Um passeio pelas ruas históricas da nossa cidade – é o que nos proporciona a leitura do livro “Caminhos de Natal”, da historiadora e arquiteta Jeanne Fonseca Leite Nesi (Natal, IHGRGN, 2002).
Algumas falhas não comprometem essa obra, que, além do seu valor intrínseco, tem o mérito de denunciar os atentados cometidos ao longo dos séculos contra a memória de Natal.
Quantos prédios de importância histórica e artística foram demolidos ou desfigurados em nome do progresso. É o que evidencia, de modo especial, o livro de Jeanne Nesi.
Com base nele, e também noutras fontes, fizemos uma relação dos monumentos arquitetônicos que a Cidade do Natal não soube preservar.
Casa da Câmara e Cadeia
Situava-se na Praça André de Albuquerque, no lado oposto ao Palácio Potengi (Pinacoteca). Era um grande prédio, de planta quadrangular, com dois andares. No alto da fachada, elementos decorativos à maneira de ameias, davam-lhe um vago ar de castelo. Foi demolido no começo do século XX, para que se pudesse alargar o Caminho do Dr. Sarmento, atual Rua João da Matta.
Atheneu Norte-rio-grandense
Fundado em 1834, foi durante longos anos o melhor estabelecimento de ensino do Rio Grande do Norte. Câmara Cascudo reuniu pesquisas e notas para sua história, num livreto publicado em 1961.
O prédio do Atheneu, construído em 1859, ocupava metade de um quarteirão entre a Av. Junqueira Aires e a Praça Tomaz de Araújo. Numerosas portas e janelas em forma de ogivas davam a nota de originalidade à fachada. Em seu lugar encontra-se o edifício da Secretaria Municipal de Finanças, caixão sem graça.
Praça Augusto Severo
Em seu livro “Natal que Eu Vi” (1971), Lauro Pinto dá o seu depoimento sobre a Praça Augusto Severo: “Na Ribeira existiu – porque hoje só encontramos um grosseiro arremedo – o mais belo e encantador jardim da cidade, uma verdadeira obra-prima de arte e bom gosto. Natal jamais terá outro igual”.
Pois esse “éden” vem sendo muito maltratado desde que o bairro da Ribeira entrou em decadência. Na administração do prefeito Djalma Maranhão quase metade da praça foi tomada pela construção da Estação Rodoviária (rodoviária velha).
Mansão de João Freire
Localizava-se na esquina da Av. Rio Branco com a Rua João Pessoa. Belo casarão, em estilo afrancesado, resistiu já bastante descaracterizado até a segunda metade do século XX. Foi demolido para dar lugar ao edifício de uma loja de departamentos.
Chalé da Família de Augusto Severo
Ficava na Avenida Junqueira Aires (atual Câmara Cascudo) ao lado do Solar Bela Vista. Não tinha grande importância, do ponto de vista artístico, mas compunha com a singeleza de suas linhas, o chamado Corredor Cultural da Cidade. Nele residiram familiares de Augusto Severo, o aeronauta pioneiro.
Palacete de Moisés Soares
Construção de 1922, belo exemplar de uma arquitetura fantasiosa e romântica, em moda nas primeiras décadas do século XX.
Situava-se na esquina da Av. Deodoro com a Rua João Pessoa, olhando para a Praça Pio X. “Estava o prédio quase pronto para o seu proprietário, logo que se casasse, ir nele residir, quando morreu” – informa Lauro Pinto (ob. cit.).
Por muitos anos ficou desabitado, ervas daninhas alastravam-se pelo jardim e suas paredes mostravam as marcas do tempo. Por volta de 1980 foi demolido, para se construir no local um mastodonte de concreto e vidro.
Praça Pio X
Era uma bonita praça, no centro da cidade. Em seu lugar eleva-se, entre espigões, a nova catedral. Nada restou do verde que enchia de vida aquele logradouro.
Royal Cinema
Um dos mais famosos cinemas da Natal antiga, serviu de inspiração para a valsa “Royal Cinema”, de Tonheca Dantas. “Tratava-se de um amplo e belo prédio, que ocupava a esquina das ruas Ulisses Caldas e Vigário Bartolomeu, chegando até ao prédio da Prefeitura”. (Lauro Pinto, ob. cit.)
Bangalô de Januário Cicco
Um tanto descaracterizado, localiza-se na Av. Duque de Caxias, quase em frente ao edifício sede da Associação Comercial. Nele residiu Januário Cicco, um dos mais altos expoentes da medicina potiguar
Vivenda de Cícero de Souza
Ficava na esquina da Rua Potengi com a Nilo Peçanha, no bairro de Petrópolis. Foi demolida para dar lugar ao edifício do Potengi Flat. Em sua fachada principal destacava-se a elegante varanda, encimada por uma espécie de minarete.
Cícero de Souza era pai do escritor e compositor Oswald de Souza e irmão do Governador Antonio José de Melo e Souza, também escritor, com pseudônimo de Polycarpo Feitosa.
Mansão de Juvino Barreto
Talvez a maior e mais imponente casa residencial de Natal de ontem, ocupando grande área na esquina da Av. Junqueira Aires com a Praça Augusto Severo. Foi deixada, em testamento, aos Salesianos, que ali instalaram um colégio.
Sua fachada principal, em linhas gerais, conserva-se inalterada, mas o entorno está completamente descaracterizado. Lindas palmeiras imperiais, que ornavam o antigo jardim, foram derrubadas, para que se construísse um ginásio de esportes modernoso e feio.
Juvino Barreto, o proprietário, era um dos homens mais ricos do Estado, industrial, dono da fábrica de tecidos, que ficava a dois passos da sua residência, onde hoje se encontra uma agência da Caixa Econômica Federal.
Grupo Escolar Augusto Severo
Educandário-modelo, criado por decreto do Governo Antonio de Souza e inaugurado pelo Governador Alberto Maranhão em 1908. Nele também funcionou a Escola Normal, estabelecimento dedicado à formação de professores. Anos depois, sediou a Faculdade de Direito de Natal.
Belo prédio, projeto do engenheiro Herculano Ramos, ostenta, na frontaria, esculturas em bronze e outros elementos decorativos em ferro fundido, de procedência francesa, obras admiráveis. Atualmente, está desocupado, entregue às baratas, serve de refúgio para marginais.
Galeria de Arte Municipal
Construída pelo Prefeito Djalma Maranhão, localizava-se na Praça André de Albuquerque ao lado do atual prédio do Tribunal de Justiça. Não se sabe por qual motivo foi derrubada. Em uma das suas paredes externas laterais havia um magnífico painel de autoria de Newton Navarro, estupidamente destruído.