Os 10 melhores filmes de terror disponíveis na Netflix

filmes de terror

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

As expectativas raramente são benéficas quando se trata de cinema. Há sempre que se deixar levar por uma obra para que ela tenha a oportunidade de provar seu valor. Preconceber julgamentos antes de ter contato real com o objeto pode ser um gesto que venha a desmerecer ou enaltecer o que, a partir de uma visão neutra, não passaria de merecedor de opiniões medianas, mornas.

O cinema de gênero vem exatamente ao encontro das expectativas, abraçando-as com carinho. Isso porque o funcionamento interno de um filme que venha a se encaixar nessa definição é uma leitura específica do seu gênero. Mantém-se uma estrutura narrativa base, reafirma-se convenções tradicionais e, ao seu modo, cada filme fica livre justamente para subverter o que é preestabelecido para si: eis o surgimento das quebras de expectativas. Tais filmes criam suas próprias galáxias, mas sempre dentro de um universo corajoso, este que enfrenta as expectativas. E, mesmo que possam expandir esse universo ao subverter convenções e gestos tradicionais, jamais uma produção de gênero criará o seu próprio cosmo. Um filme de gênero real – raiz – está muito mais preocupado em fazer jus ao seu universo do que posar com alguma arrogância e se dizer mais do que é.

Filmes de terror encaixam-se exatamente em um universo próprio, consolidado e, ao longo dos últimos anos, tais filmes vêm recobrando espaço com competência absoluta. São, enfim, filmes que fazem jus ao pertencimento desse gênero que formam a lista a seguir, sejam filmes de um possível vanguardismo (para o hoje ou para a sua época) ou aqueles que fazem uma abordagem sólida da tradição.

Lembrando que nenhuma lista é taxativa. Não existe verdade absoluta quando se trata de cinema. Listas fazem o papel de indicação e não devem ser levadas como algo exato.

Seguem os escolhidos:

10. Verônica – Jogo Sobrenaturalc

Verônica é um terror carregado de suspense que sabe muito bem onde está pisando. Ao contrário de investir em quebras de expectativas, o corroteirista e diretor Paco Plaza (da trilogia iniciada por [REC] – fica a dica), doa-se completamente à construção delas. Há, sem dúvidas, subversões de gênero, mas o filme está mais disposto a construir um horror crescente, sem descanso, típico do cinema espanhol – algo como faz o ótimo Um Contratempo (indicação fora do gênero do terror).

O trabalho cuidadoso e consciente de Plaza edifica bases sólidas para o filme de uma forma única: é um terror, de fato, que traz o sempre revisitado tema da possessão demoníaca, mas é claramente realizado com muito carinho e naturalidade. Pode ser perceptível que, nem tão em segundo plano, Verônica é sobre os “monstros” que despertam durante a adolescência.

9. Cujo

Talvez bizarro, trash para alguns, sanguinolento, sinistro… Cujo traz a história de um amigável São Bernardo que contrai raiva e conduz um reino de terror em uma pequena cidade americana. O filme é um dos melhores exemplares de terror protagonizados (ou antagonizados) por um ou mais animais.

Quando foi lançado, em 1983, o filme foi um sucesso de bilheteria e acabou, com o perdão do trocadilho, abocanhando algumas nomeações e prêmios, entre eles a indicação ao Saturn Award de Melhor Filme, o prêmio do público no Fantasporto e, no mesmo festival, a nomeação ao International Fantasy Film Award. Um filme que merece reconhecimento como uma das melhores adaptações feitas a partir de uma obra de Stephen King.

8. Jogo Perigoso

Baseado em obra de Stephen King e premiado em festivais de terror, especialmente pela atuação de Carla Gugino, esse filme dirigido por Mike Flanagan (como outras duas obras da lista) acompanha Jessie e sua tentativa de apimentar seu casamento em uma casa remota (olha uma convenção). Inesperadamente, seu marido morre e ela, algemada ao estrado da cama, inicia uma luta para sobreviver.

A impressão mais forte de Jogo Perigoso pode ser a de que ele (o filme em si) reforça uma metáfora sobre o quanto é assustador estar em um mundo no qual perder qualquer sentido é motivo suficiente para se instalar o medo. Sendo as protagonistas de ambos os filmes mulheres, Flanagan demonstra empatia ao entender que o terror é um gênero de enorme poder metafórico, revelando o pavor da submissão – algo que, infelizmente, é recorrente em meios sociais devido ao machismo.

7. Corra!

Mais atual do que deveria, o filme traz à tona o que há de melhor no terror: direcionamentos para o gênero sem medo de ser raiz, subtextos e mais subtextos para comentar temas relevantes e, em sua camada superficial, uma história que pode ser assistida sem muitos problemas. É de uma inteligência enorme a construção do roteiro vencedor do Oscar de 2018, escrito pelo próprio diretor, Jordan Peele.

Em nossa crítica, sobre o paralelo com a realidade e o tanto de ficção do filme, Laísa Trojaike escreveu: “É justamente por sabermos que as questões raciais (e de preconceitos de modo geral) não foram superadas que o terror de Corra! é ainda mais aterrorizante: até onde sabemos, toda a parte da intervenção cirúrgica é completa ficção, mas a sensação de estar constantemente isolado, em posição defensiva ou até mesmo ameaçado é uma realidade ainda comum.”

Corra! tem um total de 153 vitórias em festivais ao redor do planeta e outras 201 indicações a prêmios. É um dos recordistas do gênero na história do cinema.

6. O Hospedeiro

Além de ter a direção de Bong Joon Ho (de Parasita, 2019), O Hospedeiro já carrega tudo o que o diretor sul-coreano exponenciaria no filme que fez história no Oscar 2020: luta de classes, debates sociais, fusão de gêneros e um roteiro (coescrito pelo próprio Joon Ho) que progride com uma elegância enorme.

É interessante perceber como o público americano e a própria crítica receberam o filme e, ao mesmo tempo, levar em conta que se trata de uma obra sul-coreana – cultura diferente, formas de ver o mundo diferentes, jeitos de agir diferentes e até humor diferente. Assim sendo, pode parecer que o filme desperdiça alguns momentos dramáticos na construção de alívios cômicos, mas a questão é que tudo vai se emaranhando e construindo uma enorme bola de sentimentos.

O Hospedeiro, no final das contas, é uma das redefinições do horror no século XXI e já mostra o diretor enorme que é Joon Ho.

5. Hush: A Morte Ouve

A premissa parece simples: Há uma casa localizada em uma floresta. Nessa casa, uma mulher surda-muda está sozinha. A tranquilidade, obviamente, é interrompida. Isso porque um assassino começa a perturbar a pobre moça.

Parece e é simples! E é nessa simplicidade que o diretor Mike Flanagan (o mesmo de Ouija: A Origem do Mal e dos bons O Sono da Morte e O Espelho) aposta, muitas vezes deixando de lado os velhos sustos induzidos pela trilha repentinamente forte e investindo em uma tensão crescente que culmina no excelente terceiro ato. Conseguindo driblar a maioria dos clichês, a tensão é crescente de uma forma que, ao final, faz querer sentir sua própria respiração.

Além de ser um filme curto, seus 81 minutos passam como 20 e conseguem o essencial para um filme do gênero: fazer com que nos importemos com quem está protagonizando a história e torçamos contra quem antagoniza.

Hush: A Morte Ouve não é uma obra-prima. Pode até estar bem longe disso. Mas é uma boa pedida para esse dia mal-assombrado.

4. Invasão Zumbi

Eis um filme que foi, de fato, muito comentado em sua estreia, mas que começou a cair no esquecimento rapidamente. Não por sua qualidade – é o mais premiado dessa lista –, mas talvez por misturar dois universos do cinema de gênero: terror e ação… levando tudo a uma esquisitice quântica.

Invasão Zumbi subverte o subgênero dos zumbis, o próprio terror e constrói e quebra em pedaços caricaturas de filmes de ação. E vai muito além: à medida que os zumbis se multiplicam e uma variedade de pessoas comuns os enfrenta, há uma alusão certeira e uma avaliação sobre a insensibilidade corporativa.

É um filmaço que tem poder de adrenalina e que pode chocar com suas quebras de expectativas.

3. Invocação do Mal

Invocação do Mal, além de trazer uma combinação extremamente equilibrada de jump scare e tensão gradativa, tem um final mais do que satisfatório. Se dentro do gênero Hollywood costumava apostar em términos com algum gancho, a direção de James Wan, aqui, prefere dar um fim de fato. Nesse sentido, o sucesso da produção exigiu que a sequência fosse criativa na retomada, algo que, por si só, já coloca o filme como originário de algo que tenderia a crescer.

2. O Enigma de Outro Mundo

Considerado por muitos como o melhor filme do mestre do terror John Carpenter, O Enigma de Outro Mundo Grupo conta a história de 12 pesquisadores em uma missão na Antártica que desenterram um alienígena que estava sob a neve há milênios. Descongelado, o extraterrestre volta à vida e começa a espalhar o terror no acampamento científico.

Mas não é somente a história do filme que é aterrorizante: o modo como Carpenter filma tudo é o que dá muito mais vigor ao filme. Ao mesmo tempo em que, com a costumeira classe de planos limpos e pouca ou nenhuma tremedeira, o diretor aborda o roteiro de maneira claustrofóbica, reforçando o aprisionamento de estar em um continente gelado e dentro de uma estação. É uma aula de cinema.

1. Tubarão

Tubarão é um clássico que parece sempre atual. Sendo um dos primeiros trabalhos de Steven Spielberg, o filme já trazia todo o estilo entertainer do diretor que, aliado aos seus sempre sugestivos comentários sociais e à sua competência artística, acabou criando ou redefinindo o conceito de blockbuster.

Além disso, a composição de John Williams para a trilha sonora é das mais emblemáticas da história: um intervalo simples, entre duas notas, substitui a aparição do tubarão durante mais de dois terços das pouco mais de duas horas de duração. Sabemos que o bicho está presente e quem indica isso é a música. Um filmaço, um clássico, um trabalho que moldou o cinema em mais de uma camada.

Ficam, então, as indicações e o espaço dos comentários para acréscimos e tudo o que desejarem. Sem dúvida, como sempre ao fazer uma lista, foi dolorido, mas tenho certeza que vocês conseguirão complementar e enriquecer tudo o que está aí.

Bons (ou ruins?) filmes para nós!


Texto originalmente publicado no Canaltech

Sihan Felix

Sihan Felix

Sihan Felix é crítico de cinema desde 2008, sendo membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) e cofundador e integrante da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN). Felix escreve para importantes mídias brasileiras, participa como jurado e palestrante em festivais dentro e fora do país, foi crítico de uma das maiores distribuidoras nacionais de clássicos e é contista. Além disso, quer comer gorgonzola sempre, mas a vida de professor de cinema e música o impede de ter muito contato.

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidos do mês