Skarimbó, uma banda potiguar para dançar e escutar

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É possível um som de influências africanas, latinas, nordestinas e ainda carregado de sotaque potiguar no vocal possuir uma identidade própria? Sim, acho que sim. A banda Skarimbó mistura tudo isso e foge de outros sons similares.

A comparação mais próxima que consegui identificar foi a Orquestra Contemporânea de Olinda. Ainda assim, o sexteto potiguar não é orquestra e nem é de Olinda, e tem uma aura mais atemporal do que a pegada contemporânea de raízes ruralistas pernambucanas.

Talvez se assemelhem nas letras de temáticas mais universais com sotaque local. Acho o timbre de Geraldo Gondim, vocalista da banda, parecido com o do Maciel Salú.

E também tem outro ponto incomum: a “facilidade” de fazer a galera dançar em ritmos cirandeiros, latinos e gêneros correlatos sem ter, no entanto, esse propósito como foco do trabalho.

Mas a Orquestra tem como referência a sua Olinda. E o Skarimbó? Não identifico os costumes ou a cultura natalense nas letras – se não uma gíria ou outra – e muito menos no som. Seria minha primeira pergunta ao Geraldo Gondim: Qual sua principal influência?

Nas letras predominam as alusões do mar e do carnaval com o amor, e embora essa relação seja manjada, as metáforas são muito boas; boas mesmo! E também um olhar introspectivo e autoconfiante, no geral numa forma positiva de ver o mundo, o futuro ou seus amores perdidos, mas sem pregações.

Disso se constrói um som vigoroso e leve ao mesmo tempo, para dançar ou escutar. Denso na harmonização de músicos que me parecem de diferentes origens musicais, e leve na batida de instrumentos como ukelele ou baixolão. E um repertório relativamente já numeroso para quase quatro anos de banda.

Em Emaranhado, as duas primeiras estrofes dizem assim:

“Meus sentidos se fundem,
não são mais os mesmos.
Não sei o teu corpo, teu gosto, teu cheiro.
Ao entregar-se ao amor é preciso coragem.
Carrego a saudade por todo lugar.
Pegadas que ficam na beira do mar.
Fogo de artifício de um anjo festeiro,
que engana o tempo, que é sempre ligeiro
e instiga a vontade de lhe curiar”.

É tão fácil pintar com as nuvens do céu
Um pouco de tinta fazendo poeira
Construa o amor da sua maneira
Não deixe a vaidade entrar na história
Um homem que sente é um homem que chora,
que morre afogado nas gotas do mar.”

E vem o refrão:

“Emaranhado, de mar
Emaranhado, demais
Emaranhado, de mar
que o mar é tão grande”

(vale colocar a impressão de minha mulher quando me ouviu escutando o Skaribmó: “Tem alguma coisa de Dusouto, ne?”. Eu respondei que talvez fosse o sotaque. Ela concordou, sem muita convicção.)

Em Sonzinho Fuleiro há mais referências locais e até combina mais com o carimbó, que parafraseia o nome da banda. Em O Carnaval Passou, a guitarra baiana de Armandinho está presente. Malagueta carrega algo de embolada. Diferentes gêneros percebidos, mas sempre personificados sob um manto identitário musical consistente.

Mas é complicado identificar essas influências locais, seja na letra ou nos arranjos. Lembro que perguntei, quando eu era jornalista, ao músico mineiro radicado em Natal, Zé Marcos, qual a influência do cotidiano mineiro na música do Clube da Esquina, e ele simplesmente não soube responder.

Eu cresci no Barro Vermelho. Por mais bluseiro que fosse meu som será que aqueles tantos jambeiros de minha rua ou os CDs de brega e do Trio Irakitan que meu pai ouvia não estariam presentes, de alguma maneira, em alguma canção que eu compusesse?

Apenas achei o Skarimbó com uma pitada mais cosmopolita, assim como o Luisa e os Alquimistas, do que o Dusouto, por exemplo. Não que isso seja melhor ou pior. É apenas um estilo, uma “lombra geral”, algo de caliente, de ska, de carimbó, algo para esquentar corações sofridos, um merengue para dançar em sinergia com a banda e mais um talento potiguar para se orgulhar.

 

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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