O Beco da Lama é outro desde alguns meses. Bastou alguma atenção municipal para um resgate inédito da auto-estima do maior centro boêmio de Natal. E nem falo das adjacências também beneficiadas. Mas o beco legítimo, agora movimentado e colorido.
Quando cito “alguma atenção municipal” é porque bastou direcionamento de recursos. Poucos! Latas de tinta, alguns shows, grafiteiros e um edital minguado. E se viu e se vê resultado. Daí a pergunta: e por que não, também, a Ribeira?
Se o Centro tem entidades articuladas para colaborar com a Prefeitura, como o Viva o Centro e a Samba, a Ribeira tem artistas e comerciantes decanos dispostos a receber o poder público na batalha diária para manter a Ribeira cansada de guerra ainda viva.
Essa semana o prefeito Álvaro Dias derrapou num depoimento. Citou o trabalho promovido na Cidade Alta “para que não vire uma Ribeira”. Vamos descer a ladeira, prefeito, para que a Ribeira suba no salto e também ganhe sua auto-estima merecida.
Nem que seja o básico: pintura, iluminação e restauração/manutenção de prédios históricos. Divulgação também ajuda. Aquele pouco investimento que se provou gerar resultado. Eleição vem aí e todos podem sair ganhando, num gerúndio duradouro.
Entraves mais complicados
A questão da segurança é sempre um imbróglio difícil, sobretudo em um bairro hoje visado pelo tráfico de entorpecentes em razão do Porto de Natal. Mas hoje mesmo a prefeitura publicou no Diário Oficial a contratação de uma empresa privada para atender necessidades dos eventos do calendário cultural de Natal pelo período de 1 ano e sob a bagatela de quase 900 mil reais. Talvez traga, pelo menos, a sensação de tranquilidade aos eventos.
Outro problema de décadas na Ribeira são os termos de propriedade e posse. Recordo no boom de restaurantes e casas de show em fins da década passada, iniciada com o Buraco da Catita. Tinham pelo menos mais uns quatro na mesma rua que formavam um corredor cultural interessante e promissor, movimentado à época. Escrevi matéria para o Diário de Natal a respeito e lembro de uma reclamação recorrente: a dificuldade em comprar a propriedade para firmar o negócio.
A Prefeitura poderia fazer um levantamento e tentar regularizar essa situação. Viabilizaria negócios ali. Incentivaria a densidade comercial, cultural, populacional e traria mais segurança, economia e movimentação. Mais vida à Ribeira! Hoje se tem o abandono de prédios históricos, uma Rua Chile saudosa de outros tempos, poucos centros culturais resistentes e um Beco da Quarentena cansado de intervenções artísticas temporárias para chamar a atenção de um poder público caolho.
A Ribeira tem tradição. Boêmia e cultural. Tem repartições públicas importantes para o caminhar da capital e do Estado. Tem charme, apesar de nascer de costas para o rio. Tem quem queira colaborar com ações construtivas. A Ribeira tem potencial para muito, mas muito mais. Portanto tem voto, sim, seu prefeito. Já pensou num resgate do Circuito Cultural Ribeira pelas mãos da Prefeitura? São dezenas de milhares de pessoas circulando no bairro a cada edição.
Pense nisso, seu Álvaro! 2020 já bate à porta. Não deixa que o cinza da Ribeira encubra o colorido da Cidade.