Single Hops: A série “I’m…” da HopMundi

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O objetivo primordial dessa coluna é informar e, também, trazer conteúdo sobre análises que envolvam o universo cervejeiro e suas mais diversas ramificações, sejam elas técnicas, sociais, econômicas, e até mesmo políticas, por que não? Então, o que esperar: análises imparciais (não passo pano para ninguém e elogio só quem merece) e ironia cortante (nem todo mundo alcança).

Reclamam que eu escrevo para “criticar”, como se a “crítica” fosse algo “ruim” ou “pejorativo” – perdoai-vos Kant, os infiéis sequer sabem o que é uma “crítica”, talvez não tenha lido nem a Crítica da Razão Prática, nem a Crítica da Razão Pura (Magnum Opus) e muito menos a Crítica do Juízo (deveras relevante, já que nessa obra se fala o que é um “juízo de gosto”).

Para além dessa breve digressão introdutória, os ares de agora se focam no “oposto da crítica”, uma evolução tremenda para quem pede a “crítica da crítica” (SIC – seja lá o que for isso…). Vou me debruçar a desvelar um projeto bem legal da cervejaria potiguar HopMundi, que lançou uma série de Single Hops denominada de “I’m…”.

Single Hop: Em série

Eu particularmente sou um grande fã de Single Hops, especialmente quando elas servem a um propósito maior de trazer um conjunto de lúpulos e de agregar uma experiência mais didática a quem degusta as cervejas. Single Hops, para os neófitos é quando em uma cerveja se emprega apenas um único lúpulo, ou seja, single = único (singular) e hop = lúpulo.

Não é propriamente uma técnica, e sim uma escolha do cervejeiro em realçar determinadas características que aquele lúpulo em específico pode trazer, isolando-a, sem “blendar” (ou seja, misturar com outros lúpulos) para que suas características mais marcantes sejam mais nitidamente ressaltadas.

Quando se faz algumas cervejas Single Hop em série, tenta-se, ao mesmo tempo e usando a mesma base maltada (neutra) e mesma levedura, destacar as características de alguns lúpulos (geralmente recém lançados no mercado) e também dar certa unidade a uma degustação pareada das cervejas produzidas.

De um modo bastante interessante, se agrega características singulares dos lúpulos, mas, também dá uma maior possibilidade para que as cervejas sejam degustadas concomitantemente, e, assim, extraia-se uma experiência mais rica em demarcação de aromas e sabores, como também de suas aproximações.

A Série I’m…

A cervejaria natalense HopMundi foi responsável por 3 grandes Single Hops memoráveis lançadas esse ano.

Por mais que não seja algo inovador por si produzir Single Hops, tanto que a série Lover da Dogma foi o marco inicial do boom das NEIPAS no Brasil em 2015, a HopMundi teve o grande mérito (palmas!) de trazer alguns lúpulos ainda (quase) desconhecidos no Brasil.

A cervejaria também se utilizou pioneiramente do lúpulo Strata, já que foi a primeira Single Hop de Strata do Brasil na época de seu lançamento (março de 2020 – por mais que a Koala San Brew ignorasse esse fato e tenha, erroneamente, anunciado que sua Stratacaster era a primeira Single Hop de Strata).

A série I’m… é composta pela I’m Strata, I’m HBC586 e I’m HBC 692, cada uma sendo Single Hop do respectivo lúpulo. HBC é o acrônimo da empresa (Hop Breeding Company) que produz os lúpulos e ela simplesmente os nomeia numericamente, antes de conferir-lhes um nome comercial, daí se chamarem provisoriamente HBC 586 e HBC 692. Todavia, esse último já foi renomeado comercialmente como Talus.

I’m Strata – Dank e herbal

I’m Strata foi a primeira a ser lançada, e trouxe o hypado lúpulo que apresentava características de muito “dank” (em uma tradução literal seria “úmido”, mas trata-se de uma percepção muito singular e de difícil descrição) e aromas próximos ao da Cannabis sativa (o lúpulo e a planta polêmica em questão são “primos”), algo que aumenta ainda mais o hype em torno do lúpulo em tela.

Na avaliação, a I’m Strata não decepcionou, com leves toques de frutas vermelhas, como morango e goiaba, citricidade mediana-baixa, e com grande destaque para tons herbais e florais, ela lembrava vagamente a planta adorada pelos Rastafáris, e sua complexidade absurda era o ponto alto.

I’m HBC586 – Uma salada de frutas tropicais

A I’m HBC586 seguia a mesma linha inovadora da sua antecessora, e possuía um frutado intenso, com bastante frutas regionais como caju, seriguela, pitomba, mangaba e umbu. Seus tons herbais e florais eram tímidos, já que sua proposta era ser frutada. Era detentora de uma acidez contida e elegante, corpo mediano e amargor baixo, destacando-se precipuamente pela miscelânea de frutas (pouco usuais) em uma NEIPA.

I’m HBC692 – Tem coco até o Talus

A terceira e última da série foi a I’m HBC692 (nee Talus). Na análise técnica dela, tinha-se no aroma, frutado em primeiro plano, muito caju, seriguela e muito coco, herbal secundário. No sabor, leve picante, corpo juicy, frutado alto, com muito caju, carambola, leve tons de jaca, herbal e floral com pouco destaque, sendo seu amargor mediano.

Nessa cerveja, além de frutas pouco comuns, como a jaca, há um grande destaque para a percepção de coco, em específico, o coco verde, recém aberto, ou como alguns chamam, a “lama do coco” bem fresca, algo bastante singular e bastante inovador.

Det Som Engang Var[1] – Uma reprise

Já que toda postagem tem que ter sua polêmica (#ChoraHater), há de se dizer que na época em que foram lançadas cada cerveja saiu a aproximadamente 20 Bolsoringas, contando com as extras, um preço bem razoável outrora e não mais praticado hodiernamente – os experts vão dizer que é culpa do “custo Brasil”, já que aqui tem direitos trabalhistas demais…

Espero que não demore muito e os preços voltem a ser o que eram antes, sem que seja necessário que Boulos “invada” e estatize todas as fazendas de lúpulo do vale do Yakima[2] (contém ironia, ele não vai sequer “invadir” nem sua casa de 32m² do “Minha casa minha vida” que você comprou no Guajiru, quanto mais fazendas de lúpulo no noroeste americano).

A Saideira

A série “I’m…” foi marcante no desenvolvimento do cenário cervejeiro potiguar, diria que colocou a HopMundi em “otopatamar” para citar o grande “filósofo” rubro-negro Bruno Henrique #27.

A satisfação com esse projeto de Single Hops foi tão grande que em parceira com o professor Dr. Marcos Nascimento[3] (UFRN) fizemos uma análise técnica gráfica das 3 cervejas, quantificando de 0-10 os seguintes elementos: Citricidade, Dankness, Herbal, Floral, Acidez, Malte, Corpo e Amargor. O resultado dessa análise sensorial técnica pode ser conferido a seguir.

A boa notícia final é que a HopMundi já planeja mais uma série de Single Hops para o ano que vem, ou seja, mais coisa boa a caminho.

Música para degustação

Por fim, já que o texto trata de uma parente da Cannabis, deixo como sugestão musical de degustação a minha música preferida do Bob Marley: “Iron Lion Zion”, já que não sou (nem nunca fui) usuário e acho o Planet Hemp bem simplório, musicalmente falando.

Chill out bro e Saúde!


[1] Se você é novo por aqui, entenda o que isso quer dizer vendo a primeira publicação dessa coluna.

[2] Maior região produtora de lúpulo dos Estados Unidos, responsável por 75% do plantio dos lúpulos americanos,  localizada no Estado de Washington, noroeste dos EUA.

[3] Registro aqui o meu agradecimento ao prof. Marcos que gentilmente cedeu os gráficos de nossa análise para a publicação.

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

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A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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1 Comment

  • Marcos Nascimento

    #tamosjuntos amigo

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