Feminismo, resgate histórico, educação, luta, esquecimento, busca, encontro. Esses são alguns dos pontos de partida da obra “#NísiaFlorestaPresente, uma brasileira ilustre”, de autoria da escritora e pesquisadora Constância Lima Duarte. O livro será lançado em Natal no dia 4 de novembro, no foyer do Teatro Riachuelo, às 19h.
O lançamento da obra é a culminância do projeto “Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo”, produzido por Mariana Hardi e viabilizado por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura Djalma Maranhão da Prefeitura do Natal, com patrocínio do cemitério e crematório Morada da Paz.
O projeto contempla não só a produção do livro como também a distribuição gratuita e consciente dos exemplares, que serão entregues gratuitamente nos eventos de lançamento e para escolas públicas, bibliotecas e outras entidades.
Outro detalhe é que a iniciativa conta com uma equipe composta quase que totalmente por mulheres: coordenação de produção por Mariana Hardi; escritora Constância Lima Duarte, revisora Andreia Braz; projeto gráfico e diagramação por Amanda Duarte e Milla Azevedo; assistente de produção Luiza Oest; assessoria de imprensa por Marina Lino e Mariana Pinto; fotografia por Larissa Marinho; vídeo por Luana Tayse; assistente administrativa Jeane Ataíde; entre muitas outras.
Além do lançamento em Natal, haverá um lançamento dentro da programação do II Festival Literário de Nísia Floresta no dia 31 de outubro, às 14h, onde Constância fará uma fala.
Constância Lima Duarte morou em Natal por 20 anos, período em que foi professora na UFRN. É ainda pós-doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Acredito que encontrei Nísia Floresta aqui, mas acho que ela está no inconsciente de toda feminista. Tenho a sensação de que todo mundo a reconhece quando falamos o nome dela. Com Nísia, me senti familiar, percebia que as pessoas também a conheciam, mas ninguém sabia explicar quem de fato ela foi. E eu fiquei com essa necessidade de contar quem ela é, a sua história e seus feitos”, conta.
À medida em que ia buscando e localizando referências, notícias, recortes e artigos, Constância foi montando um grande quebra-cabeça sobre Nísia Floresta. Quando esteve em São Paulo e no Rio de Janeiro, a autora também buscava essas referências sobre Nísia, mesmo assim ainda havia pouquíssimo material.
“No doutorado, decidi fazer a pesquisa seguindo os passos de Nísia por Recife, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Portugal, Itália, Alemanha, França e Inglaterra. Essas viagens duraram dois anos. Depois desse período, parei para poder organizar o que tinha coletado, para ler os livros que havia localizado, montar o mosaico e finalmente contar a história”, detalha.
“#NísiaFlorestaPresente: uma brasileira ilustre” é uma obra biográfica que segue a cronologia dos passos da personagem principal e começa falando da importância de se conhecer Nísia Floresta.
“Ela já estava entrando no processo de memoricídio, corríamos o risco de em breve mal sabermos o básico sobre ela. Aqui destaco que um dos agravantes é que especialmente a história das mulheres foi apagada, foi delegada ao esquecimento. Não sabemos quem foram as mulheres pioneiras no Brasil. A história das mulheres ficou no limbo”, alerta Constância.
Há mais de 200 anos, nascia uma menina no interior do Rio Grande do Norte que se tornaria uma exceção dentre a maioria esmagadora das mulheres de seu tempo, com espírito contestador e libertário quando defende a educação feminina, o direito dos índios e dos negros à liberdade.
No conjunto da obra de Nísia – 15 livros, entre ensaios, romances, poemas e crônicas, publicados em português, francês, inglês e italiano – existe uma espécie de diálogo cujo propósito era formar e modificar consciências, e assim contribuir para mudar o quadro ideológico social de seu tempo. Direitos das mulheres e injustiça dos homens foi apenas o primeiro passo dado nesta trajetória, a semente que logo germinaria nos demais escritos.
E por que #NísiaFlorestaPresente? A referência à socióloga e política Marielle Franco, que foi assassinada a tiros no dia 14 de março de 2018, em um atentado ao carro onde estava, busca resgatar a importância de não deixar a história de Nísia desaparecer.
Lançamento do livro #NísiaFlorestaPresente: uma brasileira ilustre
Data: 4 de novembro de 2019 – segunda-feira
Horário: 19h
Local: Foyer do Teatro Riachuelo, em Natal
O escritor e jornalista Cefas Carvalho lançará seu novo livro, “Noite passada sonhei que alguém me amava”, pela editora paulista Penalux, nesta quinta-feira (17), no Bardallos Comida e Arte, Centro de Natal, das 18h às 23h.
O livro consiste de um apanhado de 28 contos, alguns inéditos, outros premiados em concursos regionais e nacionais e outros publicados em jornais, revistas e nas redes sociais.
O livro tem prefácio da escritora e jornalista Giovana Damaceno, texto da orelha da escritora e crítica literária Alexandra Vieira, revisão da escritora e poeta Jeanne Araújo, capa de Karina Medeiros e foto utilizada na capa da fotógrafa potiguar Meysa Medeiros.
Cefas tem sete livros publicados, entre eles os romances “Ponto de Fuga” (2000), “Três” (2005), “Carla Lescaut” (2015), “Os olhos salgados” (2017) e “Combustão” (2018) (estes dois últimos também pela Penalux, e o último em parceria com a escritora potiguar Jeanne Araújo).
“Os contos são resultados de processos diferentes. Desde contos escritos com régua e compasso para publicação em revistas eletrônicas do eixo Sul-Sudeste, até textos rápidos de redes sociais que, após ótima repercussão, ganharam formato de conto e mereceram inclusão no livro”, conta o autor.
Entre os 28 contos do livro, há alguns escritos há uma década, que chegaram a ser publicados em jornais e em revistas como Papangu; outros que foram premiados, como o que abre o livro, “Café frio”, que venceu o Concurso da EDUFRN de 2014, até outros escritos há poucos meses e totalmente inéditos.
“O formato do conto é sempre muito desafiador. O conto tem que ‘fisgar’ o leitor no primeiro parágrafo, o que não acontece no romance, onde o autor pode se estender sobre um tema vago ou tentar experimentações. No conto, ou você ganha ou perde o leitor em poucas linhas”, opina.
Cefas é jornalista, trabalhou em diversos veículos de comunicação no Rio Grande do Norte. Hoje é editor do Portal Potiguar Notícias e apresentador na webtv PNTV.
Nesta segunda-feira, 14, o município de Serra Caiada, na Região do Trairi, recebe a Caravana de Escritores Potiguares. Integrada por Almira Dantas, Araceli Sobreira, Damião Gomes e Junior Dalberto, com participação especial de Felipe G. de Azevedo, a delegação desembarca na Escola Municipal Euclides Lins de Oliveira, às 14 horas.
A edição de Serra Caiada é a 13ª do ano e encerra a sexta temporada do Projeto. Contando com o apoio da Cosern e do Governo do Estado, viabilizados por intermédio da Lei “Câmara Cascudo”, a Caravana já é a mais antiga iniciativa de incentivo à leitura e de divulgação da produção literária norte-rio-grandense, realizada em escolas públicas do RN.
Na temporada 2019, o projeto promoveu atividades nos municípios de Várzea, Parnamirim, Poço Branco, Barcelona, São José de Mipibu, Jundiá, Lagoa Nova, São Bento do Trairi e Nísia Floresta, além de Natal. Ao todo, participaram, em eventos interativos, realizados diretamente nas comunidades escolares, cerca de dois mil estudantes e professores.
Nas visitas, além das palestras, intervenções e contações de histórias, permeadas com recitações, há doações às bibliotecas de instituições locais e sorteios de livros com os participantes.
SERVIÇO
O quê?
Caravana de Escritores Potiguares (Temporada 2019 – 13ª edição)
Onde? Quando?
Escola Municipal Euclides Lins de Oliveira, nesta segunda-feira, às 14 horas
Chamava-o Zé Maria. Foi com este nome que o conheci na roda de conversa da livraria, onde, às vezes, ele aparecia, sempre interessado em literatura. Apreciava muito a ficção científica e o realismo fantástico, como, aliás, gostava de dizer, mas não escondia o seu entusiasmo por escritores portugueses. Eça de Queiroz, Miguel Torga, Raul Brandão, tantos outros.
Certa feita recomendou-me a leitura do romance “Mau Tempo no Canal’, de Vitorino Nemésio, cuja ação transcorre no arquipélago dos Açores. Entre parênteses: José Maria descende do açoriano Rodrigo de Medeiros Rocha, notável desbravador que, nos meados do segundo quartel do século XVIII, em companhia do irmão Sebastião, estabeleceu-se no Brasil, mais precisamente na Ribeira do Sabugi, região do Seridó, sendo ambos considerados os troncos da família Medeiros no Brasil.
Zé Maria ou, depois, Figueiredo Rocha
Afora os escritores já mencionados, José Maria era fã de Jorge Luís Borges e Thomas Mann. Para ele não existia, na ficção universal, personagem maior do que Bartleby, de Herman Melville.
Evidente a qualificação intelectual do leitor inveterado que era José Maria. Sempre o vi assim, amigo dos livros, mas nunca suspeitei que ele tivesse veleidades de escritor. Cauteloso, escrevia em surdina, guardava na gaveta o fruto que, com certeza, considerava ainda não de todo maduro.
Mas eis que, em 2007, surgiu em cena, pronto para a aventura literária, com o romance “O Golem do Potengi”, em que deixou patente sua extraordinária capacidade imaginativa, na criação de um pequeno mundo ficcional entre a realidade cotidiana, a história e o fantástico.
A seu pedido escrevi um texto para a orelha do livro, no qual moldei esta nota.
Além de “O Golem do Potengi”, José Maria publicou, de sua autoria, em forma de livro, um alentado estudo sobre a Ordem Rosacruz, da qual participava.
Nosso amigo José Maria Figueiredo Rocha já não era tão-somente o leito voraz, o servidor público formado em Ciências Exatas (Matemática e Física), o paulista potiguarizado, filho de seridoenses, vivente da cidade do Natal; era também o escritor Figueiredo Rocha.
Personalidade sui generis: introspectivo, retraído, de poucas palavras a não ser quando estava com os amigos mais próximos. Além da inteligência e cultura, que lhe eram peculiares, revelava extrema sensibilidade. Dele se poderia dizer o que Rimbaud disse consigo mesmo:
-Par delicatesse j’ai perdu ma vie.
Numa madrugada de maio passado, José Maria se foi desta vida por vontade própria. Deixou um vazio no meio cultural natalense, é claro. E muitas saudades.
A partida inesperada de Zé Maria lembrou-me a de outro amigo, frequentador da roda de conversa na livraria – Pedro Vicente da Costa Sobrinho, que se foi para o Outro Lado nos idos de 2013.
Intelectual conceituado, autêntico scholar (com alma de poeta), Pedro Vicente era uma grande figura humana. Conheci-o, ainda, nos bons tempos das “Cocadas”, quando mal saídos da adolescência, fazíamos de uma praça, assim apelidada, no centro de Natal, a nossa primeira universidade. Vivíamos os anos 60, a mais bela década do século XX. Tempos de Sartre e Bertrand Russell; tempos da Bossa Nova, dos Beatles e do Tropicalismo; de Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Câmara Cascudo; tempos do Cinema Novo…
Em meio à agitação política, mesmo nos primeiros anos da Ditadura Militar, debatíamos do alto das “Cocadas”, os grandes temas na crista da onda, inclusive os de natureza político-ideológica. Um jovem, então, destacava-se pela palavra fluente, já prenunciando o causeur que viria a ser. Seu nome despertou-me especial atenção: Pedro Vicente. Macauense, tivera larga vivência no Recife antes de vir morar em Natal. Dava gosto ver como ele discorria sobre os mais variados assuntos, agitando idéias, criticando autores e livros, comentando os fatos do dia. Indicou-me autores de quem eu nunca ouvira falar, como, por exemplo, Bulgakov, de “O Mestre e Margarida”.
Convém salientar que, nos debates em que se envolvia, com paixão, mantinha-se sempre no plano das ideias; nunca resvalou para retaliações pessoais. Falar mal da vida alheia, jamais! Sem dúvidas, foi um dos melhores “professores” naquela Universidade do Grande Ponto.
Depois, perdi-o de vista. Tinha ido estudar na União Soviética — disseram-me. Mais tarde tive notícia do amigo: estava no Acre. Fascinado pela Amazônia, ali — já graduado em Ciências Sociais, pela UFRN — ocupou cargos de relevo — Diretor do SENAC, Diretor do SESC, além de exercer o magistério e desempenhar importantes funções na administração da Universidade Federal do Acre.
De volta a Natal em começos da década de 1990, retomou o exercício do magistério — Professor da UFRN — e foi, algum tempo depois, Diretor da Editora da UFRN. Nestas funções, em dois períodos, realizou notável trabalho, tendo, inclusive, implementado plano editorial que marcou época. Dezenas e dezenas de livros e publicações outras vieram a lume graças ao editor doublé de escritor.
Também na condição de Diretor da Editora da UFRN, o Professor Pedro Vicente prestou relevante serviço à Academia Norte-rio-grandense de Letras, possibilitando a edição de quatro números de sua revista.
Eleito por unanimidade para ocupar a cadeira nº 31, cujo patrono é o Pe. Brito Guerra, essa escolha teve o sabor de uma consagração. Com efeito, deixou implícito o reconhecimento da totalidade dos acadêmicos a toda uma obra literária, da qual sobressaem quatro livros/solo e três coletâneas organizadas pelo autor. Duas das mencionadas obras — vale frisar — constituíram-se, originariamente, em teses acadêmicas: “Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental” (São Paulo: Editora Cortez, 1992) e “Comunicação Alternativa e Movimentos Sociais na Amazônia Ocidental” (João Pessoa: Editora da UFPB, 2001), ambas, como as demais, bem recebidas pela crítica.
Muito poderia ser dito a respeito destas duas obras. Todavia, aqui não se trata de estudo crítico, é obvio. Um comentário, tão-somente. Quero referir-me ao fato de que, ao contrário da maioria dos amazonólogos, quase todos fascinados pelo “Inferno Verde”, Pedro Vicente sensibilizou-se com as lutas sociais e as condições políticas e econômicas, abrindo caminho num campo ainda pouco trilhado.
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Devo ressaltar um aspecto que me parece de grande importância na personalidade intelectual de Pedro Vicente, além das virtudes evidentes — inteligência e integridade. É que tendo sido um professor-doutor voltado para o estudo das ciências humanas e sociais, também foi um artista em potencial, um poeta, embora nunca tenha cometido versos, que eu saiba. Tais qualidades estão presentes, de modo especial, em dois dos seus livros menos divulgados: “Exercícios Circunstanciais” (Natal: Edições Coivara, 1997) e “Outras Circunstâncias” (João Pessoa: EDUFPB, 2002).
Confesso que são os livros de minha predileção, em toda a sua obra. Seus títulos sinalizam uma despretensão, que só pode ser entendida como prova de modéstia. Pois, de circunstanciais no sentido de coisa datada ou de interesse transitório, esses escritos não têm nada.
A temática é variada, e bem demonstra a versatilidade do autor, indo, com desenvoltura, das “Reflexões de Marx sobre O Estado no Livro de “O Capital” a “Um Olhar sobre o Olhar de Morse”, entre outros assuntos, no primeiro livro; e de “O Escritor Nordestino: um Itinerante à Procura de Editor”, a “Cascudo, Historiador da Comida”, no segundo.
Os “exercícios” também revelam qualidades especiais do autor, como, por exemplo, o gourmet e o cinéfilo, no admirável “Cinema e Gastronomia: A Festa de Babette”, sem dúvidas, ponto alto do seu ensaísmo.
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Por vezes, Pedro se tornava polêmico, no debate de ideias e fatos com os amigos da roda, por exemplo, quando afirmou, para espanto de todos, ao comentar suas andanças em Paris, de onde há pouco retornara:
-O Louvre é um museu de quinquilharias!
Pareceu-me que esta sua frase não passava de mera boutade. Pedro tinha grande senso de humor.
Muito sofreu às voltas com o câncer, que sempre soube enfrentar, bravamente.
Aproximando-se o momento derradeiro, fui visitá-lo, no hospital, onde estava internado há alguns dias. Ele ainda teve ânimo para me dizer, num fio de voz:
-O cerco está se fechando.
E acrescentou, fazendo alusão a um verso de Manuel Bandeira:
-Resta apenas tocar um tango argentino.
A Z Editora chega com novo livro: ‘Uma Visão Deteriorada do Mundo’, do médico e escritor José Delfino, Zé Delfino, Zedelfino.
Após os livros de poesia ‘Almas Nuas’ e ‘A Estação de Ana e Outras Estórias’, ambos de poesia, o autor se lança no universo da crônica e alguns contos.
O lançamento do novo “filho” está agendado para esta quinta-feira (10), a partir das 18h, na Galeria Fernando Chiriboga (3º piso do Midway).
São crônicas em que o autor aborda desde a música dos Beatles ao silêncio e fúria dos homens; das almas empedernidas aos colecionadores de Fusca. E o amor e a alegria da vida, claro!
Tudo com profundidade na abordagem e leveza na linguagem, tal como ele conversa com os seus muitos amigos.
O livro tem apresentação do jurista e imortal Ivan Maciel de Andrade. Lá pras tantas, ele escreve:
“O mundo tematizado por José Delfino nasce da projeção subjetiva e emocional da realidade, muito mais do que da captura e descrição da realidade propriamente dita”.
E mais adiante… “São textos escritos, sobretudo, com muita descontração, algumas vezes com ironia e outras com irreverência e desapreço às convenções”.
Haja vista a capa do livro, praticamente em branco, com apenas o título da obra, como um dia idealizou um certo quarteto de Liverpool em seu nono álbum oficial.
Livro ‘Uma Visão Deteriorada do Mundo’
lançamento: nesta quinta/10, a partir das 18 h.
Galeria Fernando Chiriboga, 3° piso do Midway
“Falves Silva e a Pipa”, “Moacy Cirne na Praia da Pipa” e “Inácio Magalhães de Sena e a Pipa” são três breves depoimentos que gravei em 2009, em ocasião do FLIPA, o primeiro festival literário organizado por Dácio Galvão na Pipa.
O flipAut! iria nascer só no ano seguinte e, naquela época, a gente atuava na Pipa como ECA13, espaço cultural alternativo.
Na tarde do último dia do festival, conversando com Abimael Silva, pintou a ideia e assim gravei primeiro Falves e depois Sêo Inácio, com uma pequena câmera fotográfica e os braços firmemente apoiados no espaldar da cadeira, como tripé. Cada um falando um pouco da “sua Pipa”.
Na manhã seguinte, acordei cedo e corri pra frente do hotel onde estava hospedado Moacy Cirne, para gravar também um depoimento dele sobre a Pipa.
Moacy estava pronto a sair de carona para Caicó com um conhecido, mas como tínhamos marcado no dia anterior, ele pediu pro dono do carro atrasar a saída uma meia hora e fomos gravar na varanda de um bar fechado, lá na frente.
Eu tinha ido com uma filmadora um pouco melhor que a outra. Moacy, inspirado, falou não só da Pipa, mas também do Seridó e do Bloomsday em Natal. Ventou muito, choveu forte e quase perdi a gravação por causa do barulho de fundo, mas acabei conseguindo salvar todo o depoimento de Moacy, afinal.
A Revista da Academia Norte-rio-grandense de Letras comemora 68 anos de existência neste ano de 2019, e uma fase de seis anos de atividades ininterruptas, chegando a sua 60ª edição. Fato inédito, suponhamos, em se tratando de periódico literário/cultural aqui no Estado. E nesta segunda-feira (30), às 17h, será lançada a 60ª edição da Revista, na ANL e com livre acesso ao público.
Esta nova edição traz homenagens ao escritor Lenine Pinto, com textos de Vicente Serejo, Jurandyr Navarro e o jornalista Sérgio Vilar. Celebra os 60 anos da UFRN, com textos de Geraldo Queiroz, Humberto Hermenegildo de Araujo e Daladier Pessoa Cunha Lima. Traz também em sua capa homenagem ao artista plástico norte-riograndense Jussiê Magalhães. Além de artigos, contos, crônicas e poemas.
Essa nova etapa de edições começou mais precisamente em agosto de 2013, quando a convite do presidente da ANRL, Diogenes da Cunha Lima e do diretor da Revista, Manoel Onofre Junior, passamos a colaborar como editor, dando início à publicação trimestral do periódico, que passou a circular regularmente de janeiro de 2014 até os dias atuais.
A primeira edição da Revista da ANRL foi publicada em 1951, e teve como primeiro diretor o escritor Nestor Lima. Com o passar dos anos outros diretores foram assumindo – Luís da Câmara Cascudo, Aderbal de França, João Wilson Mendes Melo – todavia o periódico sempre com tiragens irregulares, devido as dificuldades que todos nós conhecemos em publicar livros no Estado.
Às vezes, passavam-se anos sem sair uma edição sequer, e como bem falamos, a partir da edição janeiro/março de 2014, a revista renasceu com tiragens regulares, trimestralmente, superando qualquer outro periódico cultural do Estado ao longo dos anos.
Vale reforçar que, no momento, não existem, pelo menos de forma oficial, outros periódicos culturais em circulação no Estado; isso só reforça a importância da Revista da ANRL para a nossa cultura literária, sobretudo registrando uma época muito fértil das nossas letras, com vários escritores publicando nos quatro cantos do Rio Grande do Norte, além de haver forte crescimento na área de estudos e pesquisas sobre a literatura do RN no âmbito das universidades.
Comemorando sua fase mais prolífica e regular, a diretoria da revista, em face desse tão simbólico acontecimento resolveu publicar em suas capas, quadros dos principais artistas plásticos do Estado. A estreia se deu com a edição de número 55, abril/junho, de 2018, com capa de Dorian Gray Caldas.
Uma das principais características da nova etapa da revista é a abertura para a comunidade literária, abrindo e ao mesmo tempo unindo a Academia com a intelectualidade potiguar, abertura esta praticamente inédita, e também cedendo espaços para publicação de trabalhos de pesquisadores, estudantes e professores, da UFRN, UERN, IFRN, UNP, fazendo inclusive com que a revista conseguisse obter o seu primeiro “Qualis” (sistema brasileiro de avaliação de periódicos), o primeiro do Estado para um periódico desse segmento.
No início de 2014, na edição que marcou a retomada da revista, que estava sem circular desde 2011, fizemos uma parceria com a CJA Edições e a Offset Gráfica, comandada por Ivan Júnior, para tomarem conta da diagramação e impressão da revista, e tivemos a capa criada pelo editor Cleudivan Janio, através de um esboço feito, anos antes, por Nei Leandro de Castro.
Como manchete, na capa, um artigo de Diogenes da Cunha Lima sobre Câmara Cascudo, e uma homenagem ao escritor recém-falecido Pedro Vicente. Essa capa trazia o selo que foi lançado pelos Correios em 1998 em memória de Câmara Cascudo.
A edição seguinte, nº 39, trazia artigo da recém-eleita acadêmica Leide Câmara, em comemoração aos 91 anos da “Serenata do Pescador”, do poeta Othoniel Menezes, e dois textos inéditos de Câmara Cascudo, entre outros.
Homenagens a Cascudo não faltaram nas edições seguintes, além, claro, de uma especialmente dedicada a sua filha, escritora e acadêmica Anna Maria Cascudo Barreto, que até pouco antes de falecer participava ativamente com diversos textos no periódico.
A partir da edição nº 43, a revista ganha nova proposta editorial, com a designer Diolene Machado dando-lhe outra roupagem, inclusive nova capa, inspirada na pop art. Com a ativa participação de acadêmicos e da comunidade literária, a revista foi ficando mais volumosa e ascendendo em conteúdo; afora textos literários, temas de história e cultura, pesquisas e estudos diversos ganhavam cada vez mais espaço.
Vale ainda dizer que, nos bastidores, trabalhávamos com afinco na distribuição da revista, para que ela chegasse ao maior número de leitores possível. Devemos frisar que ela é gratuita, e pode ser retirada na Instituição diariamente por qualquer interessado.
Destacamos também a edição 44 onde foi feita grande homenagem ao recém-falecido acadêmico Ticiano Duarte e que trazia um conto praticamente desconhecido de Câmara Cascudo, publicado em 1928 na revista Feira Literária.
Nas edições seguintes, as mulheres acadêmicas, sempre atuantes na revista, também mostraram voz e vez, por exemplo, a escritora e poeta Diva Cunha, com a homenagem às mulheres de letras, Zila Mamede e Nisia Floresta, dentre outros temas e assuntos, além da abertura de espaço para escritoras representativas da nossa literatura contemporânea, como Clotilde Tavares, Carmen Vasconcelos, Cellina Muniz, Marize Castro…
Nessas edições a Revista demonstrou que está atenta ao que acontece na comunidade literária. E também acolheu, em suas páginas, alguns dos principais nomes da nossa literatura atual como Osair Vasconcelos, Racine Santos, Aldo Lopes de Araújo, Francisco Sobreira, Demétrio Diniz, Tarcísio Gurgel, e escritores de outros estados, como Sânzio de Azevedo, Marco Luchesi, Enéas Athanázio e Hildeberto Barbosa Filho.
A partir da edição 47, nova capa, sempre com mais literatura, poesia, ensaios, contos e crônicas. Na edição nº 48 homenageou-se o escritor Hélio Galvão, sendo esta uma das edições que se esgotaram mais rapidamente, quase que no dia do lançamento, realizado na Academia. Essa edição também iria marcar uma série de quatro edições equivalentes a um ano de tiragem sob patrocínio da lei municipal Djalma Maranhão, com apoio da Casa de Saúde São Lucas e Fundação Capitania das Artes, presidida pelo poeta Dácio Galvão.
Em novembro de 2016, a Academia Norte-rio-grandense de Letras completou 80 anos, e a revista trouxe vários textos de acadêmicos celebrando a data, além de textos outros com documentos da vanguarda natalense sobre os 50 anos do poema processo. Nota-se também que já era visível no periódico a participação esporádica dos poetas dessa geração como Jarbas Martins, Anchieta Fernandes e Falves Silva, o primeiro, eleito para a cadeira nº 20 da Academia.
Mantendo uma nova tradição de mudar as capas anualmente, a edição número 50 trouxe dezenas de textos, em homenagem a Dorian Gray Caldas, que era, então, um dos nossos maiores artistas vivos, e trouxe também uma entrevista que ele nos concedeu, meses antes de falecer. Outras homenagens foram prestadas a acadêmicos do passado e do presente, como, por exemplo, Nestor Lima, Paulo Bezerra, Sanderson Negreiros, Dom Nivaldo Monte, afora dezenas de discursos de saudação e posse, numa fase em que foram eleitos para ANRL importantes intelectuais potiguares.
Nessa nova fase, com as mudanças, já foram capa da revista, artistas como o já citado Dorian Gray Caldas, Newton Navarro, Iaperi Araújo, Leopoldo Nelson, e como uma amostra da nova geração, Alfredo Neves.
Recentemente, em março do corrente ano, foi publicada uma edição especial em homenagem às mulheres, na revista número 58, a participação de diversas escritoras tendo como foco os grandes nomes femininos do nosso Estado com destaque na área cultural.
Fiquei sabendo de ‘Décadas’, livro de Clementino Câmara, ouvindo umas conversas no Sebo Vermelho. Sim sempre gostei dos “sons” que ecoam nos sebos, muita informação encontra-se nas rodas de bate papo. São os cantões, as cocadas, de antigamente, e, foi então em um desses lugares mágicos que ouvi pela primeira vez o nome de Clementino Câmara. Desde aquele momento passei à “cata” do livro ‘Décadas’, curioso em conhecer a trajetória das memórias do Professor de diversas gerações da capital potiguar.
De idas e vindas, por entre poeiras e ácaros, encontrei o livro. Logo nas primeiras páginas, o autor faz uma deliciosa advertência sobre sua escrita:
“Mas este livro não é apenas de uma recordação de nossa vida; ludâmbulo de nova espécie, fizemos este passeio aos tempos que se foram – desde aqueles em que o ‘boi calemba’ e os ‘congos’, para obter permissão de brincar, dançavam primeiro em frente á chefatura de polícia, na rua da Conceição, bem perto do Palácio do Governo; em que se fazia a fogueira de São João na Rua Grande, hoje Praça André de Albuquerque; em que as ‘Lapinhas’ do Antônio Elias e José Lucas, e os Fandangos de Chico Bilro constituíam nota do dia […].”
Radiante eu estava diante de um livro de memórias com doce percurso sobre uma urbe que não existe mais, uma urbe do passado. Tratava-se de uma Natal que conheceu o fim de um século, o século XIX e um amanhecer de um novo século, o século XX. O interessante nessa trajetória inicial, é o cenário urbano fazer parte integrante da narrativa “autobiográfica”. Confesso me atrai as memórias, gosto de fazer, este passeio, este caminhar pelas ruas da cidade através dos memorialistas.
Clementino Câmara através de suas memórias afetivas nos apresenta uma Natal do passado, uma cidade memória. A cidade que desce a ladeira, e chega na Ribeira, no Cais da Tavares de Lira, e entra nas terras do sítio pertencente ao “Bom Jesus das Dores”, é uma Natal a ser explorada nas páginas de Décadas. A cada informação de sua vida, um pouco da urbe se apresenta, como pro exemplo no seu encontro com os primeiros evangélicos da cidade:
“Numa terça-feira de maio de 1901, entrei na igreja do Bom Jesus, onde se rezavam os terços do mesmo mês. Depois fui pela atual rua Frei Miguelinho e vi num salão uma reunião de diversas pessoas. Cantava-se. Aproximei-me e fiquei com outros curiosos no ‘sereno’. Diante do auditório, tendo a iluminar-lhe a loira cabeça um candeeiro a querosene, encontrava-se João Ferreira Nobre com a Bíblia aberta, pregando.”
Estes dois fragmentos são bem ilustrativos das minhas inquietações dessa “cidade” despida por cronistas/memorialistas. Busco neste universo de memórias, tecer os retalhos das lembranças narradas, na formatação de Natal. Tenho em minha estante um lugar especial para o memorialistas da urbe, são vozes prontas para narrar a cidade. Me delicio neste diálogo, eu e os memorialistas “habitantes de minha biblioteca”, para lembrar o professor Américo de Oliveira. Um desses habitantes é Lair Tinôco e seu “Tempo de Saudade”.
“[…] Todas as tardes, o meu avô, Dodô, como eu e minha irmã o chamávamos, pegava na minha mão e me levava para olhar a enchente do potengi. As águas barrentas lambiam os degraus de pedra do pequeno cais e até espraiavam-se pelo calçamento regular da Av. Tavares de Lira […] Na volta sempre dávamos uma entradinha na Rua Chile. Lá ficava a “Dispensa Natalense”, o melhor armazém de cosmétiveis da nossa cidade naqueles idos.”
São os livros de memórias: um doce percurso sobre a urbe, este é o convite deste curto artigo. Deixo para você leitora e leitor este convite, se joguem neste mundo das memórias e pise no chão de uma Natal, cidade memória.
Imaginemos uma mulher simples, nascida em cidade do interior do estado do RN, na década de 20 e triplamente aleijada de nascença. Sim, este era o termo adotado na época. Não tinha as pernas e só tinha um braço. E assim começa a história de Maria Queiroz Baía.
Em decorrência dessas limitações físicas, teve que enfrentar e superar todos os obstáculos, concluindo o curso superior na UFRN em 1967. Tendo em vista a sua popularidade marcante, tomou posse como vereadora em 1977, em Natal (única mulher naquele universo masculino), exercendo o mandato até outubro de 1981, quando faleceu.
Até então, Natal só havia eleito uma única mulher vereadora em sua história, Eugênia Antunes Marques Machado, na década de 50. Passadas duas décadas depois, nenhuma representatividade feminina na Câmara Municipal de Natal. Maria Queiroz Baía quebrou esse silêncio após 23 anos, ocupando a primeira suplência de vereadora pelo MDB, partido opositor à ditadura.
“A votação aconteceu em 1976. Ela entrou como suplente porque votavam em Baía e ela estava registrada como Maria Queiroz. Por isso perdeu muitos votos. Mas em 1977 ela assumiu como vereadora ficando até 1981. Ela faleceu no exercício do mandato decorrente de um ataque fulminante no coração”, conta a autora.
É essa epopeia de uma mulher de fibra que reunia todas as condições para ficar relegada ao esquecimento que o livro “Maria Queiroz BAÍA – Exemplo de superação e luta contra o preconceito” da escritora Lúcia Eneida Ferreira Moreira, retrata.
A autora resgata a luta diuturna de BAÍA contra o preconceito e a vontade insaciável de vencer. Tudo isso fez dessa professora estimada em Natal na década de 60 e 70, um exemplo a ser seguido por todos.
Não se trata de obra de ficção, mas sim da reconstrução histórica de quem, mesmo diante de barreiras intransponíveis, teve a coragem e a ousadia de superá-las, enfrentá-las e suplantá-las. Sendo, portanto, uma precursora dos direitos femininos, da inclusão e da cidadania.
O lançamento do livro será no dia 17 de outubro, a partir das 18h, no salão Cristal da AABB, na Avenida Hermes da Fonseca, em Natal.
Lançamento do livro “Maria Queiroz BAÍA – Exemplo de superação e luta contra o preconceito”
Onde: AABB (Salão Cristal)
Data e hora: 17 de outubro, às 18h
Autora: Lúcia Eneida
Ambientado nos Anos 1960, o novo romance do escritor e dramaturgo Racine Santos bebe da fonte do passado, mas poderia ter sido escrito na atualidade. Afinal, muitos sentem o mau cheiro dos ventos obtusos dos anos de chumbo agora em pleno século XXI. O livro será lançado na Casa dos Imortais, a Academia Norte-Riograndense de Letras, Rua Mipibu, 443, Petrópolis, nessa quinta-feira (19), a partir das 19h30, ao preço de R$ 40.
O título “…De susto, de bala ou vício” foi retirado de um trecho da música ‘Soy loco por ti, América’, de Gilberto Gil e Capinam, gravada em 1968 e eternizada pela voz de Caetano Veloso. O pano de fundo da história é o romance entre os atores Eduardo e Martha que, por uma missão que só será revelada ao longo da trama, são separados por oito meses, período que transforma suas vidas e deixa marcas profundas em ambos.
“Se Lacan dizia ser o texto a fotografia íntima e escondida do autor, o novo Romance de Racine é a denúncia de que pra onde ele for leva o teatro. Na forma é prosa no papel; na plástica é fala do teatro. Falas do teatro épico. De onde Racine é semente e fruto. Criador e criatura. O épico mais discursivo do que heroico. Sem perder as vestes talares do romance. Uma espécie de álbum de fotografias, daqueles que se guardavam em casa para mostrar às visitas, com a histórias dos seus pela via das fotos”, escreve o escritor François Silvestre, um dos convidados a apresentar o livro aos autores.
O outro prefaciador é Nelson Patriota, que diz em determinado trecho: “Assim, sejam quais forem os protagonistas que conduzam a trama de …De susto, De bala ou Vício, a narrativa que os prende opera essa trama com engenho e arte, conhecimento in loco dos detalhes e uma vocação novelesca que torna a se afirmar neste painel de época em pano rápido”.
O romance faz um passeio por Natal dos anos 1960, que podemos ler na prosa fluida e sem firulas do autor, em trechos como esse:
“Naquela sexta-feira, 22 de novembro, no momento em que Eduardo entrava no cinema, a conversa nas ‘Cocadas’ girava em torno do congresso de estudantes realizado em Ibiúna, São Paulo, onde centenas de participantes foram presos por soldados da Força Pública e agentes do Departamento de Ordem Política e Social, o conhecido e temido DOPS. O XXX Congresso da União Nacional de Estudantes – UNE, que se pretendia clandestino, reunindo estudantes de várias partes do País, fora cercado pela polícia de São Paulo no dia 12 de outubro. Entre os presos, cinco estudantes de Natal, representando Diretórios locais. Todos eles amigos ou conhecidos dos frequentadores daquela ágora natalense”.
Personagens reais do universo natalense se misturam aos fictícios. O grupo de teatro do qual o jovem casal de atores atua é dirigido por Sandoval Wanderley que, no livro, encena com seu grupo a peça escrita pelo dramaturgo paulista Marcos Rey, “A Próxima Vítima”.
Para deixar o leitor com vontade de ir correndo ler o mais recente livro desse que é um dos maiores escritores vivos de Natal, vai um último trechinho para deixar o suspense: “(…) e isso foi pior do que os seis meses de cadeia, a cela escura, fedorenta, fria… as porradas para confessar uma coisa que não fiz… a morte de André”. O que terá sido pior que aconteceu com Eduardo? Só lendo o livro para saber.
…De bala, de susto ou vício – de Racine Santos
Dia: 19 (quinta-feira)
Local: Academia Norte Rio-Grandense de Letras
Hora: 19h30
Preço: 40
O Governo do Estado investiu R$ 530 mil do programa RN Literário para a compra de livros na 9ª edição da Feira de Livros e Quadrinhos de Natal (FLiQ), que teve início quinta-feira (12), na Multifeira Brasil Mostra Brasil. Mais de 330 unidades educacionais do Estado serão beneficiadas com a aquisição dos livros.
Na abertura da FliQ, a governadora Fátima Bezerra destacou o compromisso do Governo em promover ações de incentivo à leitura, educação e cultura.
“Guardo na minha biografia de professora e parlamentar, ter sido autora do projeto que instituiu o primeiro marco regulatório no país que é a Política Nacional da Leitura e da Escrita. E mesmo diante da atual situação de dificuldade financeira, não mediremos esforços para através da Fundação José Augusto e da secretaria de Educação, tornar o RN um Estado de leitores”, disse.
Os produtos adquiridos na FliQ beneficiarão cerca de 140 mil estudantes, que terão os acervos de suas bibliotecas renovados. Nesta ação, o RN Literário contempla unidades educacionais nas cidades de Natal, Parnamirim, Nova Cruz, São Paulo do Potengi, Ceará-Mirim, Macau, Santa Cruz e João Câmara.
“No Rio Grande do Norte apenas Natal e Mossoró possuem livrarias, nós vamos continuar lutando para mudar esta realidade. Pois acreditamos que o livro e a leitura sejam exemplos de cidadania cultural que tem hoje um Governo inclusivo e cidadão, de cunho democrático e popular”, frisou o presidente da Fundação José Augusto, Crispiniano Neto.
Ao todo, o RN Literário destinou R$ 850 mil para as feiras do livro de Natal e Mossoró e uma das principais características do programa é o incentivo e valorização à produção de obras potiguares, visto que 40% das compras devem ser de títulos escritos por autores locais.
“Estamos trabalhando para que em breve tenhamos o Plano Estadual do Livro e da Leitura, para que possamos avançar cada vez mais diante do papel fundamental da leitura e da literatura para potencializar a educação e a arte. É nosso dever enquanto Governo promover ações e políticas públicas que venham democratizar o acesso do livro às crianças”, acrescentou Fátima Bezerra.
Há algum tempo, batendo um papo animado com Hudson Paulo, escritor e poeta, martinense da Jurema, falamos sobre João Cabral de Mello Neto. Hudson eufórico: conseguiu comprar, num sebo da cidade, a obra completa de João Cabral, em bom estado de conservação.
Disse-lhe que sou pouco versado em poesia (epa! involuntário trocadilho) e muito menos em João Cabral, mas me gabo de ser um dos primeiros nesta aldeia de Poti, a ler o grande poeta pernambucano.
Por volta de 1959 deparei-me com um livro dele – “Duas Águas”- que, a bem dizer, devorei, fascinado. De modo especial causou-me profunda impressão uma série de poemas denominada “Cemitérios Pernambucanos”. Ainda hoje, transcorridos tantos anos, tenho de cor alguns versos.
“Nenhum dos mortos daqui
Vem vestido de caixão;
Portanto, eles não se enterram,
São derramados no chão”.
(Do poema “Cemitério Pernambucano (Nossa Senhora da Luz)”.
Hudson gostou de saber que eu tive oportunidade de conhecer pessoalmente João Cabral. Quando este veio a Natal, parece-me que a convite de Zila Mamede, não me lembro em que ano, vi, numa noite na Livraria Clima do CCAB – Petrópolis, aquele senhor magro, moreno, média estatura, metido num terno muito simples, calado, retraído, na fisionomia um ar de gauche na vida…. Ninguém diria que ali estava um dos maiores poetas do Brasil e do mundo, já então consagrado. Não tive coragem de me aproximar dele. Inibido diante de tamanha celebridade, limitei-me a observá-lo de longe.
Recentemente, vi, na televisão, um documentário sobre João Cabral, com depoimentos a respeito de sua vida & obra, e ele próprio sendo entrevistado e declamando poemas de sua autoria. Tudo de primeira.
Em sua fala, curiosamente, o poeta usa e abusa da palavra compreende.
Parece um tique nervoso:
-Isto assim, assim, compreende? Isto assim, assim, compreende? Compreende?
Fez-me lembrar do Desembargador Floriano Cavalcanti, meu professor no Atheneu e na Faculdade de Direito, que não dizia meia dúzia de palavras sem indagar, com toda a ênfase:
-Entendeu você?
“…eu acho que o próximo não tem por que aguentar as nossas pulgas. Quer dizer: eu não tenho por que publicar coisas com minhas preocupações, com minhas angústias, eu não tenho por que falar de mim. Eu não me considero digno de fazer um só poema falando de mim diretamente. Toda experiência serve de material para um poema, mas essa experiência vai aparecer no poema sob outra forma. Ninguém tem o direito de se confessar em público, ninguém tem o direito de incomodar os outros com os seus problemas e com suas pulgas”. João Cabral de Melo Neto em entrevista inclusa no livro “Conversas de Poetas” (organização e edição de Adriano de Sousa e Flávia Assaf).
Estas palavras do poeta maior deveriam servir de lição a alguns poetas e poetisas, que têm surgido, ultimamente, em nosso Estado.
Num volume do seu jornal literário, Hildeberto Barbosa Filho vergasta, a certa altura, uma safra de poetastros – confessionais, sentimentalóides – que infestam a sua província. E, lá para as tantas, diz:
“Odeio, sim, a poesia dos que ingenuamente confundem poesia com confissão de sentimentos, com a expressão de mágoas, dores, alegrias, boas intenções, enfim, com os estados d’alma que trespassam a sensibilidade dos corações ditos românticos”.
E acrescenta o crítico, com a argúcia de sempre:
“Essa poesia em que o sentimento aflora de maneira desmedida, caracteriza-se por um aspecto fundamental: nenhuma, ou quase nenhuma, consciência da linguagem. Essa poesia paradoxalmente não logra o intento primeiro da arte poética, isto é, não consegue se transmutar no poema”.
Não fica aí, mas estende-se, com proficiência, sobre o assunto.
Em seu livro “Nosso Amigo Castriciano”, Câmara Cascudo conta a seguinte anedota:
“O poeta Jaime dos G. Wanderley pergunta um dia a Henrique Castriciano:
-Mestre Henrique, o senhor amou alguma vez? Castriciano coça o queixo e confidencia:
-Eu já tenho passado meus seis meses bem aborrecidos…”
Não acredito que alguém que ame e seja amado possa aborrecer-se com o Amor. Henrique Castriciano apenas amava, mas não era amado. Triste sina! Pelo menos, restou-lhe a alternativa de após seis meses, libertar-se.
Que é que faz a gente amar alguém? Com certeza não é só a beleza física. Também a graça, a simpatia, a bondade e as afinidades múltiplas, a reciprocidade de sentimentos, a cumplicidade, enfim. Se pintar sexo, melhor. O sexo é uma espécie de condimento do amor.
Vinicius de Morais disse com aquele “saber de experiência feito”:
– As feias que me perdoem; beleza é fundamental.
Sim. Mas, por si só não basta. E o conceito de beleza varia de pessoa a pessoa.
Dos poetas brasileiros, nenhum, até hoje, soube cantar o Amor melhor que Vinicius. Sirvam de exemplo estes versos de uma das suas canções com Tom Jobim:
“Assim como viver sem ter amor não é viver
Não há você sem mim, e eu não existo sem você”.
Na vida há duas coisas, realmente, importantes: o Amor e a Morte. Eros e Tanatos.
Va lá o truísmo…
Baseado em fatos reais, Agouro compõe a trilogia de Márcio Benjamin. Depois do livro de contos “Maldito Sertão” e do romance “Fome”, Agouro traz treze contos que revisitam os terrenos férteis da oralidade sertaneja. O lançamento acontece nesta quinta-feira (12) às 19h no Boteco do Xexéu e o título tem edição do Escribas, revelando o imaginário através de causos contados em voz alta à beira da fogueira ou relembrados na solidão dos quartos sombrios.
De acordo com Márcio Benjamim, a palavra “Agouro”, tem muitos sentidos para o resto do país e apenas uma para o Nordeste. “Lançar o Agouro é a sensação da continuidade do trabalho, nessa linha do terror nordestino, que procuro fortalecer e trazer para os jovens a valorização da nossa cultura. Agouro é o contato com a nossa história e as nossas raízes”, revela.
Entre os treze contos do livro, “Sino da Igreja” é peculiar. Dedicado à entidade do candomblé “Tranca Rua das Almas”, a história partiu de um sonho que uma pessoa teve e ligou para o escritor, dizendo que a entidade mandava avisar que iria escrever o livro com ele. “Depois de pesquisas, entendi quem era o personagem, pesquisei muito sobre sua história e o conto é um registro da vida da entidade e por isso é dedicado a ele”.
Outros personagens como o Lobisomen que andava à beira mar no conto “Mar de Lua”, até histórias de assombração da Mina Brejuí em Currais Novos, fazem parte das memórias. Histórias como “A Pedra do Reino”, tão bem contada por Ariano Suassuna de maneira lúdica, têm na realidade uma história terrível que fala de seita, obsessão e da religiosidade cega.
“Desde a grande fome que consumiu o Ceará em meados do século XX, parindo terríveis campos de concentração, a esta assombrosa seita da Pedra do Reino, todos estão em Agouro e existem. Mas aqui eles vêm com um toque ainda mais aterrador, pois são baseados em fatos reais abertamente ocorridos ou angustiadamente esquecidos”, conta o escritor.
Agouro tem a orelha assinada por César Bravo, um dos maiores escritores de terror atualmente, fotografias de Eliezer Neto e Patrocínio direto da Natal Dunas através da Lei de Incentivo Djalma Maranhão. O livro conta ainda com o apoio da Barbearia Estilo Ousado Sampa e do Salão Artemus Coiffeurs. Para o lançamento o Boteco do Xexéu será todo decorado com a temática do livro, cardápio e músicas, além da exibição dos teasers especialmente criados com base nos contos de Agouro pela diretora de cinema Márcia Lohss.
Márcio Benjamin Costa Ribeiro, um natalense, tem 39 anos, trabalha como advogado, formado pela UFRN, e costuma apresentar-se como um escravo das letras. Desde os treze anos é metido com lápis e papéis, tentando mostrar aos outros um pouco do que se passa em sua cabeça. Participante usual de antologias de terror (Noctâmbulos, Caminhos do Medo, pela Editora Andross), também já fez muita gente rir com suas peças de teatro (Hippie-Drive, Flores de Plástico, Ultraje).
MALDITO SERTÃO foi o seu primeiro livro, de contos. Lançado em 2012 pela Editora Jovens Escribas, foi considerado um dos melhores de 2012 e 2013 pelo Troféu Cultura Potiguar, foi quadrinizado pelo coletivo Quadro 9. Em 2016, lançou seu primeiro romance, FOME, o qual foi finalista do Prêmio da Biblioteca Nacional como Romance Infanto Juvenil.
Em 2016 ainda, foi convidado pela Universidade de Sorbonne, para expor seu trabalho em Paris, onde discutiu sobre o sertão nordestino e a força da oralidade como meio de preservação dos contos e lendas que permeiam as vivências sertanejas, também participou do Salão do Livro na capital francesa. Em 2018 foi convidado pelo SESC-RN e representou o Rio Grande do Norte no projeto Arte da Palavra.
Nos dias atuais o escritor também participa do Projeto Casa das Palavras e Ação Leitura, os quais levam o escritor para diálogos com crianças e adolescentes, aproximando o autor de seus leitores e ao mesmo tempo promovendo a cultura potiguar. Em 2018 dois de seus contos foram transformados em curtas-metragens, dando origem aos filmes “O Diabo Da Garrafa” e “Uma Casa De Muro Branco”.
Em 2019, foi convidado pelo SESC para compor a programação da Mostra Sesc Cariri – Sertão Central, da FLIPELÔ e da Bienal Internacional do livro do Ceará. Em 2020, novamente será parte da Primavera Literária Brasileira, mas dessa vez na cidade de Providence, nos Estados Unidos, levando o terror nordestino pra terra de Poe e Lovecraft. Márcio Benjamin gosta de pensar que poderá escrever pra sempre. Pelo menos é o que prometem as vozes em sua cabeça.
Lançamento “Agouro” do escritor Márcio Benjamin
Local: Boteco do Xexéu (Rua das algas 2282, Ponta Negra – Natal/RN)
Data: 12 de setembro, às 19h
A 10º edição do festival literário alternativo de Pipa (flipAut 2019) abriu hoje (9) convocatória para receber propostas relacionadas a uma série de atividades culturais para compor a programação do festival. Confira:
– lançamento de livro, revista, cordel, ou outra publicação, com destaque para os selos independentes, alternativos, regionais etc;
– oficinas nas escolas, com temas de incentivo à leitura, à criação literária, ou poética;
– atividades lúdico-educativas com crianças, na tenda infantil do festival (contação de histórias, oficinas etc.);
– saraus e outras atividades de tema literário e/ou poético;
– exposição de arte (pintura, escultura, fotografia e outras intervenções artísticas);
– oficinas de artes, abertas ao público;
– apresentações teatrais, para público livre, com duração mínima de 40 minutos e máxima de uma hora, e outras performances de duração e temas variados;
– apresentações musicais, preferivelmente de cunho autoral, com duração mínima de 40 minutos e máxima de uma hora;
Importante lembrar que, por ser o flipAut 2019 um evento cultural sem fins lucrativos, nenhum cachê será pago pela participação ao mesmo.
As propostas deverão ser enviadas ao e-mail flipaut@yahoo.com.br até o dia 21 de outubro, ou apresentadas, até a mesma data, diretamente nesse grupo de trabalho onLine AQUI.
Casas editoras, sebos, livrarias e os outros que queiram participar da “Feira de Livros Novos e Usados” do flipAut! 2019, façam contato pelo e-mail flipaut@yahoo.com.br ou solicitem participar do grupo de trabalho onLine.
No grupo, existe um post dedicado à feira de livros, que será de referência para os interessados.
Estamos formando, assim como nos anos passados, um grupo FLIPAUT JOVEM, com estudantes do município e das cercanias. Os estudantes interessados em participar como estagiários de produção cultural colaborativa, segundo a disponibilidade de tempo e interesse pessoal de cada um, podem entrar em contato pelo e-mail flipaut@yahoo.com.br
Colaboradores, patrocinadores e parceiros, novos e veteranos, comuniquem e confirmem sua disponibilidade pelo e-mail flipaut@yahoo.com.br Obs. ao entrar no GT/flipAut! pela primeira vez, leia o post fixado no alto da timeline, onde está explicado o uso e regras do grupo de trabalho. Acessando a partir de um celular, por baixo do cabeçalho, clicar em “mostrar a publicação fixada”, ou “mostrar os avisos”.
Acesse o blog do flipAut! e fique a par de tudo o que aconteceu nas edições anteriores.
Curta a página do flipAut! e fique por dentro de todas as novidades da 10ª edição do festival literário alternativo de Pipa
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Com um público formado principalmente por crianças, com idades situadas entre 7 e 12 anos, Nísia Floresta recebe a 12ª edição da Caravana de Escritores Potiguares, na manhã desta quinta-feira, 12.
A comitiva integrada por Bia Madruga, Drika Duarte e Francisco Martins, com participação especial de Samira Sallyane, desembarca às 9h, no Ecoposto, para conversar com alunos e professores da Escola Municipal Francisco Domingos Bonfim.
A Caravana é um projeto que se encontra em sua sexta temporada e conta com os patrocínios da Cosern e do Governo do Estado do Rio Grande do Norte, viabilizados por intermédio da Lei “Câmara Cascudo” de Incentivo à Cultura.
A iniciativa busca estimular o gosto pela leitura, divulgando a literatura e a produção literária potiguar em eventos interativos, realizados diretamente nas comunidades escolares, reunindo estudantes, professores e escritores.
Segundo informa o idealizador e coordenador do Projeto, Thiago Gonzaga, periodicamente, a Caravana seleciona um grupo variado de autores para se dirigir a um município do Estado.
A composição da equipe contempla escritores com obras em diferentes gêneros e estilos literários, valorizando a diversidade da produção local. Nos eventos, além das intervenções e contações de histórias permeadas com recitações, há doações às bibliotecas de instituições locais e sorteios de livros.
Na atual temporada, iníciada em abril, a Caravana de Escritores já visitou escolas públicas localizadas nos municípios de Várzea, Parnamirim, Poço Branco, Barcelona, São José de Mipibu, Jundiá, Lagoa Nova e São Bento do Trairi, além de Natal. Ao todo, participaram das atividades cerca de 1.600 estudantes e professores.
O quê?
Caravana de Escritores Potiguares (Temporada 2019 – 12ª edição)
Onde? Quando?
Ecoposto (Nísia Floresta), nesta quinta-feira, 12, das 9 às 11 horas
O conteúdo de uma oficina intitulada ‘Mulheres, Corpo & Resistência na Literatura’ me chamou atenção. Acontecerá em Sampa, mas poderia ser em qualquer lugar do mundo. Isso porque a mulher foi escanteada durante praticamente toda a história da literatura. E quando surgiu, veio associada à fragilidade do amor. De umas décadas pra cá é que a literatura erótica, as dores e questionamentos escancaram um silêncio secular das escritoras.
Acho o tema muito propício e oportuno à discussão. Temos um Insurgências Poéticas, atividades no Sesc relacionadas ao tema, teremos em breve o FliPaut em Pipa, a Feira Literária no Beco e outros projetos culturais, ou movimentos como o Leia Mulheres, em Natal e o Mulherio das Letras, em Nísia Floresta, que poderiam adotar a temática sob diferentes ângulos.
Faz três anos fui convidado pelo Sesc para mediar uma mesa no Flipipa com duas escritoras, Marta Barcellos e Sheyla Smanioto, vencedoras daquele ano do Prêmio Sesc de Literatura, nas áreas de contos e romance, respectivamente. E procurei direcionar o papo para essa vertente, que fundamentalmente era: “Existe literatura feminina?”.
Se existe, o que exatamente ela é? A literatura ou mesmo a arte em geral pode ser dividida por gêneros? Mulheres conseguem escrever melhor sobre mulheres? Se não existe literatura feminina, existe literatura para mulheres e a respeito de mulheres? Há AINDA preconceito com a literatura por mulheres? Literatura feminina seria militância?
Clarice Lispector disse: “Quando escrevo, não sou homem nem mulher. Sou homem e mulher”. Também acredito em literatura sem divisão de gênero, mesmo sendo construída a partir de experiências pessoais e, claro, a vivência de uma mulher é sim diferente: dificuldades no campo do trabalho, no lar, no preconceito sofrido, enfim, no Ser Mulher.
Mas um homem não pode descrever, tão bem quanto uma mulher, sobre a dor do parto ou sobre machismos, por exemplo? O problema é que homens não escrevem sobre isso. Cabem às mulheres ocupar essa lacuna e ampliar o discurso. Não basta bradar “tudo é literatura”. Então, se não há literatura feminina, que haja literatura de mulheres. E não de mulheres para mulheres, mas para todos.
Em suma, que não haja literatura feminina, ideológica, militante. De certo atrairia pouco leitor, principalmente masculino – que mais deveria ler. Mas que tenhamos um movimento, um engajamento nesse protagonismo das mulheres nas letras. E aqui em nosso RN, como já citado, há espaço e projetos para isso. Vamos começar?
Seridoense, a poeta e escritora Jeanne Araújo nasceu na terra de grandes nomes da nossa cultura literária como, por exemplo, José Bezerra Gomes, José Gonçalves de Medeiros, Luís Carlos Guimarães, Moacy Cirne e Paulo Bezerra, além de outros nomes, firmados, como Nei Leandro de Castro, Nivaldete Ferreira, Humberto Hermenegildo de Araújo, Valdenides Cabral de Araúo Dias, Muirakitan Kennedy de Macedo, e outros valores que estão traçando sua trajetória literária na atualidade, como por exemplo, os componentes do Casarão da Poesia, em Currais Novos.
Atuando como professora, Jeanne Araújo radicou-se na cidade de Ceará-Mirim, onde se afirmou como escritora e é membro da Academia de Letras e Artes de Ceará-Mirim (Acla), publicou três livros “Monte de Vênus” (poemas), “Corpo Vadio” (poemas) e “Combustão” (romance), este último em parceria com o poeta, escritor e jornalista Cefas Carvalho. Além de ter participação em várias coletâneas e diversas premiações literárias e menções honrosas, como, por exemplo, “Prêmio Luís Carlos Guimarães”, da Fundação José Augusto, “Concurso Zila Mamede”, “Prêmio Othoniel Menezes”, da Funcarte, e várias outras, pelo Brasil.
Tivemos oportunidade de escrever sobre uma dessas coletâneas de que a autora participou, “Entre Dedos…” Jeanne Araújo foi incluída com o conto “A carona”, mostrando sua faceta como ficcionista, na primeira reunião de contos eróticos de escritores nascidos no Rio Grande do Norte, organizada pelo editor e escritor José Correia Neto.
“Entre Dedos…” prova mais uma vez a sintonia literária potiguar, e seu valor estético, em relação ao que tem sido produzido em outras capitais, com bons autores e com sensibilidade artística para tratar de um tema difícil: o erótico na literatura.
Editada pela Caravela Selo Cultural, a obra foi muito bem produzida e organizada, e merece todos os confetes, pois entra, inclusive, para a nossa história literária como a primeira desse tipo no Estado.
“Entre dedos…” tem a participação de outros escritores experientes, além de Jeanne Araújo, dentre eles, João Andrade, Cefas Carvalho, Maria Maria Gomes e Sheyla Azevedo.
Nos contos selecionados tanto do erotismo masculino como do feminino, relatos e fantasias são ingredientes indispensáveis que instigam a imaginação do leitor a mexer com a audição, o olfato, o tato e a visão, mesmo sem a presença física de um dado estímulo. É que as fantasias ligadas à sensualidade e ao erotismo têm o potencial de aumentar o nível de interesse pela leitura.
Em suma, “Entre Dedos…” se serve da descrição detalhista da aventura erótica como pretexto para o derramar-se da mais fina literatura.
Também escrevemos sobre o segundo livro de poemas de Jeanne Araújo, “Corpo Vadio” (Editora Penalux, 2015) para o livro “Os Grãos – Ensaios Sobre Literatura Potiguar Contemporânea” (2016). Do ensaio com o título “A tradição reinventada de Corpo Vadio”, resumimos o trecho a seguir:
Um erotismo sutil, em forma de arte, esta é a principal característica da obra “Corpo Vadio” (Editora Penalux, 2015) da poeta seridoense Jeanne Araújo. A relação que Jeanne estabelece com os modelos poéticos da tradição poderia chamar-se de uma tradição reinventada. Pois a característica mais evidente da sua poesia é o viés erótico, que chegou até a nossa literatura, de maneira mais evidente no final dos anos 70 com Socorro Trindad, Diva Cunha e Marize Castro, mas que ganha novo fôlego e formato com os novos exercícios que se tem feito com a palavra nesse viés, no Estado.
O caráter marcadamente metafórico adquirido pelos poemas de Jeanne Araújo representa uma expansão no alcance da poesia. Muito se tem versado sobre tal temática, nos últimos anos, no Rio Grande do Norte, mas, não com a sutileza que a poeta seridoense expressa.
Alargando as fronteiras do erotismo feminino, o eu lírico utiliza-se de metáforas e sugestões verbais inúmeras. Revela anseios e desejos, num evidente enriquecimento poético-erótico, digno de colocá-la em destaque na poesia do Estado. Observamos que a poeta lançou mão da combinação de elementos que transcendem a simples materialidade linguística e remetem a significações outras, ao mesmo tempo em que cria uma poesia com uma linguagem intensamente erotizada, como vemos no poema a seguir:
Em suma
teu sumo doce
fez fruto
na minha árvore genealógica.
Por meio de metáforas, os elementos constitutivos do poema passam por um processo simbólico de significação que une corpo e linguagem, explorando e sugerindo, assim, o erótico na palavra. Escritas, como estas, são capazes de criar novas perspectivas, numa poesia de caráter, também, de militância. Não há como descartá-las na construção do discurso literário feminino e potiguar.
Sobre o livro de Jeanne Araújo, em parceria com o escritor Cefas Carvalho: é uma espécie de romance epistolar, ou seja, estruturado em forma de cartas trocadas entres os personagens Hilda e Gregório, na linha do clássico “As Relações Perigosas”, de Choderlos de Laclos
Jeanne Araújo participa ativamente da cena literária no Estado, seja escrevendo, ou participando de eventos. Em 2015, estivemos juntos numa campanha que fizemos para ajudar flagelados da seca na cidade de Acari, arrecadando meia tonelada de alimentos para a comunidade ribeirinha, próximo ao açude Gargalheiras.
Jeanne também teve, recentemente, o privilégio de poucos, um poema dela foi lido em público pelo escritor moçambicano Mia Couto em evento no Estado de Pernambuco. A escritora foi recentemente selecionada, com o conto “A mortalha do amor” no “Concurso Literário Toda Forma de Amor”, para histórias curtas com temática LGBTQ+, promovida pela Editora Cartola, de São Paulo.
Abaixo, destacamos alguns trechos da entrevista que fizemos para o livro “Impressões Digitais- Escritores Potiguares Contemporâneos” – V.3 (2015) com a autora.
Nasci em Acari, no Seridó. Minha infância foi vivida intensamente pelas ruas do Acari, em meio a brincadeiras de roda e tomando banho de chuva e de rio. Estudei no Jardim de infância com Dona Jória e no Grupo Escolar com carteira de dois. Fiz educação física na sombra da matriz. Meu pai era de Jardim do Seridó. Autodidata. Minha mãe era parelhense. De forma que, aos 13 anos, eles voltam a morar em Parelhas e eu passei minha adolescência lá. Minha juventude foi marcada por participações em agremiações escolares e políticas, grupos de jovens religiosos e blocos carnavalescos. Eu participava de tudo. Tinha (e ainda tenho) a ânsia de viver até a última gota.
Li muito quando criança em Acari. Cheguei a ganhar prêmios por ser a criança que mais fez empréstimos de livros na Biblioteca Pública durante um ano. Lia de tudo. De Monteiro Lobato a Vinícius de Morais. Li quase toda a coleção Vaga-lume e muitos outros que, hoje, me fogem à lembrança.
Desde o Jardim de infância eu já era fascinada por poesia. Eu adorava o texto do Pinguim, de Vinícius de Morais. Decoramos para uma apresentação na escola. Depois, no primário, tive professores que trabalhavam muito poesias como produção textual a partir de um poema dado. Mas foi na adolescência que comecei a escrever sistematicamente. E participei de concurso literário na escola no qual fui premiada. Como eu adorava ler e vivia na Biblioteca Municipal, um dia encontrei um Livro de Hilda Hilst e me apaixonei completamente. A partir daí, passei a produzir mais enfaticamente.
Eu comecei a participar do grupo da SPVA – Sociedade dos Poetas Vivos e Afins, já morando em Natal e comecei a conhecer algumas pessoas ligadas à literatura como Jânia Souza, Carlos Souza, Grilo, Dorinha Timóteo, enfim, e através destes conheci Tácito Costa, Moacy Cirne e Nei Leandro de Castro. Com a participação em concursos literários em Natal e premiações, esse trio começou a insistir que eu lançasse um livro de poemas. Então, tirei os poemas da gaveta, muitos escritos durante minha adolescência e Nei e Moacy fizeram um apanhado do que tinha de melhor juntamente com os poemas premiados. Então lancei Monte de Vênus.
No livro tentei abordar o erótico feminino porque ainda hoje vivemos cercadas de opressão, moralismos e tabus quando o assunto é sexualidade, apesar da liberdade e autonomia que temos atualmente. Precisamos quebrar esses tabus através da criação literária e a poesia em si já é um ato de ruptura subjetiva. O erotismo está presente no nosso dia a dia, mas ainda carrega uma pesada carga de estigmas. Ele está intrinsecamente ligado ao mundo feminino: vejo erotismo quando a mulher anda na rua, quando amamenta, lava a louça ou deita na cama, não há como separar isso, como determinar onde começa e onde termina o erotismo na vida de uma mulher. Para mim, o erótico pode ter pornografia ou não, sensualidade ou não. Por isso a criação literária erótica representa um espaço de libertação e emancipação, principalmente feminina, já que sua produção literária é menor e menos divulgada. A arte não pode ser apenas entretenimento, ela tem que provocar reflexão e transformação.
Houve um tempo em que eu escrevia quando vinha inspiração. Hoje, acho que a transpiração é mais presente no meu trabalho. Sento e escrevo e reescrevo, até achar que está bom.
Muitas. Assim de cabeça, logo me vem à mente Hilda Hilst, Cecília Meirelles e Clarice Lispector.
Muito de Anaïs Nin, Florbela Espanca, Hemingway e alguns autores como Clotilde Tavares, Bartolomeu Correia, Carmen Vasconcelos e outros autores potiguares.
Libertação.
Sim, muito mais perto. Eu mesma divulgo meus textos nas redes sociais com ótima aceitação.
Uma mulher que nunca deixou de ser menina, uma menina que luta para ser uma grande mulher.
Com a participação de ícones da literatura infanto-juvenil, a 9ª edição da Feira de Livros e Quadrinhos de Natal (FLiQ) será realizada entre os dias 12 e 15 de setembro, na Arena das Dunas, em paralelo à Multifeira Brasil Mostra Brasil, que começa nesta sexta-feira (6).
Consolidado como um dos principais eventos de Quadrinhos do Nordeste, a FLiQ pretende superar o público de 25 mil visitantes ao longo dos quatro dias de programação. E, para tanto, contará personalidades da literatura, como André Neves, que é um dos mais renomados ilustradores de literatura infanto-juvenil da atualidade.
Formado em Relações Públicas e tendo iniciado a carreira como ilustrador no Recife, em 1995, ele tem diversos livros publicados no Brasil e no exterior, por diversas editoras, além de prêmios em reconhecimento ao seu trabalho, como o Prêmio Luiz Jardim 2001 de Melhor Livro de Imagem. Como escritor, em 2003, foi agraciado com a menção honrosa no Prêmio Jabuti e também no prêmio O SUL – Correios e Telégrafos.
Outros grandes nomes da literatura já confirmaram presença na FliQ 2019. Entre eles, o pernambucano Luciano Pontes. Escritor, ator, cenógrafo e palhaço do programa ‘Doutores da Alegria’, em Recife, ele publicou os livros ‘Ouvindo as conchas do mar’, ‘Uma história sem pé nem cabeça’, ‘O carrossel do tempo’, ‘Belizbel’ e ‘Lua, noite e dia’.
E durante a 9ª edição da FliQ, será realizado o Concurso de Cosplay. As inscrições, gratuitas, podem ser feitas através deste link AQUI até o dia 15 de setembro ou no Stand Cuscuz HQ, no próprio evento, até duas horas antes do início das apresentações, que ocorrerão no domingo (15) no palco principal, às 18h.
O foco do concurso é incentivar o hobby de Cosplay e premiar os destaques. É aberto para todas as pessoas com idade superior a cinco anos, mas no caso de inscrição de menor de idade deverá ser preenchido um termo pelo maior responsável. São considerados válidos cosplays de personagens de qualquer tipo de mídia desenhada, filmada ou escrita, não importando a origem étnica, desde que o personagem seja de acesso público.
Os vencedores serão anunciados no palco do evento. Serão premiados, em dinheiro, os três primeiros colocados. 1º R$ 700; o 2º R$ 400; e o 3º R$ 200. Todo o regulamento do concurso está disponível no Portal da FLIQ.
A Feira de Livros e Quadrinhos de Natal (FLiQ) surgiu com a meta de estimular os quadrinhos, a leitura e a produção literária e tem diversificado a atuação na área cultural, registrando novas formas de potencializar a educação e a arte no Estado. Serão mais de 100 horas de atividades culturais gratuitas, com palestras, debates, apresentações de cordel, oficinas, lançamentos de livros, quadrinhos, games culturais, robótica, sessões de autógrafos e concurso de cosplay.
A FLiQ 2019 tem o patrocínio da Prefeitura de Natal, por meio da Lei Djalma Maranhão, Arena das Dunas, Sistema Fecomércio e Senac, Colégio Ciências Aplicadas, Café Santa Clara, além do apoio do Governo do Rio Grande do Norte e UnP.
Ele foi um proustiano em um tempo que poucos falavam na recherche (célebre obra proustiana, “Em busca do tempo perdido”). Um grande leitor e advogado. Nascido de pais prósperos e de um lar bem constituído. Pode, então, lembrar com saudades dos velhos costumes da infância em Macaíba onde ele nasceu no dia 11 de Novembro de 1906. Filho do coronel da guarda nacional Prudente Gabriel da Costa Alecrim e da senhora Anna Pulchéria Pessoa de Mello Alecrim, pianista reconhecida em todo o Nordeste. Esse casal organizava em seu belo casarão colonial, saraus e bailes onde se discutiam a boa música e literatura. Essas tertúlias marcaram intensamente a vida sociocultural da cidade provinciana e com certeza despertou em Octacílio o amor pela cultura.
Aprendeu o bê–á-bá com sua genitora Donana Alecrim, numa velha cartilha vermelha onde as letras estavam escritas em tipos negritos e graúdos. Depois, portando uma maletinha de madeira e couro com a merenda, caderno, lápis e pena de bico de pato, um livrinho de tabuada e o primeiro Livro do Felisberto de Carvalho, foi estudar na Rua da Cruz com Dona Joaninha. Em seguida estudou no grupo escolar “Auta de Souza”, onde foi aluno de Bartolomeu Fagundes e Arcelina Fernandes. Neste período, recebeu várias medalhas por vencer concursos de poesia. Depois estudou no Colégio Santo Antônio, neste estabelecimento, fundou um jornal e um grêmio. Em seguida estudou no Atheneu Norte-Rio–Grandense.
Junto com os escritores Edgard Barbosa, Nilo Pereira entre outros, trabalhou no jornal “A Republica”, indo estudar direito no Recife, onde colaborou em jornais, destacando-se o Jornal do Comércio. Na faculdade foi líder nato, fundou a revista “Agitação” (1931-33), junto aos colegas Álvaro Lins e Aderbal Jurema. Em 1930, de férias em Macaíba, hospedado em casa da mana Maria Zebina Alecrim, escreve seu primeiro opúsculo TAMATIÃO, panfleto satirizando a revolução de 1930. Depois mudou-se ao Rio de Janeiro, onde se aproximou do grupo brasileiro de estudos proustianos, formado por intelectuais como Oto Maria Carpeaux, Sérgio Buarque de Holanda e Lúcia Miguel Pereira. Viajou pela França aprofundando seus estudos sobre Proust.
Octacílio narra com muito detalhe sobre as brincadeiras da infância nas ruas e rios. Brincadeira de joão – galamastro com trava de pau de carnaúba e espigão de oiticica, maneiro-pau e matança de sanhaçu com baladeira. Marrada, cavalinhos de madeira e outras brincadeiras coletivas da meninice eram o pau de sebo, circo de cavalinhos e torcida pela regata da terra.
Octacílio Alecrim publicou vários artigos em jornais e revistas, como Diário de Pernambuco, Correio da Manhã, Jornal de Letras (RJ), Revista de Antropofagia (SP), Revista Nordeste (PE) e Revista Branca (RJ), sendo a maior parte deles sobre o tema da escrita proustiana. Em Visita a Natal em 1949 promove a palestra Proust e a Província que depois fará parte do livro Ensaios de Literatura e Filosofia.
Em 1957 Otacílio Alecrim publicou sua obra prima “Província Submersa”, um livro memorialista onde ele narra sua rica infância em Macaíba. Nesse belo livro ele volta às suas origens, resgatando um tempo que também é nosso. Com velhos folguedos, brincadeiras e tipos de sua terra querida. “Eis porque os verdadeiros personagens de Província Submersa são as memórias, a terra, os episódios, as idéias, os escritores e os livros” (Octacílio Alecrim).
Ao final do Livro Província Submersa, uma série de depoimentos sobre o autor, assinados pelo jornalista e cronista literário Jayme Wanderley, o grande poeta pernambucano Mauro Mota, os escritores Nilo Pereira, Veríssimo de Melo, Álvaro Lins entre outros. Na introdução do livro um belo ensaio sobre a Temática do Suvenir, no Brasil e no Mundo.
A casa de cultura de Macaíba lançou esse livro esgotado, além dos livros “Fundamentos do Standard Jurídico”, de 1941; “O sistema de veto nos EUA”, de 1954 e “Ensaios de Literatura e Filosofia”, de 1955. Editados pelo Instituto Pré-memória de Macaíba e o Senado Federal.
Otacílio de Mello Alecrim faleceu de problemas cardíacos em seu apartamento na Praia do Flamengo no Rio de Janeiro aos 02 de setembro de 1968, sendo sepultado no cemitério São João Batista. Nunca teve filho, foi um nostálgico de sua Combray Macaíba. Um ensaísta primoroso e refinado, que imortalizou a nossa rica cultura e tradições.
O escritor Lívio Oliveira sempre gostou de literatura, e a poesia sempre esteve na sua vida. Quando menino costumava jogar xadrez e até chegou a ser prefeito-mirim de Natal, por um dia. Nascido no bairro do Alecrim, foi morar no Barro Vermelho, onde passou a infância e adolescência brincando pelas ruas, jogando bola, ouvindo rock, lendo Fernando Pessoa, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira… e, claro, escrevendo, quando recebeu também o chamado para fazer Direito na UFRN.
Já adulto, estreou, pelo menos de forma pública, no jornal cultural “O Galo” de Natal, em junho de 1999, com três poemas: “A Cada Esquina”, “Náufrago” e “Culpa”. Em 2002, lança oficialmente seu primeiro livro de poemas com título muito feliz, “O Colecionador de Horas” (AS Editores, 2002). O livro tem um nível considerado bom para um poeta de estreia, enxuto, sem excessos, bem construído, sem hermetismos, o que desperta o gosto da leitura nos mais variados tipos de leitores, como por exemplo, no poema: DE CRIANÇA
Pulei
e, após o muro,
vi que meus companheiros…
eu já não os podia alcançar
Em seu segundo livro “Telha Crua” (Sebo Vermelho, 2005), fica evidente a marca de uma maturação poética, em relação à obra inicial; nele o autor passeia livremente por temas como as memórias, erotismo, amor, solidão e referências da infância, e cada vez mais ousando de experimentos poéticos em versos minimalistas. Ganhador dos dois principais prêmios de poesia do Rio Grande do Norte, “Prêmio Luís Carlos Guimarães” e “Prêmio Othoniel Menezes”, “Telha Crua” confirmou as habilidades artísticas com as palavras, do jovem autor.
Ainda nesse período Lívio Oliveira mostrou toda sua veia de pesquisador e ensaísta no livro “Bibliotecas Vivas do Rio Grande do Norte” (Editora Sebo Vermelho, 2005). E em 2007, publica a interessante obra “Pena Mínima – Haikais & Poemas Curtos” (Edições Sebo Vermelho, 2007). O livro abre com prefácio de Nei Leandro de Castro, que resume um pouco da estrutura do que é um haikai e elogia bastante o estilo, a leveza e força verbal do poeta, que não tem medo de arriscar.
Em seu quarto livro, “Dança em Seda Nua” (Sela Azul, 2009), Lívio Oliveira inova, ao trazer para o público uma obra totalmente voltada para os elementos eróticos verbais. Destaque especial no livro são as ilustrações feitas por Dorian Gray Caldas, vários desenhos, que complementam visualmente o jogo sedutor dos versos. No mesmo período, Lívio estreia como letrista lançando, em parceria com Babal o Cd “Cineclube” que tem a participação de vários cantores como Khrystal, Valéria Oliveira e Geraldo Azevedo. Obra temática é uma homenagem ao universo cinematográfico, do qual o poeta é fã declarado.
Continuando a interagir com a poesia produzida no Brasil, nesse início de novo século, publicou, nos anos seguintes “Teorema da Feira” (Caravela Selo Cultural, 2012), “Resma” (Caravela Selo Cultural, 2014) e “`Cais Natalenses – 101 haicais de Lívio Oliveira” (8 Editora, 2014), obras bem recebidas pela crítica e pelo público.
Fica evidente ao longo dos últimos vinte anos a inquietação literária de Lívio Oliveira. Observa-se, nesse espaço de tempo, uma espécie de projeto poético em seu trabalho como literato, que começa, nos primeiros livros, com marcas de um jovem eu lírico; as lembranças de menino, as figuras, os personagens, os amores, os filmes, a descoberta do erotismo, seguindo pelo experimentalismo nos versos, seja em poemas curtos, haicais, e poemas em prosa e vai, até a simbólica e significativa afirmação do poeta maduro, firmado, com sua presença nas letras potiguares, já se tornando referência para uma novíssima geração que surge.
Tivemos a oportunidade, em 2013, de entrevistá-lo para o livro “Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos”, vol. 1, do qual destacamos o seguinte trecho:
“Alguém que crê no valor da arte e um cara que já acertou algumas vezes e se equivocou outras tantas, mas que sempre buscará o caminho mais acertado, ética e esteticamente. Aprendi a pedir desculpas pelos meus erros e agradecer pelo que recebo através da generosidade dos outros. Tento fazer o bem e nunca faço o mal de caso pensado. Mas todos incomodamos, em um momento ou outro. Faz parte da natureza humana, que conheço melhor, mas que ainda me traz enigmas. Confesso, ainda, que – antes de tudo – este escritor é alguém que se sente melhor como leitor, em meio ao colorido e os cheiros de uma boa biblioteca. Aceito e trabalho razoavelmente o mundo digital e as suas novidades, mas ainda amo apaixonadamente um bom livro posto sensualmente entre as mãos e com suas palavras impressas reluzindo diante dos olhos.”
Também escrevemos sobre a sua obra poética no livro “Os Grãos – Ensaios Sobre Literatura Potiguar Contemporânea” (Sarau das Letras, CJA Edições, 2016). Afirmamos, então:
“Trata-se de uma poesia que traduz o impasse entre romper com a tradição, e / ou posicionar-se como seguidora de procedimentos típicos das vanguardas ou de outros movimentos poéticos.
Todos os dilemas e virtudes da poesia potiguar contemporânea, que na verdade é poesia brasileira, poderiam ser resumidos no livro ‘Resma’. Lívio faz experimentações felizes num momento em que parece haver uma certa estagnação em determinados segmentos da poesia produzida aqui, quando alguns poetas têm caído na cilada de escrever mais do mesmo”.
Nascido em Natal, há exatos cinquenta anos, 16-08-1969, além de poeta, Lívio Oliveira é cronista, ensaísta, letrista, ativista cultural, ex-presidente da UBE/RN, escreve para jornais, revistas e sites culturais e atua profissionalmente como Procurador Federal, tendo atuado também durante muitos anos como professor universitário. É membro da Academia Norte-rio-grandense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, além de outras instituições culturais.
Pela primeira vez dois potiguares estão incluídos entre os 20 vencedores do Prêmio Sarau Brasil de Literatura, na categoria poesia, um dos mais importantes e concorridos do país. São eles: Miguel Dantas Cavalcanti Neto e Sergio Eduardo Dantas Marcolino. E mais curioso que o feito inédito são as particularidades incomuns entre os dois.
Curiosamente, ambos têm formações na área jurídica, participaram pela primeira vez de um concurso literário em nível nacional, são considerados poetas iniciantes, possuem o mesmo ramo familiar (Dantas), são ex-alunos Maristas e UFRN. E, mais curioso, ainda, não sabiam entre si sobre as respectivas participações no referido concurso.
O Prêmio Sarau Brasil é organizado anualmente pela Vivara Editora. Segundo informação da organizadora, foram inscritas, no período de 5 de abril a 5 de agosto de 2019, 3.740 poesias, resultando na classificação de 250 poesias, e apenas 20 obtiveram ordem de classificação, sendo vencedoras desse concorrido concurso. Cada participante teve a oportunidade de inscrever dois poemas (tema livre), portanto foram 1.870 poetas inscritos. O resultado está publicado AQUI.
Prêmio para os 250 classificados: será lançado até 31 de outubro de 2019 o livro “Antologia Poética – 2019”, pela Editora Vivara, em circuito nacional, 1ª edição com 5.000 mil exemplares, constando as 250 poesias classificadas, enquanto as 20 poesias vencedoras (melhores classificadas) abrem o livro. As demais serão organizadas por ordem alfabética tendo como referência o respectivo nome do autor.
Advogado, turismólogo e escritor. Assessor Jurídico do Estado. É editor de cultura da Revista e Portal Foco Nordeste, onde assina a coluna “Mosaico”. Autor do livro “Praias Potiguares”, contendo registros e imagens de 100 (cem) praias do Rio Grande do Norte. O conteúdo enfoca a toponímia, aspetos físicos e históricos, lendas, curiosidades e localizações de cada uma das 100 praias. Está na 7ª edição, sendo o livro recordista de vendas no segmento de texto de interesse turístico em nosso Estado.
É especialista em Direito Tributário pela UFRN e Mestre pela UFRN, onde defendeu a tese: ‘A tutela constitucional do meio ambiente e a limitações administrativas em bio segurança’. Assessor da Presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, autor de produções bibliográficas na área de direito tributário, com ênfase na Revista Tributária de Finanças Públicas.
Conheci o escritor e jornalista Carlos de Souza em 2011, quando dei meus primeiros passos como pesquisador da literatura produzida no Rio Grande do Norte. Carlão, como era carinhosamente chamado pelos amigos, me deu vários conselhos sobre o terreno árido em que eu iria pôr os pés, ao me propor fazer crítica literária na província, área repleta de altos e baixos, me dizia ele com experiência própria.
Capa do livro Cachorro Magro
Sempre atencioso, me presenteou com o único livro dele que eu ainda não tinha lido, ‘Cachorro Magro’. Com o passar dos anos sempre me dava força e me apoiava em meu trabalho sobre a literatura do Rio Grande do Norte. Em 2012, colaborou em livro organizado por nós, sobre o escritor Nei Leandro de Castro com o texto “Um Romancista Genuinamente Brasileiro”. Escreveu também sobre o nosso livro ‘Presença do negro na Literatura Potiguar e outros ensaios’ (CJA Edições, 2015); enfim, sempre nos apoiando.
Algumas vezes cedeu o espaço dele na Tribuna do Norte para que eu escrevesse resenhas sobre autores e livros. Quando foi editor do jornal O Galo me convidou para colaborar diversas vezes, e, na época, passou-me uma tarefa, que infelizmente não consegui cumprir: fazer uma entrevista com Woden Madruga, jornalista que Carlão tanto admirava. Todavia, eu me orgulho de uma entrevista que fiz com ele próprio, Carlão de Souza, e publiquei no livro ‘Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos, vol. 1’, em 2013.
Quando Carlão deixou de escrever resenhas literárias na Tribuna do Norte, escrevi entristecido, um artigo denominado “Os Falsários da Literatura Potiguar”; justifiquei que havia muito joio no meio do trigo: por causa de escritores que possuem egos enormes, não aceitam críticas às suas obras, críticos do porte de Carlão deixavam de escrever. Na época fui massacrado pelos que gostam de vida literária e mundanismo, todavia Carlão me passou uma mensagem parabenizando-me pela coragem em dizer muitas “verdades”.
Em um dos trechos da entrevista, onde explica seu desligamento, o jornalista comenta: “Até tentei fazer algumas críticas, mas era difícil demais. Acabava sempre magoando alguém. Aí desisti. Vivo numa província metida a besta que o resto do país ignora solenemente”.
Para o leitor mais jovem, que talvez não o conheça, Carlos de Souza é um importante escritor nosso, nascido na cidade de Areia Branca e radicado em Natal. Grande revelação dos anos 80, estreou com o livro Crônica da banalidade, novela (1988), e, em seguida, além do seu destacado trabalho como jornalista, sobretudo nos jornais Diário de Natal e Tribuna do Norte, continuou uma bela carreira como escritor, tendo publicado nos anos seguintes: Cachorro magro, poesia (1999); É tudo fogo de palha, teatro (2006); Cidade dos Reis, romance (2014), e, mais recentemente, Urbi, contos (2015).
Tive a honra de escrever resenhas sobre os dois últimos trabalhos literários dele, e as publiquei no livro ‘Os Grãos – Ensaios sobre Literatura Potiguar Contemporânea’ (2016).
A obra ‘Cidade dos Reis’ é um romance pioneiro no Estado, em se tratando de contar a história de uma cidade. Com desenvoltura, o romancista narra alguns dos principais fatos e personagens da cidade do Natal, ao longo do século XX, utilizando, como pano de fundo, a história de Jonas Camarão, desde a sua infância e juventude, o encontro com a sua adorada Mara, a dor da perda, as lutas, vitórias e desilusões, até sua velhice, no final do milênio passado.
Um leitor mais atento vai observar muito mais o relato de episódios reais do que propriamente ficção. Na verdade, o principal personagem é a própria cidade de Natal; outros ficam em segundo plano, tudo contado por dois narradores, um dos quais, de nome Juca Guiné, uma espécie de Câmara Cascudo local, que conhece muitos fatos e figuras da cidade, inclusive com episódios curiosos, como a passagem de Clarice Lispector por Natal, episódio este que a própria escritora iria descrever detalhando haver detestado a cidade. São relatos que misturam muito bem ficção e realidade.
Lendo essa obra me vem à mente a famosa frase de Tolstói: “Canta tua aldeia e serás universal”. Pode até parecer muito clichê, mas é com ela que reafirmo a importância de nos voltarmos para o que é da nossa terra.
Trabalhos dessa natureza cumprem uma função além do apenas literário.
Talvez, algumas lacunas sejam encontradas ao longo da narrativa, mas cabe ao leitor preenchê-las; há fragmentos que irão exigir redobrada atenção à leitura.
Por fim, vale salientar que muitos natalenses não sabem sequer a história do seu bairro, quanto mais a de sua cidade, e – o que é pior – não sabem amá-la. Essas pessoas precisam, urgentemente, ler o livro de Carlos de Souza. Não somente elas, obviamente, mas todos quantos buscam o prazer e o proveito da literatura.
Em 2015, Carlos de Souza, que há muito tempo devia à literatura potiguar um livro de contos, surge com ‘Urbi’ (Sebo Vermelho Edições) justamente no ano em que se completam 27 anos de publicação do seu primeiro livro, ‘Crônica da banalidade’, uma novela que o lançou como escritor, reconhecido dentro das nossas letras.
Em ‘Urbi’ o autor atinge o momento culminante em sua carreira como ficcionista. Se, no seu romance de estreia alguns pequenos deslizes foram cometidos, no livro de contos ele chega muito próximo da perfeição estética a que uma obra de arte literária aspira. Aqui no Rio Grande do Norte, só os mais experientes têm atingido esse patamar.
Em alguns contos de Carlos de Souza, o narrador se preocupa em mostrar o outro lado da vida. Por vezes, como nos contos de Osair Vasconcelos, percebemos algumas marcas de memórias, de influências livrescas, de leituras. Deixando uma espécie de parábola, como por exemplo, no conto “A Cidade Escura”, para aqueles que leram a versão dos fatos observados pelo narrador. Isto nos remete ao ensaísta e crítico literário Walter Benjamin, que afirmou certa vez: “O conto é, ainda hoje, o primeiro conselheiro dos homens porque o foi outrora da humanidade, vive ainda secretamente na narrativa. O primeiro verdadeiro narrador é e continua a ser o do conto”.
‘Urbi’ contém oito contos, três deles premiados. Não bastassem esses contos, apenas “Eclésia” seria suficiente para o livro valer a pena. O escritor, dublê de jornalista, pegou um fato do noticiário e bolou uma história com um final moral muito significativo, onde percebemos claramente a influência do autor na história, sobretudo com a sua ideologia e seu ponto de vista religioso. Conto fantástico, esse, vale dizer.
Em outros contos, podemos inferir que o autor acredita em fatos históricos reconstruídos por quem narra a história e que estes fatos não necessariamente correspondem à realidade. A propósito, Walter Benjamin declara: “Narrar histórias é sempre a arte de as voltar a contar e essa arte perder-se-á se não se conservarem as histórias”.
Carlos de Souza, como os narradores dos contos citados por Walter Benjamin, dispõe de uma autoridade que lhe dá credibilidade, mesmo quando o fato descrito não seja verídico.
No final de 2017, escrevemos artigo para o Tribuna do Norte, adiantando as comemorações de 30 anos do livro Crônica da banalidade, obra mais cultuada de Carlão.
Ao lado de nomes como Alex Nascimento, Ruben G Nunes e João Batista de Morais Neto, revelações da ficção potiguar na década de 80, Carlos de Souza se destacou com sua novela, cheia de ironia, sarcasmo, dentre outros elementos de uma boa narrativa.
O escritor nascido em Areia Branca, no finalzinho dos anos 50, ainda morou em Macau, antes de vir para Natal em meados dos anos 70. Com pouco tempo, Carlos de Souza estreou nas letras, publicando contos nos suplementos do jornal “A República”, de Natal. Tendo estudado comunicação social na UFRN, tornou-se um grande leitor, sobretudo de Charles Bukowski e Jack Kerouac, dentre outros ícones da contracultura.
Carlos de Souza estreou como repórter na Tribuna do Norte, por anos foi editor de cidades, manteve uma coluna de variedades, “Caótica Parabólica”, e trabalhou no Diário de Natal, como editor de cultura. Por fim, de volta à Tribuna do Norte, assinou durante anos a coluna “Toque – Livros e Cultura”, abordando obras e autores brasileiros e universais.
Carlos de Souza está incluso no trabalho ‘Ficcionistas potiguares’ (2010), de Manoel Onofre Júnior, é citado por Tarcísio Gurgel no livro ‘Informação da Literatura Potiguar’ (2001); foi incluído na coletânea ‘Novos Contos Potiguares’ (2017), organizada pelo jovem escritor mossoroense Thiago Jefferson Galdino, obra que traz contos inéditos e novos, e, também, de veteranos. E nos deu interessante depoimento para o livro ‘Impressões digitais – Escritores potiguares contemporâneos, Vol. 1’ (2013), do qual destacamos alguns dos melhores momentos a seguir:
Carlos de Souza – Minha infância foi comum como a de todos os meninos de interior. Brincava na rua com os amigos, bola de gude, furachão, futebol. Mas era também louco por Histórias em Quadrinhos. Acho que foi daí que nasceu meu gosto pela leitura.
Carlos de Souza – A velha vontade de ganhar dinheiro escrevendo. Não deu para ganhar muito dinheiro, mas fiz uma família diferente, interessante, filhos legais, ex-esposas legais. Valeu a pena. Continua valendo a pena.
Carlos de Souza – Cachorro magro não é exatamente um livro de poesia. Eu queria fazer um poema longo, em que todas as convenções da poesia lírica fossem subvertidas. Mais uma vez não sei se alcancei algum êxito. Mas o livro foi premiado e isso em Natal não tem muito valor. Acho que em canto nenhum. O importante em um livro é quando ele é lido. O resto é perfumaria.
Carlos de Souza – O jornalismo é minha maior paixão. Ganha até mesmo da literatura, do cinema e demais artes. Tudo que eu quis fazer em jornalismo tenho feito em Natal. Não me arrependo de nada. Sempre que olho para trás sinto um arrepio de felicidade. Vivo no presente a doce experiência de comentar livros na Tribuna do Norte e tenho muitos projetos ainda para o futuro.
Carlos de Souza – Uma das coisas mais gratificantes que já me aconteceram. Fui professor substituto na UFRN e professor titular na UnP. Ainda hoje me comunico com meus alunos e tenho um carinho muito grande por todos eles.
Carlos de Souza – Um potiguar ciente de nossas limitações.
Nesta sexta-feira será realizado o lançamento virtual da obra colaborativa Profundanças 3. A coletânea organizada pela professora doutora, poeta e performer Daniela Galdino, em parceria com a Voo Audiovisual, reúne poemas, contos, ensaios fotográficos e estará disponível para baixar gratuitamente.
Desde sua primeira edição, em 2014, o projeto tem como propósito combater a invisibilidade de escritoras nos campos literário e editorial. Para isso, se soma a outras iniciativas de difusão da literatura escrita por mulheres.
Com grande circulação nas redes sociais, a coletânea é uma produção independente que se desenvolve com o apoio de uma ampla rede de colaboradores, dentre fotógrafos, designers e produtores.
Profundanças 3 homenageia Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro brutalmente assassinada em 2018, e Nátali Yamas, jovem fotógrafa negra com forte atuação em Itacaré/BA, que assina as imagens da capa e das páginas de transição.
Duas mulheres negras de gerações e territórios diferentes, mas que se encontram a partir do discurso em sua arte e vivência política, de enfrentamento e denúncia do machismo e racismo e pela busca do bem viver da população negra e periférica, especialmente de outras mulheres negras, base fundamental da pirâmide social brasileira.
Comemorativa dos cinco anos de atuação, a terceira edição do projeto é composta por textos literários de 22 escritoras da Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo, sendo elas:
A Luz Bárbara (PB/SP), Bárbara Uila (BA), Cynthia C S Barra (BA), Daniela Galdino (BA), Ezter Liu (PE), Francisca Araújo (PE), Gessyka Santos (RN), Isabelly Moreira (PE), Joana Velozo (PE/ES), Jovina Souza (BA), Marina Melo (SP), MonaRios (PE), Mônica Menezes (BA), NegrAnória d’Oxum (BA), Odailta Alves (PE), Odília Nunes (PE), Paula Santana (PE), Raiça Bonfim (BA), Tatiana Dias Gomes (BA), Tereza Sá (BA), Vânia Melo (BA) e Yasmin Morais (BA).
Também fazem parte da publicação os ensaios fotográficos de Andreza Mona (BA), Ângelo Azuos (PE), Álvaro Severo (PE), Analu Nogueira (BA), Brenda Matos (BA), Diego Mallo (ES), Eline Luz (BA), Fafá Araújo (BA), Laís Aranha (SP), Luísa Medeiros (RN), Maria Ruana (PE), Marianna Souto (PE), Mylena Sousa (SP), Nathália Miranda (BA), Nathália Tenório (PE), Renata Pires (PE/FR), Sarah Fernandes (BA), Silvia Leme (BA), Tacila Mendes (BA), Tom Correia (BA), Uiara Moura (BA) e Yalli Borges (PE).
Profundanças 3 alcança a marca de 51 escritoras publicadas, número que indica a consolidação de um importante espaço de mapeamento, difusão e encontro dessas mulheres e suas narrativas. A antologia extrapola o ativismo virtual e vem sendo objeto de estudo em diversas universidades, a exemplo da UFBA, UESC, UEFS, UFRPE, UESB e UNEB.
Além disso, em suas edições anteriores, o projeto colaborativo se desdobrou em rodas de conversa, com a presença das escritoras e fotógrafas em diversas cidades da Bahia e de Pernambuco, cumprindo, com isso, o seu objetivo principal.
O que: Lançamento virtual de Profundanças 3 – Antologia Poética
Quando: 23 de agosto de 2019
Onde: confira AQUI
Em nossa literatura, como, aliás, em muitas outras, certos livros distinguem-se não apenas pelo seu valor intrínseco, mas também pela sua importância histórica, seja porque constituem verdadeiros marcos, seja porque de uma forma ou de outra mudaram o curso dos acontecimentos, fizeram surgir coisas novas.
É o caso, por exemplo, de “Dois Poetas do Nordeste”, de Veríssimo de Melo (Rio de Janeiro: Ministério de Educação e Cultura – Serviço de Documentação, 1964). A este pequeno/grande livro deve-se a redescoberta de Jorge Fernandes, modernista pioneiro no Rio Grande do Norte.
Com efeito, antes da publicação de “Dois Poetas…” pouco se falava e menos se escrevia sobre o poeta, mas depois foram surgindo cada vez mais estudos sobre ele, de modo que, hoje, é um dos autores norte-rio-grandenses mais prestigiosos. Numerosos ensaios, artigos, teses e dissertações acadêmicas têm enriquecido a bibliografia a respeito da sua única obra poética, “Livro de Poemas de Jorge Fernandes” (Natal: Tipografia de “A Imprensa”, 1927).
No meu livro, “Salvados – Livros e Autores Norte-rio-grandenses” (3ª ed. – Natal: Offset Editora, 2014) especifico a referida bibliografia, da qual se destacam três livros: “O Lirismo nos Quintais Pobres”, de Humberto Hermenegildo de Araújo (Natal: FJA, 1997), “Leitura de Jorge Fernandes”, de Francisco das Chagas Pereira (Natal: FJA, 1985) e “Jorge Fernandes, o Viajante do Tempo Modernista”, de Maria Lúcia de Amorim Garcia (Natal: RN Econômico, 2009).
Jorge Fernandes, como se vê, está bem estudado. Merecidamente. Mas, convém ressaltar que, não fora o estudo precursor de autoria de Veríssimo, é bem provável que ele permanecesse por bastante tempo, desconhecido.
“Dois Poetas do Nordeste” foi editado pelo MEC, integrando uma serie de notáveis publicações, com distribuição em todo o território nacional, o que diz da sua relevância. Ao que me consta não teve reedição.
Jorge Fernandes e Ascenso Ferreira (o outro poeta focado) identificam-se, além da própria nodestinidade, pelo engajamento no Movimento Modernista, bem como pela linguagem de natureza oral; pelo sentido plástico e cromático dos seus versos; pelo humor e outras características de suas obras. Veríssimo de Melo, com o seu estilo ágil e leve, estuda-os de forma objetiva e dá depoimento pessoal, amigo que foi dos dois. Também transcreve vários poemas, inclusive, de Jorge o famoso “Rede”, antevisão do Concretismo.
Em 1970, Veríssimo organizou a segunda edição do “Livro de Poemas”, acrescentando algumas poesias inéditas e outras coletadas em coleções de jornais e revistas (Natal: FJA). Além da introdução, pelo autor, valoriza essa reedição um texto de Luís da Câmara Cascudo, amigo e grande incentivador de Jorge Fernandes.
Tão significativo quanto o poeta Jorge Fernandes, para as nossas letras, é o escritor Afonso Bezerra (1907-1930).
Em 1967, Manoel Rodrigues de Melo reuniu toda a sua obra em um volume sob o título “Ensaios, Contos e Crônicas”, acrescido de introdução e notas (Rio de Janeiro: Editora Pongetti). Admirável pesquisa bibibliográfica e crítica, essa, que se constitui em uma das melhores contribuições ao estudo da literatura no Rio Grande do Norte.
Afonso Bezerra tinha tudo para se tornar um escritor de renome nacional, mas infelizmente, morreu moço, sem ter tido tempo de realizar a grande obra, cujo potencial demonstrava possuir.
Dos gêneros literários por ele cultuados, foi o conto, sem dúvidas, aquele em que revelou suas melhores qualidades de artista da palavra. Imbuído de forte sentimento telúrico, compôs, com engenho e arte, pequenas histórias em que revelou flagrantes da vida do sertanejo – costumes, traços psicológicos, coisas e animais – e o fez usando do próprio linguajar matuto. Neste sentido alinhou-se junto a Hugo de Carvalho Ramos e Afonso Arinos, autores a quem muito admirava, e outros contistas regionalistas.
Como já tive oportunidade de dizer, em “Ficcionistas Potiguares”, ele foi, de certo modo, um precursor do Regionalismo Nordestino da década de 1930. Inquestionável a sua importância no contexto da literatura potiguar.
Mas, lamentavelmente, os seus contos, embutidos na referida coletânea, lado a lado com trabalhos outros menos valiosos, não tiveram o realce que bem merecem. Fazia-se necessário resgatá-los do injusto olvido mediante publicação em volume próprio com ensaio introdutório e notas.
Em boa hora, o escritor e pesquisador Thiago Gonzaga tomou a si esse encargo árduo, mas prazeroso, concretizando-o em livro sob o título “No Rancho dos Bentinhos e Outros Contos” (Natal: Sebo Vermelho Edições, 2014).
Thiago Gonzaga tem know-how: autor de vários trabalhos de pesquisa publicados em livro, com boa receptividade de crítica e do público, entre os quais “Presença do Negro na Literatura Potiguar & Outros Ensaios” (Natal: CJA Edições, 2014) e “Os Grãos – Ensaios sobre Literatura Potiguar Contemporânea” (Mossoró: Sarau das Letras/Natal CJA Edições, 2016).
Mas, a sua atividade intelectual não se restringe ao campo da pesquisa e do ensaio: Thiago é também contista, autor do livro “Uma Outra Estação” (Natal: CJA Edições, 2016), igualmente bem aceito, e nesta condição pôde interagir da melhor maneira com a obra ficcional de Afonso Bezerra.
Não tenho dúvida em afirmar que “No Rancho dos Bentinhos”, deverá ter, em relação à obra ficcional de Afonso Bezerra, o mesmo significado histórico que tem “Dois Poetas do Nordeste”, em relação ao “Livro de Poemas de Jorge Fernandes”.
Natal tem o seu historiador oficial: Luís da Câmara Cascudo. Título concedido pelo prefeito Sylvio Pedroza.
Natal tem os seus cronistas consagrados, Newton Navarro, Berilo Wanderley, Sanderson Negreiros, tanto outros, de forma que a cidade e a vida na cidade e a sua história não deixa sequer um dia de ser contada.
É inspirado em todos eles que Gustavo Sobral aparece com uma história da cidade, a sua. Traça narrativas, fatos, personagens, anda no tempo. Trezentos anos em pequenas histórias. Mais story que history, o livro é uma odisseia, para ler, conhecer e viver o passado.
Gustavo Sobral nasceu e vive em Natal. Autor e organizador de livros, sua matéria é a vida e a vida na cidade, a história, o passado e a memória. Tudo que escreveu e escreve está em seu site pessoal.
Um projeto editorial do Sertão Marketing & Mídia e uma publicação da Editora 8/ Offset, são 70 páginas de uma história em pequenas histórias. A capa é um presente especial do artista Dorian Gray Caldas, em 2011, em uma manhã agradável de conversa. Sobral conservou o presente e não poderia deixar de inclui-lo nesta história, homenagem e agradecimento.
Imagem da capa Dorian Gray Caldas
Projeto editorial Sertão Marketing & Mídia
Edição Editora 8/ Offset,2019, 70p.
Não há livro sem café, nem café sem livro, por isso, Sobral resolveu unir o útil ao agradável: o livro estará disponível para compra exclusivamente na Flora Cafeteria da Floricultura Flor de Algodão, em Petrópolis, e, ao adquirir o livro, você ganha um cafezinho para saborear a leitura de pronto! O café fica na Avenida Rodrigues Alves, em Petrópolis, na Floricultura Flor de Algodão.
História da cidade do Natal, de Gustavo Sobral
Flora Cafeteria, na Floricultura Flor de Algodão
Av.Rodrigues Alves, 443-A, Petrópolis.
Quarta-feira, 21 de agosto de 2019.
17h às 20h
R$ 20,00
A CJA Edições publicou edital de seleção e premiação de obras literárias inéditas de autores nascidos e ou residentes no Rio Grande do Norte há mais de três anos. O objetivo, além de estimular a produção literária potiguar, é valorizar o autor local e contribuir para a formação e ampliação do público leitor. A iniciativa é inédita no Estado, por se tratar de um edital lançado por uma editora privada local.
Para o diretor da CJA, Cleudivan Araújo, o edital é um reflexo da nova fase em que se encontra a editora, uma vez que ele deixou os Correios, onde trabalhou por 26 anos, para se dedicar exclusivamente às atividades da editora. “Estamos em fase de expansão não só no âmbito local, mas também regional: pretendemos alcançar todo o Nordeste, para onde planejamos ampliar o nosso raio de ação, também com uma perspectiva de projeção nacional a médio prazo”, aponta.
As inscrições para o edital estão abertas até 30 de setembro, exclusivamente pelo e-mail editoracja@uol.com.br, mediante taxa de inscrição no valor de R$ 70 por cada texto inscrito. Só poderão participar textos inéditos e que não estejam inscritos em outros editais literários promovidos simultaneamente, em qualquer âmbito.
Os textos inscritos deverão estar classificados nos seguintes gêneros literários: contos, novela, romance, literatura infanto-juvenil e Literatura de Cordel. Não serão aceitas obras que tenham como temáticas o erotismo, violência extrema e textos que incentivem o preconceito ou discriminação como intolerância política, religiosa, discriminação de gênero, racismo, machismo, xenofobia e similares.
A seleção dos projetos será feita por uma comissão julgadora designada pela Editora CJA, que irá levar em consideração critérios técnicos e literários das obras, como originalidade, qualidade do texto e coerência com o gênero literário, o que deve totalizar uma pontuação máxima de 100 pontos.
Os autores de cada obra vencedora assinarão contrato com a Editora CJA e terão seus livros publicados, com uma tiragem mínima de 500 exemplares, e serão incluídos no catálogo principal da editora. Como pagamento de direitos autorais, o autor receberá 10% sobre o preço de capa, para cada livro comercializado.
“Queremos, com a iniciativa do edital, identificar e valorizar novos autores, porque as boas obras e os bons autores alimentam a cadeia editorial, e é isso que buscamos, para que possamos oferecer à sociedade, ao público leitor e à comunidade escolar, obras de qualidade gráfica e textual, contribuindo assim para o enriquecimento da nossa cultura”, projeta Cleudivan.
A editora CJA Edições atua no mercado há sete anos e já publicou mais de 200 títulos, a maioria de autores potiguares e dos mais diferentes gêneros: romance, poesias, ficção, contos e infanto-juvenis. A editora conta com dois selos: o CJA, marca do catálogo principal e o Trairy, criado para atender às auto publicações.
Nascido em Santana do Matos e criado em Martins, com raízes familiares nesta cidade do alto sertão, considero-me um sertanejo, um completo sertanejo, mesmo sendo vivente de Natal há longos anos. Não seria, pois, de admirar que eu apreciasse a literatura de cordel.
Mas, confesso, não morro de amores por ela. Na verdade, gosto e muito da poesia simples e rústica dos antigos cantadores; daqueles que o mestre Câmara Cascudo estudou em seu livro “Vaqueiros e Cantadores”. Um Inácio da Catingueira, um Leandro Gomes de Barros, um João Martins de Ataíde.
Quando menino, em Martins, eu comprava, na feira, folhetos desses menestréis sertanejos. Não gosto é desse falso cordel atual, feito por poetas medíocres, de cidade grande, sem vivência no sertão.
Dia desses, remexendo nos meus “alfarrábios”, encontrei o recorte de um artigo que incluí na primeira edição do meu livro “Salvados”, mas que retirei das edições posteriores, intitulado “As Enchentes do Rio Mossoró em Folheto de Cordel”. Transcrevo-o a seguir.
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“Meu Nordeste brasileiro
És palco de tantas cenas.
O tempo é qual palhaço
Que representa centenas
De fenômenos aberrantes
Coisas grandes e pequenas”
Assim começa o primeiro folheto de cordel a usar como tema a cheia do rio Mossoró, em 1967. Seu título: “A Cheia do Rio Mossoró e o Sofrimento do Povo”. Autor: Antônio Lucena. Trata-se de um exemplar típico da literatura de cordel: cinco folhas dentro da capa cor-de-rosa, com a gravura de um homem empurrando um arado.
Esta cena, diga-se de passagem, não tem muito a ver com o texto. Há outra ilustração na contracapa: o clichê de um vereador local ao lado de encomiosa legenda, apregoando “seu trabalho incessante pelo flagelo dos desabrigados” … Abaixo desta, outra, também sobre vereador local: “Sacrificou sua vida na virada da canoa”.
Ambos os edis estão citados de mistura com outros heróis, tais como o Prefeito, o Bispo e o Juiz de Direito. Antônio Lucena, o autor, revela-se um apologista nato. Mas, o que importa é que ele, às vezes, tem graça em sua poesia. Como, por exemplo, nestes versos, em que fala sobre algumas causas da enchente:
“Diversos açudes pequenos
Arrombaram de uma vez.
O açude de Lucrécia
Sangra desde o dia seis.
Açude Apanha Peixe
Sangra faz mais de mês”
Mais adiante, referindo-se ao desespero da gente desabrigada é de uma simplicidade tocante:
“Umas mil e tantas famílias
Ficaram desabrigadas
Vendo as suas casinhas
Com as paredes molhadas
E outras querendo cair
Com as paredes rachadas”
Curiosamente, a falta de meios de expressão funciona como poesia.
Sobre o episódio de inundação da tradicional churrascaria, que se situava às margens do rio, quase dentro, assim, disse Antônio Lucena:
“Churrascaria “O Sujeito”
De Boanerges Perdigão
Entrou água na cozinha
Entrou água no salão
Entrou água na farinha
Entrou água no feijão.”
Notar aí um detalhe, aliás, comuns à poesia de cordel: a preocupação em pormenorizar o relato.
Da churrascaria as águas avançaram pelo centro da cidade, até concederam entrevista….
“Saiu fazendo visita
Ao comércio grossista
Foi ao Banco do Brasil
Fez por lá uma entrevista
Dizendo que o nosso rio
É forte e otimista”
Então, o autor conversou com as águas, e estas lhe disseram “que vivem cheias de mágoas”. Ele termina dando conselho:
“Então façam suas casas
Sem ser no leito do rio”.
E faz o rio falar:
“Não explorem minhas margens
Em tempo seco de estio
Relembrem os invernos fortes
Os meses de chuva e frio”.
Vários aspectos, além dos já referidos, podem ser detectados nesse despretensioso cordel, como, por exemplo, a procura das rimas a todo custo, e certo ar “ingênuo”, deixando bem evidente, mas uma vez, o parentesco da poesia popular com a arte naif.
É claro que Antônio Lucena não alcança, como cordelista, o alto patamar de um Antônio Francisco, de um Crispiniano Neto, mas, afinal, dá o seu recado.
Um grupo das escritoras santoantonienses denominado Mulheres Tecendo Artes foi criado após o lançamento da antologia ‘Um Salto Poético’, em 13 de dezembro de 2018, no município de Santo Antônio do Salto da Onça, organizado pela escritora, poetisa, psicóloga e pesquisadora Helena Monteiro.
Um dos objetivos deste grupo é dar continuidade à produção literária das mulheres santoantonienses e demais mulheres que comunguem do desejo de saborear a arte da escrita. Seja poesia, literatura de cordel, contos, crônicas, etc… Essas mulheres vêm se reunindo no decorrer deste ano e partilhando momentos acerca da teoria literária, empoderamento feminino, realizando oficinas com a finalidade de aprimorar a arte da escrita – através de laboratórios de escrita criativa e trabalho de campo – numa perspectiva visual.
No momento, o grupo é composto por 14 mulheres, de diversas faixas – etárias, formação intelectual e profissional. Não há sede, nem espaço próprio, por isso as reuniões, na maioria das vezes, acontece na Praça da Pedra da Onça. Este ano houve reunião nos meses de janeiro, março, junho, e, neste final de semana, três e quatro de agosto se aventuraram num laboratório de campo, na Casa – Santuário do Amigo da Cultura, das Artes, da Ciência, do Turismo e do Empreendedorismo.
Também ousaram, sob direção do senhor José Cícero, secretário de Agricultura, desbravaram a Trilha do Serrote da Micaela. Se depararam com uma árvore rara da região e, certamente, centenária – a Barriguda; além de pedras sonoras, em especial, uma delas emite o som do badalo de um sino, quando tocada. Também do Serrote viram o leito do Rio Jacu que banha o município de Santo Antônio.
“Foram momentos enriquecedores para o grupo e as futuras produções textuais e literárias. Também foi um momento importante para o senhor Cícero (Cição) e o município, no desejo genuíno que este possa compartilhar estas belezas com os demais munícipes”, comentou Helena Monteiro.
O encontro teve a participação de Sayonara Brasil, artista plástica residente em João Pessoa, reconhecida internacionalmente e amante das letras e da natureza, além de Rejane Souza, de Nísia Floresta, mestre em Literatura Comparada pela UFRN, pesquisadora da obra da escritora Nísia Floresta, coordenadora do Grupo e Movimento Mulherio das Letras, no Rio Grande do Norte. Também registramos a presença de Karol de Oliveira, turismóloga.
O próximo encontro está agendado para os dias 5 e 6 de outubro, em Barra de Cunhau; como também a participação num evento cultural – A Feira da Lua, município de Várzea, no dia 7 de setembro, realizado pelo grupo Mobilize RN; e ainda participação de uma Mesa-redonda na abertura da Semana da Cultura da Escola Estadual Filomena de Azevedo, Santo Antônio, dia 27 de agosto.
Nesta quinta-feira, 8, a Caravana de Escritores Potiguares visita a Escola Estadual Desembargador Régulo Tinoco, no bairro de Lagoa Nova, em Natal. O encontro com alunos e professores acontece no turno matutino, das 9 às 11 horas. Integrada por Valdenides Cabral, João Batista Morais Neto e Manoel Onofre Júnior, com participação especial de Sávio Hackradt, a comitiva fará minipalestras, entremeadas por intervenções e recitações, seguida de sorteio de livros.
A Caravana de Escritores Potiguares é uma iniciativa que visa incentivar a leitura, promovendo a literatura e a produção literária potiguar. Periodicamente, um grupo variado de escritores representativo de diversos gêneros é escalado para visitar uma escola pública municipal, federal ou estadual, proporcionando oportunidades de interação entre autores, alunos e professores, diretamente nas comunidades escolares.
Nesta sexta temporada (2019), com oito edições realizadas, a Caravana de Escritores Potiguares já reuniu cerca de 1.400 estudantes e professores, sendo que a grande maioria dos eventos (7) foi realizada em escolas de municípios do interior.
Para garantir a circulação da equipe, assim como a aquisição e distribuição de obras literárias de autores norte-rio-grandenses, o projeto conta com o apoio da Cosern e do Governo do Estado do RN, viabilizados pela Lei “Câmara Cascudo” de Incentivo à Cultura.
O quê?
Caravana de Escritores Potiguares (Temporada 2019 – 9ª edição)
Onde? Quando?
Escola Estadual Régulo Tinoco (Lagoa Nova / Natal), 8 de agosto, às 9 horas
O sociólogo, literato e professor Antonio Candido afirmou no seu livro “Literatura e Sociedade”: “Se não existe literatura paulista, gaúcha ou pernambucana, há sem dúvida uma literatura brasileira manifestando-se de modo distinto nos diferentes Estados”.
Ao mesmo tempo que nos alegramos, refletindo com a brilhante afirmação do mestre Candido, reconhecemos que, infelizmente, muitas vezes, essa constatação é ignorada, simplesmente pelo fato de estarmos distante dos grandes centros culturais do Brasil. Na maioria das vezes, nossos escritores são injustamente subestimados, sobretudo por residirem em um país com dimensões continentais, como o nosso. Quando passamos um olhar pelas regiões periféricas do território nacional, vemos no Rio Grande do Norte, uma espécie de barreira intransponível, construída por um injusto pensamento provinciano, menosprezando o que é feito pelo seu povo, valorizando apenas o que vem de fora.
Enfim, refletimos sempre sobre essa questão, para tentar compreender porque determinados trabalhos literários, dos mais variados gêneros e autores, produzidos aqui no Estado, não conseguem ultrapassar a barreira cruel desse muro imaginário. Dentre inúmeros casos que já citamos, temos mais um: o livro ‘Gestos Mecânicos’, publicado em 1983, pelo escritor Ruben G Nunes.
Gestos Mecânicos é um romance que se destaca na carreira do veterano autor que, no início dos anos 80, deu um salto significativo na sua produção literária, ao escrever uma ficção em que se percebe a influência de James Joyce, o célebre autor de ‘Retrato do Artista Quando Jovem’ e ‘Ulysses’. Com esse livro Ruben G Nunes ganhou o “Prêmio Elias Souto” e o “Prêmio Câmara Cascudo” do ano de 1981.
Partindo de algumas experiências pessoais, Ruben G Nunes recriou o real, dando origem a um fato ficcional, e através dele conseguiu transmitir suas ideias e emoções ao mundo. É desta maneira que a literatura se revela como um objeto vivo, uma verdadeira relação eficaz do escritor com o seu meio. Com bastante desenvoltura, o escritor narra alguns dos principais fatos e figuras da cidade do Natal, das décadas de sessenta, setenta e oitenta, com destaque para os personagens, alguns bastante conhecidos no meio cultural, e especialmente à sua linguagem.
Carioca radicado em Natal, Ruben Guedes Nunes, Oficial da Marinha, aqui veio residir em 1960 já como 1º Tenente, na Base Naval. Ruben criou raízes em Natal, enveredando pela literatura, em estreia com o livro de poemas, ‘Tempos Humanos’ (1971) prefaciado por Câmara Cascudo, que exalta a beleza do trabalho literário do então jovem escritor.
Nos anos seguintes Ruben dá inicio a sua saga de ganhador de concursos literários, ao obter menções honrosas no Prêmio Câmara Cascudo 1978 e Prêmio Fundação José Augusto 1979. Ainda nessa década é um dos premiados no concurso “5 Contistas Potiguares”, promovido pela Fundação José Augusto. Porém, é no início dos anos 80 que ele dá um salto significativo na sua produção literária, e entra para a história da literatura potiguar, ao escrever Gestos Mecânicos.
Outro romance de valor do autor, ‘Dotô, Casa Comigo?’ venceu o Prêmio Câmara Cascudo em 1982, mas só foi lançado em 2003. Dotô, Casa Comigo? nos dá “a visão impactante do pequeno mundo de um manicômio a sugerir reflexões, contando a história de um amor fraturado”, como foi dito em estudo sobre a ficção potiguar (p.226). De permeio, uma narrativa de ficção científica.
Professor aposentado do Departamento de Filosofia da UFRN, graduado em Filosofia, Mestre em Filosofia Politica, Doutor em Filosofia da Educação, Pós-doutor em Metafísica pela PUC/RS, Ruben G Nunes, publicou também ‘Re(des)construção da Filosofia’ (ensaio) dentre outros trabalhos na sua área de atuação como pesquisador.
Mais recentemente, em 2015, lançou um novo romance, ‘O Ponto Oco’ (Prêmio Câmara Cascudo de 2007), e em 2017, um livro de Poemas/Crônicas, ‘Xanavá – Porra de Poemas -Croniketas da Burakera’. Está incluso no trabalho ‘Ficcionistas Potiguares’ (2010) de Manoel Onofre Júnior, é citado por Tarcísio Gurgel no livro ‘Informação da Literatura Potiguar’ (2001), e foi incluído na ‘Coletânea Novos Contos Potiguares (2017), organizada pelo jovem escritor mossoroense Thiago Jefferson Galdino, obra que traz contos inéditos de novos, e também, de veteranos, e nos deu interessante depoimento para o livro ‘Impressões Digitais – Escritores Potiguares Contemporâneos, Vol. 1’ (2013).
Ruben G Nunes, que escreve semanalmente para o blog “Papo Cultura”, do jornalista Sergio Vilar, anuncia ainda para este semestre a segunda edição de ‘Gestos Mecânicos’, pela CJA Edições.
Concluímos alertando aos leitores para o risco de um romance da categoria de ‘Gestos Mecânicos’, entre outras boas obras, ser ofuscado pela falha na distribuição dos livros, bem como pelo fato de o autor não morar num grande centro cultural. Citando o escritor Rômulo Wanderley, autor de ‘Panorama da Poesia Norte-rio-grandense’ (1965), “jamais se escreverá corretamente a História da Literatura Brasileira enquanto não se fizer o exato balanço das nossas literaturas regionais”.
Muita coisa, da maior importância (que é o caso do romance de Ruben G Nunes) “estanca” na província, não conseguindo ultrapassar os limites que injustamente a separam dos grandes polos culturais.
Escritores de inestimável valor veem suas obras fulminadas por uma tremenda conspiração de silêncio, apenas porque não trocaram o “sossego” da província pelo tumulto das grandes metrópoles.
E-mail: Sergiovilarjor@gmail.com
Celular / Zap: (84) 9 9929.6595 Fale Conosco Assessoria Papo Cultura