Nascido em Vernon, Texas, em 23 de abril de 1936, Roy Orbison começou sua carreira na Sun Records em meados de 1956. O lendário estúdio de Sam Phillips foi o berço de nomes como Elvis Presley, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis e Johnny Cash.
No contexto dessa cena, Orbison entrou numa competente aventura rockabilly, mas ele não tinha a explosão rocker nem o carisma de seus contemporâneos e seu trabalho inicial se resumiu em singles que fizeram um sucesso menor como “Ooby Dooby” e “Rockhouse”.
Somente no início dos anos 60, Roy despontaria como compositor e cantor, assinaria com a Monument Records e gravaria discos sensacionais.
Apelidado de “The Big O”, com aparência envelhecida de senhor tímido, míope de óculos escuros e vestindo preto, Orbison era a antítese dos ídolos pop dos anos 60 e ficava, na maior parte do tempo, imóvel no palco.
A fórmula de sua consagração era mesmo sua poderosa voz de tenor que alcançava várias oitavas e desfilava potência e beleza em graves e agudos impressionantes.
De 1960 a 1964, ele se transformou num dos maiores hitmakers americanos. São dessa fase sucessos avassaladores como “Only The Lonely”, “Crying”, “In Dreams”, “Running Scared”, “Blue Angel”, “Blue Bayou”, “Falling”, “It’s Over”, “Lana”, “Dream Baby” e o megahit “Oh Pretty Woman”.
Invasão britânica e tragédias pessoais
Com a invasão do Rock britânico nos EUA, a trajetória de Roy sofreu um grande abalo e seguiu ao ritmo de álbuns irregulares lançados por seu novo selo, MGM, a partir de 1965. Depois da perda da esposa em 1966, num acidente de moto, e dois de seus três filhos, num trágico incêndio em sua casa no Texas em 1968, a carreira de Roy Orbison entrou num traumático declínio.
Apesar de manter sua obstinação em não abandonar a música, independentemente de seus dramas pessoais, ele não voltaria a frequentar os charts da década de 70. Seu único triunfo foi a conquista de um Grammy em 1980 num dueto com a cantora Emmylou Harris.
Sobrevivendo a problemas cardíacos, o cantor entrou nos anos 80 relegado a um esquecimento severo por boa parte de crítica e público.
Rock’n’Roll Hall Of Fame
A virada veio a partir de 1985, quando uma nova geração de músicos começou a citar Orbison como influência decisiva em seus trabalhos. Entre eles, U2, Bruce Springsteen, Elvis Costelo, Tom Petty, Tom Waits, Bonnie Raitt e kd lang, com quem ele fez uma emocionante releitura de “Crying”.
Este resgate artístico proporcionou um emocionante comeback, registrado num excepcional concerto filmado em preto e branco em 1987, “A Night in Black White Night” e na sua entrada no “Rock’n’Roll Hall Of Fame”.
Ainda em 87, Roy Orbison entrou no supergrupo Traveling Wilburys ao lado de George Harrison, Jeff Lynne, Tom Petty e Bob Dylan. O resultado foi um belo apanhado de pérolas, alavancado pela belíssima “Handle With Care”, que galgou as paradas numa rapidez meteórica.
Mystery Girl
O extraordinário sucesso do supergrupo aconteceu no mesmo momento em que Orbison registrava seu álbum de retorno: o histórico e sublime “Mystery Girl”.
Gravado com participação dos amigos dos Wilburys e dos Heartbreakers, a banda de apoio de Tom Petty, o trabalho foi produzido por uma tremenda equipe de produtores e engenheiros de som, entre eles T-Bone Burnett, Bono, Jeff Lynne, Phil MacDonald, Richard Dodd, Don Smith e Mike Campbell.
O álbum traz de volta o Roy Orbison clássico, o inspirado “songwriter” da década de 60. O incrível criador de baladas magistrais carregadas de dramaticidade melódica e lirismo triste.
Suas novas composições faziam uma ponte soberba com seu passado brilhante e as escritas por seus colaboradores se encaixaram com perfeição no processo criativo responsável pela incrível unidade do álbum.
Da abertura com a clássica “You Got It”, passando pelo lirismo de “The Comedians”, o incrível falsete de “She’s a Mystery To Me”, a delicadeza de “A Love So Beautiful”, as linhas melódicas de “Windsurfer” e “California Blue”, ao final com a dramática “Carelees Heart”, tudo transpira garra, energia e renovação.
O resultado dessa conjunção de belas canções e performances inspiradas, devolvia o lendário cantor ao primeiro time da música mundial. O álbum chegou ao Top 5 da parada 200 da Billboard.
Infelizmente, Roy não veria o estrondoso sucesso do disco.
Fulminado por um ataque cardíaco, ele partiria em 6 de dezembro de 1988.
Sua família ainda lançaria outro ótimo disco póstumo de inéditas: “King Of Hearts” (1992).
“Mistery Girl”, porém, é considerado seu verdadeiro “canto do cisne”.
Muito já foi indagado sobre a lenda de “The Big O”: A “voz mais sublime do planeta”? “O cantor predileto de Elvis Presley”? “O anjo que cantava como um condenado”?
Não importa. Roy Orbison marcou sua trajetória como um dos mais incríveis compositores e vocalistas da história do rock e todos os fundamentos do seu incrível legado estão cristalizados em sua última e mágica obra prima.
Mystery Girl – Faixa a Faixa
1. YOU GOT IT (J.Lynne-R.Orbison-T. Petty)
Abertura impactante com uma “parede” magistral de violões a cargo de Jeff Lynne e Tom Petty. Orbison canta com maestria num estilo que mistura o som do Traveling Wilburys com seu clássico “Pretty Woman”.
2. IN THE REAL WORLD (W. Jennings-R. Kerr)
Abertura sutil com Roy em falsete frágil. Bonita poesia sobre o despertar dos sonhos com camadas de violões e esplendoroso crescendo vocal no final.
3. ALL I CAN DO IS DREAM YOU (B. Burnette-D. Malloy)
Um dos temas mais recorrentes do trabalho de Roy, o mundo dos sonhadores, está de volta. Batida de rock clássico com violões e guitarras acústicas e nostálgicos backing vocais femininos.
4. A LOVE SO BEAUTIFUL (J. Lynne-R. Orbison)
Balada redentora conduzida pelo violão do beatle George Harrison e perfeitas camadas de órgão de Benmont Tench. Roy supremo em seu habitat natural com arranjo tristonho de cordas pontuando a melodia.
5. CALIFORNIA BLUE (R.Orbison-J.Lynne-T. Petty)
Parceria com Tom Petty e Jeff Lynne, a canção remete à fase havaiana de Elvis e imprime mais nostalgia a uma melodia tão bonita quanto irresistível.
6. SHE’S A MISTERY TO ME (P. Hewson-D. Evans)
Composta por Bono e The Edge (U2), a faixa é uma das mais sublimes do trabalho. Começa com um belo dedilhado da guitarra de Bono, com lindos arremates de piano e segue num vocal suave até desaguar num refrão arrebatador e agudos celestiais em seu final. Um dos pontos mais altos de toda a carreira de Orbison.
7. THE COMEDIANS (E. Costelo)
Batida marcial que remete ao clássico “Running Scared”, guitarras com trêmulo e a voz de Orbison brilhando em doses operísticas. Um grande presente de Elvis Costelo.
8. THE ONLY ONE (W. Orbison-C. Wiseman)
Linda balada no estilo Motown com acompanhamento de metais. Presença da bela guitarra de Steve Crooper, num estilo imortalizado por Otis Redding nos sixties. Lindo piano de Tench e backing vocals arrepiantes amparando a interpretação emocional de Roy.
9. WINDSURFER (R. Orbison-B. Dees)
Rock irresistível com guitarra slide reinando suprema na camada de violões de Jeff Lynne. Orbison impecável de novo numa retomada de parceria com o velho amigo Bill Dees. Ideal para um “moonlight drive”.
10. CARELEES HEART (D. Warren-A. Hammond-R. Orbison)
Balada confessional com violões e um vocal dramático de Roy. Um fechamento digno para um dos mais especiais álbuns da extensa discografia do mestre.
Principais músicos em Mystery Girl:
Roy Orbison: vocais e guitarra.
Jeff Lynne: guitarras, baixo, teclados, backing vocals.
Mike Campbell: guitarras.
George Harrison: violões.
Tom Petty: violões e backing vocals.
Jim Keltner,
Phil Jones, Ray Cooper: bateria e percussão.
Howie Epstein: Baixo
Benmont Tench: pianos, teclados.
Al Kooper: órgão.
Bono: guitarra.
Steve Crooper: guitarra.
T Bone Burnett: violões.
Louis Clark, Sid Page, Mike Utley: arranjos de cordas.
Produção: Jeff Lynne, Mike Campbell, Bono, T Bone Burnett, Bárbara Orbison, Roy Orbison.
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