Umarizal: 62 anos de emancipação e de um povo forte

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O Texto abaixo é deste editor, publicado em 2006 na edição nº 16 da saudosa Revista Preá. Após 14 anos minhas recordações são poucas, mas lembro de uma cidade urbanisticamente organizada como poucas que conheci à época. Ruas largas, quarteirões simétricos e uma tranquilidade noturna atípica mesmo para uma cidade interiorana.

A figura de Felipe Gomes é outra lembrança gostosa. Sujeito brabo, típico cabra macho de interior. Seu relato das lembranças de Lampião, frequentador assíduo em sua fazenda em Pernambuco, como herói que a criançada se inspirava, além dos elogios encabulados à beleza de Maria Bonita, perto de sua esposa, pagaram a viagem.

Umarizal me vêm à lembrança de forma simpática. De receptividade sertaneja farta por onde visitávamos, da mega fábrica Vicunha, da tranquilidade apesar do jeito aparentemente ríspido dos moradores. Mas tudo são recordações. Mais abaixo, um pouco da história e de outras impressões mais vivas, de 14 anos atrás.

Umarizal: efervescência e diversidade cultural

Umarizal, a 405 km de Natal, ainda é uma jovem cidade. Há exatos 62 anos, em 27 de novembro, se desmembrava de Martins para ganhar o status de novo município potiguar.

Muitos moradores, sobretudo os mais antigos, deixaram sítios e fazenda de criar e de plantar para morar na cidade, que prosperava amparada no ciclo algodoeiro.

Talvez por isso, a receptividade sertaneja ainda resista tão latente em Umarizal. O município, que chegou à condição de terceiro em arrecadação do Estado, hoje vive em função dos empregos gerados por uma grande empresa fabricante de carrocerias.

O ciclo do algodão ou a feira livre da cidade, que aglomeravam visitantes de todas as regiões, são hoje apenas retratos de um passado rico.

O nome Umarizal pode ter surgido em referência à grande quantidade de árvores chamadas umarizeiras. Mas hoje o que se encontra em cada quarteirão da cidade são as árvores sempre-verdes. São elas que emprestam alguma sombra às ruas.

Mas Umarizal já colecionou outros nomes. Antes de se constituir Vila Divinópolis, em 1938, a região tinha o nome de Gavião. A originava da povoação formada às margens do riacho homônimo.

Como escreveu Manoel Onofre Jr, a ocupação daquelas terras se deu no início do século 18, quando foi concedido ao padre Manoel Pinheiro Teixeira e a Joseph Ferreira, terras situadas entre as serras de Mãe D’água e Catolé, às margens do riacho Umari.

Parte dessas terras pertenciam ao padre João de Paiva e ficava na nascente do riacho Gavião.

Em 1902, escreveu Câmara Cascudo no livro Nomes da Terra, o povoado de Gavião já contava com cemitério, capela e algumas casas de taipa e palha.

E foi em volta do cemitério, puxada pela movimentação de uma feira livre repleta de cantadores, violeiros, folhetos de cordel, comidas típicas e artesanatos variados em cerâmica lúdica, utilitária ou decorativa, que a cidade cresceu.

A capela do Sagrado Coração de Jesus, hoje igreja matriz, também foi construída em 1902, por iniciativa do padre Abdon Melibeu. Mas, como tantas outras, está distante da arquitetura original. O seu oratório tem pouca semelhança com os de estilos antigos.

No entanto, muito da história do município está preservada na memória de moradores ilustres, como dona Telva Menezes, de 98 anos. A irreverência em conjunto com a valentia de seu povo pode ser retratada pelos depoimentos, recordações e trejeitos de Felipe Gomes de Souza, de 80 anos, e suas lembranças de Lampião.

O escritor Mário de Andrade, considerado o papa do modernismo brasileiro, quando de passagem pelos interiores do Nordeste, em 1929, caracterizou os moradores do povoado de Gavião como “gente brigona, acangaceirada”.

Mas a julgar pela simplicidade do empresário mais bem sucedido da região, Joaquim Suassuna Filho, 70 anos, ou mesmo pelo silêncio das ruas nas notes de Umarizal, a verdade é outra.

O estilo pacato ou a riqueza também se encontram naqueles onde a simplicidade foi oferecida como sina do destino. O violeiro e cantador Raimundo Praxedes é um destes. Considerado dos nomes mais representativos da cultura popular de Umarizal, vive sem apoio ou estímulo para espalhar sua poesia pelos recantos nordestinos, como a maioria dos poetas, cordelistas e cantadores populares de outrora.

A Umarizal de ruas largas, do senador Zezito, ainda abriga outras expressões culturais. Mas, a decadência da antiga feira livre, vitrine para mostra e venda de produtos artesanais e das artes plásticas da cidade, contribui para o anonimato desses personagens.

A Casa de Cultura Popular instalada no município ainda serve de espaço para algumas exposições ou apresentações de grupos como o “Relendo Araruna” e a companhia teatral “Arte & Riso”, sobretudo durante os eventos da cidade. Umarizal ainda é riqueza na tradição e na cultura de sua gente.


 

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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