#CaminhosdeNatal: Rua Padre João Manuel, o caminho da Ribeira que vai pelo Rosário

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A Rua Padre João Manuel, está localizada na Cidade Alta, iniciando-se na rua D. Pedro I (que é um prolongamento da Ulisses Caladas) e terminando no entroncamento com a atual avenida Câmara Cascudo. Desenvolve-se inicialmente na parte mais alta do outeiro onde nasceu a Cidade, descendo em direção à Ribeira até encontrar-se com a Câmara Cascudo, na praça das Mães.

Trata-se de um antigo logradouro público, incluído no Centro Histórico de Natal. Já existia em 1714, pois no dia 2 de julho daquele ano, o Senado da Câmara do Natal concedia ao padre Simão Rodrigues de Sá, terras naquele logradouro, na esquina com a atual rua Quintino Bocaiúva.

As concessões de terras se sucederam ao longo de todo o século XVIII. Em 7 de maio de 1723, o beneficiário foi outro sacerdote, o padre Antônio Rodrigues Fontes. Em 5 de setembro de 1770, foi a vez de Manuel Gonçalves Branco. Em 2 de dezembro de 1780, do coronel João de Barros Coelho. Em 2 de maio de 1782, foram contempladas com terras concedidas pelo Senado da Câmara, Ana Maria, Eugênia e Úrsula Patrícia. Em 2 de julho de 1785, o oficial de sapateiro José Gomes da Costa. Em 3 de outubro de 1787, Antônio José de Vasconcelos. Em 20 de agosto de 1791, Francisco Manuel Álvares Cabral. Finalmente, a última concessão de terras naquela rua, cujo registro ainda existe, ocorreu em 23 de dezembro de 1791, cujo beneficiário foi Roberto Costa Gomes.

Todos os registros de datas concedidas pelo Senado da Câmara, referentes àquela rua, descrevem-na como “o caminho da Ribeira, que vai pelo Rosário”. Denominação espontânea, que deve ter perdurado por muitos anos. Não foram encontradas informações sobre os topônimos anteriores ao atual.

Padre João Manuel

O padre João Manuel de Carvalho nasceu em Natal, aos 26 de dezembro de 1841. Era filho do capitão João Manuel de Carvalho e Quitéria de Moura Carvalho. Iniciou os primeiros estudos em Natal, ingressando em seguida no Seminário do Maranhão, onde concluiu o Curso Superior de Filosofia e Teologia. Recebeu as ordens pelo 18º bispo de São Luís do Maranhão, Dom Luís da Conceição Saraiva, no ano de 1865.

Foi ele também jornalista, colaborando de modo literário em vários jornais de Natal e do Rio de Janeiro. Foi fundador do periódico “O Recreio” e proprietário de “A Gazeta de Natal”. No Rio de Janeiro fundou o jornal “Quinze de Julho”.

João Manuel foi um sacerdote político e uma das figuras de destaque na política da Província, no tempo do Império. Chefe do Partido Conservador, deputado provincial, nos biênios de 1866-1867, 1870-1871 e 1876-1877. Foi ainda 2º secretário e vice-presidente da Assembleia e Diretor da Instrução Pública. Desligado do Partido Conservador, João Manuel aderiu à causa republicana, sem procurar aproximação com o Partido Republicano, formado por Pedro Velho, em Natal.

O padre João Manuel faleceu no Rio de Janeiro, a 30 de maio de 1899, quando atuava como pároco da Candelária.

Sinfrônio Barreto

A rua padre João Manuel, no seu trecho entre a Quintino Bocaiúva e a Câmara Cascudo, apresenta um acentuado declive. No início da descida, ainda resiste ao tempo um antigo prédio, de linhas neoclássicas. No referido prédio funcionou o Dispensário Sinfrônio Barreto, casa destinada a prestar assistência aos desvalidos. O nome escolhido para o dispensário, foi uma homenagem ao homem que dedicou sua vida à prática da caridade.

Sinfrônio Barreto nasceu no ano de 1853, em Floresta, PE, filho de Leandro Paes Barreto, revolucionário praiano. Foi voluntário da Pátria, na Guerra do Paraguai. De volta, ingressou no Seminário do Recife, transferindo-se depois para o da Paraíba, não chegando a concluir os estudos eclesiásticos. Abandonou o Seminário e veio morar em Natal, onde vivia com o irmão Juvino Barreto.

Em Natal, Sinfrônio passou a residir em um pequeno cômodo, debaixo da torre da Igreja de Santo Antônio, dedicando-se com humildade e fervor à assistência aos pobres. Durante quase vinte anos, presidiu o grupo Vicentino da Ribeira. Depois da missa diária, Sinfrônio seguia a pé em visita aos pobres, a quem levava consolo e tratava de feridas, distribuindo remédios e alimentos. Era “um soldado de Cristo, em luta perpétua contra a miséria’’.

Na visão do historiador Luís Câmara Cascudo, Sinfrônio Barreto era: ‘’baixo, gordo, calvo, moreno, o rosto picado de cicatrizes de bexigas, os olhos pretos e falando depressa, engasgando-se quando queria falar com maior rapidez’’.

Faleceu às 8:30 horas da noite de 2 de outubro de 1919, na travessa Juvino Barreto, em Natal. O dispensário da rua Padre João Manuel adotou Sinfrônio Barreto como seu natural e legítimo padroeiro.


ILUSTRAÇÃO: Arianne Constantino

Jeanne Nesi

Jeanne Nesi

Superintendente do IPHAN-RN, Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do RN, e Sócia correspondente do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de PE. Fundou a Folha da Memória, com periodicidade mensal. Publicou cinco livros, sendo dois como co-autora. Publicou folhetos, folders e cordéis e mais de 300 artigos sobre o assunto em uma coluna semanal no jornal Poti, na Folha da Memória e em revistas do IHGRN.
Atualmente aposentada, mas sempre em defesa do patrimônio histórico.

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