Copos e taças ideais para suas cervejas

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Hey, Kiddos, saudações!

O texto de hoje, ainda que já fosse uma ideia um tanto quanto perene em minha mente, foi aguçado e sugerido pelo ilustre Miguel Medeiros, mais conhecido em nossa cidade como “Miguel do Gela”, ou, simplesmente “Gela Natal”.

Ele fez recentemente um vídeo de divulgação sobre o tema, e antes de produzir seu conteúdo nós conversamos justamente sobre esse assunto: copos e taças ideais para cada tipo de cerveja e também sobre copos ou taças coringas, que podem ser utilizados para mais de um estilo de forma a ter um bom resultado gustativo.

Para minha surpresa, o vídeo de divulgação dele, publicado em um grande veículo jornalístico de influência política (no Instagram), ainda que patrocinado por uma rede grande de supermercados locais, teve grande repercussão. Muitas das pessoas que comentaram não entendem de cerveja e replicaram comentários dizendo que tudo aquilo era “nutelagem”, desdenhando, ou de alguma forma colocando essa pauta como desnecessária.

Fiquei triste em ver como as pessoas celebram a própria ignorância com tantos tons pejorativos, mas também me senti desafiado a trazer um texto explicativo, didático e substancial, para que as pessoas suplantem essas falsas noções de “nutelagem” ou “frescura” sobre o mundo especializado das cervejas (perdoai, Pai, pois não sabem o que falam), e aprendam mais um pouco sobre como cada copo ou taça pode contribuir para uma melhor experiência sensorial de degustação: esse é o meu desafio atual.

Então, vamos aos copos e as taças!

Estilos, copos, e temperaturas

Para uma degustação cervejeira mais completa vários fatores precisam estar alinhados. De modo mais amplo, já falamos sobre algumas variedades de estilo, MAS nunca tenha tido nenhum texto específico a tratar de cada um dos vários estilos existentes, ainda que alguns tenham sido apresentados de forma mais aprofundada. Definir o estilo a ser degustado é o primeiro passo da degustação.

O segundo elemento primordial da degustação é a temperatura da cerveja, e esse foi um fator fartamente explorado neste espaço (clique AQUI). Onde me detive a explanar quais estilos requerem temperaturas mais baixas ou não tão baixas (até mesmo temperatura ambiente) para uma degustação mais proveitosa. Assim, compreendo que em termos de temperatura e de cerveja tal texto seja o bastante para uma boa degustação.

Ficou faltando apenas o terceiro ponto do tripé cervejeiro, a questão das taças e dos copos. E desta questão daremos cabo no presente texto, colmatando a lacuna que faltava para que os neófitos no mundo das artesanais possam ter uma degustação completa, combinando estilos, temperaturas e copos ou taças adequadas.

Por uma questão de limitação didática no tamanho do texto, abordaremos alguns copos e taças icônicos dos estilos principais, não sendo possível cobrir todos, indicando alguns copos versáteis aos demais.

Copo de Weiss: o clássico alemão

Os copos de Weiss são os copos específicos para cervejas de trigo, sejam elas claras ou escuras. Geralmente, possuem a capacidade de 500 ml, possuem uma base mediana, encurtada no meio e com uma ampla boca alongada acima, ideal para concentrar a abundante espuma do estilo, o qual deve ser servido com uma leve mexida para levantar as partículas suspensas no fundo da garrafa.

Essa mexida no final do serviço da cerveja gera uma maior produção de espuma, a qual tende a ser acomodada na parte superior do copo, daí a sua boca ser mais larga que os das demais, ajudando também na dispersão e na difusão de aromas frutados advindos justamente das partículas que se depositam no fundo da garrafa e são colocadas após o revolvimento da garrafa.

São copos bem bonitos e chamativos, com um bom local para serem segurados (na parte do meio, onde ele é mais fino), auxiliando nos movimentos de revolvimento e de dispersão de aroma, além na dinâmica de poder segurá-lo sem receio que derramar ou de cair.

Copos para IPA’s: Pint¸ Caldereta, e o IPA Glass

As IPA’s já foram objetos temáticos da minha coluna neste blog por diversas ocasiões (Leia: “Ipa de Supermercado”). Elas realmente são as cervejas queridinhas do momento (já há algum tempo eu diria) e cada vez mais neófitos se interessam em conhecer mais sobre o estilo e degustá-las.

Pint, Caldereta e Ipa Glass

Como todo grande estilo, existem alguns copos adequados para a sua degustação. As primeiras IPA’s eram do estilo inglês, daí, a tradição sempre indicou que o pint’s eram o estilo de copo (na verdade, pint é uma medida de volume, mas que acabou ganhando alguns copos de formato padrão com esse nome também).

Neste particular, o pint de estilo nonic, com pequena nervura na parte médio-superior do copo ganharam popularidade entre os degustadores do estilo.

Com o avanço das IPA’s no novo mundo, as IPA’s passaram a ser degustadas em copos mais despojados, como a caldereta e em alguns que imitavam até copos de extrato de tomate.

No entanto, acabou-se criando o chamado “IPA Glass”, uma releitura do pint de outrora, com uma base circulada com gomos até quase a metade do copo, e com a parte superior mais alongada, com leve transbordo para a parte interna.

O IPA Glass é uma tanto quanto complicado de ser higienizado, pois sua base mais curta dificulta a lavagem, mas, para os degustadores, a sua maior inovação foi uma base menor, onde ele deve ser segurado, sem que o líquido esquentasse com tanta rapidez, conferindo-lhe dinamicidade e versatilidade no uso cotidiano.

A Tulipa: charmosa e elegante

Infelizmente, a tulipa é um formato de taça um tanto quanto que confundido, mistificado e popularizado de maneira equivocada no Brasil. Costumam chamar de “tulipa” os copos que se servem as cervejas populares no Brasil, inclusive os “chopps”. Algo bem comum é pedir uma “tulipa de chopp” nos botecos por aí afora.

Todavia, o que chamam de tulipa por aqui, são copos usualmente dedicados às Lagers de maneira mais genérica, copos com a base mais estreita do meio para baixo, e com uma boca mais alargada, algo que lembra vagamente um copo de Weiss, mas em uma dimensão mais enxuta, e não tão alargado na boca do copo.

São copos extremamente populares e comuns nos bares Brasil afora, que, de modo equivocado, foram nomeados de “tulipa” pelo imaginário mitológico (vamos descontruir TODOS OS MITOS, inclusive o “mito” que faz “arminha”) cervejeiro.

As tulipas são taças delicadas, com uma pequena curvatura para fora na sua boca. Possui um parte mediana mais robusta e com o bojo um pouco maior, o que favorece a expansão dos aromas ao mesmo tempo que contribui para a formação de uma espuma mais duradoura.

Os estilos belgas são os mais recomendados para que as tulipas sejam utilizadas, mas, por vezes, elas também assumem uma certa versatilidade, combinando com quase todos os estilos, exceto para Weiss, que demandam um suporte de volume maior, devido a sua espuma ser bem abundante, conforma já mencionado.

Snifter para as cervejas mais pesadas

Os snifters são copos mais robustos e diferenciados, recomendados para cervejas de maior densidade e complexidade. Sua compleição física exige um bojo muito largo e uma boca mais estreita. A sua finalidade é poder reter aromas mais densos e pesados dos estilos aos quais ele se dedica, como as Russian Imperial Stouts e as Barley Wines.

São copos que rememoram vasos para outras bebidas destiladas, como, por exemplo, brandy e conhaque.

Em virtude de seu grande volume, alguns possuem quase 800 ml, é possível que o líquido não preencha todo o copo, algo adequado para os momentos de revolver o copo para a liberação de aromas, que tendem a ficar acondicionados em seu bojo. Assim, ao fazer os movimentos circulares para liberação de aromas, é possível que tais compostos voláteis fiquem por mais tempo no interior do copo e suas nuances possam ser percebidas com maior facilidade.

A sua fina e pequena haste usualmente não serve de suporte para os movimentos de degustação, recomendando-se que ele seja segurado pelo bojo mesmo, o que facilita ainda mais o aumento de temperatura, ideal para esse tipo de cerveja que demanda temperaturas de degustação levemente mais elevadas.

Os versáteis: TEKU e ISO

Não são todos os cervejeiros que possuem um “arsenal” de copos e taças adequados para cada estilo cervejeiro existente. Aliás, isso não é mandatório, cada um aprecia sua cerveja como lhe convém. As dicas fornecidas aqui apenas ajudam a incrementar a experiência da degustação.

Sabendo que nem todo cervejeiro é um colecionador, existem dois tipos de copos ou taças que podem ser consideradas “universais” para todos os estilos, atuando como verdadeiros coringas cervejeiros. Assim sendo, existem duas taças ideais para tal finalidade: a TEKU e a ISO.

A TEKU é um acrônimo do nome dos dois cervejeiros que a desenvolveram: Teo Musso (mestre cervejeiro da cervejaria italiana Baladin) e Lorenzo Dabove, mais conhecido como Kuaska. Daí as duas primeiras sílabas de TEo e KUaska formaram o TEKU.

Ela foi desenvolvida, inicialmente, para a cervejaria Birra Baladin, todavia, ganhou popularidade entre os degustadores, e sua fama se espalhou, tento sido reproduzida como modelo para várias outras cervejarias. Seu design único é propriedade intelectual da Rastal, uma empresa alemã que se dedica à produção de taças e copos cervejeiros.

Seu design é inovador, possui uma haste fina e longa, com um bojo triangular com bordas retorcidas para fora, uma verdadeira obra de arte em termos cervejeiros. Lembra o formato de uma tulipa com haste alongada e bojo de formas erraticamente geométricas, um deleite pós-moderno em termos estéticos e cervejeiros.

Sua forma faz com que ele seja muito original e permite uma experiência sensorial completa por capturar e libertar os aromas da cerveja na curva externa do vidro.

Ideal para vários estilos cervejeiros, desde os mais defumados, passando pelas IPA’s, e chegando até as Stouts e Barley Wines. Versatilidade é seu segundo nome e dinamismo é sua alcunha.

As taças ISO, por seu turno, são onipresentes no mundo das bebidas de maneira geral, sendo utilizadas tanto para fermentados (vinhos) quanto para destilados (principalmente, whisky). Sua demarcação volumétrica é estipulada normativamente em 150 ml, e equivale a 3 doses de destilado, servindo como padrão de serviço das bebidas que ela acondiciona.

Seu formato permite tanto uma difusão tremenda de aromas, mas também boa retenção de espuma e perfil visual de alto padrão de análise técnica.

As ISO’s são tão ou mais versáteis quanto as TEKU, e geralmente servem como padrão neutro de amostragem em festivais técnicos de julgamento de estilos e de padrão de análise técnica. São sempre fáceis de manusear e oferecem uma resposta de padrão de visualização sem igual. Por isso são tidas como versáteis e úteis para qualquer estilo cervejeiro.

Se você pretende ter uma taça coringa que sirva para quase qualquer estilo, a taça ISO é a pedida ideal para a sua coleção.

Saideira

Análise técnica e degustação por vezes podem soar enfadonhas para o cervejeiro mais casual, mil estilos, vários copos tendo que casar com o estilo, temperatura, serviço e etc. todavia, apresento-lhes, também, copos e taças coringas, que servem para os mais variados estilos, sem ocupar muito espaço e exigir muito estudo especializado.

De modo derradeiro, espero que essa breve exposição didática não seja conferida como “nutelagem” ou “supérflua”, que ela ajude a quem deseja extrair o máximo de uma boa degustação, com as taças e copos adequados aos estilos propostos!

Música para degustação

Por um lado, nos prendemos aos estilos, de outro, temos as taças coringas, que servem a quase qualquer estilo. Temos então, uma Freedom of Two, da banda finlandesa, versátil e dinâmica: 2 Wolves. Algo quase que impossível de classificar: é Doom? É Gothic? É Black Metal?

Não sei, só sei que é bom. Para degustar qualquer coisa, seja com ISO ou TEKU: “Freedom of Two”, da banda 2 Wolves.

Saúde!!

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

Sigam-me no Untappd (https://untappd.com/user/Ericksen) para mais avaliações cervejeiras sinceras, sem jabá (todavia, se for dado, eu só não bebo veneno).

A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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3 Comments

  • Odilene Monteiro

    Lauro, os teus artigos são verdadeiros oásis de sabedoria e cultura em meio ao deserto de ignorância e futilidades que o cotidiano contemporâneo nos obriga a sobreviver. Jamais imaginei que houvesse tantos copos para uma única bebida! Obrigada pelo seu acréscimo valiosíssimo!

    Abraço fraterno

  • Wanessa

    Excelente explicação para quem acha que copo de cerveja é tudo igual.👏👏👏

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