O natalense Oreny Júnior tem no berço o bairro do Alecrim onde viveu até os 7 anos de idade, em seguida transferindo-se para o bairro de Cidade da Esperança, onde criou-se entre as dunas, descendo as tábuas de morros, pulando barreiras, jogando bola nos campos de várzeas e escrevendo poesias até os dias de hoje. Estreou no livro impresso em 2016, com Fórceps. É um amante da literatura potiguar. Está, inclusive, montando um acervo de autores locais, para estudos e pesquisas. E um segundo livro está em processo. Aguardem cartas, ou melhor, poemas!
Oreny Júnior é nosso POETA DA SEMANA
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enlatados descartáveis
ao acordar fluores refrescantes nas dentaduras
na mesa plásticos temperados ao sabor manteiga
isentos de conservas antioxidantes
códigos de barras rastreiam a indocilidade
poemas distópicos nas embalagens e figurinos
com 0% de lipídios e ácidos graxos
esborracho-me ao chão com as alpercatas sintéticas
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um rio sobre a cabeça
a caminhante expõe um rio sobre a cabeça
num mar de barro
ambos se necessitam
ambos se esvaem
um dia foi água
outro será barro
sob o rio sua sede aumenta
esquálida afoga-se na aridez
do cônico pote
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precoce solidão
a solidão é colhida
na sua precocidade
à sombra de bonsais
expostas nas janelas
entre redes protetoras de suicídios
do vigésimo segundo andar
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cristalizações
raízes estéreis
formam quadros
com paisagens in vitro
onde os cílios não mais batem
cenários de estrelas mortas
não existirão mais noites brancas
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borboletas empalhadas
borboletas perderão suas asas e não terão mais o charme de butterfly
formiguinhas não sobrevoarão mais nas lâmpadas fluorescentes
tanajuras não anunciarão mais invernos nem tão quanto espetarei o palito na sua bunda
as cigarras somente piarão
nos vasos serão expostos somente flores de plásticos com bostas de moscas
todos os bichinhos estão empalhados e marcam as páginas dos livros da minha imaginação
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sonhos venosos
palavras com tromboses
línguas em fiapos
almas em desníveis
atos grogues
sonhos venosos