Thiago Gonzaga: a palavra tatuada

A história de vida de Thiago Gonzaga é um bom exemplo de amor aos livros e força de vontade. Até os 22 anos de idade, semi-analfabeto, Thiago não tinha profissão definida, ganhava o chamado pão de cada dia em pequenos serviços eventuais – servente de pedreiro, balconista, etc. O meio em que vivia, num subúrbio de Natal, não lhe dava melhores perspectivas. Mas, certo dia, recebeu de sua mãe, empregada doméstica, três livros que a patroa desta lhe dera, livros estes de autoria de escritores norte-rio-grandenses. Pouco a pouco, o jovem Thiago tomou gosto pela leitura e, fascinado, adquiriu outros livros em sebos, tornou-se leitor contumaz. Com mais algum tempo, já possuidor de uma pequena biblioteca, voltou aos bancos escolares, concluiu o curso secundário e, obtendo bolsa de estudos, ingressou no curso de letras da Universidade Potiguar, no qual, finalmente, com grande alegria, graduou-se, em 2011. Talvez para marcar essa conquista, de modo inusitado ele mandou tatuar num dos braços a palavra LETRAS. Desde então tem se dedicado de corpo e alma às atividades literárias. Modesto por natureza, não gosta de badalação. Para ele o que importa é a literatura em si mesma, isto é, ler e escrever. Vade retro o mundanismo característico da vida literária.

Por algum tempo manteve o blog “101 livros do RN (que você precisa ler)”, amplamente divulgado. Em 2012 começou a colaborar com a Academia Norte-rio-grandense de Letras, participando do programa “Academia nas Escolas”, palestras e distribuição gratuita de livros, com vistas a difundir o gosto pela leitura entre a mocidade estudiosa.

A partir de janeiro de 2014, Thiago acumulou as funções de editor da revista da instituição, espécie de coletânea, que voltou a circular com regularidade, contando com excelente apresentação gráfica e bons textos, aberta à comunidade literária (para saber mais sobre a Revista da ANL, clique AQUI).

Já diplomado em um curso de pós-graduação, da UFRN, sobre Literatura Potiguar, Thiago intensificou suas atividades como escritor e pesquisador, que começara com o livro, em parceria, Nei Leandro de Castro – 50 anos de Atividades literárias – 1961-2011, súmula bibliográfica & fortuna crítica do consagrado poeta e ficcionista. Seguiram-se Literatura Etc (2013); Impressões Digitais, 2 volumes (2013, 14, 15), entre vistas; Presença do Negro na Literatura Potiguar & Outros Ensaios (2014); Os Grãos-Ensaios Sobre Literatura Potiguar Contemporânea (2016): Esse Outro Mundo (2018), contos e A Casa das Letras (2021) estudos sobre a vida e a obra de 13 escritores, membros da ANRL, Prêmio Veríssimo de Melo, de ensaio, entre outros livros. Organizou e prefaciou duas obras: No Rancho dos Bentinhos, de Afonso Bezerra (2014) e A Arte Poética de Diogenes da Cunha Lima (2015), antologia.

É no conto que Thiago alcança alguns dos seus melhores momentos, como já tive oportunidade de dizer num ensaio incluído no livro Alguma Prata da Casa (2017). No entanto, não se deve, de modo algum, perder de vista suas atividades como ensaísta e animador cultural, idealizador e coordenador das “Caravanas de Escritores”.

Em 2016 ingressou, mediante concurso, no magistério público, tendo atuado por breve período. Ensinar é a sua vocação, depois da Literatura. Há bastante tempo ele vinha exercendo um magistério sui generis, na condição de palestrante sobre temas literários, em várias escolas do Estado.

Em julho de 2017, obteve o grau de Mestre em Literatura Comparada, pela UFRN, defendendo dissertação, aprovada com louvor, e que teve a sua publicação em forma de livro sob o título Tempo, Memória & Poesia-Um Estudo das Obras Corpo Breve e Os Pássaros da Memória de Diogenes da Cunha Lima (2018). Atualmente, faz Doutorado em Letras, na UFRN, sob a orientação do Professor Doutor Derivaldo dos Santos.

Na qualidade de editor da Revista da ANRL, Thiago tem se empenhado na construção de verdadeira ponte cultural entre a Academia e a Universidade – professores e alunos do Curso de Letras, em especial. Muito se deve, também, ao seu idealismo uma maior interação da Casa de Câmara Cascudo com as novas gerações e a vanguarda literária. O que ele tem feito, neste sentido, ainda não foi devidamente reconhecido, porque é trabalho silencioso, muito de acordo, aliás, com a sua humildade inata.

Como se não bastassem tantas ocupações em diversos segmentos, ele acha tempo para colaborar, com artigos de natureza cultural em jornal, revista e blog.

Da figura humana singular, bem se poderia dizer o mesmo que um jornalista pernambucano disse do ex-governador e escritor Antonio de Souza: “Não costuma agradecer a quem o elogia, e nem se zanga com os que lhe fazem críticas. O que quer é que lhe deixem em paz!”.