Olá cervejeiros vitaminados!
Alguma vez já tiveram a oportunidade de degustar uma cerveja que parece mais uma vitamina (que uma cerveja propriamente dita)?
É bem possível que (ainda) não, mas, essa é uma forte tendência no mercado cervejeiro: as chamadas Smoothie ou Slushy Beers.
Em uma tradução direta, Smoothie é o mesmo termo utilizado para se traduzir “vitamina”. Ou seja, qualquer batida com leite e frutas, muito populares tanto aqui quanto nos Estados Unidos, por exemplo, é chamada de Smoothie.
Buscando agregar a cremosidade própria das vitaminas, com os aromas ricos das cervejas (artesanais), o mercado tem se inclinado à produzir cada vez mais esse (sub)estilo cervejeiro ainda pouco explorado. Buscando agregar cremosidade, um aroma frutado abundante, e outros aromas e sabores cervejeiros, tais cervejas são o mais próximo que se pode encontrar entre o cruzamento de uma vitamina (Smoothie) e uma cerveja (Beer).
Assim, na coluna de hoje, vamos conhecer um pouco mais desse (sub)estilo cervejeiro, que é novidade, e está agradando bastante os beer geeks (os fãs das inovações cervejeiras de um modo geral).
Uma cerveja vitaminada e com frutas
As Smoothie Beers não são exatamente um novo estilo de cerveja. Na verdade elas devem ser consideradas como uma repaginada que foi dada em um estilo já preexistente e muito versátil: as sours. Então, o estilo de cerveja utilizado como base na produção das Smoothie Beers são as sours, cervejas, como o próprio nome em inglês já enuncia, ácidas.
Ademais, a base de sour confere as Smoothie Beers uma possibilidade de manipulação do resultado final que é mais fácil de ser trabalhada pelos cervejeiros e pelas cervejarias, já que são acrescidos muitos adjuntos até se chegar ao que se almeja: uma cerveja que tenha a aparência de uma vitamina, um sabor frutado e uma textura bem viscosa e “grossa”.
O intento ao se produzir uma Smoothie Beer consiste em, justamente, emular os aromas e sabores que se conseguiria ao se produzir uma vitamina, com o toque cervejeiro, que lhe deve ser ínsito. Assim, para se chegar ao efeito visual e gustativo pretendido, faz-se imperiosa a adição de dois componentes básicos: as frutas e a lactose.
Fruta, muita fruta!
A adição de frutas é essencial porque toda vitamina, ou até mesmo a “sobremesa” conhecida como “raspadinha/geladinho” (frozen/slushy – nos EUA são muito comuns as máquinas de Slushies, praticamente toda conveniência tem uma), que geralmente é apenas o suco da fruta e a gelo raspado (por vezes com algum destilado, vodca ou cachaça), conta necessariamente com frutas em sua composição.
Não obstante, a adição das frutas, além de conferir os aromas e os sabores próprios de cada fruto escolhido, tem o intento de dar o aspecto de “batida” à cerveja, fazendo com que ela seja turva e até mesmo tenha pedaços da fruta in natura, tal qual acontece quando o liquidificador não é ativado em sua máxima potência ao misturar a vitamina. Para que isso seja possível, é necessária a adição da fruta na fase de maturação. O acréscimo da fruta nessa fase não impede que haja adições desse adjunto em outras fases, todavia, apenas nessa fase que se consegue fazer com que o aspecto de vitamina seja alcançado.
Tecnicamente, o resultado obtido com essa adição de frutas na maturação poderia ser considerado como um “trub a frio” (leia mais sobre trub aqui), já que há um verdadeiro acúmulo de sedimentos em suspensão. Contudo, os sedimentos em questão são pedaços da própria fruta, colocados com o fito de realmente emularem a vitamina, a qual, não raramente, possui fragmentos das frutas dispersos em seu interior.
O resultado obtido com essa técnica de se adicionar a fruta na maturação é visualmente muito parecido com as Smoothie, muitos pedaços na cerveja e um acréscimo considerável de corpo ao líquido sagrado.
Viscoso mais gostoso!
Além das frutas e do visual naturalmente com trub, outra característica peculiar das Smoothie Beers são o seu corpo volumoso e seu sabor adocicado.
Toda vitamina é misturada em um dispositivo multiprocessador (ou um liquidificador) em conjunto com o leite. A mistura faz com que o resultado final seja um caldo bem mais grosso que um simples suco ou sumo extraído diretamente da própria fruta.
Com o esforço de conferir e um corpo mais volumoso e mais “grosso” às Smoothie Beers, é necessária a adição de lactose (que também é derivada do leite, tal qual é operado na receita original das vitaminas). Ou seja, ela é adicionada apenas com o fulcro de outorgar o resultado mais encorpado à cerveja.
Importante salientar que, nesse caso, a adição de lactose não será responsável pelo maior dulçor da cerveja, sendo ela capaz de apenas dar mais volume e dar uma maior densidade à cerveja, não tornando-a mais doce por causa disso.
Além do aspecto visual já mencionado, e do corpo mais elevado, resultado da adição da lactose, as Smoothie Beers também tendem a ser mais doces. A doçura é algo que advém da própria fruta utilizada e também dos maltes escolhidos, que utilizados com uma alta carga, acabam conferindo um teor de dulçor mais expressivo ao conjunto (ainda que, por vezes, também haja adição de açúcares).
A acidez é algo que é própria do estilo base (que é uma sour), no entanto, essa característica também acaba sendo ressaltada pela utilização de algumas frutas que possuem por si próprias também esse caráter mais ácido, e, por vezes, mais azedo também, combinando com os demais elementos essenciais do (sub)estilo em questão.
Por causa dessas duas últimas características, o dulçor e a acidez, é comum que se refiram as Smoothie Beer/Slushy Beers como sendo Pastry Imperial Sours. De modo geral, essa nomenclatura não está errada, aliás, talvez seja mais coerente, tecnicamente, já que combina as altas cargas (Imperial) de malte (e com o teor alcoólico um pouco mais elevado em função disso) com o dulçor elementar (Pastry), e atreladas ao estilo base, que é a sour (cervejas ácidas).
Porém, parece que a associação com as vitaminas e com as raspadinhas que se consegue ao mencionar, respectivamente, os termos Smoothie/Slushy caiu mais no gosto dos consumidores, sendo algo de mais fácil assimilação do que tratar de Pastry Imperial Sours.
De toda forma, as três nomenclaturas servem para designar exatamente o mesmo subestilo: cervejas com adição de altas cargas de frutas, inclusive na sua maturação, com acréscimo de lactose, e que possuem aparência, aroma e sabores que remetem à vitaminas.
Saideira
Derradeiramente, podemos observar que as Smoothie/Slushy/Pastry Imperial Sours são cervejas em alta no momento. As mais diversas frutas são adicionadas para chamar cada vez mais a atenção dos consumidores.
Além das clássicas frutas vermelhas (morango, amora e framboesa), mais cervejas com adição de banana e mamão estão sendo produzidas para emulares vitaminas (das mencionadas frutas). E aí, você gostaria de experimentar uma cerveja que parece uma vitamina?
Música para degustação
Como o tema de hoje são as Smoothies, fica como registro de recomendação musical a clássica: Smooth Operator, da cantora Sade. Um clássico dos anos 80, com bastante suavidade para acompanhar a sua vitamina/Smooth Beer.
Saúde!
4 Comments
[…] no modo explicativo do que é a Smoothie Sour, afinal, já fiz um texto com essa finalidade (confira clicando aqui). O intuito primordial do texto em desenvolvimento é mais provocativo e questionador do que de […]
[…] tópico já foi objeto principal de um texto inteiramente dedicado a ele (clique AQUI). Então, os pormenores técnicos sobre o assunto podem ser conferidos no link […]
[…] nós tenhamos que acompanhar, vide os casos das variedades de IPA’s, ou até mesmo o exemplo das Smoothie Beers (clique aqui). A variedade pela novidade acontece tanto pelos estilos cervejeiros que já existem quanto por […]
Extremamente pertinente trazer uma explanação sobre essa novidade principalmente para que inicia nesse meio. Parabéns