Homo-Sapiens e Mulha-Sapiens no La La Land-Brega do AlecrimTotal

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Croniketa da Burakera #2, por Ruben G Nunes

Alecrim, Natal/RN, Brasil-Esquina. Bairro suburbano, de forte e desvairado comércio.
Que te engole-consome totalmente
que nem fera faminta, mugindorugindo, pronta pra dar o bote. Eu o chamo
de AlecrimTotal. Terra de todos e de ninguém.
Há sempre no ar uma efervescência de chopp tirado na hora. Ou do sonrisal da ressaca.

Ali, todas mercadorias de marca têm sua réplica e tréplica. Há plágio total de tudo.

Olha só, gente boa, as camisas de grife famosa – polo, hollister, calvin klein… – são todas os olhos da cara nos shopis dos bairros nobres.
No AlecrimTotal, nos camelódromos, um simulacro porreta dessas consumices classe alta, igualzinho ao original, compra a preço de banana.

Qualquer metrosexual-bolsa-famíia pode desfilar nos trinques a baixo custo. Agora, da terceira lavagem em diante, não há garantia, nem responsa.
A camisa “de marca” do AlecrimTotal vai se esfrangalhando e não tem jeito que dê jeito.

O Alecrim-Total, tenho pra mim, que é um dos Portais do Infinito da Vida, na sua exótica e misteriosa versão brega.
… é isso mano… ali onde o cão já não chupa manga. Mas xupa xanas suadas, à miúdo.

abro parêntesis de resistência cult-brega. (Insisto sempre que xifres, xifrâncias, e similares, é com “x” mesmo. Tem a ver com o “x” de xanas e ximbas, mal-degustadas, mal-amadas. Mal d’amores incruados. Já com “ch” se refere à galharia dos animais; e ao discurso dos gramáticos ungidos-mugidos na purificação gramatiqueira) fecho rápido o parêntesis.

Paira nas ruas do centro comercial do AlecrimTotal a impressão de um algo indefinível que vai acontecer. Mas nunca acontece.
Que nem a Bolsa, os preços são maceteados e variam por entre as barracas e gritos dos camelôs. Há uma alegrianervosa nas vozes.
Misteriosidades bregas-chulas espreitam nas esquinas e na multidão.

Contra toda a tradição clássica, Levinas, filósofo franco-judaico do inicio do século XX, afirma que é a partir do rosto-do-Outro, no face-a-face, que jorra o sentido da Vida e se intui a misteriosidade do Infinito.

Daí, mago-velho, se você quer ver-sentir-entrar nos deslumbrares e mistérios alucinógenos do Infinitão vá ao AlecrimTotal.
Vá na tardemansa com uns dois-tres uisks na cuca e deixe a coisa rolar.

Se deixe entrar-e-rolar naquela multidão de rostos suados,
de olhosbocasdentes entrando pelo teu rosto, rindo alto, gestifalando sem
parar, num fluxo apressado ou lentivagando, barulhando a Vida, barulhando Vidas,
como o riiverrun de Joyce, na genial tronchura
literária de “FinnegansWake“.

Ali, no AlecrimTotal, te entra rosto a dentro, na marra, não a visão teórica, nem matemática, nem astrofísica, nem metafísica… mas a
visão humana plena de reticências, rítmos, dramas, risos, brigas, movimentos, sonhos, desejos, esperas, partidas… do Infinitaço.

Ali, o Infinitaço nos penetra sem pedir licença e vai transbordando dos nós-de-nós, do bric-à-brac da multidão, dos vuco-vucos,
das barracas, dos gritos dos ambulantes, dos ônibus buzzzibufando… sim, sim, sem pedir licença, ele mesmo o Infinitão. Ali.

Camus

Ali, as sábias palavras de tio-Camus sobre o existencialismo da Vida saltam de seu mágico texto teórico de “O Mito de Sísifo“, e grudam
na pele da gente. Sacodem ids, brios, bagos, cachos, sonhos… “Viver é fazer viver o Absurdo. E fazer viver o Absurdo é encará-lo“.
Xanavá, Camus-velho!

O velho AlecrimTotal carrega em suas esquinas e calçadas a presença absurda do Infinitaço, com pele-osso-bunda e sandálias havaianas.

Ali, se materializa o deus de Nietzsche, nas palavras de Zaratustra: “Eu só poderia acreditar num deus que soubesse dançar!
Quer dizer: um deus só é possível em sua divina dança de loucalegria! Um deus dançarino!

A bregalhada sui generis do AlecrimTotal, chaparia, passa-nos-passospassantes do povão. Como dança de loucatristealegria. Feita de
catrevagens, sonhos-chocos, paranóias, xavecos, xistes, cestas básicas, desempregos. Dança de zumbís akengalhados.
Que intriga, espanta, sacode. Fascina.

Há cenas que de tão absurdas valem um estudo de pós-graduação para revisão de conceitos filosóficos, sociais, políticos, psicológicos.
que carregamos como absolutos. Talvez, mago-velho, a gente só possa compreender o AlecrimTotal com métodos surrealistas.
Talvez com o “método paranóico-crítico de interpretação da realidade“, como chamava Salvador Dali seu método de captar para sua
pintura a VidaReal. Figuras saindo dentro de figuras. Num ângulo uma coisa. Noutro ângulo outra coisa.

Vejam só, recebo de uma ex-aluna o vídeo-linkado-abaixo, que pela intensidade gestual, rítmica, exótica, mostra ao vivo e a côres esse enfoque surreal daliniano.

É uma cômicabsurda cena de rua no AlecrimTotal. dum casal malucóide se divertindo na calçada.
Casal morador de rua. Ele, um caba-da-peste chamado Pinga. Ela, uma doidinha chamada Marvada. Pra que nome, meu rei?

Um homo-sapiens-alecrinensis e uma mulha-sapiens-idem (com licença da ex-presidenta Dilma), ambos legítimos consumidores da
“pedrinha lascada” e da caninha-51.
.
Ambos bebaços. Ambos, com sua coreografia loucalegre, mandando-ver no exótico barulho da Dança do Arrocha. Ambos num puta-love
de estraçalhar xifres, corações, cotovêlos, por ai… Ambos num zing-zumba daporra. Ali, no AlecrimTotal. Ambos.

Eis ai, os momentos da suma felicidadeinfeliz, na calçada da Retífica Nenê. Um La La Land-Brega.
Onde a MarvadaDoidinha e o PingaDoidão, goró-encharcados, dançam uma mistura de carimbó com dança-do-cu-duro e arrocha.
Oiééééé, my boy!

Não são só gaiatos. Nem anjos, nem demônios.
São tudo isso.
São, portanto, pré e pós qualquer valor.
Neles, a força elementar da louquidão cósmica que nos habita, se soltando na burakera urbana.

Eles são sem-trabalho, sem-teto, sem-terra, por vocação.
Eles são dançadores da dança-miserável da VidaViva.
Que não constrói, nem destrói nada.
Só incomodam nossos empertigados princípios politicamente corretos-e-corruptos.
Ideologia pra eles deve ser marca de pinga…. vamutomá Ideologia aí, cumpadi!

Dançam a alegria do Nada.
Dançam o desespero-de-causa, sem causa.
Eles são ferozmente-alegres, abertamente-indignos e só lutam mesmo pela cachacinha nossa de cada dia.
Eles é que zonam com todos os deuses do BigBang e do ApocalipseCráu… que também só pode ser cachaça de gringo.
Mas eles têm sua fezinha nos caboclos e São Jorge.
Ali, no AlecrimTotal.

Pra eles não há crise financeira, porranenhuma.
Nem as complicações teóricas e práticas de excluídos, incluídos, moral, cotas… etc.
Eles já são todas as crises.
Eles já são os sem-frescura.
Eles já são os concluídos do sistema.

Levantai-vos, hermanos! Ecce HomoAlecrinensis-Quase-Erectus, a visão brega pós-Nietzsche do Ubermensch.

Deus é um delírio dos homens, escreveu o biólogo Richard Dawkins, ateu de carteirinha, num livro de 2006, com
mais de 500 páginas.

éééé… é possível… tudo é possível… nesse mundo em “que somos feitos da mesma matéria dos sonhos“, como diz o mago Próspero, na peça A Tempestade, de Shakespeare…

Mas quem sabe, velhão, não seja o La La Land-Brega do Pinga e da Marvada (clic-link) um alegre delírio dos deuses
e caboclos
baixando com tudo no AlecrimTotal?

Diga aí, malandro!

Ruben G Nunes

Ruben G Nunes

Desfilósofo-romancista & croniKero

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1 Comment

  • Francisco Duarte

    Pô, mano Ruben!
    Arrebentou!
    *AlecrimTotal* — materialíssimo vulcânico pra uma de suas crônicas que, presumo, seja a inicial neste novo espaço que desconhecia.
    Valeu, Rubão!

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