#CaminhosdeNatal: O gestor que enfrentou as piores pragas em Natal e hoje é nome de rua

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A Lei nº 335, de 10 de setembro de 1855, criou o Hospital de Caridade. No ano seguinte, houve uma grande epidemia de cólera-morbus, que chegou a vitimar duzentas e quinze vidas, somente em Natal, que à época contava com uma população de 5.000 habitantes.

O então presidente da província, Antônio Bernardo de Passos, enfrentou com decisão a violenta epidemia, oferecendo condições de atendimento a todos os casos surgidos. Em 1856, ele inaugurou o Hospital de Caridade, na antiga rua da Salgadeira. Foi o primeiro hospital de Natal.

Até aquela data, os doentes de toda a província eram atendidos, dentro do possível, na insuficiente Enfermaria Militar. Esta não tinha condições de um atendimento satisfatório, em relação ao grande número de casos, faltando-lhe leitos, medicamento, alimentos e até enfermeiros.

O hospital foi construído em tempo recorde, desenvolvendo-se a maior atividade possível, a fim de concluir as obras com a maior brevidade. Nelas foram empregados todos os pedreiros e quase todos os carpinteiros de Natal. Se não ocorresse a falta de tijoleira para o piso e algumas esquadrias, o hospital teria sido concluído em menos de dez semanas.

As dependências do hospital foram construídas nos anos de seca, especialmente em 1855. Criou as com áreas suficientes para acomodar “quarenta doentes do sexo masculino e outros tantos do sexo feminino”, informou o presidente Passos aos deputados, em 1º de julho de 1856. Primeiramente foi construída uma parte destinada a receber os doentes, com possibilidade de ampliação para acomodar as atividades administrativas do hospital.

Seu primeiro administrador foi o tenente José Gomes da Silva. Aquela casa de saúde atravessou os anos, lutando com muitas dificuldades, motivadas pelo desequilíbrio financeiro da província. O aparelhamento era precário e os medicamentos insuficientes. Em junho de 1895, o edifício foi restaurado e reaparelhado.

Em 1906, o governador Tavares de Lira fechou o hospital, que somente foi reaberto três anos depois, na gestão do governador Alberto Maranhão. Daquela vez, o serviço foi reorganizado em um outro prédio, no Monte Petrópolis.

A antiga Rua da Misericórdia passou a denominar-se Presidente Passos, em homenagem ao grande incentivador do serviço hospitalar na província.

Antônio Bernardo de Passos foi o 20º presidente da província do Rio Grande do Norte, empossado a 24 de outubro de 1853. Permaneceu no cargo até 1º de abril de 1857.

O presidente Passos defrontou-se com as maiores calamidades públicas vividas pela província: secas, assaltos, pestes, epidemia de cólera. Enfrentou-as todas, resolvendo tudo dentro das suas limitações, com simplicidade e bravura. Construiu também, o Cemitério do Alecrim, concluído em abril de 1856, além do Hospital de Caridade.

O presidente Passos conscientizou a população de Natal, da necessidade do zelo pela cidade, despertando-lhe a preocupação com o asseio, a água potável e o cuidado com as fontes e bicas. As ruas foram limpas, durante a noite queimava-se alcatrão, “para purifcar os ares e anular os miasmas deletérios”.

O presidente Passos enfrentou os comerciantes aproveitadores da desgraça alheia, combatendo a caristia causada pela fraca produção de alimentos nos anos de seca, especialmente em 1855. Criou as feiras públicas, dando-lhes isenção de impostos.

Na área da educação, retomou as atividades normais do Atheneu, criando inclusive novas cadeiras. Foi também o Presidente Passos quem patrocinou a construção da torre da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, com a finalidade de instalar um grande relógio público. Conseguiu donativos para a realização da obra e a compra do relógio.

Apesar de todas as obras que realizou, Antônio Bernardo de Passos deixou o governo da província, sem déficit nos cofres públicos.

Em 1953 foi construída a praça Coronel Lins Caldas, defronte ao prédio do antigo Hospital de Caridade. Aquela construção dividiu a rua, que retomou a antiga denominação de rua da Misericórdia, na parte da mesma que toma o rumo do sul até encontrar o Riacho do Baldo. Seguindo em direção ao norte, até os fundos do atual prédio do Tribunal Regional Eleitoral, o logradouro conservou a denominação de Presidente Passos.


ILUSTRAÇÃO: Arianne Constantino

 

Jeanne Nesi

Jeanne Nesi

Superintendente do IPHAN-RN, Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do RN, e Sócia correspondente do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de PE. Fundou a Folha da Memória, com periodicidade mensal. Publicou cinco livros, sendo dois como co-autora. Publicou folhetos, folders e cordéis e mais de 300 artigos sobre o assunto em uma coluna semanal no jornal Poti, na Folha da Memória e em revistas do IHGRN.
Atualmente aposentada, mas sempre em defesa do patrimônio histórico.

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