A hastag #TeatroSim ganhou as redes sociais nos últimos dias. E não à toa. O descaso com a seara cultural tem sido enorme. E com a classe teatral, em particular, tem sido cruel. Corte de editais, de incentivos, teatros fechados…
Penso que a falta de recursos à cultura nas três esferas do poder público atingem sobremaneira o teatro e o cinema, mais dependentes de grana e infraestrutura. E hoje em dia, há mais viabilidade para curtas com as tantas plataformas gratuitas de gravação e edição. Mas e o teatro?
Daí essa situação alarmante aqui e alhures. E, claro, quando vi a hastag e li uma matéria sobre a falência sistemática de shopping centers na meca do capital mundial, os EUA, logo me veio o tema do nosso combalido teatrinho Sandoval Wanderley.
E por que? Nessa matéria um estudo revelou que o novo consumidor tem investido muito mais em viagens, mídia e entretenimento do que em itens básicos de consumo, como vestuário, eletrônicos ou automóveis, por exemplo.
Então, a relação que do Teatrinho com o Alecrim se encaixa nesse novo perfil de consumo. Muito mais o entretenimento, a arte, do que objetos de cozinha, sapato ou celular. Muito mais o Teatro do que o Shopping. Muito mais a arte do que a compra.
Cai um pouco por terra minha defesa pela derrubada do Sandoval tomando como argumento principal a inutilidade do prédio fincado em um bairro eminentemente comercial, embora eu ainda enxergue muitos entraves.
Outro ponto favorável à manutenção do Teatro e que bate contra minha opinião foi deixada pela arquiteta Cláudia Gazola no comentário ao texto que escrevi e publiquei no fim de maio. Eu comentava justo essa questão comercial já tradicional que engoliu há décadas alguma essência cultural do bairro.
E, entre outras questões, Cláudia indagou: “E quando a arte perde sua função social?”. Realmente, nunca. A Arte tem algo de resistência subjetiva e ao mesmo tempo concreta, palatável e deve ser usada para revolucionar, transformar. Concordo.
Mas vejamos outros questionamentos dela: “Porque não pensar o bairro à partir da cultura?”. Seria sonho quase impossível. Não falamos de Lagoa Nova, cada vez mais tomada pelo comércio, também. O Alecrim é mesmo comercial e esse “pensamento” modificaria o ganha-pão de milhares de famílias.
E continua: “O que morreu não foi o prédio e sim a política cultural do município”. Talvez a política cultural, social e urbana das gestões municipais desde a década de 80, pelo menos. No atual cenário, o Sandoval não funcionaria em sua plenitude.
Então, sim, a arte nunca perde sua função social. Mas pensar o bairro a partir da arte é mexer num bueiro fundo demais, talvez inviável. Mas, ao contrário do que escrevi, acho sim que vale a tentativa de resgate do teatro, apesar dos pesares. E vamos aos novos argumentos:
ARGUMENTOS PRÓ-SANDOVAL
1) Eu havia pontuado que a população de residentes no bairro do Alecrim era cada vez menor. Mas não. Há um grande contingente e talvez em ritmo crescente. Haja vista, inclusive, o fechamento de tantos bares que se mantinham pela música ao vivo, hoje proibida justo pelas residências construídas nas proximidades.
2) Um Teatro público, teoricamente, tem mais acessibilidade à classe artística, no tocante a pauta e incentivos.
3) Cumpriria sua função sociocultural ao bairro, na contramão da alienação notória de um shopping.
4) Uma questão importante: a manutenção do Sandoval seria uma vitória da classe artística. E não uma derrota ao município, mas talvez o início de um consenso ideológico saudável para ambos.
ARGUMENTOS CONTRA-SANDOVAL
1) A cidade ganharia um teatro novíssimo, moderno e sem arcar com nenhum custo financeiro. Do contrário, o investimento necessário deve ficar na casa dos R$ 2 milhões, afora um projeto de segurança e estacionamento adequado.
2) Apesar de um shopping, aquele trecho do Alecrim ganharia nova fisionomia, mais urbanizada e geraria mais emprego e renda.
3) Há uma maioria que luta pela manutenção do Sandoval não só pelo saudosismo, mas também pelo amor à arte, mas há também um componente político forte em muitos que se dizem contra a derrubada.
ADENDO DE CUNHO POLÍTICO
Nada contra a gestão da vereadora Natália Bonavides. Me parece um bom mandato e tal. Mas é puro oportunismo essa ideia de transferir R$ 2 milhões do orçamento de uns R$ 50 milhões destinado à publicidade do município.
Ela deve saber que orçamento não é recurso financeiro. A Prefeitura não gasta/investe isso. Soube que no ano que mais se colocou grana em publicidade, em 2014, foi justo um montante de R$ 2 milhões. E se a sociedade cobra tanto a transparência, com razão, é preciso, infelizmente, de publicidade para isso.
Então, menos, vereadora!
Em suma, este é apenas mais um texto para levantar discussão. Tenho ciência de que muitos criaram repulsa ao site ou ao editor pelas opiniões contrárias. Tem sido de praxe nesses tempos a intolerância. A ideia é tão somente discutir, avançar com o assunto. Evoé!
2 Comments
[…] Leia também: O Teatro Sandoval Wanderley precisa voltar à pauta […]
meus parabens amigo e minha admiração