Preciso viajar. Viajar é se encaminhar ao mais tolerável dos lugares, aquele aonde não estamos ainda. Ontem, por frustração, defenestrei o boneco do Google Street View num ponto arbitrário do mapa. Meu avatar lamentável se estatelou justo numa estrada búlgara, tipo um Cristinho de camelô. Sem apóstolos, sem reis magos, sem teo-ziriguidum.
Ainda não me convenci da existência da Bulgária. Seja. É uma boa estrada, tem cara de Bulgária. É a estrada búlgara que merecemos. Parece sólida. Um cara pode percorrê-la, arrastando seus entrefolhos dum ponto a outro, sem tombar em precipícios infindos. Eis, em essência, o que se demanda duma estrada.
Piores veredas há. A chave da vida está toda no Super Mario, é tudo cornitude e entrar pelo cano. Há despenhadeiros, para onde escoam-se cadáveres de tartarugas rumo ao não-ser. Sem nota de óbito no clarim local, desapaixonadamente. Não há clemência para as tartarugas de arcade. Vivem e perecem num vácuo moral de estrita apatia cósmica.
A estrada búlgara corta o Nada, como se vê. É tudo gelo, tudo gelo. O ultimato é ineludível. A Bulgária, se existe, é uma merda. Na foto diz, também, que a primeira desbravadora do ponto búlgaro fortuito é a enigmática Anna N. Oh, abscôndita Anna N., Colombo das anti-Indías, Sir Shackleton do anti-lugar. Por que essa estrada, Annie? Essas Índias do desencanto? Já sei. É a sua clássica índole oracular.
Vamos combinar um goró nesse ponto medial da ausência búlgara. O que se bebe na falsa Bulgária? Falsa vodka? Feita da fermentação de batatas hipotéticas, espectrais, apócrifas? A autêntica antibatata? Cultivada por filhos de gravidez histérica? Pouco importa. Nos empapuçaremos de fantasmagoria búlgara. Dançaremos e tropeçaremos mamados no corote da impersistência, Annie. No poente paraguaio dos bálcãs.