A primeira referência documental sobre a atual Rua Vigário Bartolomeu, na Cidade Alta, em Natal, data de 30 de junho de 1814, quando foi concedida uma terra, pelo Senado da Câmara, a José Manuel Reis. O beneficiário pretendia “erigir uma morada de casas de taipa, térreas, na rua da Palha”. Observa-se que a primitiva denominação daquele logradouro público de Natal, era Rua da Palha. Segundo o historiador Luís da Câmara Cascudo, aquele topônimo “configura o material empregado na construção”.
Em 11 de setembro de 1827, foi concedida a Antônio Pereira dos Santos uma data de terra “na Rua da Palha… ao norte da casa de Bartolomeu da Rocha Fagundes”, o Vigário Bartolomeu, também morador na mesma rua que depois receberia seu nome.
O último registro existente de concessão de terras pelo Senado da Câmara de Natal, naquela rua, data de 7 de março de 1829, cujo beneficiário foi Manuel Fabrício.
A atual rua Vigário Bartolomeu fazia parte do percurso dos sentenciados à forca. Serviu também de cenário para apresentações de artistas amadores, que se utilizavam de teatrinhos improvisados. Era a rua onde ocorriam os grandes carnavais de Natal.
Das festas populares, era o carnaval uma das mais animadas. Podemos dizer que se mantém a tradição, pois é a única festa em que todos são iguais, sem distinção de raça, idade, sexo ou classe social. São três dias de liberdade e de direitos iguais.
No século XIX, já era usual jogar-se água e farinha de trigo em quem caísse na folia. A diferença dos velhos carnavais da rua Vigário Bartolomeu para os atuais, revelava-se na espontaneidade e ingenuidade de outrora, quando ninguém faria comércio ou tiraria proveito próprio, sendo realmente uma festa popular. Os blocos dos jovens e adultos fantasiados desfilavam pela rua. A animação musical era proporcionada, principalmente pelas marchas carnavalescas, não existindo o som estridente e eletrizado de hoje.
O carnaval saiu da rua Vigário Bartolomeu e perdeu a identidade com as novas gerações.
Um decreto municipal mudou, em 1888, a antiga denominação de rua da Palha para Vigário Bartolomeu, no seu trecho compreendido entre o antigo Quartel da Tropa de Linha (espaço atualmente ocupado pelo Colégio Winston Churchill) até os alicerces do mercado que existia na atual praça Padre João Maria). O trecho seguinte, em direção ao Baldo
e que também pertencia à antiga rua da Palha, recebeu a denominação de rua 21 de Março, correspondente à atual Gonçalves Ledo.
Vigário Bartolomeu
A denominação concedida à antiga rua da Palha representou uma homenagem póstuma prestada ao Vigário Bartolomeu, seu antigo morador.
Bartolomeu da Rocha Fagundes nasceu no distrito de Vila Flor, Canguaretama/RN, em 8 de setembro de 1813. Ordenou-se sacerdote, sendo nomeado em 1839 coadjutor e vigário encomendado da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação de Natal. Passou por todos os estágios da carreira eclesiástica: coadjutor, pró-pároco, vigário encomendado e vigário colado, na mesma freguesia, no decorrer de 34 anos.
O Vigário Bartolomeu foi político e um grande orador. Pertencia ao Partido Liberal, tendo sido deputado provincial em quatro legislaturas. Chegou a governar a Província em 1868, como vice-presidente. No entender de Câmara Cascudo, o Vigário Bartolomeu era “chefe luzia, caridoso, devotado, cioso de sua palavra, empunhando o malhete da sabedoria nas lojas maçônicas’’.
Em 23 de março de 1873, foi suspenso de ordens, pelo bispo dom Frei Vital, por recusar-se a abjurar a maçonaria. O episódio causou intensa revolta na população de Natal, que reunida defronte à Igreja do Rosário dos Pretos, protestou contra a substituição do Vigário Bartolomeu, que nunca foi esquecido na memória dos seus paroquianos.
O Vigário Bartolomeu faleceu quatro anos depois, no dia 2 de novembro de 1877, na cidade do Recife, em Pernambuco.
ILUSTRAÇÃO: Lenilson Jonas Júnior
3 Comments
[…] de um amplo e belo prédio, que ocupava a esquina das ruas Ulisses Caldas e Vigário Bartolomeu, chegando até ao prédio da Prefeitura. Durante muitos anos, foi o único cinema de Natal. Os […]
A rua da minha infância, morei aí entre 1984 a 1990. Foram os melhores anos de minha infância. A casa da qual morei, com fachada de estilo eclético, foi “destruída” e transformada em uma “oficina abandonada”, na frente da casa das aves. Baile das kengas, bares boêmios, o vice-versa, a galeria(o shopping da época), praça padre João Maria, uma igreja evangélica (que assustou por um tempo com suas práticas estranhas, amarravam as pessoas), mercado são Cristóvão e o juizado de menores são algumas lembranças da minha linda infância. Obrigado por esse resgate tão importante! Natal precisa cuidar e mostrar sua história.
Obrigado por esse complemento massa, Allan!