Thiago Medeiros é nascido e criado no bairro do Alecrim, em Natal, tem o peito apressado e não demora onde não pode amar. Tece histórias para o teatro e para a poesia com o peito em carne viva.
Como ator, teve sua formação no Centro Cultural Casa da Ribeira, em 2007, atuou em diversas produções da ONG. Em 2010, criou seu grupo de teatro onde escreve junto com outras duas poetas: Marina Rabelo e Michelle Ferret, dramaturgias poéticas para a cena.
A economia criativa faz parte de seu caminho poético e teatral, vende em feiras, exposição, bares e espaços da cidade seus poemas em patche works, adesivos, postais, ecobags, além de realizar intervenções urbanas, saraus, oficinas e projetos continuados. O mais recente o Sarau Insurgências Poéticas que, em um ano de existência, realizou em parceria com artistas das mais expressões poéticas do estado, 25 edições em parceria com mais de 150 artistas. O sarau segue sua segunda temporada, no Bardallos, até 29 de março.
Recebeu menção honrosa pelo concurso Luís Carlos Guimarães, realizado pela Fundação José Augusto, em 2014. A pesquisa continuada do trabalho de Thiago Medeiros seja no teatro ou na poesia, busca um entendimento do empoderamento de si perante as dores de crescer os ossos, mudar o corpo e a voz em dores inerentes a todo passarinho que só sabe cantar melhor à beira do abismo. Em 2016, lançou pela editora Caravela (Natal/RN) seu primeiro livro de poemas: Para Eu Parar de Me Doer (que também dá nome ao seu grupo de teatro).
1)
meus desejos de boneca
ardem na pele que não tenho
latejam nas vísceras que me faltam
ando com a camisola suja
manchada de carne
nessa gravidez de futuro
peço ao sagrado que venha
depressa
e não complete a parte que me cabe
e não complete a parte que me falta
e alimenta a ausência do teu rosto
que eu nunca vi
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2)
você não presta nem pra ser meu amigo
o tempo tem passado depressa
longe das suas encostas
seu monstro maldito
eu monstro maldito
seu monstro
você tem acabado com meu coração
desejo que você morra devagar
que você se foda bem longe com a solidão
seu porco estúpido
que a invalidez dos meus sentidosinvada
sua casa, sua alma
tire a paz
e o sono que ao tenho
monstro maldito
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3)
minha mãe
vive como e não tivesse
ninguém em casa
água terra fogo ar
cozinha cozinha cachorro rituais
solidão disfarçada de televisão
olhos atentos para o distante
eu vivo como se estivesse só
comida contas desertos
o silêncio das mães
como romper?
o que cala a minha fala?
a voz de minha mãe é a melhor lembrança
saudade de quando cantava pra mim
saudade dos mundos que me fazia imaginar
pela seda força de sua voz
“meu canto é teu minha senhora”
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4)
eu estou cansada
gritou sua velha de cinquenta gerações atrás
assustada
não soube como chamá-la
maria
cláudia
ou alguma silva engavetada
de chicotes em seu lombo preto
rebati o grito
com uma dor cansada
– entre, deite
não sofra se eu lhe disser
que esses chicotes
ainda me fazem gritar – de dor
maria
cláudia
outra silva – preta
e sinto, com a voz cansada
que a história ainda não mudou
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5)
solidão:
um poema curto
que não aprendi a escrever
a próprio punho
ao invés de curar com palavras
construo muros em silêncio