Terminei a crônica anterior (LEIA AQUI) ao afirmar que a humilde Jovita Alves Feitosa (1848-1867) tem seu nome inscrito no livro de Heróis e Heroínas da Pátria, desde 2018. A primeira mulher que recebeu essa honraria foi a baiana Ana Néri (1814-1880), heroína da guerra do Paraguai, com uma atuação de muita coragem e brilho na área da enfermagem, a ponto de torná-la patrona dessa profissão no Brasil.
A guerra do Paraguai registra um marco primevo de agressão, visto como um estopim, quando o forte Coimbra, no Mato Grosso, sofreu ataque das tropas de Solano Lopez. Em 1864, formou-se a Tríplice Aliança, que reuniu Argentina, Brasil e Uruguai, a fim de combater o pequeno Paraguai. Parecia desigual, mas o Brasil estava despreparado para enfrentar uma guerra, pois o efetivo do exército era pequeno e pouco treinado. Assim, em 7 de janeiro de 1865, o governo criou, por decreto, o Corpo de Voluntários da Pátria.
O escritor e historiador José Murilo de Carvalho, em mais um excelente livro, sob o título “Jovita Alves Feitosa – Voluntária da Pátria, Voluntária da morte” (2019), compõe uma ótima biografia dessa mulher simples e seus exemplos de bravura e de amor à pátria, ao lado de dados históricos da Guerra do Paraguai e do Corpo de Voluntários da Pátria. No livro, destacam-se diversas criações de poetas e escritores brasileiros, até mesmo Machado de Assis, fazendo coro com o entusiasmo patriótico que eclodiu em todo o país. Joaquim Nabuco produziu, em outubro de 1865, um hino de aclamação aos Voluntários, com o refrão: “Levantai-vos, soldados da pátria;/ ide avante vingar a nação!/ E voltai glorioso da luta/ Ou morrei abraçado ao pendão!”
Depois de muitos aplausos e louvores para a voluntária da pátria Jovita Alves Feitosa, vieram as decepções. Ao chegar ao Rio de Janeiro, a fim de esperar o embarque para a frente de batalha, sofreu enorme frustração, pois o Ministério da Guerra retirou sua patente e permitiu sua participação somente nas funções de retaguarda, a exemplo dos serviços de saúde. Diante desse marcante desgosto, Jovita regressou à casa paterna, mas não recebeu guarida. Voltou a morar no Rio, onde conheceu e passou a namorar o engenheiro inglês William Noot. Sem prévio aviso, Noot retornou ao seu país, e a amante, no mesmo endereço dos encontros do casal, foi achada morta, com um punhal cravado no peito. A polícia do Rio atestou suicídio. E conclui José Murilo de Carvalho: “Rejeitada pelo Governo, pelo pai e pelo amante, decidiu rejeitar a vida”.
Em 12 de abril de 2012, a atuante deputada Sandra Rosado, do Rio Grande do Norte, apresentou projeto de lei que incluía Jovita Alves Feitosa no Livro dos Heróis da Pátria. Nas justificativas, Sandra Rosado vê Jovita sob duas militâncias: cívica e feminista. Em 12 de dezembro de 2018, Jovita foi inscrita no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.