A Casa da Pedra, em Martins

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Há algum tempo, tomei conhecimento de projeto apresentado pelo Governo do Estado, com vistas ao melhor aproveitamento do potencial turístico da Serra de Martins. Pretende-se construir na chã da serra, entre outras coisas, vários mirantes, e instalar um teleférico, ligando um dos mirantes à Gruta das Trincheiras, também conhecida como Casa de Pedra, no sopé da serra. Essa enorme caverna, cadastrada na Sociedade Brasileira de Cavidades Naturais como a segunda maior do país, em mármore, tem o formato de uma casa, com “salão”, “salas”, “corredores” e “quartos”, inclusive um misterioso “quarto escuro”, sobre o qual correm algumas histórias fantásticas.

Sem dúvidas, a Casa de Pedra é um dos principais pontos turísticos de Martins, atraindo visitantes das redondezas e de outras partes do Estado. Lá estiveram, há anos, pesquisadores da UFRN, à frente o Professor Armand François Laroche, tendo efetuado explorações arqueológicas, com resultados impressionantes. Cerca de cinco mil peças, inclusive uma ossada humana, coletadas dentro e fora da gruta pelas equipes de pesquisadores, constituem parte do acervo do Museu de Martins.

Vale a pena citar trecho do relatório científico, publicado sob o título “Notas preliminares sobre o sítio pré-histórico da Casa de Pedra: Município de Martins-RN” (Mossoró: Coleção Mossoroense, 1988).

“Para defini-la, temos de considerá-la como sendo uma grande caverna, dividida em vários recintos, alguns bastante profundos e escuros. Há duas entradas, uma a leste e outra a oeste, ambas sobre as encostas do aglomerado rochoso, numa altitude de 280 m. acima do nível do mar. De uma entrada a outra, registra-se a distância de 100 m. A pequena montanha rochosa, toda em calcário, tem uma forma ligeiramente curvilínea. A sua altura acima do nível do solo não deve atingir 120 m. Pela abertura principal do lado oeste, se penetra numa espaçosa sala com 18 m. de comprimento por 12 de largura. O teto alcança mais de 10 m. de altura e dele se desprendem várias estalactites. No centro do salão, existe uma coluna de estalagmite que quase liga o solo ao teto. Formações de estalactites são, também visíveis nas paredes laterais, onde elas se apresentam, às vezes, com figurações curiosas”. (…) Em seguida, o cientista descreve os recintos laterais – “de grande extensão, porém de pouca largura e teto baixo, escuros, em contraste com o salão principal que é bastante claro.” Refere-se ao “sótão” – “salões ou recintos acima do salão grande, como se fosse um andar.”

“Na parte leste, existem, em vários recintos, bastante claros, poços profundos que parecem alcançar, em profundidade, espaços mais abertos”.

Por fim, descreve as entradas da gruta.

Afora os cientistas e outros visitantes, também estiveram na Casa de Pedra personalidades como o sábio Adolpho Lutz, o escritor Câmara Cascudo, o padre/deputado geral João Manuel (republicano histórico) e o poeta Henrique Castriciano. Este último deixou escrito na própria pedra da caverna um belo poema, depois publicado no jornal “A República”, de Natal, e transcrito em antologia literária.

Eis o poema:

NA SOLIDÃO

A lágrima sem fim, a lágrima pesada,

Que eternamente cai do cimo desta gruta,

Representa alguma alma estranha e desolada,

Que mora a soluçar dentro da rocha bruta…

 

Esta alma quem será? Não sei! Mistério fundo…

Entretanto eu pressinto alguém, que se debruça,

E baixinho me diz, num gemido profundo,

– Existe um coração na pedra que soluça…

A Casa de Pedra – está visto -, por si só vale uma visita a Martins. Mas, há muita coisa mais para se ver e curtir por lá. No Governo Tarcísio Maia construiu-se um hotel, depois privatizado, ainda hoje funcionando a contento. Pousadas são alternativas razoáveis.

Não faltam outras atrações turísticas interessantes, como o Museu Municipal, primorosamente, restaurado em 2021; o acervo histórico e artístico da Escola “Almino Afonso”; a coleção de automóveis antigos do desembargador aposentado Deusdedit Maia; a festa da padroeira, de 25 de dezembro a 6 de janeiro; excursões ecológicas: trilhas, lugares adequados à prática de rapel; culinária típica, sertaneja (com a novidade do fondue, em alguns restaurantes); mirantes, de onde se avistam panoramas belíssimos. Tudo isso e o verde dos sítios – mangueiras, cajueiros, jaqueiras e outras fruteiras (que devem ser preservadas), cobrindo a chã da serra, de uma ponta a outra.

No inverno, meses de maio, junho e julho, o clima ameno torna-se bem mais agradável, os termômetros registram de 15 a 20 graus centígrados.

Como filho adotivo de Martins, autor do livro “Martins – a Cidade e a Serra”, vibrei de entusiasmo ao saber do projeto de revitalização turística do lugar.

Martins poderá tornar-se a nossa Gramado. Com a diferença de que possui mais belezas naturais que a famosa estância da Serra Gaúcha.

Mas, infelizmente, nem tudo são flores… Soube, agora, que não mais se cogita de instalar o projetado teleférico, para o qual chegou-se a abrir uma picada na encosta da serra – do Mirante do Canto à Casa de Pedra. Consta que, na esfera do governo federal, relegou-se o teleférico de Martins a segundo plano, dando-se prioridade a um outro teleférico, junto à estátua gigantesca de Santa Rita de Cássia, em Santa Cruz. Vale dizer que este monumento, situado no cimo de um monte, já dispõe de acesso fácil por estrada de rodagem.


FOTO: Publicada no blog Qual Viagem

Manoel Onofre Jr.

Manoel Onofre Jr.

Desembargador aposentado, pesquisador e escritor. Autor de “Chão dos Simples”, “Ficcionistas Potiguares”, “Contistas Potiguares” e outros livros. Ocupa a cadeira nº 5 da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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