REDINHA VELHA: Barões, serestas e poesia (parte 3)

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Este texto integra uma ampla matéria jornalística sobre a história da praia e bairro da Redinha Velha, que será dividida em 10 partes. A reportagem foi premiada no edital Auxílio à Publicação de Livros, Revistas e Reportagens Culturais, na categoria Reportagens Culturais. Tem recursos da Lei Aldir Blanc, e patrocínio do Governo do Estado do Rio Grande do Norte através da Fundação José Augusto, e Governo Federal através da Secretaria Especial da Cultura e do Ministério do Turismo.

Após os primeiros arrendatários e compradores do “sitio da Redinha”, ainda no século 18, um hiato se seguiu até os primeiros veranistas e entusiastas do lugar, décadas mais tarde, quando a Redinha se tornaria “praia de recreio”.

Segundo Cascudo, o bacharel Francisco Xavier Pereira de Brito (1818-1880) foi, possivelmente, um dos primeiros “enamorados” da praia, citado pelo então jornalista João Carlos Vanderlei como “Barão da Redinha”.

Em Acta Diurna de 21 de janeiro de 1940, Cascudo relata que “Durante o século XIX Redinha se tornou a praia indispensável à vida social da Cidade. O antigo porto de pescarias era ponto de atração e veraneio. O dr. Francisco Xavier Pereira de Brito, foi possivelmente, o descobridor elegante da Redinha. Chefe de Polícia, Diretor da Instrução Pública, sete vezes deputado-provincial, o dr. Brito enamorou-se da Redinha e popularizou-a entre os amigos. Construiu casa, cercada de latadas, fazendo festas que duravam cinco dias. João Carlos Vanderlei cognominou-o Barão da Redinha”.

Os apaixonados que se seguiram pela “praia bonita”, como cita Cascudo ainda nesta Acta Diurna, foram Antonio Francisco Areias, o médico Firmino José Doria, Ernesto Augusto Amorim do Vale (engenheiro que fez a planta do atual Palácio do Governo, da Torre da Matriz e do Cais da Alfândega), Vicente Ferreira Gomes, Jéferson Mirabeau e José Lourenço de Almeida.

A Redinha também envolveu Presidentes de Província. Benvenuto Augusto de Magalhães Taques, que governou quatro Províncias e foi Ministro, era decidido “redinheiro”, como cita Cascudo.

Em palavras despretensiosas, o folclorista descobre, ao citar outro burocrata admirador daquelas terras praianas, aquele que pode ter sido o precursor de uma das manias que, mais tarde, viria a ser uma tradição do lugar: as serestas:

“Lá administrava, em 1849, com os pés nus na areia úmida, estudando papéis Antonio Bernardo de Passos, de 1853 a 57, era outro fiel, comendo peixadas, ouvindo Lourival Açucena e despachando o expediente dentro dum rancho de palha. Vinha à Natal nos meses de inverno. Por muito favor…”.

Muito mais do que um seresteiro, Lourival Açucena (1827-1907) era figura prestigiada da província à época. Joaquim Eduvirges de Mello Açucena ganharia o apelido de Lourival quando representou, em 1853, o Capitão Lourival na peça O Desertor Francês. Era boêmio, sim, mas foi também juiz de paz, delegado de polícia, oficial de gabinete do Presidente da Província, ator e um dos primeiros poetas de que se tem notícia em Natal.

E foi ainda do século 18, que saiu o primeiro registro de versos apaixonados pela praia da Redinha. Sobre a autora, Cascudo assim a classificou e resumiu: “poetisa pobre e singela, mas afetuosa e gentil”.

Seu nome era Belisaria Maria da Silva Menezes (1844-1879). Suas quadras foram divulgadas pela primeira vez no jornal A República, em 26 de janeiro de 1939. Para o folclorista, a data dos versos remete a épocas anteriores à Guerra do Paraguai (1864 – 1870).

É esta a poesia que Cascudo opina como sendo “versos humildes que denunciam a impressão envolvente da natureza deslumbrante numa alma feminina de outrora, tímida, recatada, assustadiça, afeita à penumbra do lar”:

 

Vou cantar minha Redinha

Pois ela é sem igual,

Minha Redinha adorada

Por certo não tem rival.

 

Que campinas sedutoras!

Matizadas de mil flores,

Nela passeiam as ninfas

recordando seus amores…

 

O rio que rápido corre

suas aguas de cristal

Não há pintor que desenha

O rio do meu Natal!

 

Se vém nossas patricias

ao depois de suas danças,

Virem cantando e rindo

e soltando as negras tranças…

 

Que arvores! A’s tuas frondes

onde as aves cantar vão…

Que cantos ternos, saudosos

São hinos do coração!…

 

Viva enfim minha Redinha!

Redinha do meu Natal!

Viva seu rio e prata!

Suas aguas de cristal!

 

Viva também as choupanas

Prados, ares, bosques, flores!

Viva a bela Redinha

suas ninfas, seus cantores!


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Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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