A Antologia Poética quarenta em quarentena é composta por poemas, entre inéditos e publicados, de 40 autores Norte-rio-grandenses. Abrimos, aqui, um parêntese para responder ao seguinte questionamento: o que é um escritor potiguar? Tal qual é consenso entre os pesquisadores do nosso Estado, escritor potiguar é todo aquele que, nascido ou não no RN, contribui ou contribuiu, através da sua obra, com o crescimento e fortalecimento da literatura local.
A referida coletânea, em seu conteúdo, perpassa por temas que dialogam com o atual distanciamento social resultado da pandemia que estamos vivendo. Melancolia, tristeza e esperança são composições que se inserem no eixo do material.
Todo o livro foi realizado através de apoio recíproco. Assim, capa, diagramação e textos foram confecionados em ato de solidariedade e, por conseguinte, a própria antologia está sendo distribuída, em formato de e-book, gratuitamente.
Acreditamos que com a proposta se consiga, além de dialogar com valores nossos, contribuir com a democratização do acesso à literatura potiguar em um cenário de pandemia, onde a cultura se faz ainda mais necessária e é amplamente consumida.
FOTO: Sergio Vilar
Uma nuvem cinzenta ainda encobre os quase 25 anos do regime ditatorial brasileiro. Corrupção nos quartéis. Corpos desaparecidos. Wladimir Herzog… O livro A Pátria Não é Ninguém, do escritor François Silvestre joga luzes nos escuros bastidores desses tempos nefastos a partir de uma visão apartidária, anarquista e deliciosamente real. Um livro para os dias de hoje.
A obra teve a segunda edição lançada pela editora mossoroense Sarau das Letras. São 358 páginas conduzidas pelo narrador personagem Paulo Inácio.
Paulo é um interiorano que, já na capital Recife para cursar o científico, se envolve no movimento estudantil de resistência à ditadura. Daí para um assalto a banco em São Paulo e um mergulho na clandestinidade e em toda a atmosfera cultural e ditatorial que cercou os anos 60 e 70 no Brasil.
Quem conhece a história e, principalmente, o pensamento e a intelectualidade de François Silvestre enxerga em Paulo Inácio uma espécie de alter ego do autor.
François vivenciou muitos dos lugares e situações tratadas no livro, considerado por críticos um dos melhores romances já publicados no Rio Grande do Norte.
Bom, não serei eu a contradizer o próprio autor. Em diversas passagens do livro, François questiona essa categorização. Na página 126, por exemplo, ele (Paulo Inácio), diz: “Nem que eu quisesse, os críticos iriam permitir que esse relato fosse chamado de romance”.
E, claro, também está longe de uma autobiografia. (spoiler a seguir) O autor, por exemplo, nunca foi torturado, por mais minuciosamente descrita a tortura no livro.
Também fica evidente que Paulo Inácio funciona mais como um Forrest Gump dos quadrantes da ditadura e também do pensamento anárquico-ideológico de François.
O título da obra escancara isso. François nega a pátria ao movimento estudantil, à clandestinidade, à esquerda trotskista, marxista, stalinista… E muito menos à polícia política.
A Pátria, não sendo ninguém, é de todos. É anárquica. Do homem sem partido. Da mulher trabalhadora. Do brasileiro que um dia Cascudo disse ser a melhor coisa deste país corrupto (o “país corrupto” ponha na minha conta).
E François impõe uma narrativa anarquista em toda a trama. Seja estereotipando a esquerda. Seja condenando a direita. Ou tirando um sarro elegante a todo tipo de organização, seja partidária, militar ou religiosa.
Para traçar todo o panorama da época e das ideias do autor, o forrest Paulo Inácio assalta o Banco Nacional, conversa com Jango, assiste o nascer das igrejas evangélicas e do Comando Vermelho, é torturado, se encontra com Lamarca…
Todos os personagens reais cabíveis em um livro ambientado nos anos de chumbo estão lá: Dom Helder Câmara, Geraldo Vandré, os presidentes da época, Marighella…
Tudo com mesclas de história, tensão e até humor, com ótimas tiradas do personagem Valdomiro, um funcionário aposentado, religioso, meio conservadorzão. Os papos no Bar do Ramón, um boteco que reunia jornalistas, artistas… as madrugadas no Redondo…
E também muita teoria filosófica típica de François. E aí vem uma das duas únicas críticas que faço ao livro. E são críticas que não diminuem um centavo do valor da obra.
Pensem comigo: Paulo Inácio é um interiorano que vai estudar o científico no Recife e logo cai no movimento estudantil e na clandestinidade. Em São Paulo, trabalha em subempregos.
No entanto ele possui um conhecimento histórico e filosófico muito acima da média para um personagem com essa trajetória, esse currículo. Nada impossível, também. O próprio François é natural de Martins, interior potiguar. Salvo engano estudou em Recife, também participou do movimento estudantil…
Mas é formado em Direito e Jornalismo. É um leitor voraz de filósofos, como Ortega Y Gasset, para citar um. Tem um conhecimento que a própria idade lapidou e um jovem como Paulo Inácio dificilmente o teria. Será que o próprio Fraçois, na idade de Paulo Inácio, seria capaz de escrever um livro como esse?
Minha segunda observação são algumas passagens que nada contribuem para o caminhar da trama. Por outro lado, são histórias tão deliciosas, que em vez de crítica são bônus ao livro.
As páginas que trazem Nhô Quinquin, um exímio contador de estórias de trancoso, como se diz no interior, são deleites. E tudo bem, esses quase contos à parte, são inseridos em capítulos intitulados “interseções”, como se estivessem mesmo fora do contexto, mas há interseções inseridas na trama e outras, maravilhosamente fora.
A Pátria Não é Ninguém é François Silvestre, o jornalista, o boêmio, o pensador, o anarquista. É também um livro obrigatório aos tempos de hoje, de um Brasil bestamente antagônico, maniqueísta. A Pátria não é Ninguém é um livro direcionado ao povo. Aliás, povo? Bom, termino com um trecho do livro, que resume a filosofia da obra, de sua necessidade e de sua ideologia:
“Diferentemente de povo, multidão existe. Povo, não. Povo não existe, é uma abstração. Povo não é formado por pessoas, mas pelo discurso e retórica do poder. Povo é uma artimanha da demagogia. Até nos textos filosóficos a palavra povo agasalha-se em manta esfarrapada, lençol roto.
O mesmo não acontece com a multidão. Ela empolga quem a mobiliza e assusta a quem se opõe. A multidão é real, mas não é abstração. E também é diferente de massa. A massa se junta pela curiosidade, é passiva. A multidão se forma pela opinião, é opinativa. Mas é, por isso mesmo, soma de deficiências. Por ser real, sensível e humana, a multidão oscila entre a beleza e a fragilidade. Ela tem o caráter dos seus componentes, numa mistura heterogênea e desmontável. Mas é real e assusta. Mas é bela e empolga. Mas é viva e morre.”
(Paulo Inácio, alter ego de François Silvestre)
O que faço é tentar pintar com palavras as
minhas fantasias diante do assombro que é a vida.
Rubem Alves
Rosycleide é dessas mulheres que exalam sensualidade. E seu trabalho exige que ela seja assim, que exiba seu corpo e desperte o desejo dos que pagam caro para desfrutar de algumas horas de prazer.
É bem verdade que alguns pagam, também, somente para vê-la se exibindo e receber alguns carinhos, digamos assim. Foi o caso de um homem com disfunção erétil, mas que não resistiu aos apelos da rapariga mais cortejada do cabaré de Beth Cuscuz.
Outros, mais exigentes e endinheirados, pagam por um final de semana com a moça em outra cidade, longe dos olhares curiosos que poderiam, por exemplo, abominar um ménage à trois.
É o caso de um certo governador que vai a Teresina conferir de perto os dotes dessa mulher sedutora que tem enlouquecido os homens das redondezas e propõe à dona do cabaré um final de semana com Rosycleide por uma nota alta (detalhe: a esposa dele vai junto). A cafetina faz um certo charme no começo porque sabe que o negócio será lucrativo. O trajeto é feito de helicóptero, na calada da noite, para evitar mexericos.
A história de Rosycleide, cujo nome de batismo é Geralda, começa em Acari, no interior do Rio Grande do Norte. De origem pobre, filha única de uma viúva, ainda menina começa a exibir seu corpo para os moleques da cidade. As exibições geralmente acontecem nas paredes do açude Itans. Em troca, pede feijão, arroz, farinha… Não queria ver a mãe passando necessidade e essa foi a única maneira que encontrou de poder ajudá-la.
Já adolescente, difamada entre os moleques do lugar, foi defendida por Dagoberto, o rapaz mais rico da cidade, filho do dono da farmácia e do armazém e estudante de odontologia na capital. O episódio me fez lembrar Geni, personagem da canção-crônica “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque.
Essa é uma das muitas histórias do romance A vingança (Z Editora, 2018), de Antônio Melo, que estreou na literatura de forma auspiciosa, no dizer do seu amigo e também jornalista Osair Vasconcelos, que assina as orelhas e é responsável pelo selo de publicação da obra.
As histórias são ambientadas no sertão da Paraíba, no Ceará, no Piauí, no Maranhão e no Rio Grande do Norte, lá pelos idos da década de 1970. Tempos de seca, coronelismo, ditadura, pistolagem, machismo… Impossível ficar indiferente às histórias de Chico, Dudé, Rosycleide, Valentão e tantos outros personagens que compõem a narrativa ágil e assombrosa de “A vingança”.
São mais de 300 páginas de aventuras e desventuras pelos rincões de um Nordeste castigado pela seca e vítima dos mandos e desmandos de políticos corruptos que pregam um progresso enganoso, em nome de muitos privilégios e da manutenção dos seus currais eleitorais, sustentados, sobretudo, pela miséria e ignorância do povo.
Gente que é enganada de diversas maneiras. Gente que muitas vezes enxerga seus patrões como “homens bons”, e até como “homens santos”, porque estes lhes “concedem” terra para plantar, um pouco da farinha que produzem ali, alguns litros de leite, tudo à custa de muita exploração. Gente que é devota de Padre Cícero, São José, Santa Rita de Cássia, Santa Luzia, devoção que os mantém esperançosos de que dias melhores virão, mesmo que nunca cheguem.
Jornalista experiente e observador arguto, Antônio Melo assina um texto enxuto, objetivo, privilegiando os diálogos e abrindo mão de longas descrições de cenários, ambientes e personagens. “Poupei-me de descrever a região: acho que Euclides da Cunha e Graciliano Ramos roubaram-me a ideia que eu já tinha, antes mesmo de ter nascido”, diz o autor, na contracapa do livro, dando mais uma prova de sua originalidade e ousadia.
Aliás, acho que alguns personagens são muito bem caracterizados tanto pelas descrições certeiras do autor como pelos diálogos sem meias-palavras, tão característicos do povo nordestino, uma gente espontânea, acolhedora, resiliente…
Talvez uma máxima de Rousseau possa sintetizar a essência desses personagens, tão calejados pelo sofrimento da seca e pelas injustiças sociais: “o homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe”. Ou, quem sabe, estivesse com a razão o filósofo francês Jean-Paul Sartre quando afirmou que “o homem não é nada mais do que ele faz de si mesmo”.
A ideia inicial era escrever um livro de contos, que acabou se transformando nesse romance baseado “em verdades que viraram ficção”, como ele mesmo define a obra na dedicatória do exemplar com que me presenteou durante o trabalho de revisão do seu segundo romance, que está no prelo. A personagem central ganhou tamanha força que ele não teve outra opção a não ser não escrever um romance. Mistérios do mundo da ficção…
E por falar em protagonista, algo que me chamou atenção nos personagens é que eles não se encaixam em certos padrões e não podem ser descritos/compreendidos sob um único ponto de vista. A ausência de uma visão maniqueísta, como tantas vezes observamos na literatura, nos aproxima mais dos personagens (e de suas idiossincrasias) e nos faz compreender melhor os caminhos que decidem(?) percorrer ao longo da narrativa. Afinal, como diz Drummond, “todo ser humano é um estranho ímpar”.
Para Chico Mendonça, escritor e jornalista, que assina o prefácio da obra, Antônio Melo apresenta “[…] não uma visão romântica, mas um olhar afetuoso sobre as pessoas e, portanto, revelador de suas essências. Seus personagens, pelo mesmo viés, ganham vida, vida real”.
Coincidentemente, também observei isso no seu “Diário das folhas mortas”, que traz personagens cheios de conflitos/dilemas, mas certos de que precisam lutar pelos seus ideais, independentemente do julgamento alheio.
“Antônio Melo gosta de gente porque olha para elas e as aceita como são, não exige aperfeiçoamentos para caberem no seu afeto, no seu olhar”, arremata Chico.
Talvez o segredo seja o que ensina o poeta Manoel de Barros: dá “respeito às coisas desimportantes / e aos seres desimportantes”. Afinal, como diz o poeta mato-grossense, no seu “Tratado geral das grandezas do ínfimo”, poderoso não é aquele que descobre ouro, mas aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
O poeta potiguar Thiago Medeiros, artista autônomo e um dos idealizadores do Sarau Insurgências Poéticas, é mais uma vítima do setor cultural paralisado pelas restrições impostas pelo combate ao Covid-19. Mas quem quiser tem a chance de ajudar e de maneira bem fácil.
Thiago está com seu segundo e mais novo livro prontinho. Estava agendado lançamento até o estouro da pandemia. Mas se você quiser pode adquiri-lo, ler ótimos poemas e ajudar um artista nesses tempos difíceis. Clique AQUI, veja mais sobre o livro e saiba como adquiri-lo.
Em “ARDÊNCIA”, Thiago apresenta versos que passeiam entre a redescoberta do amor e suas libertações, resistência e coragem para reexistir em dias não tão fáceis e tão pouco simples. O autor abre seu corpo, sua vida e seus sentimentos para refletir sobre planos de fuga de arder e sarar. Abre também cortes entre a rotina e o pensamento sobre o amor e suas profundidades.
Mais abaixo, seu lamento postado no facebook:
“Os tempos para os trabalhadores autônomos e individuais como eu, como os meus companheir@s de insurgências poéticas, como carlota, clara, cecilia, meysa e mais uma lista interminável de trabalhadores que estão desesperados sem saber como vencer uma pandemia e as contas para pagar que chegam como se não houvesse amanhã.
todas nós perdemos agendas, trabalhos que suadamente nos dariam um trocado para dar garantia e minimamente driblar os leões que aparecem com a mínima dignidade, dignidade de trabalhadores e trabalhadoras.
poderia me manter firme acreditando em um milagre nos dias que virão, uma semana se passou. os medos cresceram, as contas chegando, as lágrimas já não dão mais resultado, os longos áudios para a família, para os amigos mais próximos, para o psicólogo não estão dando esperança.
desculpem amigos e amigas a quem tenho perturbado e, muitas vezes, recebido silêncio que não sei se é melhor do que as respostas agressivas que tenho recebido de alguns. acreditem que quando o desespero bate na porta e um vírus quer entrar pela janela não sei se tem que segure a sanidade e mantenha firme o desejo de resistir.
nesse domingo o único desejo é de desistir mesmo. não pelo externo, mas pelos fracassos seguidos. eu sei que têm muito do capitalismo dentro da minha angústia. mas já não sei mais o que fazer, como fazer para dizer para as pessoas que acho que meu trabalho importa, que os trabalhos das amigas importam. em menos de 4 anos nossa classe trabalhadora tá na linha de frente toda hora, vendo ministério acabar, editais acabar e sempre o mesmo adjetivo em letras garrafais: VAGABUNDO.
não sei mais o que dizer ou como sensibilizar o pedido de que por favor, compartilhem a pré-venda do livro, as artesanias dos artesãos e artesãs da cidade, de que nós precisamos de vocês, assim como vocês dizem que precisam da arte para sobreviver. nós precisamos desse retroalimento para que nossos trabalhos permaneçam vivos, para que nós permaneçamos vivas.
com 10,00 você pode colaborar com a campanha do livro, com apenas um clique você pode compartilhar ela nas suas redes.
pelo amor de todas as deusas e deuses que vocês acreditam, a você trabalhador de outra classe que pode colaborar, nos faça acreditar que existe solidariedade, nos ajude a acreditar na gente mesmo.
perdão pela lamentação, hoje não tá dando.”
O primeiro Encontro 8M do Mulherio das Letras Zila Mamede acontece neste sábado no Museu Câmara Cascudo, situado à avenida Hermes da Fonseca, 1398, em Tirol, próximo ao Quartel do Exército. O evento tem acesso livre para apresentações musicais, oficinas, debates, filmes e exposição. Confira a programação completa!
8h30: Credenciamento
9h-9h30: ABERTURA – Apresentação Cultural: ‘Pocket show com Maria Fxntes’
9h30-11h30: FILME – Democracia em Vertigem (Direção: Petra Costa)
9h30-10h30: OFICINA – Confecção de Abayomi
FACILITADORA: Prof. Ana Paula Campos
OBS: Serão 15 vagas, com inscrições no credenciamento por ordem de chegada.
10h30-11h30: CURTA ESPECIAL – ‘Hair Love’ (Direção: Matthew A. Cherry) + MICROFONE ABERTO (Depoimentos)
11h30-12h30: RODA DE CONVERSA – ‘Democracia e Direitos das Mulheres’
CONVIDADAS:
1. Roselma Rocha (Secretaria de Mulheres – SEMJIDH)
2. Penha Casado (UFRN)
3. Francisca Bezerra (Comunidade Indígena de Lagoa do Tapará)
4. Teresa Freire (Bandeira Lilás/ Movimentos de Mulheres)
MEDIADORA:
Kalina Paiva (IFRN)
12h30-14h: Intervalo (almoço)
14h-14h20: Apresentação Cultural – Performance ‘SANGUE’ com Célia Melo.
14h30-16h30: OFICINA – ‘Poesia Feminina Potiguar em Suporte Alternativo: Produção em Livro Cartonero’
FACILITADORA: Prof. Gilvânia Machado
OBS: Serão 10 vagas com inscrições no credenciamento por ordem de chegada.
14h30-16h: FILME – ‘As Mil Mulheres’ (Direção: Rita Toledo)
16h-17h: RODA DE CONVERSA – ‘Protagonismo Feminino: sororidade, representatividade e luta’
CONVIDADAS:
1. Ana Claudia Trigueiro (Escritora)
2. Bia Crispim (Escritora)
3. Rosy Nascimento (Cineasta)
4. Lidiane Pacheco (Escritora)
MEDIADORA:
Ana Paula Campos (Escritora)
17h-17h30: PALAVRA DO MULHERIO DAS LETRAS Zila Mamede – ‘A Leitura e a Escrita das Mulheres como Instrumento de Resistência’
17h30: ENCERRAMENTO
Durante o evento haverá Feira e Exposição do projeto TRANSFORME-SE, com a coleção ‘Empoderando as Mulheres Afrodescendentes’
A União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte (UBE/RN) publicou uma coletânea de prosa em comemoração ao seu aniversário de 60 anos, celebrados ano passado. Os textos contemplam os gêneros “contos e crônicas”. A coletânea reuniu um total de 60 autores, a maioria associados da instituição e alguns convidados especiais, principalmente de outras UBE’s do país. Além disso, a coletânea prestou homenagem a sete cronistas do RN, sendo cinco homens e duas mulheres: Berilo Wanderley, Dorian Gray Caldas, Luís Carlos Guimarães, Myriam Coeli, Newton Navarro, Palmyra Wanderley e Sanderson Negreiros.
A coletânea foi lançada no dia 01 de outubro de 2019, no mês que, convencionalmente, se celebra a criança e o livro, no Teatro de Cultura Popular da FJA, contando com a presença de autores, intelectuais, professores e mediadores de leitura.
A Comissão Editorial responsável pela obra, sob a presidência do organizador, contou com a participação da professora, escritora e poeta Gilvânia Machado, da escritora Jânia Souza, dos escritores e poetas José Ivam Pinheiro e Paulo Caldas Neto e também teve a colaboração da atual presidente da UBE/RN, a autora Tereza Custódio.
A obra teve uma tiragem de 800 exemplares. Cada um dos autores recebeu 10 livros referentes à sua cota de participação.
A coletânea teve um texto de apresentação escrito pelo presidente da UBE/RN à época, o escritor Eduardo Gosson, o prefácio elaborado pelo professor doutor, escritor e crítico literário Humberto Hermenegildo, e o texto das orelhas pelo organizador da coletânea, o poeta e jornalista José de Castro.
A obra é bem representativa da literatura em prosa no âmbito do Rio Grande do Norte de hoje, reunindo autores de várias faixas de idade e de gênero, sendo a maioria dos textos advindos de mulheres.
A escolha dos gêneros “contos e crônicas” deveu-se a uma diretriz da instituição em alternar suas publicações entre “poesia e prosa”, uma vez que a edição anterior, editada no ano de 2015, foi inteiramente dedicada a poemas. Dessa forma, daqui a dois anos, já sob a direção da nova presidente da instituição, a escritora Tereza Custódio, a UBE/RN pretende publicar nova coletânea que, obedecendo à alternância, voltará a ser no gênero da poesia.
A União Brasileira de Escritores sente-se orgulhosa desta obra, que prestou homenagens a autores do quilate de um Newton Navarro, o qual também assina a capa do livro, com uma tela de sua autoria, gentilmente cedida pelos seus familiares.
Em decorrência dessa boa aceitação da Coletânea, a UBE/RN conseguiu estabelecer uma boa parceria com a Livraria Manimbu, abrindo espaço para a apresentação da Coletânea, o que foi feito nesse ano de 2020 com uma fala de duas participantes da obra: a escritora Ana Cláudia Trigueiro e a cronista Andreia Braz.
Na sequência, foi aberta para a instituição a agenda do Sábado Literário, coordenado pelo escritor e livreiro Aluísio Azevedo Júnior (que também é um dos participantes da Coletânea), com um calendário de exposição sobre obras de associados da instituição.
A UBE/RN entende que não pode ficar apenas com edições de coletâneas a cada dois anos. E, assim, a partir da eleição de sua nova diretoria, está com planos de dinamização do seu selo editorial, Nave da Palavra, o que poderá ampliar o horizonte de publicações de livros de seus confrades e confreiras.
Nessa mesma linha, está sendo gestada a ideia de se editar uma Revista Cultural Eletrônica, com periodicidade semestral, que será um importante espaço de publicação permanente de textos, tanto em prosa quanto em poesia, além de resenhas, ensaios literários e agendas de lançamento de livros de associados.
Além do mais, ainda nessa primeira quinzena de março, a diretoria da UBE/RN tem uma reunião marcada com professores de Língua Portuguesa do IFRN, com vistas a uma exposição sobre as possibilidades de adoção do livro em salas de aula daquele Instituto.
E também já está com alguns novos projetos de inserção da mesma obra junto a escolas das redes públicas e privadas da Educação Básica, inclusive com o estímulo à descoberta de novos talentos na área da escrita através da promoção de concursos literários para estudantes dessas redes.
Importante relembrar que a UBE conseguiu que o dia 8 de Setembro fosse instituído oficialmente como o Dia do Livro Infantojuvenil, no âmbito do município de Natal e para todo o Estado do Rio Grande do Norte, como uma homenagem à data de natalício da escritora Nati Cortez, uma das pioneiras da literatura infantil no Estado. Assim, programações especiais, principalmente junto a escolas já estão sendo pensadas, para que essa data seja comemorada em larga escala.
Tudo isso aponta para uma nova fase na vida da União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte que pretende completar 61 anos caminhando na direção de se firmar definitivamente como uma das instituições mais antigas na área da literatura com uma atuação efetiva em prol dos escritores do Estado.
Finalmente, a UBE/RN informa aos interessados em conhecer a coletânea Contos e Crônicas, que ela pode ser adquirida na Livraria Manimbu, rua Assu – 666 e na Cooperativa Cultural da UFRN – Natal/RN.
Incentivar o hábito da leitura e promover encontros entre os amantes de café e da literatura. É com esse objetivo que a Secretaria de Estado da Administração (Sead), por meio da Escola de Governo Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales (EGRN), inicia a partir do próximo dia 04 de março o projeto “Cafezinho com Poesia”.
A ideia é reunir, semanalmente, durante uma hora, pessoas interessadas em declamar poemas e trechos literários. Ao mesmo tempo, os participantes poderão desfrutar de um cafezinho saboroso recém-saído do fogo. A ação será realizada na sala de descompressão da Biblioteca da EGRN (lateral da recepção do espaço), sempre às quartas-feiras, em dois horários: 9h e 14h. Podem participar servidores e usuários regulares do espaço, além de quaisquer outras pessoas interessadas.
A iniciativa do projeto é das bolsistas de Biblioteconomia lotadas na EGRN, Monise Vila e Emily Araújo. Segundo elas, o “Cafezinho com Poesia” visa não só o incentivo à leitura, mas também aproximar as pessoas por meio dos livros e das boas conversas. “À priori vamos sugerir alguns títulos para leitura, mas a intenção é que os participantes também tragam suas contribuições no futuro. Vamos também registrar todos os encontros e reuni-los em um mural de fotos”, explica Monise.
“Cafezinho com Poesia”
Quando: a partir do dia 04 de março (sempre às quartas-feiras)
Horários: 9h e 14h
Local: Biblioteca da Escola de Governo, Centro Administrativo do Estado
Público: qualquer pessoa interessada
A Academia Norte-Rio-Grandense de Letras (ALRN) declarou vaga a Cadeira 16 da instituição. Dessa forma estão abertas inscrições pelo prazo de 60 dias, a partir da publicação, no último dia 11, aos candidatos que se sentirem habilitados a ocupar o posto, puderem realizar sua inscrição. Para tal, basta apresentar currículo atualizado e exemplares de suas obras publicados em formato de livro individual.
A Cadeira 16 da ANLR tem como patrono o médico Segundo Wanderley. O fundador da cadeira foi o poeta Francisco Palma. E os ocupantes, até o momento, foram o professor Rômulo Wanderley, a poeta assuense Maria Eugênia Montenegro e, por último, o advogado Eider Furtado.
Por enquanto, dois nomes prometem a disputa: o advogado Armando Holanda, e o dramaturgo e poeta Racine Santos. Racine, macaibense, tem longa trajetória de militância no teatro e na literatura. Ano passado lançou novo romance “…De susto, de bala ou vício”. Armando Holanda é mineiro, ex-presidente da OAB/RN e tem dois livros publicados de sua autoria na área do direito.
Como se sabe, a Academia é formada por 40 nomes. Neste post AQUI, eu sugeri outros 40 nomes, afora os já nomeados imortais. E nesta lista já consta o nome de Racine. Sem dúvida, um intelectual que abrilhantará a instituição. E um homem do teatro, como pouco se vê por ali.
A HQ INSONHO (roteiro, Leander Moura e arte, Cristal Moura) será lançada, neste sábado (15), das 10h às 15h, no Seburubu, Av. Deodoro da Fonseca, 307 – Cidade Alta, Natal. A obra teve seu pré-lançamento no Butantã Gibicon, e o primeiro lançamento oficial na CCXP 2019.
Sinopse
Em um edifício vivem isolados uma mãe e seu filho pequeno. Eles não sabem, mas algo está à espreita no escuro. Às vezes, o horror só precisa de certas condições para se instalar. Depois, toma conta de uma frágil realidade. Mas o que é real? Seria apenas tudo um sonho ruim? Manipulação? A resposta pode trazer um gosto amargo. A publicação no gênero terror foi feita de forma independente.
A obra tem formato 20 x 27 cm, 32 páginas em papel offset 90gª, capa cartão e grampeada.
Na mesma ocasião também será lançada a HQ O Corvo, baseada no poema de Edgar Allan Poe, por Leander Moura. Meses atrás saiu uma edição de forma independente, e pouco depois ganhou uma publicação ampliada pela editora Diário Macabro, a qual teve lançamento em outubro, na Horror Expo 2019, e depois no 1ª Butantã Gibicon. A nova edição tem 42 páginas), papel couchê, grampeada e marca página.
Sinopse
O poema O Corvo (The Raven), do escritor norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849), foi publicado pela primeira vez em 1845, no New York Evening Mirror. O texto conta a história de um homem que, assustado com as memórias de uma mulher morta chamada Lenore, é visitado por um corvo à noite. Ganhou traduções de expoentes da literatura, como Baudelaire, Fernando Pessoa e Machado de Assis, e nesta versão em quadrinhos, o texto renasce com uma boa dose do horror gótico.
Roteiro adaptado e arte por Leander Moura (Horas Escuras, Maldito Sertão e Lovenomicon, Insonho e VHS).
Márcio Benjamin, um dos maiores expoentes do terror nacional e potiguar, participará de um importante movimento literário internacional.
Entre fevereiro e junho de 2020, mais de 70 romancistas, contistas, poetas, ensaístas e atores ligados ao mundo do livro latino-americano, norte-americano e europeu participarão da 7° edição do Printemps Littéraire Brésilien (Primavera Literária Brasileira) que acontecerá em cinco países europeus (França, Portugal, Itália, Alemanha e Bélgica) e em diversas cidades dos Estados Unidos.
Debates, leituras, saraus literários, ateliês de escrita criativa e lançamentos de livros serão organizados em livrarias, centros culturais, espaços institucionais ou voltados ao ensino primário, secundário e universitário.
A Primavera Literária Brasileira inscreve-se numa perspectiva pedagógica e se estende aos campos da promoção e divulgação da cultura e da literatura lusófonas. Trata-se de um encontro anual inicialmente idealizado para promover e ampliar a formação de estudantes em letras inscritos nos cursos de português em instituições de ensino.
Desde a sua criação, em 2014, pelo professor Leonardo Tonus (Universidade de Sorbonne) o evento já se consolidou como um importante espaço de discussão literária, potencializando leituras e enriquecedoras experiências culturais em torno da língua portuguesa.
O conjunto das atividades compreende uma comissão organizadora composta por diversos atores do mundo do livro (editores, escritores, professores, estudantes em letras) do Brasil, da Europa e dos Estados Unidos.
Autor dos livros ‘Maldito Sertão’, ‘Fome’ e atualmente ‘Agouro’, Márcio Benjamin já havia participado da edição de 2016 do movimento, onde palestrou na Universidade de Sorbonne e participou de mesa de debate no Salão do Livro de Paris.
Em abril de 2020, dentro da programação do movimento, será a vez das Universidades de Columbia, em Nova York e de Brown em Providence, se arrepiarem com o nosso terror sertanejo. Na oportunidade, além de debater acerca da sua produção do terror nacional com base na oralidade, será lançado o novo livro do autor, ‘Agouro’, e a versão em inglês de seu maior sucesso, ‘Maldito Sertão’.
Em épocas de ataque à cultura, é importante destacar que o livro ‘Agouro’ foi viabilizado por meio da Lei Municipal Djalma Maranhão e Prefeitura de Natal, bem como conta com a patrocínio direto do Hotel Natal Dunnas e o apoio das empresas potiguares Barbearia Estilo Ousado Sampa e Artemus Coiffeurs.
Não poderia haver momento mais oportuno do que o atual para a reedição de “A pátria não é ninguém”, do escritor François Silvestre. Não apenas porque o livro está esgotado e tenha intrínseca qualidade, mas, sobretudo, devido a tenebrosa conjuntura política brasileira, que faz com que tudo ganhe assustadora urgência.
A primeira edição veio a lume em 2002, pela saudosa Editora A.S Livros, e foi muito bem recebida por críticos e leitores. A leitura causou-me forte impressão à época. É livro obrigatório em qualquer antologia ficcional que se faça no Rio Grande do Norte. Eu, que conheço relativamente bem a literatura potiguar, o coloco sem medo entre os dez melhores.
Com projeto gráfico primoroso (a capa, linda, é de Raíssa Tâmisa), a nova edição sai pela editora Sarau das Letras. Tem apresentação do escritor, crítico e integrante da ANL (Academia Norte-rio-grandense de Letras), Manoel Onofre Júnior, e prefácio do escritor e editor Clauder Arcanjo.
“Esta obra, no meu modesto entender, afigura-se importante pelo seu caráter de documento – painel das trevas – mas também pelos aspectos formais, reveladores de um artesão da palavra, no pleno domínio do seu ofício”, afirma Manoel Onofre Jr.
Em seguida, ele comenta a estrutura da obra: “A ação romanesca desenvolve-se em três planos distintos, sem preocupações de ordenamento cronológico: 1- os horrores da era Médici; 2 – a distensão ‘lenta, gradual e segura’, vale dizer, a ditadura agonizante; 3 – a infância sertaneja do narrador, no sertão pernambucano.”
“Neste livro de François Silvestre, os capítulos narram acontecimentos entre 1977 e 1982. Entrelaçados com intersecções, nem sempre em ordem cronológica, num intrincado tecido de memória, relato-reportagem e ficção”, escreve Clauder Arcanjo.
Ainda no prefácio, Clauder alerta o leitor que não irá encontrar somente “a reportagem de um período em que o medo imperava, e a tortura mostrava suas garras e sua fúria covarde nos locais eleitos pelos militares golpistas e seus áulicos-babões pra debutar maldades em cada vez mais desumanas maquinarias e procedimentos. Haverá de encontrar isso, mas verás, também que François não foge à luta de narrar tudo como uma crônica de época, madura e inventiva”.
Por decisão do autor não haverá lançamento desta nova edição de “A pátria não é ninguém”. O livro está à venda na Livraria Independência, em Mossoró, e na Cooperativa Cultural, no Centro de Convivência, da UFRN.
Senti uma vontade enorme de relê-lo, o que farei depois de acabar “Os irmãos Tanner”, romance de outro craque, o suíço Robert Walser.
A escritora Helena Monteira e o grupo Mulheres Tecendo Artes têm a honra de convidar todos ao lançamento da II Antologia das Escritoras Santo-Antonienses: Vivências & Inspirações, que será realizado nesta quinta-feira, das 16h às 20h, na Câmara Municipal dos Vereadores de Santo Antônio, localizada na Praça Getúlio Vargas, nº 308, no centro da cidade.
A obra é composta por nove escritoras e poetisas: Ana Berlin, Ana Lúcia dos Santos, Cristiane Duarte, Élida Raquel, Gabriela Maurício, Helena Monteiro, Laura Sofia, Liana Lemos e Lídia Cristina. Cada uma, apresentando características distintas, expressa suas emoções e afetos em memórias literárias, poemas, literatura de cordel, pensamentos, crônicas e contos, levando o leitor a embarcar numa inimaginável viagem introspectiva.
O Mulheres Tecendo Artes é um coletivo feminino que surgiu a partir da realização do documentário “Santo Antônio de Todas as Artes”, produzido em 2011, patrocinado pela Fundação José Augusto – FJA, Banco do Nordeste – BNB, Instituto Nordeste de Cidadania – INEC e o Ministério da Cultura – MINC. No contato com as comunidades rurais e na zona urbana, durante a execução de entrevistas, registraram-se depoimentos de mulheres que detinham escritos “engavetados” e, outros tantos, transformados em “diários”.
Acredita-se que, por razões “machistas” ainda vigentes em pleno século XXI, essas mulheres não tinham a coragem de mostrar seus escritos, sendo muitas vezes vistas meramente como mulheres do lar, despidas de sensibilidade, afetos e desejos de expressar seus pensamentos e sonhos. Entretanto, ficou claro, durante as entrevistas, que as mulheres recorriam à arte, seja escrita ou oral, como válvula de escape e de integridade da saúde emocional.
Ao final do documentário, foi estabelecido contato com essas mulheres e proposta a junção desses escritos para publicá-los. Muitas delas aderiram à ideia, outras preferiram continuar no anonimato por receio do que a sociedade pensaria a respeito. É lamentável que, na sociedade atual, muitas mulheres ainda se mantenham reféns do “machismo”, limitando sua liberdade de expressão.
Com os escritos das mulheres que aderiram à publicação, foi possível realizar os sonhos destas, nascendo assim a I Antologia das Escritoras Santo-Antonienses: Um Salto Poético, lançada em 13 de dezembro de 2018. Esse acontecimento inspirou outras mulheres a aderirem a esse projeto surgindo, assim, o grupo de escritoras e poetisas que nomeamos como Mulheres Tecendo Artes. Esse grupo apresenta, agora, ao público, sua II Antologia, com o desejo de que a nova obra conquiste seu espaço, mais precisamente, o coração e a alma do leitor.
Segundo Josenildo Lemos, prefaciador, professor, pesquisador, licenciado em Filosofia e Ciências Sociais, mestre em Antropologia Social (UFRN) e prefaciador do Vivências e Inspirações, “esta obra inspiradora carrega em sua essência elementos de importância para a realização de mulheres que, como Mary Wollstonecraft, escritora inglesa do século XVIII, filósofa e defensora dos direitos das mulheres, fazem valer o pensamento e desejo da referida filósofa quando diz: “eu não desejo que as mulheres tenham poder sobre os homens; mas sobre si mesmas” (A Vindication of the Rights of Woman, 2017, 368p.).
O ano de 2020 chegou e com ele o início das atividades do ‘Mulheres Lendo Mulheres’, o clube de leitura do coletivo feminista literário Mulherio das Letras Zila Mamede – Natal/RN.
As reuniões são abertas, gratuitas e ocorrem todo terceiro sábado do mês, sempre às 16h, de janeiro a dezembro. O local é a Livraria Manimbu (Rua Açu, 666, no bairro de Tirol). Homens são bem-vindos aos encontros, desde que compreendam que esse é um espaço voltado ao protagonismos das mulheres.
O objetivo do clube é divulgar, estimular a leitura e promover a literatura escrita por mulheres; além de criar oportunidades de discussões a cerca do papel da mulher e sua escrita no universo literário e no seu cotidiano.
A dinâmica de escolha dos livros a serem lidos será feita de modo presencial, com apresentação de sugestões pelas participantes e, em seguida, a decisão por meio do voto. Essa foi a maneira pensada inicialmente, mas a proposta está aberta a outras sugestões tanto de escolha dos livros quanto de roteiro das reuniões do clube.
Como o primeiro encontro já ocorre agora em janeiro, dia 18, excepcionalmente, a escolha foi feita no grupo de WhatsApp do Mulherio. E a decisão foi pelo livro O ARADO, de Zila Mamede, pois a maioria já tem um exemplar; e aquelas que ainda não o têm receberão, gratuitamente, no dia da reunião; uma cortesia da Gráfica Manimbu e Fundação José Augusto. Lembrando que aquisição dos livros dos encontros posteriores fica sob a responsabilidade de cada participante.
Agende-se e venha participar do Clube de Leitura Mulheres Lendo Mulheres!
Tendo estreado em 2009, com o livro “Dos Bondes ao Hippie Drive-in”, os autores – nossos irmãos Goncourt – enveredam mais uma vez “em busca do tempo perdido”. Aliás, o verbo enveredar não está aqui bem empregado; “Natal do Século XX” abre caminhos. Misto de memórias e documentário, com muitos dados e fotos, repassa, também, um tanto da crônica sentimental da cidade.
Na prosa ágil e leve, aparentada com a objetividade jornalística, a narrativa, do meio para o fim, torna-se, plenamente, memorialística. Episódios, curiosidades, fatos pitorescos deixam entrever um certo ar de almanaque. Alguns erros de revisão e omissões não chegam a comprometer a obra.
“Natal do Século XX” não pode faltar na estante de todo bom natalense.
A magia dos sinos tem inspirado muitos poetas, pelo mundo afora; é temática fascinante. Clauder Arcanjo, poeta consumado, soube explorar essa mina, tirando ouro de um veio, aparentemente, esgotado. Vejam os versos a seguir:
“Nem se sabe de onde vieram
Dependurados na manhã fria
Eles espalhavam seus dobres
Por cima dos telhados altos, e
A província ressumava a altar.”
Repassada de lirismo, a poesia de Clauder Arcanjo, não só neste fragmento, mas em todo o seu livro, flui, simples e clara, não precisa de chave para se abrir e decifrar.
A edição, bilíngue, valorizada pela tradução para o espanhol, do escritor Alfredo Pérez Alencart, conta com desenhos de João Helder e Miguel Elias, e numerosas fotografias, de Jose Amador Martin, Marcão Melo e Ricardo Chrisóstomo, verdadeiras obras de arte, à altura do texto.
Doze histórias compõem esta coletânea, com grande variedade temática e formal. O conto inicial, “O Amigo da Onça”, por exemplo, é uma peça de humor sobre fatos cotidianos, beirando a anedota. No conto que dá nome ao livro, narrativa mais densa e impactante, evidencia-se a versatilidade do autor, que também incursiona, com desenvoltura, pelos domínios do maravilhoso e do fantástico, em outros contos.
A prosa fluente, despida de ornamentos, prende o leitor, envolve-o prazerosamente em sua malha. Um certo viés kitsch, presente, inclusive, nos títulos de alguns contos (“Não Maltrate o Coração de uma Mãe”, “Mar de Rosas”) confere à obra especial característica.
No fim de vida, já cego, o autor ditava aos netos artigos diversos, quase sempre versando sobre temática regional. Dentre estes destacam-se os da série “Velhos Costumes do Meu Sertão”, publicados originalmente em jornal (1954), depois enfeixados em livro.
Trata-se de um repositório imenso de informações acerca do sertão antigo, a vida nas fazendas, de modo especial.
Região semi-árida, que ficou como que parada no tempo, até ao início do século XX, esse sertão, meio medieval, revive nos artigos de quem nele viveu, intensamente.
Político de primeira plana, Presidente (Governador) do Estado, mas, também, homem de letras, espírito cosmopolita, Juvenal Lamartine jamais distanciou-se do seu Seridó, queria bem a ele. A prova está neste livro admirável.
Leia também: 10 anos sem Oswaldo Lamartine. Sua última entrevista
Obra-prima do grande escritor italiano, narra a comovente história de uma família de aldeões sicilianos pobres e infelizes. O Realismo em toda a sua crueza.
Publicado em 1881, o livro não envelheceu e até apresenta uns traços de modernidade.
Nota curiosa: a inserção de provérbios em grande número no decorrer da narrativa.
Antes de mais nada, devo dizer, que não tenho a pretensão de efetuar estudo crítico e/ou biográfico sobre o grande escritor baiano, mas, apenas, quero, modestamente, revelar impressões que a leitura dos seus livros me propiciou ao longo de muitos anos.
Para começo de conversa, uma constatação óbvia, mas indispensável: a obra literária de Jorge Amado divide-se em duas fases distintas; a primeira estende-se do romance de estreia – “O País do Carnaval” (1931) – até o romance “Gabriela, Cravo e Canela” (1958), e caracteriza-se pela inserção no Regionalismo Nordestino de 30, sob influxo do Realismo Socialista. Seguem-se a esta fase duas novelas, enfeixadas num só volume – “Os Velhos Marinheiros” -, uma das quais – “A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água” – é considerada, unanimemente, a obra-prima do autor.
“Gabriela, Cravo e Canela” revive a saga do cacau no sul da Bahia, porém com um viés picaresco, e em nova linguagem, que prenuncia a segunda fase.
Vale salientar o caráter político-ideológico presente, até meados da década de 1950, na maior parte dos escritos de Jorge Amado. Ele pertencia ao Partido Comunista Brasileiro, sido eleito Deputado Federal por esta agremiação, em 1945.
Depois de “Gabriela, Cravo e Canela”, o romancista, antes tão preocupado com a problemática social, vai se transformando em um bem humorado e sensual cronista de sua gente. Se, por um lado, está livre de compromissos político-ideológicos, por outro lado passa a comprometer-se, cada vez mais, com o seu público ledor, fazendo-lhe concessões, em prejuízo do alto padrão qualitativo, que a boa literatura requer. Vira autor de best-sellers.
Nesta segunda fase, grandes figuras de mulher tornam-se protagonistas principais de caudalosas narrativas, cuja ação transcorre, quase sempre, na amada terra da Bahia.
Confesso que não consegui gostar de nenhum dos romances jorgeanos posteriores a “Gabriela, Cravo e Canela”. Tremenda frustração para este leitor voraz, que, ainda jovem, se encantara com a leitura de obras admiráveis, como, por exemplo, “Terras do Sem Fim” – a melhor expressão da saga do cacau -, e “Mar Morto”, que é quase um longo poema em prosa.
Não passei das primeiras páginas de “Dona Flor e seus Dois Maridos”, talvez o mais famoso romance da segunda fase. E “Tenda dos Milagres”, outro romance desta fase, embora legível, pareceu-me, inclusive do ponto de vista temático, algo forçado, um tanto chato, enfadonho.
“Tocaia Grande – A Face Obscura” seria um bom romance se não fosse uma versão reciclada da saga do cacau. Neste livro, Jorge Amado repete-se a si mesmo. “Um romance muito ruim” – foi como o qualificou, enfaticamente, o crítico Jaime Hipólito Dantas, em seu livro “De Autores e Livros” (Mossoró: Editora Queima-Bucha, 1992). Já “O Sumiço da Santa”, penúltimo romance de J.A. afigurou-se-me pouco mais que um pretexto para homenagear os amigos baianos e tirar brincadeiras com eles.
Pequeno romance, que julgo das obras mais frustrantes, nesta segunda fase – “A Descoberta da América pelos Turcos” – merece figurar ao lado de outro fiasco, mas, este, da primeira fase -, a trilogia “Os Subterrâneos da Liberdade”.
Da safra outonal salva-se, ao meu ver, a novela “Farda Fardão Camisola de Dormir”, pelo que contém de sátira e ironia, mas não a incluo entre as grandes obras amadas…
Resta falar sobre “Tereza Batista Cansada de Guerra”. Foi o romance do mestre baiano, que eu li, por volta de 1976, com grande expectativa.
No meu diário íntimo, anotei o seguinte:
“Aproveito a tarde de domingo para começar a ler o novo romance de Jorge Amado – ‘Tereza Batista Cansada de Guerra’.
Claro que Jorge Amando não é mais aquele… Depois de ‘Os Velhos Marinheiros’ ele parece ter entrado em decadência, esgotando o filão picaresco e as possibilidades ficcionais do seu mundo urbano /baiano /popular, tratado com maestria em ‘A Morte e a Morte de Quincas Berro d’ Água’.
Não gostei de ‘Dona Flor’, tampouco de ‘Tenda dos Milagres’, daí uma certa prevenção para com este ‘Tereza Batista’, romance posterior àqueles dois outros. Mas, de qualquer maneira, vou de leitura a dentro. E torcendo para não me decepcionar”.
Após a leitura, infelizmente, o meu sentimento era de frustração.
Tempos depois, no mesmo diário, registrei: “Jorge Amado morreu. Cansado de guerra.”
Faço-lhe estas e outras restrições, mas, separando o joio do trigo, admiro, e muito, a sua grande obra de ficção.
Enganam-se os críticos que o subestimam, atentos, somente, aos seus livros da segunda fase.
Jorge Amado muito contribuiu para a renovação da ficção brasileira, na década de 1930 e começos da década seguinte, como integrante do Regionalismo Nordestino, e, depois, num período de transição, criou duas obras mestras – “Gabriela, Cravo e Canela” e “A Morte e a Morte de Quincas Berro d’ Água” -, as quais bastariam para consagrá-lo.
Poeta, escritor, bibliófilo e editor, o cearense, radicado em Mossoró, Clauder Arcanjo, desembarca em Natal, dia 3 de dezembro, terça feira, para lançar, a partir das 17h30, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, instituição da qual ele é membro, seu mais novo livro, “Sinos (Campanas)”, Edição da Sarau das Letras em parceria com a Trilce Ediciones (Salamanca -Espanha).
Clauder Arcanjo é natural de Santana do Acaraú (CE) e reside em Mossoró (RN), desde 1986. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC), ficcionista, cronista, poeta e ensaísta. Durante anos foi professor universitário e é um dos idealizadores-produtores do programa Pedagogia da Gestão, na Tv a Cabo Mossoró (TCM), programa voltado ao incentivo às boas ações de gestão, educação e cultura na região Oeste do Estado. Clauder Arcanjo fundou juntamente com o escritor David de Medeiros Leite, a Editora Sarau das Letras, que já publicou mais de 200 livros.
Por alguns anos, Clauder foi cronista semanal do jornal Gazeta do Oeste (Mossoró), e usou durante muito tempo o heterônimo Carlos Meireles (homenagem a Carlos Drummond e Cecília Meireles) para resenhar textos literários, colaborando em sites, revistas e jornais de várias partes do país. Atualmente coordena, no Jornal de Fato, o Espaço Martins de Vasconcelos e escreve para a versão online do jornal O Mossoroense e a revista cultural Kukukaya, dentre outros veículos literários.
Publicou os seguintes livros: “Licânia” (contos), “Lápis nas Veias” (minicontos), “Novenário de Espinhos” (poemas), “Uma Garça no Asfalto” (crônicas), “Pílulas para o Silêncio” (aforismos, edição português-espanhol), “Cambono” (romance), “Separação” (contos), “Mulheres Fantásticas” (contos). E organizou em parceria com David de Medeiros Leite, “Sarau das Letras – Entrevistas com Escritores”; e com Ângela Rodrigues Gurgel e Raimundo Antônio, a coletânea “Café & Poesia”: volume I e Vol. II, em parceria com Kaliane Amorim e David de Medeiros Leite.
Clauder Arcanjo é membro da Academia de Letras do Brasil (ALB), Academia Mossoroense de Letras (AMOL), da Sociedade Brasileira para Estudos do Cangaço (SBEC), do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), e de outras instituições culturais e literárias de todo o país.
Em 2017, o escritor recebeu o título de cidadão norte-rio-grandense, que lhe foi concedido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte.
O escritor ainda tem no prelo “Carlos Meireles: Oficio de Bibliófilo”, ensaios críticos e resenhas de sua autoria, dispersos em revistas e jornais.
Além do lançamento do seu novo livro, Clauder Arcanjo participará de uma série de atividades culturais, na Grande Natal, dentro do seu oficio de militante e ativista cultural.
A seguir, alguns trechos da entrevista, que nos concedeu, para o livro “Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos” v. 1, primeiro trabalho de uma série de entrevistas que fizemos com mais de cem escritores potiguares.
No começo, tão só as leituras paradidáticas. Algumas, enfadonhas e fora de época, e de qualquer propósito. Outras, nem tanto. No caminho, graças a Deus, a mão orientadora do mestre Galvino. Ele lia para nós, seus alunos, com prazer e paixão. Nas férias, catando novidades na biblioteca do grupo escolar, a descoberta de Jorge Amado, José Lins do Rego, e tantos outros.
Sou engenheiro de petróleo, ao concluir o curso de formação, em Salvador, Bahia, optei por trabalhar em chão potiguar. No início, no vale do Açu; pouco depois, em Mossoró, onde resido até hoje.
Quando aqui cheguei, lá pelos idos de 1986, era tão somente um aprendiz de leitor. Confesso que, da literatura do Rio Grande do Norte, quase nada sabia. Foi pelos jornais, no entanto, que encontrei (e me alumbrei com) a prosa de Dorian Jorge Freire. Com o passar dos anos, curioso, meti-me pelos desvãos da poesia e da crônica potiguares. Não parei mais.
Do engenheiro, no escritor, ficou, acho eu, a disciplina e algum sentido de proporção, não mais. Do poeta e ficcionista, no engenheiro e gerente, um melhor entendimento dos dramas e tragédias humanas. O engenheiro ganhou mais, concorda?
A Sarau é coisa de quem adora livros. Melhor, de malucos por livros. David Leite e eu, cansado de vermos os novos autores publicando edições descuidadas, resolvemos ousar, criando um novo selo.
Licânia reuniu não os meus primeiros contos, mas, sim, aqueles que eu julgava mais maduros, e melhores concebidos. Li-o, reli-o, treli-o, rabisquei-o… quase à exaustão. Alguns amigos, em especial os mestres Manoel Onofre Júnior, Sânzio de Azevedo, David Leite, Marcos Ferreira, José Nicodemos, com suas avaliações e sugestões, fizeram-no melhor. Não tive, até hoje, coragem de relê-lo, na íntegra, após ter sido publicado; não por rejeitá-lo, nunca, mas com receio de querer revisá-lo, remendá-lo… Enfim, recomeçá-lo, reescrevê-lo. Tudo de novo.
A concepção de cada conto foi uma catarse, um (re)encontro com os meus espectros, com os guardados da minha província. A ficção é algo que nos consome e nos encanta. Conceber um conto é mister sobremaneira difícil, quem lê um Machado de Assis, um Tchekhov, um Moreira Campos, um Borges, um Miguel Torga… bem sabe a que estou me referindo.
Tempo, dedicação, seriedade e muito, muitíssimo respeito ao leitor. Tenho ojeriza aos que concebem sem humildade, sem submeter os seus escritos à quarentena da gaveta. Explico: guarde seus textos numa gaveta bem funda, deixe-os escondidos dos seus olhos por um longo período de tempo; depois, com o olhar crítico, revisite-os: limando-os, polindo-os, e, em especial, avaliando se resistiram ao julgamento do tempo. Uma espécie de vacina de gaveta. Depois de publicado, babau, o livro já não é mais seu, amigo. Parafraseando o poeta Mario Quintana, um erro em livro é um erro eterno.
Minha preferência? Não saberia responder. Às vezes, quero me expressar em contos maiores, em outros casos, motivo-me para criar algo mais minimalista. Apenas uma exigência: a busca utópica pelo sublime e belo. Vã, mas gostosíssima, ilusão. Lápis nas veias traz um ensaio fotográfico de Pacífico Medeiros, dentro de uma ousada diagramação do Túlio Ratto, que salva o livro.
Escrevo e leio todo santo dia. Quanto mais leio, mais me critico e me motivo. Não me vejo sem a literatura. Cato assunto e mote em todo canto e lugar, passo os dias com as antenas ligadas: uma palavra, uma situação, uma lembrança… tudo vira motivo para criar. Nem tudo presta, mas confio mais na transpiração do que na inspiração.
O bibliófilo nasceu primeiro. Depois, numa gravidez tubária, o escrevinhador. Como os livros nascem dos livros, tenho fé que, um dia, me farei melhor escritor (risos…). Minha biblioteca é o meu chamego maior: nela, abrigo doze mil paixões. Haja coração!
O Pedagogia da Gestão é um programa semanal que realizamos na TV Cabo Mossoró (TCM), e que se assenta no tripé: gestão, educação e cultura. Decidimos criar o Pedagogia para dar vez e voz aos novos talentos.
Ando, cada vez mais, relendo mais do que lendo. Nos últimos meses, vários livros de Machado de Assis, de Graciliano Ramos e de Lima Barreto. Da literatura local: o contista Newton Navarro, o poeta Paulo de Tarso Correia de Melo, o memorialista Manoel Onofre Júnior, os cronistas David Leite, Francisco Rodrigues da Costa (a quem nutro um carinho todo especial) e François Silvestre. Este, sem pestanejar, um artífice da palavra.
São os que me espantam, os que me alumbram, os que me fazem sentir menor, como escritor. São todos aqueles que, quando os leio, cato sempre pepitas novas na mina das suas criações. Alguns até já os mencionei: Shakespeare, Cervantes, Machado de Assis, Miguel Torga, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Italo Calvino, Tchekhov, Dorian Jorge Freire, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade… Ficarei por aqui. Toda lista é falha, pois sempre incompleta.
Escrever e ler. Ler e escrever. Ler (e reler) cada vez mais os clássicos, e escrever com fúria, devoção e loucura.
Não posso fugir do lugar comum: escrever é uma forma de manter-me vivo.
Ilustração: Miguel Elias
“Entre vislumbres e letras” é o mais novo livro da escritora e jornalista Josimey Costa, que nesta quinta-feira (28) promoverá sessão de autógrafo, das 19h às 21h, no restaurante Mormaço (Rua Historiador Tobias Monteiro, 2014 – Lagoa Nova, Natal).
Josimey é Doutora em Comunicação, poetisa e professora aposentada da UFRN. Desde muito jovem se dedica à escrita e já publicou vários livros, entre prosa, poesia e de cunho científico.
Nesse novo livro de 102 páginas, a autora apresenta “pequenos textos em prosa poética ilustrados por fotos de natureza, viagens e locais inspiradores de Natal e arredores”, como ela mesma define. As fotos são de sua autoria, sendo quatro de seus dois filhos, Lucca e Eric.
“Fotos e textos são reflexões sobre o cotidiano, a vida e o ser numa linguagem cheia de metáforas e musicalidade com espaços pensados para a escrita do leitor”, comenta.
Mais dois lançamentos de “Entre vislumbres e letras” estão programados: Dia 5 de dezembro, às 17h na Cooperativa Cultural da UFRN; e no dia seguinte (6 de dezembro), às 19h, na Cervejaria Petrus, em Mossoró.
As fotos, as frases, os insights, os pensamentos e as poesias contidas neste livro de Josimey Costa acenam para o profundo, para o intuitivo fecundo, flertam com os aspectos telúricos da luz, que parece capturada ao acaso. Luz que dança entre sombras e formas melancolíricas, que parecem entrar não apenas pelos olhos, mas pelos poros, instalando-se no corpo inteiro.
Aqui, cada frase e cada foto abre uma porta, nem sempre alegre, nem sempre triste, para o entendimento fácil e imediato. Quase sempre é para o sensível e para o desconhecido seus sentidos apontam. Trata-se de um sensível indomável, doce, poético e aberto, por isso mesmo este livro é um objeto de companhia, para meditação e contemplação.
Entre os aspectos telúricos da luz e os eólicos do ar, vemos a poesia dançando, devagar, mínima. Ela mesmo nos diz: “o que importa é o mínimo impossível”. Há toda uma estética contida nesta frase, que poderia render muitos outros poemas e poéticas. As fotos e as frases, em certo sentido, as fotoscritas de Josimey, ensaiam movimentos mínimos, mas alcançam grandes efeitos.
Esses efeitos são alcançados quando nos deparamos com o “mínimo impossível” de sua busca, a tentativa de capturar a beleza, o sublime, a grande saúde, a paz das imagens. Seu gesto de cobrir imagens com palavras (e vice-versa), é tocante, ainda mais porque acompanhado de outras sensibilidades, como a de seus filhos, Eric e Lucca Medeiros. As fotos e os poemas, carregados de intensa simplicidade e majestade, convidam à meditação e, por vezes, ao silêncio.
Somos assim arrastados para dentro deste silêncio das palavras, movidos pela eloquência das imagens, do mesmo modo que somos cativados pela dança tartamuda das fotografias em diálogo com a eloquência silenciosa e espiritual de Josimey. Sim, podemos dizer que há todo uma espiritualidade contida aqui, aquela que aponta para a Arte e o Aberto, àquela que nos convida ao mais alto, ao mais difícil e ao impossível.
Gustavo Castro
Se você ouvia a extinta FM Tropical na Natal nos anos 2000 e frequentava bares como o Blackout, na Ribeira, conhece a banda Jane Fonda e seu compositor, João Saraiva. É o publicitário quem assina o mais novo romance da editora paulistana Nós, vencedora do Prêmio SP de Literatura em 2018. “O dia em que morri em um desastre aéreo” tem lançamento em Natal no sábado, dia 30 de novembro, no El Rock, às 19h, com participação da banda Mad Dogs e entrada gratuita.
A obra de 114 páginas narra a história de Giovani, um brasileiro que tenta embarcar de Madri para São Paulo, mas perde o voo, e o avião que ele pegaria, cai.
“A primeira frase do livro me ganhou de imediato”, comenta Simone Paulino, diretora da Nós. Segundo o jornalista e escritor Osair Vasconcelos, “João tem um dos melhores textos da sua geração”.
O romance será lançado em Natal, João Pessoa, Recife e São Paulo e estará disponível na rede de distribuição da editora, que compreende desde grandes livrarias como Saraiva e Cultura, a outras independentes, como a Livraria da Travessa.
“O dia em que morri em um desastre aéreo” tem orelha de Antônio Xerxenesky, escritor publicado pela Companhia das Letras. Ele comenta: “no seu romance de estreia, João Saraiva põe em cena uma derrocada sintomática do Brasil atual. Desde a primeira linha estamos mergulhados nesse universo imprevisível, Kafkiano. Dialogando com uma tradição de romances fragmentados entre vários pontos de vista – Enquanto Agonizo, de William Faulkner, por exemplo – o autor mescla diversos gêneros literários num só texto.”
E conclui: “Não tenho dúvida de que João Saraiva deixará sua marca na nova literatura brasileira”.
O que: Lançamento do Livro de João Saraiva
Quando: Sábado, 30 de novembro, 19h
Onde: El Rock, em Candelária
Participação: Banda Mad Dogs
Entrada: grátis
Livro: R$40
Compositor da Jane Fonda, banda da cena autoral natalense dos anos 2000. É também publicitário em Natal, Recife e João Pessoa.
Na Semana da Consciência Negra eu quero trazer aos leitores a forma como era apresentado o negro dentro do cordel brasileiro. O racismo era forte! A imagem do negro estava sempre negativa e nunca positiva, tudo quanto era ruim se atribuía à cor negra. Escolhi algumas estrofes e versos de vários títulos de cordéis só para que possamos ter uma amostra do quanto o negro era desvalorizado no seio artístico cultural.
“Peleja de Manoel do Riachão com o Diabo”, narrativa poética de Leandro Gomes de Barros, que data de 15 de abril de 1955 (64 anos).
“Riachão estava cantando
Na cidade do Açu,
Quando apareceu um negro
Da espécie de urubu
tinha a camisa de sola
e as calças de couro cru”
“A Malassombrada Peleja de Francisco Sales com o Negro Visão”, algumas edições trazem o título: A Mal Assombrada Peleja de Francisco Sales com o Negro Visão”, eu mantenho o título da Coleção da Casa Rui Barbosa (RJ).
Francisco Sales Arêda
É comum no cordel brasileiro a figura do diabo ser personalizada sempre como um homem negro.
…
“Nisso alguém falou na porta
Pediu licença e entrou
Era um negro estranho e feio
Que a todo mundo assombrou
Com uma viola velha
Junto de mim se sentou”.
Num dos clássicos de José Pacheco, “A chegada de Lampião no Inferno”, o quadro não é diferente no tocante a ter “cão” na cor preta.
…
“Morreram 10 negros velhos
Que não trabalhavam mais…”
…
“leve 3 dúzias de negro
Entre homem e mulher …”
…
“E reuniu-se a negrada
Primeiro chegou Fuxico
Com um bacamarte velho
Gritando por Cão de Bico
Que trouxe o pau da prensa
E fosse chamar Trangença
Na casa de Maçarico”
…
“Satanás com esse incêndio
Tocou um búzio chamando
Correram todos os negros
Os que estavam brigando
Lampião pegou olhar
Não viu mais com quem brigar
Também foi se retirando”
José Soares
Isso era tão comum, que é difícil encontrar nos textos poéticos da época algum cordel que não apresentasse o mal desta maneira. Vejam também o cordel “A mulher que deu a luz a um satanás”, da autoria de José Soares, o poeta repórter.
…
“Os médicos apavorados
Naquela situação
Diante de um fenômeno
Que não tinha explicação
Não sabia distinguir
Se era um bebê ou um cão”
….
Dizem que o satanás
Era preto e muito forte
Mais não tinha experiência
Foi sequestrado pro norte
Não chegou aqui ainda
Porque não tinha transporte”.
Quem desejar ter uma leitura bem mais profunda sobre esse assunto, recomendo o livro: “O Preconceito de Cor na Literatura de Cordel”, de Clovis Moura. Uma excelente pesquisa que aborda de forma sociológica o racismo na poesia do cordel brasileiro.
José Bernardo da Silva
Até mesmo em romances, como é o caso da história de “Mariana e o Capitão do Navio”, de José Bernardo da Silva, publicado em 7 de abril de 1951 (68 anos passados) quando o texto se portava a um negro rico, ainda assim era vítima do racismo.
No cordel abaixo temos Jorge, negro, rico, presidente de uma ilha no Japão, que se apaixona por Mariana e dela não recebe nenhuma esperança.
…
“A moça disse senhor
Quem lhe deu tal liberdade,
Olhe sua posição
E a sua qualidade
Pois em casar-me com negro
Eu nunca tive vontade”
Mais adiante, Mariana também vai falar:
“…Mesmo eu não caso com negro
Nem que S. Antonio me peça”
E é dela também a expressão:
“Sai-te cururu fardado
Cor de noite de escuro”
As fotos dos autores nos mostram que todos eles eram negros, exceto Leandro Gomes de Barros, que era branco e tinha olhos azuis. Isso prova o quanto ficou forte a ideia do racismo no coletivo e foi preciso muitos anos para que se construísse uma nova forma de pensar sobre o negro.
No tocante à figura da mulher negra, há poucos folhetos que a enaltecem (Estou fazendo referência ao período anterior ao ano 2000). Podemos citar: “História e Martírio da Escrava Anástácia”, de Apolonio Alves dos Santos, “O Amor e Martírio de uma escrava”, de João Firmino Cabral, “O terror da escravidão”, de João José Silva são alguns que se encaixam no mérito do comportamento heroico da mulher negra.
A situação é bem pior quando os poetas começam a versejar sobre a mulher no campo da religião, principalmente ao misticismo religioso, quando são discriminadas e apresentadas em imagens que ferem o aspecto físico e moral.
Aqui, convido também o leitor a conhecer a Tese: “A Mulher Negra Mapeada …”, de Francinete Fernandes de Souza.
Felizmente este quadro está mudando, graça à nova leva de poetas que têm com uma consciência sóciopolítica, formada por homens e mulheres. Isso é tema para outra conversa.
Papo Cultura informa:
Ler faz bem ao seu espírito,
Apareça sempre aqui
Queremos ser o seu grito
A bandeira da cultura
Flerta com o infinito.
DUARTE, Manuel Florentino e outros. Literatura de Cordel – Volume I – Antologia. São Paulo(SP): Global Editora.
LITERATURA Popular em verso: Antologia Tomo I. Rio de Janeiro(RJ): Ministério da Educação e Cultura – Casa de Rui Barbosa, 1964.
MOURA, Clovis. O Preconceito de Cor na Literatura de Cordel. São Paulo(SP): Editora Resenha Universitária, 1976.
SOUZA, Francinete Fernandes de. A Mulher Negra Mapeada: trajeto do imaginário popular no folhetos de cordel. João Pessoa(PB): UFPB, 2009.
VIANNA, Arievaldo. Leandro Gomes de Barros – o mestre da literatura de cordel – vida e obra. Fortaleza(CE): Edições Fundação Sintaf. Mossoró(RN): Queima Bucha, 2014.
O jornalista, escritor e crítico literário Nelson Patriota lançará um livro de “repositórios de fatos da vida interior”, pela Editora 8, em uma noitada de autógrafos na sede da Academia Norte-rio-grandense de Letras, nesta quarta-feira (20), a partir das 18h. A obra, composta por dois propósitos unidos em um só, tem o pomposo título ‘Caderno de Espantos seguido de Vaticínios da Língua do Não’, cuja apresentação o próprio autor nos enviou logo abaixo.
Na linguagem musical, fala-se, sugestivamente, da música que “gruda” na memória como um “verme de ouvido” (earworm, em inglês), música insistente que nos surpreende nas ocasiões mais inesperadas, nos levando a solfejá-la ou cantarolá-la mudamente, mecanicamente, sem que nos apercebamos. Como um cacoete.
O que denominamos aqui de “caderno de espantos” – repositório de fatos da vida interior –, guarda alguma similitude com os earworms. Dito de outra forma, são mensagens que passam sub-repticiamente pelo pensamento e que, de tão casuais, raramente lhes damos alguma importância. Como quando solfejamos uma canção que se faz presente em nós, mas que não sabemos explicar por quê.
Quando registradas, porém – prática que alguns cultivam para preservar a lembrança de um sonho especialmente significativo, ou o nome de alguém que lhe escapara até havia pouco – podem constituir um acervo de informações surpreendentemente rico em surpresas (e espantos) para quem as escreve ou as lê. E como seriam de ordem diferente, se amiúde emergem direto à consciência pela via do inconsciente?
Creio que todo autor já foi tentado a ter o seu “caderno de espantos”, embora sem sabê-lo claramente. Creio que todo leitor deveria cultivá-lo, especialmente se algum dia já acalentou o sonho de escrever um diário no qual coletasse os fatos mesmo os mais banais do seu dia a dia. Por que não cultivar também as sugestões que nos chegam do lado da sombra (do ser), o que ela segrega, sussurra, sugere à meia-voz, com meias-palavras, à maneira de um devaneio? Algo há aí que se aproveite como matéria de autoconhecimento; algo aí semelha uma narrativa atemporal, mas sempre há tempo de aí reconhecermos o nosso Eu.
Nossa vivência dessa vigília do silêncio e da noite – condição que lhe reputamos indispensável – resultou na coleta dos textos aqui apresentados sob a dupla rubrica de Caderno de Espantos e Vaticínios na Língua do Não, inspirados por uma multiplicidade de motivos. Ressalte-se que constituem um conjunto híbrido escrito ao longo dos últimos dois anos, sem que pudéssemos atinar, até quase o último momento, a que finalidade se prestariam. Ecos de conversas, leituras, sonhos e pesadelos, lembranças longínquas e recentes, acontecimentos que protagonizamos ou nos tocaram de perto. Mais tarde, tudo foi filtrado pela linguagem que nos pareceu mais adequada para acomodá-lo num espaço próprio onde textos “inclassificáveis” pudessem se abrigar no seu lugar de direito. Ao atilado leitor, à perspicaz leitora não passará despercebido o fato de que esses textos tão díspares, se considerados em sua temática, compartilham um viés introspectivo comum, próprio do trabalho solitário do fazer literário. Os resíduos desse labor podem ser mesmo rastreados, em grande parte dos escritos. O pequeno bloco condensado sob o verbete Vaticínios na Língua do Não guarda íntima proximidade com o de Caderno, razão suficiente para que integre o espaço deste livro bifronte, caráter que se manifesta não só em sua dúplice constituição, mas também na alternância entre claridade e sombra, que perpassa suas páginas.
Os 60 anos do livro O Arado, de Zila Mamede, serão comemorados em dois eventos organizados em parceria pela UFRN e Governo do Estado, por meio da Fundação José Augusto. As ações acontecem neste mês de novembro e em dezembro, sediadas na Biblioteca Central Zila Mamede (BCZM).
Na programação, constam exposição, roda de conversa, lançamento da reedição do livro O Arado, apresentação de cordel e concerto musical. Na UFRN, o evento tem o apoio da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), Núcleo de Arte e Cultura (NAC) e BCZM.
Na próxima quinta-feira, 14, será realizada uma roda de conversa com Diva Cunha, Tarcísio Gurgel e Vicente Serejo, às 9h, no auditório da BCZM. Após a conversa, acontece uma visita guiada à Sala Zila Mamede, que conta com um variado acervo de documentos e livros doados pela família da autora. No hall da BCZM será disponibilizado também um mural expositivo sobre a vida da escritora.
O outro evento comemorativo dos 60 anos do livro acontece no dia 14 de dezembro, às 9h, com o lançamento da reedição de O Arado e do Jornal O Galo. Em seguida, o poeta Marciano Medeiros apresenta o cordel História de Zila Mamede. Para encerrar a programação, a cantora paraibana Socorro Lira interpreta músicas inspiradas na obra de Zila Mamede.
A obra completa O Arado é composta por 19 poemas, que tratam temáticas ligadas a lembranças de vida da autora, misturando as experiências vividas no campo e a vivência de moça da cidade.
Lançado em 1959, o livro é considerado um marco para a vida e a carreira da poeta, nascida em Nova Palmeira, na Paraíba. O terceiro livro da trajetória poética de Zila Mamede foi publicado pela editora carioca Livraria São José.
Zila Mamede foi fundadora do Sistema de Bibliotecas da UFRN, diretora por 21 anos da BCZM e incentivou a criação do Departamento de Biblioteconomia da Instituição.
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A Fundação José Augusto e o livreiro Aluísio Azevedo inauguram, a partir das 17h30, na próxima segunda-feira (11/11) a Livraria Manimbu, que será a única de rua da capital potiguar, constituindo um feito no contrafluxo daqueles que imaginam que as livrarias tendem a se extinguir.
Aluísio Azevedo e Crispiniano Neto
A livraria funcionará de segunda a sábado no horário das 9h às 19h na Rua Açu, 666, Tirol (por trás do prédio da Fundação José Augusto). Informações pelo telefone 2030-3036.
O projeto é uma iniciativa administrativa da FJA para fomentar a aquisição de obras de autores potiguares a preços populares, principalmente para estudantes da rede pública de ensino.
O novo espaço literário abre com mais de cinco mil títulos disponibilizados para o público, abrindo espaço aos autores potiguares que terão 20% de total de obras colocadas à venda. Também serão comercializados livros de autores nacionais e estrangeiros de ficção e não-ficção.
A inauguração da Manimbu nesta segunda-feira terá a participação musical dos instrumentistas Alexandre Moreira e José Anchieta que apresentarão clássicos do cancioneiro da Música Popular Brasileira.
Outra atração é a abertura da Galeria Newton Navarro que abre espaço para exposições individuais e coletivas de artes visuais. A estreia ocorre com a exposição “Ser-Tons – Cinzas, Marrons, Ocres”, das artistas Socorro Soares e Lenira Costa, que exibe 20 peças e, papel craft, assemblage e tinta sobre couro natural de boi, com temas voltados à cultura sertaneja.
A livraria abrigará também um café com espaço para conversas, além de uma programação de saraus poéticos, shows musicais e lançamentos de obras de escritores norte-rio-grandenses.
“Se há quem acredite que os livros ou livrarias irão se acabar, nós que defendemos a literatura e seu poder transformador, temos de ir exatamente no caminho oposto. Por essa razão, temos essa iniciativa que proporcionará aos natalenses e visitantes, um espaço compartilhado com a já existente Gráfica Manimbu”, afirma o diretor-geral da FJA, Crispiniano Neto.
Inauguração da Livraria Manimbu
Data: Segunda-feira (11/11)
Horário 17h30
Endereço: Rua Açu,666, Tirol
Informações:2030-3036.
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“O artista tem de ir aonde o povo está”. Essa frase da canção ‘Nos Bailes da Vida’, de Fernando Brant e Milton Nascimento, casa bem com o propósito do projeto encabeçado pelo escritor Márcio Benjamim. Ele e o professor Sidiney Schneider têm visitado escolas da rede pública de ensino para conversar com alunos sobre literatura. Parafraseando o dilema, “o escritor tem de ir onde o aluno está”, onde o livro precisa ser lido e a literatura, discutida, apreciada, prestigiada.
Nesta quarta será a vez da Escola Estadual Dinarte Mariz, em Mãe Luíza. Em cada escola visitada o autor deixa dez livros para compor a biblioteca. O livro em questão é o último da “trilogia do terror”, intitulado Agouro. “Conversamos com os alunos sobre literatura potiguar e a importância ao reconhecimento de nossa identidade”, conta Schneider. A obra traz 13 contos baseados em fatos que revisitam os terrenos férteis da oralidade sertaneja. Os outros dois livros da trilogia são ‘Maldito Sertão’ e ‘Fome’.
Na última visita, a Escola Municipal Professor José Melquíades, no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, Zona Norte de Natal, promoveu uma homenagem surpresa ao escritor, com exposição, teatro e desenhos dos textos do livro, que são entregues previamente para que possa ser lido e discutido depois com a presença do autor. “A ideia é aproximar aluno e escritor, discutir os cenários e personagens do livro, como são criadas as histórias e assim valorizamos também a nossa cultura”, ressalta Schneider.
Ao todo o projeto chamado ‘Natal Leitor’ visitará 20 escolas da rede pública de Natal. “Em minha vivência como professor aprendi que inexiste adolescente que não gosta de ler, mas falta oportunidade, incentivo. E a partir dessa experiência da biblioteca itinerante na escola que lecionei, surgiu a ideia de levar os livros de Márcio aos adolescentes de Natal. Acredito nesse projeto e a ideia é expandir. Mas precisamos que empresas viabilizem essa ideia via Programa Djalma Maranhão”, concluiu.
13 contos arrepiantes revisitam os terrenos férteis da oralidade sertaneja. Mas no livro esses causos são baseados em fatos ocorridos. Desde a grande fome que consumiu o Ceará em meados do século XX, parindo terríveis campos de concentração, à assombrosa seita da Pedra do Reino ou aos fantasmas das minas do Seridó.
Romance que traz o mito dos zumbis para o calor do Nordeste, e com uma narrativa ágil, retumbada pelos tambores do candomblé, procura recontar uma história que fala tanto de nós mesmos, ainda que não aceitemos.
“Pinga pia, pinga pia, pinga pia.
Desde cedo, muito cedo, João ouvia
que chorar não era coisa que menino fazia.
Pinga pia, pinga pia”.
O ilustrador e escritor Aureliano (Medeiros) lança O menino que desaprendeu a chorar, nesta quinta-feira (7), a partir das 17h no café Sr. Petita, por trás do Bardallos. O livro, escrito e ilustrado pelo artista, é uma viagem visual por sentimentos que, desde cedo, meninos aprendem que devem ficar guardados. Por entre palavras e traços simples, o autor nos questiona: Para onde vão as lágrimas que não nos permitimos chorar?
Passando por temas delicados mas tão presentes no universo masculino, o ilustrador potiguar destranca a porta do desconhecido e põe na sala a discussão sobre masculinidade tóxica e qual seria a semente desse homem que parece não (querer) sentir. O livro é indicado para crianças de todas as idades e o marejar de olhos vem de brinde com todos os exemplares.
A publicação foi lançada inicialmente no Festival Mário de Andrade, a Virada do Livro (SP). O autor foi convidado a compor a programação do festival paulista, dividindo espaço com nomes como Fernanda Montenegro e Mia Couto. Sendo um dos poucos representantes nordestinos no evento, Aureliano leva um pouco de Natal para onde vai.
Habituado com os quadrinhos, meio em que se tornou popular virtualmente, o @oiaure conta hoje com mais de 200 mil seguidores no facebook e 50 mil no instagram. Em sua página, o ilustrador trata de questões sobre cotidiano, mídias sociais, saúde mental, corpo e sobre se sentir desencaixado em toda e qualquer situação.
O menino que desaprendeu a chorar é o terceiro livro de Aureliano, tendo iniciado sua carreira literária em 2015 com o romance (também ilustrado) Madame Xanadu: A história de uma drag queen deprimida e profundamente natalense, por entre as ruas do centro histórico da capital potiguar. Seu segundo livro, que reuniu os quadrinhos que tecia virtualmente, chama-se Mercúrio Cromo e foi devidamente costurado em 2017 pela Editora Lote 42 (SP). Entusiasta dos fanzines e experimentações gráficas, Aureliano publicou trabalhos diversos em formatos esquisitos, sempre incluindo suas tão queridas ilustrações
Após o lançamento na terra Natal, o autor se prepara para uma grande maratona de eventos para divulgar o livro, passando por Recife, Rio de Janeiro, Ilha de Paquetá e São Paulo de novo. Boa sorte pra ele que tem muita saúde, pelo visto.
Chame todo mundo e apareça você também! Depois emende a noite “cidade alternativa” no Bar da Meladinha e afins.
Lançamento “O menino que desaprendeu a chorar”
Data e hora: Quinta-feira (7) das 17h às 20h
Local: Café Sr. Petita.
Rua Voluntários da Pátria, 672, por trás do Bardallos
Cidade Alta, Natal – RN
Valor do livro: R$25
Contato para entrevistas: 84 99932-6112
Nascida em Umarizal, a poeta e escritora, Kalliane Amorim, considera-se mossoroense por adoção. Autora de três livros de poemas: Outonos (2003), Exercício de Silêncio (2007) e Relicário (2015), atua profissionalmente como professora de Língua Portuguesa e Literatura (Ensino Básico, Técnico e Tecnológico) do IFRN – Campus Apodi. Kalliane fez mestrado em Letras, pela UERN e participa do Conselho Editorial da Sarau das Letras. Em breve a escritora lançará mais um livro, intitulado Peregrina.
Tivemos oportunidade de publicar no livro Os Grãos – Ensaios Sobre Literatura Potiguar Contemporânea (2015) um breve registro sobre o seu trabalho poético, como vemos a seguir:
Outra surpresa agradável é o lançamento do livro Relicário (Sarau das Letras, 2015), de Kalliane Amorim. Embora o título pareça clichê, a autora trabalha com as palavras de maneira consciente, demonstrando domínio da apropriada arte de escrever poemas. Interpretar alguns dos poemas de Kalliane é trazer para a consciência a paradoxal dificuldade de explicar as coisas simples. O caminho possível é, sempre, atentar para a produção de uma linguagem que nasce a partir de sua necessidade, a necessidade de expressar o essencial.
Kalliane Amorim é uma poeta, de versos despojados, acessível, quase sempre direta, algumas vezes hermética, outras memorialista. Sua proposta é relatar, sobretudo, os fatos cotidianos, lembranças, medos, desejos, além da própria arte do fazer poético, a metapoesia. Tais elementos transfiguram-se de tal modo em sua experiência poética que parecem brotar do mesmo chão e serem feitos do mesmo material. Esse procedimento, que é próprio da linguagem poética, acaba prendendo o leitor e fazendo com que este enverede pelos versos bem trabalhados da poeta.
A consciência de linguagem de Kalliane Amorim demonstra claramente o exercício constante da leitura e o desejo de se exprimir trabalhando formalmente as palavras.
Vejamos um poema do referido livro:
Quantas ruas
ouvirão o som dos meus passos?
Quantos telhados
acordarão sobre os meus olhos ?
Quantas palavras
dormirão à minha espera?
Vivo morrendo
de não ser
sendo.
Existe aí toda uma arrumação vocabular e exploração dos significados, tudo de maneira clara, objetiva, para expressar uma evidente paixão, não apenas uma paixão pela vida, mas, sobretudo, pelas palavras, pelo fazer poético. É esse processo que faz de Relicário uma obra genuinamente literária.
Kalliane Amorim nos concedeu, em 2015, uma entrevista para o livro Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos, Vol. 3, último trabalho de uma série de entrevistas que fizemos com mais de cem escritores potiguares.
A seguir selecionamos alguns momentos dessa entrevista.
Kalliane Amorim – Nasci no município de Umarizal, no Alto-Oeste potiguar, em 1982, mas sempre residi em Mossoró. Minha infância foi vivenciada nessas duas cidades: passava o ano escolar em Mossoró e, nas férias, viajava para Umarizal, porém não ficava exatamente na cidade, e sim na fazenda onde meus avós maternos moravam, a Camponesa. É de lá que trago as melhores memórias de infância, pois vivia em contato com a natureza, tomando banho de açude, brincando de tique no terreiro, acordando cedo para ver meu tio e meu avô irem tirar leite das vacas, ou seja, vivendo uma infância extremamente saudável. Depois que meus avós faleceram, em 2003, só voltei à Camponesa duas vezes, e, como diz Rubem Alves, é uma tolice voltarmos aos lugares que nos marcaram esperando encontrá-los como foram, pois o que existe é a saudade de um tempo que ficou na memória. Então é o que procuro preservar, tanto que alguns dos poemas de meu novo livro – Relicário – falam dessas lembranças.
Aconteceu de forma natural, uma vez que sempre fui interessada pela leitura. Mas houve um dia, exatamente, que posso definir como “o dia” em que percebi que poderia me expressar por meio da poesia. Foi na escola, numa aula de Língua Portuguesa, em que a professora pediu que escrevêssemos um pequeno poema. Quando ela leu meu texto, disse-me que tinha talento para os versos. Depois disso, comecei a comprar uns caderninhos para registrar esses pequenos poemas que escrevia – a maioria perdeu-se, infelizmente. Era um tempo em que eu frequentava assiduamente a Biblioteca Municipal para ler, colecionar textos de escritores diversos e escrever os meus também. Então, foi esse olhar da professora que me acordou, digamos assim, para o mundo da poesia de tal forma que, hoje, também leciono Língua Portuguesa e simplesmente amo trabalhar com literatura, especialmente no sentido de despertar em meus alunos o interesse pelos livros, o encantamento com a linguagem metaforizada da literatura e o modo como os textos literários representam a vida e as vivências humanas.
Outonos foi a minha primeira publicação. Editada pela Fundação Vingt-un Rosado, faz parte da Coleção Mossoroense e foi publicada em 2003. Traz os poemas iniciais da minha experiência como escritora, poemas nascidos durante a época em que cursava Letras na UERN, alguns dedicados a amigos, outros a pessoas de meu convívio, mas todos refletindo, de certo modo, um olhar atento ao mundo, aos pequenos detalhes por vezes desapercebidos na rotina. A passagem do tempo e uma discreta melancolia podem ser observadas na obra, além da reflexão sobre o sentido da vida. É um livro muito estimado por mim, por ser o primeiro, porém acredito que ali estava o embrião do que hoje costumo escrever. Hoje, vejo minha escrita mais amadurecida, porque o tempo “imprimiu em mim suas feições”, como disse em certo poema. É natural que seja assim, não é?
Não sou uma profissional da poesia, no sentido de que não escrevo por obrigação, não costumo ter um horário específico e uma rotina estabelecida para o exercício da escrita. Escrevo quando vem a chamada inspiração, que, para mim, se traduz na capacidade de percepção do que há ao meu redor, do olhar que deito sobre o mundo que me cerca. Creio que inspiração é isso, é a maneira de observarmos o que está à nossa volta, é estarmos atentos aos detalhes que muitas vezes a rotina nos impede de enxergar. Após esse olhar, vem o trabalho com as palavras, porque poesia não é só um estado de espírito ou fruto de uma inspiração ou de sentimentalismos. Poesia é trabalho árduo com as palavras. Daí a importância de ler, de conhecer os íntimos das palavras, seu ritmo, sua sonoridade, sua estrutura fonética, para oferecer aos leitores um texto com qualidade. Se há algo que me encanta na poesia, e na literatura de um modo geral, é essa capacidade dos autores de brincar com os sons e os sentidos das palavras, imprimindo musicalidade aos textos e possibilitando ao leitor despertar a sua consciência linguística e sua forma de ver o mundo e as pessoas.
Exercício de Silêncio, lançado em 2007 pela editora Queima-Bucha, é, como falei anteriormente, um livro mais amadurecido, cujas temáticas se voltam para a descoberta e a experiência do amor. O título expressa exatamente essa ideia de que é no silêncio que se descobre o sentido do amor. Há muitas referências a elementos da natureza que simbolizam a ideia de transitoriedade, de transformação e de silêncio, como uma forma de indicar ao leitor o caminho por onde a sensibilidade passa. Particularmente, aprecio muito o silêncio, é nele que consigo me encontrar e pensar sobre mim mesma, sobre os acontecimentos, sobre as pessoas e as coisas que me tocam. No entanto, vive-se hoje num mundo muito barulhento, não me refiro apenas ao barulho audível, mas a essa inquietação da modernidade que não deixa as pessoas sossegarem sequer para ouvir o que diz o silêncio. Meu livro é uma tentativa de mostrar que o silêncio é um excelente companheiro.
Escrever, para mim, é uma maneira de me revelar a mim mesma e, quem sabe, revelar os outros a si mesmos. Quando termino de escrever um poema, às vezes me ocorre um estranhamento, como se eu me questionasse se aquele discurso era meu mesmo, ou de um outro eu – o eu lírico. Escrever é sempre uma aventura, um grande trabalho e uma responsabilidade também, porque não acredito que se pode oferecer qualquer coisa ao leitor, é preciso respeitar quem lê.
Sim, acredito nisso, e é muito bom para quem tem uma certa regularidade na escrita e consegue manter uma página na Internet (o que não é meu caso, até já tentei manter um blog, mas acabo sempre deixando de lado em virtude de outros compromissos). Hoje existem muitas possibilidades de trabalhar o texto literário junto com outras linguagens, com o audiovisual, por exemplo, ou transformar textos em canções e recitais, enfim, são múltiplas possibilidades ao nosso dispor.
Uma pessoa simples, que gosta de livros, pássaros, plantas, conversas e culinária. Uma pessoa que depois da maternidade consegue viver melhor o que o dia tem a oferecer, que nunca se imaginou sendo mãe e que agora se vê abobalhada curtindo o filho. Uma professora que ama seu trabalho e procura fazê-lo da melhor forma possível. Uma poeta mais de alma que de palavras. Acho que isso já me define.
Natal irá sediar a 3ª edição do Encontro Nacional Mulherio das Letras. O evento tem o apoio do Governo do RN e irá reunir mulheres de todo o país entre escritoras, produtoras culturais, pesquisadoras em literatura e nas áreas de defesa da mulher e sua diversidade. O evento acontecerá na Cidade da Criança entre os dias 1 e 3 de novembro. O credenciamento para participar do evento é feito na hora.
Durante os três dias do evento haverá mostras e exposições paralelas. São elas: ‘Mostra da vida e obra de Nísia Floresta’; ‘Toque de Poesia’, da produtora cultural Carla Alves; exposição fotográfica de mulheres que tiveram câncer de mama, organizada pelo Grupo Viva; ‘Imagística’, uma encadernação artesanal produzida por Dani Rabelo. Além de feirinhas de artesanato e exposições de livros.
Encontro Nacional Mulherio das Letras – Programação
8h: CREDENCIAMENTO
8h30 às 9h30: SESSÃO SOLENE DE ABERTURA – 9h30 às 10h00
MESA DE AUTORIDADES – PARCERIAS E APOIADORES:
GOVERNO DO ESTADO DO RN – Governadora Fátima Bezerra
Secretário de Educação: Getúlio Marques Ferreira
Secretária- adjunta: Márcia Gurgel Ribeiro.
Diretor Geral da Fundação José Augusto: Joaquim Crispiniano Neto
Sebrae – João Hélio Cavalcanti
Secretária de Turismo – Ana Maria da Costa
Secretaria de Mulheres, Cidadania e Direitos Humanos – Arméli Brennand
ABIH: Gabriela Duarte
Mandato Municipal: Vereadora Divaneide Basílio
Mandato Federal: Natália Bonavides
Mandato Municipal de Parnamirim: Ana Michele
MEDIADORA: COORDENADORA- GERAL DO ENCONTRO: Rejane de Souza
9h30: APRESENTAÇÃO CULTURAL: Vídeo documentário sobre Nísia Floresta baseado no roteiro de um filme. João Maria Gonçalves
LOCAL: Biblioteca da Cidade da Criança
10h às 10h30: Trilhas e veredas do Mulherio das Letras: avanços e desafios – Escritora Maria Valéria Rezende
10h30 às 11h30: MESA DE DIÁLOGOS: TEMA: NÍSIA FLORESTA: Uma mulher de múltiplas faces de resistência
PALESTRANTES: Constância Lima Duarte – Regina Simon (UFRN) – Rute Pinheiro – Laura Sanchez – Diva Cunha. MEDIADORA – Rizolete Fernandes
11h30: CONVERSAS SOBRE ZILA: Maria José Mamede Galvão – Marise Adriana Mamede Galvão
11h30 às 12h: ALMOÇO LIVRE – Haverá serviço de almoço no próprio local para os participantes a preço mais acessível.
14h: APRESENTAÇÃO CULTURAL:
PERFOMANCE POÉTICA: Cacau Nascimento
14h30: EXPOSIÇÃO DE ARTE “Mulherio das Letras”: Maria Valéria Rezende – Suzana Ventura – Conceição Evaristo – Nísia Floresta. Artista e Escritora Lionízia Goyá – Estado de Goiás.
ESPAÇO LIVRE: Intervenções dos Coletivos do Mulherio Nacional
15h às 17h: PROGRAMAÇÃO PARALELA – ESPAÇO PARA CRIANÇAS
A LITERATURA INFANTIL EM FOCO: rodas de conversas entre escritoras e performances dos livros de literatura infantojuvenil. (MEDIAÇÃO: Patrícia Vasconcellos/PE, Kátia Gilabarte/PE, Salizete Freire/RN, Eliete Marry, Eva Potiguar e outras contadoras de histórias).
RODA DE CONVERSA com contadoras de histórias sob a coordenação da Profª. da UnB Ângela Café. (MEDIADORA: Lucila do Carmo Garcez – DF e demais de outros Estados do Brasil).
Participação do Projeto RIO DE LEITURA – Organização: Angélica Vitalino e Gilvania Machado
LOCAL: Biblioteca da Cidade da Criança
Recitais e Cirandas e intervenções poéticas dos Coletivos.
NOITE LIVRE
8h às 9h: APRESENTAÇÃO CULTURAL
Apresentação do Mulherio das Letras do Ceará – Mediação Patrícia Cacau
LOCAL: Biblioteca da Cidade da Criança
9h às 10h: MESA DE DIÁLOGOS: “PRECISAMOS FALAR SOBRE FEMINICÍDIO” no contexto da obra Garotas Mortas, de Selva Almada.
PALESTRANTES: Promotoras de Justiça Dra: Danielle Fernandes e Dra: Emília Zumba – Drª Luciana Assunção – Drª Mariana de Sigueira – Prof. Esp. Megg Thurner
Mediadora: MSc Nouraide Fernandes Rocha de Queiroz – Coordenadora do Projeto Literatura e Direito.
10h às 12h: RODAS DE DIÁLOGOS SIMULTÂNEOS COM TEMÁTICAS PRÓPRIAS.
LOCAL: TENDAS TEMÀTICAS
“Literatura, negritudes e intelectualidade: saberes transgressores” – MEDIADORA: Kapitu Nascimento/ RJ.
“Poesia Marginal e Slams e o Protagonismo das Minorias” – MEDIADORA: Jeovânia Pinheiro.
“Os Coletivos de Mulheres e suas formas de resistir” – MEDIADORAS: Flauzineide Moura (Presidente da ALAMP) e Maíra Dal’maz (Leia Mulheres/Natal).
“As resistentes mulheres indígenas”. MEDIADORA – Tânia Lima (UFRN)
12h: ALMOÇO LIVRE
13h30 às 14h30: APRESENTAÇÃO CULTURAL
PEÇA TEATRAL: Ventre de Ostra – Atriz Luana Vencerlau – Empoderamento –
Visibilidade da Mulher no cenário da Dramaturgia – Produção e Autoria: Junior Dalberto. Mediação: Carla Alves
14h40 às 15h30 – LANÇAMENTOS DE LIVROS E COLETÂNEAS
Livros:
– 3ª Coletânea de Poesias e Prosas: Sou Mulher, Logo Existo!
Amor, Liberdade, Luta e Resistência – Organizadora: Vanessa Ratton – SP – III Encontro Nacional do Mulherio das Letras no RN. SELO: Mulherio das Letras.
– Emancipação Politica da Mulher Potiguar de Maria Bezerra – Selo: Amigos da Pinacoteca. COLETÂNEA POETRIX – Editora Aila Mag – CE
– NOVELA: Cercas de Pedra – Escritora Jeanne Araújo/ RN
– O LIVRO DAS MARIAS– Organizadora: escritora Jeovania Pinheiro – PB
– BIOGRAFIA MARIA QUEIROZ BAÍA – exemplo de superação e de luta contra o preconceito. Escritora: Lúcia Eneida – Editora Offset
– “A mulher e o livro”- Escritora e Editora Ester Alcântara (BA) – Editora Carpe Librum
– Livro de Contos – “Tempo de liberdade” –Escritora Maria Delboni – UFMG
14h às 15h: APRESENTAÇÃO CULTURAL
Cirandas – Mediação Dorinha Timóteo
15h às 17h: OFICINAS – PARALELAS
LOCAL: Salas fechadas – Cidade da Criança
– Oficina Criativa – Civone Medeiros -RN
– Poesia, Minimalismo e Poetrix– Escritora Aila Mag – CE
– Todo mundo faz Teatro em sete minutos! – Escritora e editora Vanessa Ratton – SP
– Fanzine Caleidoscópica – Escritora Gilvânia Machado -RN
– Oficina: Festa da Palavra – organização: Patrícia Vasconcelos e Gabriela Vasconcelos – Recife – PE
16h às 17h: LANÇAMENTO DA FOLHA POÉTICA DO MULHERIO – Curadoria Carla Alves
8h às 9h: Curta-metragem: ‘INDECIFRÁVEIS’ – Produção audiovisual de Nathalie Alves
10h às 11h: APRESENTAÇÃO CULTURAL
Espaço das cordelistas – MEDIADORA: Rosa Régis – Saraus
LOCAL: Biblioteca da Cidade da Criança.
11h às 12h: LANÇAMENTOS DE LIVROS E COLETÂNEAS
LOCAL: AUDITÓRIO I
– COLEÇÃO MULHERIO – Trata-se de 17 livros de bolso individuais, sem temática específica. Karine Silva Oliveira (Karine Bassi) – Belo Horizonte/MG – Organizadora.
– LIÇÕES DE MARIA: O livro faz referência às mulheres e ao seu acordar interior, ao seu despertar. Escritora Maria de Fátima de Araújo Telles – Fortaleza – CE
– DO CASULO À BORBOLETA– “A Poesia da Resiliência e da Autoformação Humana; Do Casulo à Borboleta” – Escritora e poeta Eva Potiguar. Selo Literarte.
– ENSAIOS SOBRE A OBRA DE MARIA TERESA HORTA: o sentido primeiro das coisas – Organização: Conceição Flores – Selo: Escribas
– SARAU DAS MINAS – Gessyka – POETAS E CORDELISTAS
11h30 às 12h30: RODAS DE DIÁLOGOS –
LOCAL: TENDAS TEMÀTICAS
– “Poesia, Menopausa e Sororidade: o desafio da maturidade” – MEDIADORA: Maria Teresa Moreira
– “A cultura do vídeo e novas formas de divulgação da escrita de mulheres” – MEDIADORA: Valesca Asfora (Moenda Arte e Cultura/PB)
– “A literatura potiguar feminina: vozes de resistência” – MEDIADORA – Eliete Marry/RN.
– “Mercado editorial/cultural e cadeia produtiva independente da produção literária feminina: avanços e desafios” – MEDIADORA: Anna Karine (Selo Editorial Aliás/CE).
12h30 às 14h – ALMOÇO
14h30 às 15h40: Avaliação do encontro e indicativo da plenária sobre o IV Encontro Nacional do Mulherio das Letras.
16h00: APRESENTAÇÃO CULTURAL
Cantoras Maira Soares e Rosa de Pedra:
LOCAL: Concha Acústica
REJANE DE SOUZA – Coordenadora do Mulherio Nísia Floresta/RN e coordenadora geral do III Encontro Nacional do Mulherio das Letras/RN – Membro da ALAMP e do Conselho Municipal do Livro e Leitura de Natal.
ANA MOURA – Membro da ALAMP
CANDICE AZEVEDO – IFRN – Unidade de São Gonçalo do Amarante/RN.
LÚCIA ENEIDA – Membro da ALAMP
JUCILEIDE SANTANA – SEEC/RN – Mulherio das Letras
GILVANIA MACHADO – Poetrix – Mulherio das Letras
ELIETE MARRY – ALAMP – Mulherio das Letras
MAÍRA DAL’MAZ – Leia Mulheres Natal
NOURAIDE FERNANDES QUEIRÓS – Assessora Técnica de Editoração do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MPRN). Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN)
CARLA ALVES – Quinta das Artes – Mulherio das Letras RN
NEIRIANE RODRIGUES – Prefeitura de Natal – Membro da ALAMP
CLAUDETE ROSENO – Diretora de Mulher da Petrobras – Mulherio das Letras
LÚCIA MARTINS – Secretária Municipal de Educação de São José de Mipibu- ALAMP
Em dezembro de 1999, há quase 20 anos, fui atordoado pela notícia da morte do poeta potiguar Black Out. Eu trabalhava na redação do extinto Diário de Natal e fui incumbido de registrar o fato. Resolvi escrever muito mais do que um mero obituário, ferido pelo drama de um artista massacrado pelo sistema e pelo preconceito do nosso mundo. Guardo esse escrito como algo que me veio da alma e que me serve como guia para entender a humanidade e rebuscar o meu humanismo.
Foto: Ivanizio Ramos
Eu sou um sonho
ou talvez um pensamento
jovem que gosta da vida
Eu vim pregar a prece
atual em poesia…
sem rimas e sem fantasias
Deixe-me dividir
para todos os dias
Sou um sonhador da paz
da fome
e da alegria.
E vocês são os sonhos
Um canto (meu reino)
um prazer que jamais será imitável…
(Black Out)
Morreu Edgar Borges, o Black Out, o poeta preto, pobre e considerado louco pela sociedade. Vivia andando pelas ruas do centro da cidade alta, carregando seus papéis e fumando seu cigarro Belmont, vestido em suas roupas exóticas. Tinha todos os atributos de um artista maldito e discriminado.
Até o fechamento desta edição do Diário de Natal, o corpo de Black Out continuava no necrotério do Hospital Walfredo Gurgel. Sem parentes próximos, corria o risco de ser sepultado como um indigente.
Morou quase toda sua vida em Mãe Luiza, bairro que amava e onde era conhecido por quase todos os populares. Desce cedo começou a escrever sua poesia de cunho social e político. É dele o texto de ‘Canto à Paz’, um dos mais contundentes escritos contra as ações bélicas do ser humano.
Publicou em 1981, se único livro, ‘Duas Cabeças’, editado pela Cooperativa dos Jornalistas de Natal – Coorjonat, contendo inúmeros fragmentos poéticos escritos naquele período.
O jornalista Franklin Jorge, em seu livro ‘Spleen de Natal’, lançado em outubro de 1996, dedica um capítulo inteiro ao poeta negro, relatando inclusive as perseguições e torturas que Black sofria da polícia. No livro, o próprio poeta narra um episódio:
“Hoje mesmo me aconteceu uma coisa chata: quando eu ia atravessar a Avenida Rio Branco, na esquina da João Pessoa, um PM, do outro lado da calçada, me chamou. Fui e ele me perguntou meu nome e se eu era daqui mesmo de Natal. Estava grilado com a minha produção. Achou minha roupa estranha e pediu meus documentos. Me revistou alí no meio da rua como se eu fosse um criminoso.”
Essa não foi a primeira humilhação sofrida por Black Out. Foi perseguido nas ruas como um animal perigoso e incômodo. Porém, nunca matou nem roubou. Mas era pobre e tinha a ousadia de vestir-se de acordo com os caprichos de sua imaginação. “É o meu traje a rigor que incomoda eles”, costumava dizer o poeta.
Black Out podia ser visto trajando um blazer ou uma roupa lilás, ou um paletó e calças cor de goiaba, camisa azul celeste, pulseiras prateadas em alto relevo que realmente chamavam bastante a atenção. Mas o poeta nunca se importou muito com os comentários pejorativos sobre o seu modo de se vestir. Além dos modos exóticos, Black era conhecido pelos galanteios às garotas que frequentavam a noite, sempre ofertando seus versos e seu sorriso.
“Se eu descesse o morro de sandálias, vestido como todo mundo, as pessoas iriam logo pensar que eu sou um marginal… Se eu desço vestido assim, bem produzido, elas ficam pensando pelo menos que eu sou um marginal diferente, sacou o lance?”
Black Out foi preso inúmeras vezes, em algumas foi acusado de portar drogas, outras por mera implicância policial com a excentricidade de suas roupas. Em muitas das vezes apanhou e foi obrigado a fazer coisas impublicáveis. “Esses massacres me levaram à loucura. Eles me davam coronhadas na cabeça, rindo. O sistema não queria me ver feliz”, dizia Edgar.
Tais experiências agravaram seus problemas psiquiátricos. A partir de 1981 começou a ser internado no Hospital Colônia, graças a ajuda do padre Sabino Gentille. Ficou internado quase um ano.
Filho de Severino Borges e Maria Felícia, pais separados, Black Out nasceu em Mãe Luíza. Ainda menino, vendia cocadas nas ruas da cidade e dormia nas praças.
O poeta percorreu desde então muitas residências, fazendo pequenos trabalhos para sobreviver e comprar suas vestimentas. Ao lado do saxofonista Paulo Johnson, participou do Festival de Música do SESC em 1979. Dois anos depois, incentivado pelo poeta Jarbas Martins, Inscreve-se no Laboratório de Criatividade da UFRN, criado pela professora Socorro Trindade.
A partir daí passou a conviver com a poesia de João Gualberto, Chico Traíra, Milton Siqueira, Osório Almeida, Volonté, João da Rua, Chico Ivan, Adriano de Sousa, Jóis Alberto, entre outros.
Dialético, Black questionava todos os paradoxos de um sistema desumano. Íntimo dos mistérios profanos da cidade, o poeta tinha como terapia andar. “Tem gente que fica arretada e pergunta como eu consigo estar em vários lugares ao mesmo tempo”, dizia.
Edgar Borges produzia e vendia seus poemas intuitivos cheios de delírios nonsense. Pintava quadros expressionistas sobre papelão. Também pintava letreiros comerciais para sobreviver. E foi pintando a parede de uma casa que morreu, em uma triste ironia com seu apelido.
Agora pergunto eu, que cheguei a conhece-lo um pouco:
“Quem vai chorar pelo poeta preto, pobre e tido como louco?”
Quem se debruçar sobre a história da vida literária, no Rio Grande do Norte, vai deparar-se com alguns fatos inusitados. Por exemplo: um dos nossos maiores escritores – Polycarpo Feitosa (pseudônimo de Antônio José de Melo e Souza) não pertenceu à Academia Norte-rio-grandense de Letras, nem sequer como sócio honorário. Por quê… Nunca se soube o motivo de sua ausência numa instituição, que, pelo menos em tese, reúne a elite intelectual do Estado.
Ficcionista de primeira grandeza, além de poeta, ensaísta e memorialista, Polycarpo Feitosa é um nome que orgulha o nosso Estado. Tinha tudo para ser acadêmico, inclusive status social (às vezes é levado em conta). Disfarçado pelo pseudônimo, Antonio de Souza exerceu altos cargos: Governador do Rio Grande do Norte (dois mandatos), Deputado Estadual, Procurador Geral do Estado, Senador, etc.
Note-se que, apesar da sua fama de ermitão, não era avesso à vida literária, pois, entre outras atividades sócioculturais, fundou e dirigiu, ainda jovem, o Grêmio Polimático, entidade prestigiosa, e foi sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
Quando a ANRL foi fundada, em 1936, Antonio de Souza havia deixado de exercer, no ano anterior, as funções de Secretário Geral do Estado (substituto eventual do Interventor Mário Câmara) e aposentara-se no cargo de Consultor Geral do Estado.
Noticiando a instalação da ANRL, disse o jornal do Commércio, do Rio de Janeiro:
“Realizou-se, ontem, em Natal, solenemente, a instalação da Academia Norte-rio-grandense de Letras, fundada sob a orientação da Federação das Academias de Letras do Brasil e auspícios do governador do Rio Grande do Norte.
A Academia compõe-se de 25 cadeiras, sob o patrocínio de nomes ilustres de riograndenses falecidos, e já ocupadas as primeiras vinte por individualidades representativas da intelectualidade do Estado.”
Após enumerar os patronos e acadêmicos destas cadeiras, o jornal adianta:
“Para as cinco restantes cadeiras os acadêmicos serão eleitos dentre os Srs. Adauto Câmara, Eloy de Souza, Januário Cicco, José Augusto, Nestor Lima, Rodolfo Garcia, Matias Maciel, Tobias Monteiro, Valdemar de Almeida e Tavares de Lyra.”
Cinco dos nomes citados, aliás, dos mais eminentes, não foram eleitos: Eloy de Souza, José Augusto, Rodolfo Garcia, Tobias Monteiro e Tavares de Lyra. Estes três últimos tornaram-se sócios honorários.
José Augusto veio a ser eleito, anos depois, quando se aumentou para 30 o número de cadeiras, em 1943. E Eloy de Souza elegeu-se em 1949, sucedendo a Antônio Pinto de Medeiros, que renunciou. Em nenhum momento foi cogitado o nome de Antonio de Souza.
Em 1957 ampliou-se, mais uma vez, o número de cadeiras da ANRL, fixando-se o mesmo em 40, de forma definitiva, conforme o modelo da Academia Francesa. Antonio de Souza falecera dois anos antes, mas ninguém lembrou-se de homenageá-lo como patrono de uma das cadeiras então criadas.
É provável que a exclusão do ilustre escritor, quando da fundação da Academia, tenha tido motivação política.
Como consta da notícia do Jornal do Commércio, acima citada, a novel entidade nasceu “sob os auspícios do governador do Estado”, que era, então, Rafael Fernandes. Este disputara a governança com Mário Câmara, em 1935, numa das campanhas mais conturbadas da história do Estado. Numerosas inimizades resultaram do sectarismo generalizado nessas lutas políticas. Ora, se Antonio de Souza tinha sido um homem da confiança de Mário Câmara…
Decorridos 64 anos de sua morte, Antonio de Souza está, injustamente, esquecido.
Fala-se muito e muito se escreve sobre ilustres governadores do Estado – Alberto Maranhão, José Augusto, Juvenal Lamartine, Aluízio Alves – mas nunca se diz que Antonio de Souza foi um dos melhores governantes que já tivemos, senão o melhor.
Honradez, tino administrativo, conhecimento da problemática socioeconômica do Estado, tudo depõe a seu favor. Mas, não é reconhecido.
No campo da literatura, as homenagens vão, quase sempre, para Câmara Cascudo, Auta de Souza, Jorge Fernandes, Zila Mamede e alguns outros, deixando de lado Polycarpo Feitosa. Dos seus cinco romances, apenas um – “Gizinha” – foi reeditado, e o seu único livro de contos permanece em primeira edição. Felizmente, o editor Cleudivan Janio, da CJA Edições, prometeu agora relançá-los.
Não sei de grande logradouro, tampouco de instituição que tenha o nome do eminente patrício. Estudo biográfico em profundidade – nenhum! Em 2016 tracei o seu perfil, em breves pinceladas, editado num volume, tipo pocket book, pela 8 Editora, na prestigiosa Coleção Presença.
Ampliando agora esse trabalho juntei valiosos subsídios, muitos destes coletados com a ajuda do escritor Thiago Gonzaga, e escrevi o livro “Antonio de Souza. (Polycarpo Feitosa) – Uma Biografia”. O lançamento está previsto para o mês de março do próximo ano.
Nesta terça, 22 de outubro, a escritora Clotilde Tavares estará lançando na plataforma CATARSE a campanha de financiamento coletivo do seu mais recente livro, o romance “De Repente a Vida Acaba”.
O livro conta a história de Maria Eulina. Durante toda a vida, ela quis ser escritora, sem nunca ter conseguido realizar esse desejo. Vive entre desacertos, dilemas e insatisfações, refém de um passado que não consegue superar.
A ação ocorre na época atual, mas parte dela se situa em meados da década de 1980, quando o Brasil se defrontava com a redemocratização, a Nova República, e os planos econômicos.
Outros personagens estão em cena: Aline, que é livre, independente, só faz o que quer, e deseja apenas curtir a vida; a afilhada de Maria Eulina, carinhosa e alegre; e um advogado bonitão e necessário.
É uma história que faz a gente, em qualquer idade, pensar: – O que é que eu estou fazendo da minha vida? De repente a vida acaba, e eu não fiz o que eu queria. E perguntar também: – O que eu estou disposto a fazer para conseguir o que desejo?
Autora de mais de dez livros, entre os quais “Natal a Noiva do Sol” e “A Botija”, populares entre o público infanto-juvenil, a escritora também escreve para o universo adulto, com três livros de crônicas já publicados e várias peças de teatro.
“De Repente A Vida Acaba” é seu primeiro romance. O volume sai com 256 páginas, tem programação visual de Danilo Medeiros e ilustração da capa por Angela Almeida, com o selo editorial da M3 Editora. O lançamento em Natal está previsto para meados de dezembro.
Serviço
O quê: Lançamento da campanha de financiamento coletivo do romance de Clotilde Tavares
Quando: a partir de terça-feira, 22 de outubro de 2019.
Onde: www.catarse.me/DeRepenteAVidaAcaba
(…) “Posso mandar o doutor subir? É a voz do porteiro pelo interfone. Pode, seu Antônio. Confiro a minha imagem no espelho e abro a porta do apartamento para esperá-lo. Enquanto o elevador sobe, parece que estou escutando os cubos de gelo se chocando no copo, o perfume do uísque doze anos, e a alegria daquele olhar irresistível, sempre disposto a uma farra, a uma diversão. Vamos brincar de ricos, Maria Eulina? Era o que ele gostava de me dizer quando entrávamos numa loja ou num restaurante, sempre em busca do mais caro, do mais especial, do esbanjamento puro e simples. Gostava de dinheiro, gostava de gastar e com ele aprendi a gostar das coisas boas da vida. Ele era o advogado bonitão que conheci numa das festas do secretário, divertido, falando alto, alinhado, cheiroso, ternos impecáveis, sapatos italianos. Eu num canto da sala, copo de uísque na mão, quase vazio, conjeturando se teria pique para me levantar e reabastecer quando chega aquela criatura com duas doses, vi que a sua já acabou, vamos substituir? Me acompanha nessa dose? E foi assim que tudo começou, e fomos ficando amigos, saindo juntos, um cinema, um jantar, namorando.” (…)
Acho que foi no dia 05 de junho de 2007, quando entrei pela primeira vez na Escola Estadual Myriam Coeli, localizada no Conjunto Nova Natal, bairro Lagoa Azul, Zona Norte de Natal. De início me deparei com uma pintura na entrada da Diretoria, uma linda imagem da patrona da escola, arte do artista, na época vice-diretor, Edson Moura. Estampada na parede, o cartão de visita da escola, a poetisa, com seu lindo semblante a me convidar a reencontrar sua poesia.
Professor de história e amante das letras potiguares, herdeiro dos hábitos de papai, foi em sua biblioteca meu primeiro encontro com a poetisa de ‘Vivência Sobre Vivência’. Visitei a biblioteca da escola em busca de Myriam Coeli e, minha surpresa, nada encontrei. Os livros voaram, criaram asas e voaram… Encontrei, enfim, com a professora de Português Lurdimar, o ‘Inventário’. Era o Projeto Chá Com Arte, sobre a coordenação da professora Sandra, e eu pensei em apresentar a patrona da escola, então escolhi Busca – poesia dedicada a Celso da Silveira seu amor -, para realizar uma Intervenção Poética:
Deus é a meta.
Eu O procuro
Em vias tortas
E em metáforas.
Sou caliça,
Fel, mordaça,
Circo e faca.
[…]
Deus é a face,
Eu, o disfarce.
[…]
Não tem como ficar indiferente a poesia de Myriam Coeli. Seus versos traduzem o ser humano nas suas dimensões diversas. Me apaixonei. Segui os caminhos dos sebos catando livros, no mundo dos ácaros para encontrar sua obra poética. Enfim, numa manhã de sábado, caminhando pela Cidade Alta, ao lado dos professores Otoniel e Henrique, fico frente a frente com ‘Cantiga de Amigo’, livro editado em 1981 pela CLIMA, do saudoso livreiro Carlos Lima. Nem penso duas vezes, tinha três volumes, pego todos. Versos cantam a amizade:
[…]
De minha torre mui alta
Com canções junquei estradas
Sejam albas ou serenas,
Trovares, chantos, baladas.
Meu amigo
Por quem morro.
Da torre descendo a seta,
De olhar firme no olhar.
Descerei, serei fanfarra
E viola de trovar.
Meu amigo
Por quem vivo.
[…]
Jornalista, professora, poetisa, inquieta, marcou sua passagem no plano terreno. Mulher, esposa, mãe, deixou para nós um grande legado literário. Mesmo não tendo o privilégio de seu convívio a conhecemos através de sua escrita. Uma mulher a frente de seu tempo. Na década de 1950, abriu as redações dos jornais diários para o sexo feminino, sendo inclusive a primeira mulher a ser encontrada nas redações no período noturno.
Numa época em que Natal se expandia para além do Loteamento Reforma, hoje bairro Felipe Camarão; o Alecrim, bairro centenário, consolidava-se como lugar de morada e comércio, nas palavras do professor Itamar de Sousa, ‘O Cais do Sertão’; a espoliação imobiliária chegava às portas do cemitério da cidade, como alertava nosso historiador Luis da Câmara Cascudo; a imprensa diária publicava crônicas de Myriam Coeli para o deleite dos natalenses.
Myriam Coeli, dona de uma escrita tradutora do ser humano.
Manoel Onofre, em ‘Literatura e Província’, nos informa: “Não temos receio de afirmar: – Myriam Coeli é um dos mais altos valores da Literatura brasileira contemporânea. Juntamente com Zila Mamede representa, hoje, a melhor contribuição do nosso Estado, em termos de poesia de mulher, para as letras nacionais.” Concordo com o mestre Onofre, homem das letras que se fez desembargador. Myriam Coeli é sim um valioso expoente das letras potiguares.
A filha do Amazonas, potiguar de coração, Myriam Coeli nos presenteou com as seguintes obras: ‘Imagem Virtual’ (1961); ‘Vivência sobre vivência’ (1980); ‘Cantigas de amigo’ (1980); ‘Inventário’ (1981) e o livro publicado pós morte, ‘Da boca do lixo à construção servil: o livro do povo’ (1992).
Caro leitor, este é o convite e a provocação, deste artigo, para não se guardar, somente, no baú da memória, as belas letras de Myriam. A poetisa de São Jose de Mipibu, necessita ser revivida nas escolas, nas salas de aulas, fazendo de sua palavra o caminho das letras das novas gerações.
Uma geração que tem o direito de conhecer a Ode à Palavra: “A palavra trabalha com hábeis mãos. Dela me sirvo à mesa com esses poucos gestos que saciam meus segredos. Por menos que me baste, a ela servindo estou e lhe ofereço o disfarce da ordem e da compreensão. Através dela me armo e soletro caminhos incertos com seus ardis tão certos. Mas, animal, dela sou presa e me resumo na proeza de lhe dar formas libertas – pois meu ofício é dar à palavra, invenção.”
Num país sem memória, seria interessante o desenvolvimento de projetos incentivadores de leituras potiguares. Projeto pioneiro, que vivi como professor, na cidade de Parnamirim, “O Escritor Potiguar Vai à Escola Pública”, meu segundo encontro com Myriam Coeli, experiência exitosa, estudantes, professores, lendo e dialogando com escritores norte-rio-grandenses. Na Escola Municipal Manoel Ferreira, vivemos e convivemos com Auta de Souza, Ferreira Itajubá, Zila Mamede, Myriam Coeli, Francisco Ivan, Pablo Capistrano e tantos outros, antes, ilustres desconhecidos.
Enfim, amigo leitor, ao lembrar Myriam Coeli descobrimos o quanto estão distantes de nossas salas de aulas os escritores potiguares. Esperamos que a Secretaria de Cultura, a Fundação José Augusto, a Secretaria de Educação e outros órgãos públicos e organizações da sociedade civil, façam uma rede de promoção das letras potiguares. Acredito ser possível reviver, nos diversos municípios potiguares, a experiência do projeto: ‘O Escritor Potiguar Vai à Escola Pública’. Iniciativas alvissareiras já existem, precisam deixar de ser projetos para se transformarem em Políticas Públicas.
Assim foi meu reencontro com Myriam Coeli e hoje guardo na minha estante, ‘Cantigas de Amigo’, ‘Inventário’ e ‘Da Boca do Lixo á Construção Servil’. Obrigado Myriam Coeli, para além de ser patrona do meu lugar de trabalho, és poesia em nossa trajetória de amante das letras.
E-mail: Sergiovilarjor@gmail.com
Celular / Zap: (84) 9 9929.6595 Fale Conosco Assessoria Papo Cultura