Pipa respirou música por quatro dias durante o Fest Bossa & Jazz. E nessa inalação veio junto a brisa da praia e um aroma, aqui e acolá, da canabis. Normal. Pipa é esse mix de cosmopolitismo, cultura hippie e ainda – e cada vez menos – colônia pesqueira.
Talvez por essa mescla o novo formato de pocket shows espalhados em basicamente cinco polos do festival tenha agradado o público. É que favorece a liberdade característica do lugar, da badalação na rua, de sentir a aura de Pipa a partir do seu centro nervoso, e não defronte a um palco, em um espaço reservado.
E assim, mesmo os desavisados do Festival encontravam excelentes atrações em cada “esquina” da rua principal da praia. Isso à noite. Pela tarde, quem acompanhasse o cortejo da Bossa & Jazz Street Band pela orla chegaria à aura jovial do Pipa Beach Club, já perto do pôr do sol.
E disso se fez o novo Fest Bossa & Jazz: de oficinas, workshops e master class que envolveram curiosos e a comunidade local no período da tarde, e de 48 pocket shows com atrações locais, nacionais e internacionais, quase todos no período noturno e em polos espalhados num trecho de aproximadamente 1 km da rua principal.
Sem um palco grandioso como visto em anos anteriores, o agito na rua lembrava o Carnaval, tomado de gente, mas com boa música e uma gringalhada medonha. Por volta das 23h30 já ficava difícil caminhar nos trechos em frente aos shows.
Os “trios elétricos” tocavam na Praça do Pescador, na esquina da descida pra praia; na Vila da Mangueira: aquela com jeitão de ruela grega; pela Galeria Oásis, onde tem uma pequena fonte de água exótica e um mix de lojas; e ainda o Vila da Pipa Shopping, mais à frente, também próximo a um aglomerado de comércios. Todos com pequenos palcos e muita gente em volta.
O QUE VI DO FEST BOSSA 2018
Cheguei apenas no sábado, meio da tarde. Tempo para acompanhar o cortejo pela orla e uma breve olhadela no som contagiante da Parayba Ska Jazz Foundation (PB). Muito bom! À noite, essa galera animou bastante o público em torno da Vila da Mangueira, o roçoi-mor da rua principal.
Concomitantemente, ainda no período vespertino, algumas atrações tradicionais de Pipa, que costumam tocar na praia há alguns anos, se apresentavam em outros restaurantes. Caso do Los Chaskys (Peru) e o Duo Maresias (Argentina).
(abrir parêntese para única sugesta à produção) Na programação, o intervalo entre os shows era de 15 minutos. Talvez uma extensão maior entre eles, sobretudo à noite, facilite a solução dos imprevistos inerentes a um evento desse tamanho. Resultado: alguns shows aconteceram na mesma hora e dividiram o público desejoso de conferir tudo. (fecha parêntese).
À noite, com algum atraso, a Bossa & Jazz Street Band arrastou uma galera boa pela rua para mostrar o roteiro de shows. E que shows! A argentina Pris DeNé também é uma habituê da praia. Não conhecia. Que voz! Apesar da nacionalidade, trazia uma baianidade nagô, uma versatilidade perfeita à improvisação jazzística. Praça do Pescador brindada com esse luxuoso show por volta das 21h.
De lá, segui à outra ponta, na Vila do Pipa Shopping para assistir a Família Pádua. Também nunca tinha visto. Tinha a impressão de um som mais ligado ao chorinho, que não é minha praia. Mas assisti um som denso de jazz com pitadas brasileiras, com batuque, flauta chorosa e muito, muito entrosamento e animação. Público em êxtase.
Da trupe Pádua, acompanhei a alegria da Filarmônica Monsenhor Honório até a Galera Oásis para conferir o vozeirão da mossoroense Nida Lira. O tirarrêi de gente em volta me assustou. Depois soube que ali se apresentaria, em seguida, a carioca Taryn Szpilman, talvez a maior atração do Festival. Mas Nida Lira mandou ver, de Amy Winehouse ao axé baiano, e não conseguiu sair sem o bis suplicado pela galera.
TARYN SZPILMAN, A BRANQUELA FROZEN
Sacrifício para chegar perto do palco e tirar algumas fotos de Nida. E por ali tive que ficar até o show da Taryn. Se levantasse um pé, outro ocupava. Mas valeu a espera. Precisava ver de perto o que consideram das grandes vozes do blues e do jazz nacional. Uma branquela, dessas “neurastênicas do litoral”, como classificava Euclides da Cunha. E com cabelo de Frozen, musical do qual, inclusive, dubla aqueles agudos da rainha Elza. Pra completar, trajes sinuosos de mulher-gato. Não tinha cabimento.
Mas bastou a primeira sílaba. Se você visse Janis Joplin também duvidaria que sairia algo dali, ne? Então aceitem minhas cismas. Acompanhada de uma banda afinada, com um baixista com uma pegada soul monstruosa, a cantora largou uns graves e agudos que passeavam pelos píncaros das notas musicais. E com canções do blues raiz, sem merchand, sem hits comerciais. Nem precisava. A banda, a voz, a presença, bastavam. Impressionante! Deu vontade de cantar “Livre estou, livre estoooou. Não posso me seguraaaar”, Mas me contive (quem tem filho pequeno entendeu a piada).
Passava pouco da meia noite e larguei pela metade a Taryn (saudade, beijo!) para tentar conferir o show da Bruna Hetzel que fora remanejado à Praça do Pescador. Mas só vi uma banda de jazz no lugar. Hora de mimi, pois, extasiado de boa música e três ótimos chopps da cervejaria local da Pipa, a Cap. Nem precisei de banho de mar.
FOTO DE CAPA: Brunno Martins. As outras fotos, tudo meaboca, crédito: Sergio Vilar
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[…] mais pontualidade e mais oportunidade de conferir os diferentes shows este ano (leia aqui resenha da edição de 2018). Ainda apostaria em um intervalo melhor de 30 minutos entre uma apresentação e outra. Isso para […]