Saudações, cervejeiros!
Voltaremos hoje à velha forma! Um texto argumentativo-opinativo, como foi até a coluna passada, quando me aventurei em minha primeira crônica cervejeira. Teve quem gostou e teve quem achou diferente…
Então, retornemos!
Vamos falar hoje de duas cervejas belgas de fácil acesso em qualquer supermercado brasileiro. São duas cervejas icônicas, uma delas alardeada por já ter sido eleita “a melhor cerveja do mundo” (algo que sequer faz sentido).
De toda maneira, ambas as cervejas exprimem o que há de melhor na cultura cervejeira da escola belga, por isso que são mundialmente conhecidas. Ou melhor dizendo, são dois titãs cervejeiros que duelam no mesmo estilo de cerveja, daí ser possível o comparativo a ser traçado no decorrer do texto.
Estamos falando da Duvel e da Delirium Tremens, os dois exemplares mais significativos do estilo em apreço, o Belgian Golden Strong Ale. São duas cervejas muito famosas e populares, e, por causa disso, merecem o devido destaque na coluna de hoje.
Assim, no texto de hoje vamos conhecer um pouco do estilo a que pertencem, seus elementos sensoriais. E você? Conhece as duas? Já provou? De qual delas gosta mais?
Duas cervejas de um mesmo estilo: Belgian Golden Strong Ale
Tanto a Duvel quanto a Delirium Tremes pertencem a um mesmo estilo cervejeiro, integrante da escola belga, chamado de: Belgian Golden Strong Ale.
Já tivemos a oportunidade de falar em outro texto da coluna sobre um estilo belga que é o primo deste, o Belgian Dark Strong Ale (clique aqui). A diferença, pelo nome, é que um é Dark (escuro) e o outro é Golden (dourado). Apesar de parecer simplória, a mudança de uma única palavra é o motivo de um distanciamento enorme entre os estilos.
As diretrizes principais do estilo em apreço, o Belgian Golden Strong Ale são enunciados por sua própria etimologia. Em linhas gerais, além da escola cervejeira belga e da coloração dourada (Golden), é forte, isto é, tem um teor alcoólico considerável e se trata de uma cerveja da família Ale (alta fermentação).
Escrutinando um pouco o estilo e destrinchando suas peculiaridades, temos que as cervejas do estilo em tela são altamente carbonatadas (bastante gás carbônico), bem frutadas, com uma lupulagem fortemente destacada e notas fenólicas ressaltadas.
Outrossim, elas costumam ser o casamento perfeito entre aromas florais, frutados e fenólicos, com notas de frutas como laranja, pera e maçã, combinadas com fenóis apimentados e condimentadas.
Duvel: uma cerveja endiabrada!
A tradução do nome da cerveja Duvel, literalmente, significa, no idioma original, o flamenco, diabo. Mas, calma, não se ofenda nem tente exorcizar a cerveja, existe uma explicação plausível (e folclórica) para que ela tenha sido assim batizada.
A receita original existe desde 1871, contudo, ela só foi nomeada como “Duvel”, reza a lenda, em 1923, quando um ébrio sapateiro local, por nome de Van De Wouwer, exclamou: “que diabo de cerveja”! Claro que o episódio não parece passar de mera anedota para dar mais visibilidade de marketing à cerveja, de toda forma, a exclamação é mais do que procedente!
Pois, que diabo de cerveja! Com seu malte Pilsen conferindo um paladar bem limpo, sua lupulagem “exótica”, com lúpulos do leste europeu, e sua adição de açúcar para refermentação na garrafa fazem com que a Duvel seja singular. Ademais, ela possui notas suavemente metálicas no aroma, acompanhadas de notas frutadas, condimentadas. Seu final seco e alcoólico são suas marcas registradas!
Trata-se de uma cerveja que atualmente é sucesso em mais de 60 países onde é comercializada. Absolutamente, um verdadeiro ícone belga em seu segmento, uma cerveja que expressa todos os elementos fundamentais de uma boa Belgian Golden Strong Ale. Ela é facilmente encontrada nos supermercados do Brasil, com preços razoavelmente acessíveis.
Seu “D” (de D–uvel) vermelho é uma marca registrada e de fácil reconhecimento, por mais que seja o “D” do diabo cervejeiro belga, é um “D” que todos adoram degustar em suas taças! Sobretudo, uma cerveja da escola cervejeira belga bastante marcante em seus aromas e sabores.
Delirium Tremens: a cerveja do elefante rosa é a melhor do mundo!
A Delirium Tremens é provavelmente ainda muito mais conhecida do que a sua concorrente endiabrada. Afinal, quem pouco entende ou sequer nada entende de cervejas já deve ter visto o mascote da cerveja estampado por aí, o famoso elefante rosa.
Indubitavelmente, em termos de marketing, o elefante rosa da Delirium é muito mais chamativo, o que faz com que ele, e sua fama, precedam até mesmo a cerveja a qual ele faz referência e publicidade.
Não que os concursos sejam relevantes em termos de critério único para se comprar uma cerveja, mas a Delirium Tremens foi considerada a melhor cerveja do mundo no World Beer Champioship, em Chicago, no ano de 1998, levando a medalha de ouro.
Calma, ela não é necessariamente a melhor cerveja do mundo, contudo, certamente, é emblemática em seu estilo e merece ser provada e degustada ao menos uma vez na vida!
Da psicose ao sabor, desvendando os segredos da Delirium
O que pouca gente deve saber é que o nome, Delirium Tremens, na verdade, é uma alusão a uma condição médica bem severa, derivada da psicose do alcoolismo. Trata-se literalmente de um delírio (Delirium) advindo da abstinência do etanol, em que a pessoa é acometida por tremedeiras (Tremens), além de agitação, confusão mental, pressão arterial elevada, febre e alucinações, dentre alguns outros sintomas.
O nome da cerveja faz um “trocadilho”, ainda que de mau gosto, com a condição psicofisiológica de quem está em abstinência do álcool. Independentemente disso, o melhor é saber que a cerveja é muito boa, tem um mascote simpático e popular, e não precisou (nem precisa) do trocadilho infame para fazer sucesso.
Primeiramente, é imperioso dizer que ela se qualifica como uma das melhores cervejas em sua categoria, que é a mesma da Duvel, a das Belgian Golden Strong Ale’s. Tal qual o estilo em apreço demanda, a Delirium Tremens tem uma coloração dourada radiante e possui uma carbonatação bem acentuada, que faz com que ela seja bem refrescante. Tais características combinam bastante com o seu frutado, que além de notas de abacaxi, traz uma lembrança bem suave de banana, acompanhada de pêssego e laranja caramelizada.
Secundariamente, cabe complementar que suas notas maltadas são bem demarcadas, possui um dulçor de moderado a alto, com leves nuances de cereais. Seu amargor é bem denotado também, o que combina bem com suas notas fenólicas, levemente picantes, lembrando um pouco de pimenta branca. Finaliza com um amargor persistente e um toque harmônico de mel.
Não é o diabo de uma cerveja, mas é igualmente icônica e magistral!
O embate das titãs belgas
Indubitavelmente, tratam-se de duas grandes cervejas, dois grandes ícones de um mesmo estilo. Duvel e Delirium Tremens duelam pelo posto de melhor Belgian Golden Strong Ale facilmente. O alto nível de qualidade de ambas pode ser atestado pelo sucesso que elas conquistam ao passar dos anos.
Assim, é um verdadeiro embate de titãs degustar ambas as cervejas. Cada uma com suas peculiaridades e suas qualidades intrínsecas.
A Duvel tem por característica ser mais seca e muito mais carbonatada, tanto é que ela não é vendida ou comercializada para ser vendida em barris (e servidas em torneiras), somente pode ser encontrada engarrafada, dada a sua alta concentração gasosa. Isso faz com que ela seja muito mais esfuziante e refrescante em seu sabor. Seu frutado é bem mais puxado para o cítrico e sua lupulagem é mais “nobre”, por assim dizer.
Decerto, a Delirium Tremens não fica atrás.
Possui um perfil maltado bem mais expressivo e denotado. É bem menos carbonatada, e por isso, é frequentemente servida nas torneiras de barris. Ademais, ela por ser mais maltada exibe notas mais adocicadas e é bem menos seca que sua concorrente. Igualmente lupulada, ela exibe notas bem menos cítricas, mas bastante potentes de sua lupulagem.
Inobstante, no confronto titânico apresentado é bastante difícil escolher uma vencedora, o ideal é ter a oportunidade de se poder degustar ambas, concomitantemente. Porém, caso tenha que se escolher apenas uma delas para se beber, meu voto iria para a Duvel. Ela possui uma riqueza de detalhes e nuances, principalmente florais e lupuladas que a tornam uma cerveja única em seu estilo.
Ela é uma Belgian Golden Strong Ale muito singular e especial! Além de contar com muitas versões de sua taça, com diversas ilustrações, edições limitadas e muitas peculiaridades que tornam o “D” de Duvel ainda mais representativo de distinção no universo cervejeiro.
Saideira
É sempre um deleite falar sobre boas cervejas, cervejas que são verdadeiros ícones em seus estilos. O caso se adequa perfeitamente bem tanto à Duvel quanto à Delirium Tremens, duas tremendas cervejas belgas!
De um lado temos a Duvel, a cerveja encapetada da Bélgica! Com seu frutado cítrico pungente, altíssima carbonatação e um final seco e fenólico. De outro, temos o célebre elefante rosa, um marco cervejeiro mundial, principalmente com a rede Delirium Café, onde as melhores cervejas do mundo podem ser encontradas.
Sem sombra de dúvidas, duas preciosidades belgas!
O embate das duas titãs é a briga pelo posto de melhor cerveja do estilo Belgian Golden Strong Ale, com pesar no coração, eu escolho a Duvel nessa disputa muito acirrada!
E você? Qual das duas é sua favorita? Duvel ou Delirium Tremens?
Recomendação Musical
Se me permitem o trocadilho, a recomendação musical de hoje reflete a minha predileção pela Duvel em detrimento da Delirium Tremens!
Por isso, escolhi recomendar aos meus nobres leitores a famosa música do grupo britânico de Rock, The Rolling Stones, chamada Sympathy for the DUVEL.
Perdão pelo anátema idiossincrásico.
O nome correto da canção é Sympathy for the Devil, e, como Duvel quer dizer Devil, na sua língua original, o trocadilho faz todo o sentido, sim!
Saúde, e boas Duvel’s e Delirium Tremens’ para todos!