Redinha Velha: Velas que se abrem à história (parte 13)

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Se a Redinha Velha fosse pintada por Van Gogh na certa ela teria matizes acinzentados e rostos não tristes, mas de fisionomias cansadas. É que a Redinha é herdeira de séculos tranquilos nas quais a atividade pesqueira sempre esteve presente e deixou mareados aqueles olhares, aqueles costumes que, embora vanguardas de uma tradição secular, conservam o lirismo e a simplicidade de outrora.

Os frequentadores dominicais, passageiros de uma Redinha animada para as bandas próximas do Redinha Clube, desconhecem a verdadeira áurea do lugar. E pensam que a praia é feita de festa e pagode. Enquanto as caixas de som animam a superficialidade do momento, o Cemitério dos Ingleses, ali próximo, agoniza em silêncio e solidão. E como as paredes escuras e velhas do Redinha Clube ou da Igreja de Pedra, guarda as sombras de um passado que já se vai longe.

Em retratos de ontem e do hoje, os pescadores, indiferentes, em rotina diária, constroem incessantemente a verdadeira história da praia.

A Redinha é um mergulho no passado; um encontro com a simplicidade; território livre da boemia e da poesia. É a terra de Santino, velho pescador que, como os sertanejos das terras castigadas, rachadas, sofre as agruras provocadas pelas forças invencíveis da natureza. Mas segue diariamente sua labuta em busca da sobrevivência. E mesmo colecionando marcas e rugas no rosto de pele salgada e grossa, em processo de adaptação ao tempo, nutre afetos singelos e até místicos pela praia, onde prefere continuar o resto de seus dias.

É que a Redinha é morada gostosa aos de vida simples, mesmo àqueles de melhor sorte, com casas de alpendres largos, com sons de punhos de rede rangendo. São para estes humildes de sina ou de escolha que a Redinha descortina seus segredos e oferece, talvez por um impulso incontrolável, um sentido para a vida.

CRÉDITO DA FOTO: Claudio Abdon


ADENDO DO EDITOR: Como citei no capítulo anterior, há um livro a respeito da Redinha Velha à espera de atualização, alguns acréscimos e novos capítulos. Essa série foi apenas um resumo dos capítulos atuais! Espero concluir esse ano ainda para publicação no próximo veraneio. Agradeço demais quem prestigiou essa série. Realmente me surpreendi com o entusiasmo da galera, refletido no número de acessos. Obrigado e o livro vem aí!


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Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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