Cervejas e seu Custo-Benefício

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Saudações, cervejeiros!

Falar sobre cervejas e seus preços é algo que sempre gera alguma polêmica. Não que seja um tema especificamente delicado por si só, a questão, na maioria das vezes, é a confusão que é feita entre o preço das cervejas e outras variantes inseridas nesse contexto.

De início, é interessante destacar que quando se fala em custo-benefício está se falando sob a ótica do consumidor. Sinto muito, mas esse espaço não servirá (nem nunca serviu) para defender lucros, nem lucros de cervejas nem de qualquer outro espécime do mundo cervejeiro.

Trata-se de uma escrita (e consequentemente de um texto) sem fins lucrativos.

Daí a desnecessidade de se incluir na equação aquilo que deixa de ser ganho (receita, tecnicamente falando) para a cervejaria (ou para o atravessador, afinal, não é isso que os distribuidores são?) em detrimento da experiência do consumidor.

Por causa dessa perspectiva, quando se perguntar: preço bom para quem? Preço bom para o consumidor, apenas para ele.

Não se está em discussão a dificuldade de se manter um negócio ou empreendimento cervejeiro no Brasil (cansado desse mimimi eterno, em que os tributos são tidos como “malvadões”, ou que é tudo “culpa do Estado”), o cerne do debate é o custo-benefício para o consumidor.

Assim, trilhando essa ótica, vamos destrinchar melhor como o conceito de custo-benefício é formado, explicar que ele é variável em função do patamar da cerveja degustada e por fim explanar porque ele não é algo meramente econômico (do ponto de vista numérico, por assim dizer), já que se trata de uma experiência bem mais complexa.

Custos, valores e preços: formando o custo-benefício

Inicialmente, é bom destacar que ao se falar de custo-benefício de cervejas, o próprio termo “custo-benefício” pode soar enganoso, principalmente se o enfoque for dado apenas na primeira palavra do termo composto…

O custo-benefício é um amálgama de elementos tangíveis economicamente e de outros elementos um tanto quanto mais abstratos, por assim dizer. Certamente, ele envolve o custo, que é aquilo que efetivamente foi dispendido na produção da cerveja, contudo, ele vai bem mais além disso. Decerto, somente tem acesso ao custo do que foi feito quem o produz, no caso, o próprio cervejeiro bebendo direto do tanque.

A parte do “benefício” é conjugada pelo valor e pelo preço. Por valor, deve ser compreendido todos os demais elementos da experiência cervejeira que vão além do que a cerveja de fato exibe em termos numéricos. É a parte mais imersiva do que se aproveita de algum produto, esse é o valor (subjetivamente) atribuído aquilo que lhe é posto. Claro que o valor nem sempre corresponde ao que se espera, mas esse é outro debate.

O preço, por seu lado, é aquilo que de fato se paga pelo produto final. Ele é sempre superior ao custo e variável em relação ao valor, já que a experiência exibe vários degraus de aceitação, boa, muito boa, excepcional, esperada, fraca, muito fraca, péssima, horrenda… daí porque o preço, por si só, é a parte mais superficial da análise, muito embora a sociedade capitalista me direcione a pensar de forma diametralmente oposta…

O que se pode conceber por custo-benefício, portanto, é a junção de todos esses componentes. Porém, não é fácil aglutiná-los, pois a variação subjetiva é um dos elementos de maior persuasão em termos valorativos.

A variabilidade de vusto-benefício: patamares cervejeiros em análise

O termo “valor”, analisado na seção pretérita é variável subjetivamente. Contudo, ao se falar de custo-benefício cervejeiro existe um outro elemento variável, e ele não possui uma valoração simplesmente subjetiva. Ainda que nele esteja inserido algo da subjetividade analítica, por assim, dizer, ele também é imbuído de algo mais objetivo…

Esse elemento de análise é o patamar (ou o nível de complexidade) de uma determinada cerveja. Com cervejas mais simples, cervejas de massa, acaba sendo muito mais fácil assimilar o custo-benefício em função apenas de seu preço. Ela não sofre muita influência do que poderia ser pago (a menor ou a maior) por ela.

Exemplificativamente, sabemos que uma cerveja de massa vai custar aproximadamente 4 reais no supermercado, o dobro na praia e o triplo numa balada (quem sabe o quádruplo). A questão é que seu espectro de variação já está mais ou menos pré-fixado. Sabemos que ela jamais vai custar 50 centavos ou 50 reais. Então a variabilidade do custo-benefício é estimada em termos anteriormente definidos.

Todavia, ao se falar de cervejas artesanais, o raio de ação da variabilidade é um pouco maior. Não existem parâmetros dados especificamente em supermercado x praia x balada. Até porque esses, nem sempre, são seus habitats…

Dessa maneira, a aferição do custo-benefício deverá ser dado em função do patamar (ou do grau de complexidade) da cerveja. Exemplificativamente, se uma cerveja artesanal barrel aged nacional, de uma marca consolidada, é encontrada pelo preço x (suporemos, 70 reais), encontrá-la, ou uma similar, por 50 reais, ou menos, faz com que seu custo-benefício seja alto.

Muito embora, em termos absolutos, uma cerveja por 50 reais não seja barata, sabemos que, nesse caso em específico, ela estará (ou potencialmente estará) com um custo-benefício alto. Afinal, jamais encontraremos a mesma cerveja pelo preço de uma Skol na balada.

O custo-benefício e a experiência

Um dos mitos que podem ser de imediatos desfeitos reside em achar que só se encontra cervejas artesanais com um bom custo-benefício em promoções. A princípio, há de se falar que 90% (ou mais) das promoções são algo meramente ilusório. Elas servem apenas para fazer com que o consumidor se sinta bem consigo mesmo, não são, de fato, diminuição nas margens, é tudo previamente calculado no decorrer do ano, para ocasiões específicas e etc.

Ainda assim, assumo a pueril assertiva de que, sim, existem algumas promoções organicamente reais. Aquelas que de fato o desconto é de 30% ou mais. São raras, mas existem, e elas não são feitas, prioritariamente, na Black Friday, ou na semana do consumidor.

Inobstante, o fato é que para que o custo-benefício de uma cerveja ser alto, não necessariamente ela tem que ser comprada em uma promoção. Claro que se você achar uma Chimay Blue por 9 reais (sim, eu consegui isso na Black Friday de 2021), o custo-benefício dela será estrondoso. Mas, o fato é que esse não é um fator exclusivo para que uma cerveja tenha um bom custo-benefício.

Aliás, é mais fácil encontrar um bom custo-benefício em cervejas pouco conhecidas, ou pouco hypadas, que naquelas que estão na crista da onda. Além disso, é possível encontrar um custo-benefício fabuloso em cervejas clássicas, até porque elas algo clássico não costuma dar hype nem curtida… então… isso já explica muita coisa.

Em síntese, o custo-benefício está diretamente atrelado à qualidade aferida na experiência do consumidor, e não necessariamente condicionado a um preço absurdamente baixo de ocasião. Esse é um dos fundamentos essenciais para ser capaz de enxergar uma boa ocasião de compra de boas cervejas, independentemente de quão colorido o rótulo seja, ou quão exclusivo ele diga que é (ainda que nem seja… leia mais sobre isso AQUI.

Saideira

Certamente que “custo-benefício” é mais do que apenas uma percepção de preço, valor ou custo, o conjunto de habilidades referentes ao termo podem ser tidos como uma verdadeira estratégia de avaliação, algo utilmente aplicável ao panorama cervejeiro.

Ademais, compreender as nuances que envolvem o custo-benefício vai muito além de ver números reduzidos de preço ou preços promocionais. Claro que essa variante deve entrar também na análise das cervejas a serem adquiridas, mas, não pode ser a única a ser tomada como relevante, quiçá ser tida como preponderante.

O importante é ter em mente que cervejas com custo-benefício elevados nem sempre são as mais baratas, nem muito menos aquelas alardeadas como tal. É plenamente possível encontrar cervejas menos conhecidas com ótimo custo-benefício, e, assim, beneficiar-se duplamente com uma ótima experiência de análise sensorial.

Recomendação Musical

A música recomendada de hoje pode nem ser a mais conhecida dessa banda de Glam Metal que ficou famosa na década de 80 pelo uso de maquiagem excessiva. Todavia, The Price (o preço) certamente vem bem a calhar com o tema de hoje e é uma das composições mais belas da banda Twisted Sister!

Saúde!

 

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

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A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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