cada reino. Nesse mesmo período D. Dinis ordenou a construção de uma fortificação na vila, reforçada posteriormente através da construção de uma torre de menagem, no reinado de D. João II, e da ponte N. Sra. da Ajuda, também conhecida por ponte da Ajuda ou de Olivença, sobre o rio Guadiana, ordenada por D. Manuel.
Após a ocupação do trono português pela dinastia filipina, começaram as disputas pela posse de Olivença entre Portugal e Espanha. No período da restauração, em 1640, e nas guerras que se seguiram, Olivença foi ocupada por um duque espanhol, sendo devolvida a Portugal na sequência da celebração de um tratado de paz, em 1668, no qual Espanha reconhecia a soberania de Portugal.
Olivença voltou a sofrer a ocupação espanhola em 1801, no episódio que ficaria conhecido como a Guerra das Laranjas. Foi nesse cenário, ao eclodir a Guerra Peninsular, que se registrou a invasão do reino de Portugal, em 20 de Maio de 1801, por tropas espanholas sob o comando de Manuel Godoy, as quais rapidamente conquistaram as praças de Olivença, Juromenha e outras no Alto Alentejo.
Como na luta contra a Inglaterra, Portugal recusou juntar-se à França, que tinha Espanha como aliada, estes dois países pretenderam conquistar o território português. Após as guerras napoleônicas, realizou-se o Congresso de Viena, onde não foi reconhecido internacionalmente o domínio espanhol de Olivença e foram reforçados os direitos de Portugal. Espanha assinou o tratado de devolução, mas, nunca cumpriu o acordo até os dias de hoje.
Atualmente, Olivença é administrada por Espanha, ainda que Portugal não reconheça a soberania espanhola sobre a cidade. A questão de Olivença ainda se mantém, porém, apesar dessa discórdia, as relações entre os dois países são boas.
Fruto dos dois séculos de administração espanhola e isolamento do resto de Portugal, o português oliventino já é quase uma língua morta, por sinal; os jovens não o falam mais, restando apenas alguns idosos e poucos outros que lutam pela sua preservação. O português deixou de ser a língua da população a partir da década de 1940, num processo acelerado pela política de castelhanização implementada pela Espanha.
Vindo para o Brasil, designado para servir em Natal, o alferes Onofre José da Silva constituiu família, casando-se com a paraibana, natural de Mamanguape, Inês Cipriana Geralda de Andrade (V. Câmara Cascudo, “O Livro das Velhas Figuras”, vol I, 1974, p. 91). Por haver participado das lutas pós-independência, o jovem militar teve que voltar ao seu país de origem, onde se envolveu na guerra travada entre constitucionalistas liberais e absolutistas, tomando o partido de D. Miguel.
Em Natal um filho seu, Manuel Onofre de Andrade, viria a se casar com a natalense Francisca Benvenuta de Borja. Um dos filhos do casal, João Onofre Pinheiro de Andrade, tornou-se professor e terminou por exercer o seu oficio, durante longos anos, na cidade de Martins (RN), onde casou-se com Agostinha de Souza e tiveram vários filhos.
Martins é sede de um município situado na mesorregião do Oeste Potiguar, a uma distância de quase 400 quilômetros de Natal. Com uma área territorial de 169 quilômetros quadrados, sua população, no censo de 2010 ,era de 8 228 habitantes, de acordo com o IBGE.
O município emancipou-se de Portalegre em 1841, com a denominação de Maioridade, em alusão à Maioridade do Imperador Pedro II, ocorrida no ano anterior. Seis anos depois, o nome foi alterado para Imperatriz, homenagem a D. Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, esposa de D. Pedro II e imperatriz do Brasil por quase meio século, desde 1843 até a queda do regime monárquico, em 1889. Através da lei provincial n° 35, sancionada pelo governador Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, em 7 de julho de 1890, “Imperatriz” passa a ser denominado de “Martins”, em referência a Francisco Martins Roriz, fundador de uma fazenda, origem da cidade, e construtor da capela de Nossa Senhora da Conceição, hoje igreja do Rosário.
Localizada a uma altitude de 740 metros em relação ao nível do mar, Martins recebe as alcunhas de Princesa Serrana e Campos do Jordão do Rio Grande do Norte, devido ao seu clima considerado agradável, em contraste com o clima semiárido das vizinhanças, podendo chegar a 15 °C nos meses mais frios.
Um dos principais destinos turísticos do interior potiguar, Martins se destaca no turismo de aventura, abrigando a segunda maior caverna de mármore do país, a Casa de Pedra, com 100 metros de comprimento. No ramo cultural destacam-se, um festival gastronômico, dois museus e a festa da padroeira, Nossa Senhora da Conceição, realizada a partir do final de dezembro, estendendo-se até o início de janeiro; merece menção, também, a Academia de Letras e Artes de Martins (ALAM) e a Casa de Cultura “José Câmara”.
O escritor Manoel Onofre Júnior, acabou de publicar o livro “Os Onofres – de Portugal Para o Brasil” (8 Editora, 2018) que resume a trajetória de três integrantes da família: Onofre José da Silva, o pioneiro, proveniente de Olivença, Portugal; Manuel Onofre de Andrade, que foi tipógrafo e ator, em Natal, encenando peças ao lado do poeta Lourival Açucena; e por fim, João Onofre Pinheiro de Andrade, conhecido como Professor Onofre.
As cidades de Olivença e Martins, dessa forma se unem, através do tempo e do espaço, pela ligação familiar entre o alferes, depois tenente oliventino e o professor, martinense adotivo.
Situada no alto de uma serra paradisíaca, Martins tornou-se uma das principais cidades turísticas do interior do Estado. O seu potencial, como estância climática, vem sendo explorado, pouco a pouco. Mas, não só o frio e belas paisagens fazem o encanto de Martins.
Velha cidade, outrora denominada Imperatriz, ela tem outras atrações, de interesse histórico e artístico, como, por exemplo, o Museu Demétrio Lemos, com uma extraordinária coleção de bustos e estatuetas em bronze, afora numerosas raridades bibliográficas doadas pelo coronel Demétrio, um benfeitor da terra.
Não menos interessante, o Sobrado, construção de 1871, antiga residência do senador Almino Afonso, abriga atualmente o Museu Histórico e o Museu Arqueológico.
Pouca gente sabe que, até as primeiras décadas do século XX, Martins era tida e havida como cidade-sanatório, “lugar pra héticos” (tísicos), no dizer do escritor Mário de Andrade, que a visitou em janeiro de 1929.
Muitas pessoas acometidas de tuberculose iam para Martins em busca de cura nos ares serranos. Uma destas pessoas, o poeta e escritor Henrique Castriciano, ainda jovem, esteve lá, por volta de 1895.
Em sua temporada na serra, segundo seu biógrafo, Câmara Cascudo, passeou pelos arredores a cavalo e a pé. E, um dia, foi visitar a famosa Gruta das Trincheiras, no sopé da serra. Percorrendo o seu interior, extasiou-se diante do fenômeno da estalactite, “o filete d’água lendário, que todos admiram e de que contam histórias fabulosas”. De súbito, inspiradíssimo, escreveu na própria pedra estes versos antológicos:
NA SOLIDÃO
A lágrima sem fim, a lágrima pesada,
Que eternamente cai do cimo desta gruta,
Representa alguma alma estranha e desolada,
Que mora a soluçar dentro da rocha bruta…
Esta alma quem será? Não sei! Mistério fundo…
Entretanto eu pressinto alguém, que se debruça,
E baixinho me diz, num gemido profundo:
Existe um coração na pedra que soluça…
No artigo intitulado “Um Panorama do Nordeste”, de 1931, Castriciano deu o seguinte depoimento:
“Estive no Martins há cerca de trinta anos. Lá deixei amigos, quantos desaparecidos na morte! Deles me recordo com saudade, quando a memória m’os deixa ver através a miragem da longínqua juventude. Os moços não me conhecem, mas devem ter ouvido falar no rapaz que deixou, na Gruta da Trincheira ao pé da serra, algumas linhas rimadas, lembrando a sua efêmera passagem”.
Vale salientar que a presença de Martins na obra castriciana não se restringe ao poema “Na Solidão”, mas estende-se pelo livro “Ruínas” (1897), como bem atesta Rodrigues de Carvalho, no prefácio ao referido livro.
Henrique Castriciano de Souza (1874/1947) foi, além de poeta e ensaísta, um pioneiro da luta pela educação da mulher, no Brasil, tendo sido de sua iniciativa a fundação da Escola Doméstica de Natal, estabelecimento modelar.
Irmão da poetisa Auta de Souza e do Senador Eloy de Souza, não teve grande participação na vida política do Estado, mas exerceu o cargo de vice-governador. Foi o primeiro presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras.
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