Poemeto da Burakera #1
por Ruben G Nunes
Sergio-velho esse poemeto vem do final dos anos 70. Quando o Beco da Lama ainda tinha aquele charme do inesperado e sauvage.
Lembrei dele quando li teu artigo sobre o Festival da Meladinha com referência ao Bar do Nasi, aqui pelo PapoCultura.
Primeira vez que entrei no Bar de Nasi, numa tarde de sábado, havia um bando de papudinhos e um cara gordo, vermelho, baixo, tocando uma czarda húngara num violino!!! Já pensou?!
E o Nasi com toda aquela simpatia alegre fazendo meladinhas e contando piadas.
Fiquei amigo dele. Estava num intervalo entre casamentos e morava num apê no prédio da Casa Rio. Bem na esquina.
Abaixo vai uma foto do lançamento de O SISTEMA – um jornalzinho de mimeógrafo sobre cultura que lançamos lá no Bar do Nasi – eu, Ailton Silveira (autografando, da viação Nordeste) e Enoch Domingos (ao fundo; músico, grande artista, grande contista e tocava no Impacto 5 do Etelvino, depois no The Jetson’s do Alexandre, do qual eu era sócio… mas isso é outra história).
Fizemos também ao mesmo tempo uma exposição de quadros de Enoch e meus (naquele tempo eu também era metido a pintor, fui selecionado e participei da 2ª Bienal do Nordeste de Arte).
Muitos jornalistas presentes. Até o Luis Maria Alves. Engraçado foram as mulhas elegantes que apareceram num ambiente tosco daqueles cheio de teias de aranhas, cerveja quente e papudinhos…
Mó barato!
Abs
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VISUAL 7: BAR do NASI/BECO DA LAMA/NATAL/RN
(por Ruben G Nunes)
VISUAL 1
vigas
velhas
secas
num
teto
sombrio
estranho
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VISUAL 2
de canto
a caibro
aranhas meditam
e tecem
sem pressa
finos
fios
de tempo
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VISUAL 3
toscas mesas
paredes riscadas
gente chegando
cigarros acesos
fumaça subindo
cachaça descendo
cabeça inchando
no ar, o sorriso do Nasi
no ar, uma piada do Nasi
no ar, um cheiro feliz
de semana morta
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VISUAL 4
Natal/Centro
beco da lama
bar do Nasi
é dia-sábado
é dia-boêmio
humano-dia
– eclodindo –
no riso largo
no desabafo cru
na dança de copos
– enquanto –
nas velhas paredes
aranhas tecem
– no tempo –
lembranças
sonhânças
amâncias
e
cornâncias
d’amores perdidos
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VISUAL 5
de mesa a mesa
cabeças e olhos
girando
girando
re-girando closes
nos olhos
rostos
gestos
mãos
corpo
copos
vozes
risos
– enquanto –
almas e bocas
biribicam
a famosa meladinha do Nasi
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VISUAL 6
vida
es
cor
rendo
rindo
ruindo
rolando
indo
indo
indo
fugindo
fluindo
entre línguas
entre bocas
entre olhos
– buscando –
no trago lento
no largo gesto
o papo amigo
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VISUAL 7
este é o Bar do Nasi
Natal/Centro
Brasil-Esquina
sabadinho correndo manso
meladinha correndo frouxa
seres em fuga
doses sobre doses
sobre amores sobre doses
sobre sonhos sobre doses
sobre beijos e desejos
sobre
doses
sobre
doses
sobre velhas paredes
onde aranhas tecem
perdas e danos
onde homens tecem
poemas de pedra
nas pedras
do Beco da Lama
e o velho Nasi sorri
das coisas da vida
empurrando a VIDA!