Ondequandocomo?… sei lá!…

ondequandocomo

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

Croniketa da Burakera #33, por Ruben G Nunes

Meus campanhas, brau!..

osch, meu fuso horário deve estar na China ou nas estrelas-perdidas… já é tarde!..

tô tomando meu café agora. Agora?  Ééé, nesse agora…

… mas que horas são?… 3 da tarde, manusho… duma tardemansa já toda se esticando na preguiça da chuva caindo lenta e cinza… os grilos do ouvido estão zunindo… há uma música chegando não sei de onde… talvez dum tempo sem tempo… dum lugar sem lugar… de sentires encruados… talvez d’amores ainda enroscados, sempre esvoando que nem gaivotas riscando sorrisos, chegadas, partidas, abraços… olhos-se-agarrandoestar-indo-emboraadeus, adeuses… ah! deuses!… ah! deusas!…

… barco longe navegando nos mares das paixões ainda e sempre… ondequandocomo?sei lá!..

… só sei que… quando estourar esse prazo de validade quase chegando quero ir de mansinho embrulhado em meus sonhos, em minhas músicas, em minhas lembruxas…

ok, tá legal marujo!.. mas será que a gente vai se ver de novo? – me perguntam as lágrimas e saudades, as amigas e amantes, as sombras e esperas… sei lá!..

chuvas e lembranças

… ei, garçon traz aí um uisk duplo!… preciso uisk-cavucar essas coisas todas…

tempotempos… pelo retrovisor da VidaViva vejo as cenas do que foi, mas que ainda estão ali plenas de vida se mexendo no telão dos embroglios… e aquelas músicas todas tocando… uisk-cavucando zentilhões de lembruxas e vagalumes…  por aívocê e eu… eu e você… me and you… recavando os cachos…

tempo tempos… pelo parabrisa da VidaViva, olho ali na frente, a última curva sumindo nos horizontes do Nada… ecos da seresta do adeus…choro…saudades… e da sinfonia dos silênciosombrasmistérios do Infinitaço… tempo zuindo num apenas nuncacabar de vidas, mortes, deuses… essas coisas… faz sentido, chefia?

tempo tempos… preciso uisksentir essas coisas todas… essas coisas de já estar na fila do check-in pras estrelas… esperando-esperandoesperando o Nada… como dizia Maestro Prentice, mano velho que já partiu pras estrelas-perdidas… essas partidas, esses prazos de validade imarcados… cruéis… que vão esgarçando o coração… tempo… tempos…

quem pediu pra nascer? quem pediu pra morrer?… nascer-pra-morrer-pra-nascer-pra-morrer… que trampa é essa, maluco?..  a gente vai se ver de novo?.. diz aí? há outra carnação?… a gente ainda vai tomáuma nas estrelas?.. ou a gente vai ficar zanzando infinito afora com nossa galáxia, numa louca velocidade de 2,3 milhões de km/hora pra chegar onde?… no Nada?… chegar a lugar nenhum?… fala quiporraé, mano!…ondequandocomo?…

quer saber, mano?… lembro Aliócha Karamazov, do velho Dostô, respondendo a umas crianças que perguntavam ansiosas se todos iam se ver de novo depois do fim de tudo… “Karamazov, é verdade – gritavam as crianças – o que diz a religião, que ressuscitaremos dentre os mortos, que nos reveremos uns aos outros?”

“Claro, – responde Aliócha – nós nos reveremos e nos contaremos de novo, alegremente, tudo o que se passou…”.

Sim, Aliócha, sim! É questão de fé? Ou desfé? Sei lá, mané!

Mas é bom sentir no coração que a Vida é um eterno enrosco de vai-e-vem. Sempre movida pela atração-retração do Amor. É bom sentir isso, Karamazov.

EnergiAmor.

Como um mar que tudo liga, abraça, enleva, espuma, rebenta, goza. Ah… mar! Ah… mar! Aaahh… mar!

Sim Aliócha, sim! E não foi isso que você ouviu do monge Zossima já morrendo, nessa fantástica trama desfilosófica de Os Irmãos Karamazov, do velho-Dostô?

“Tudo é como o oceano, tudo corre se toca, tu tocas em um ponto e teu toque repercute no outro extremo do mundo”

Tudo está em tudo. Eu e você somos a base do nós. Um nó-de-nós. Uma ciranda loucalegre…

ciranda, cirandinha

vamos todos cirandar!

vamos dar a meia volta

volta e meia vamos dar!

E todos se remexendo em eterno retorno, como filosofa tio-Nietzsche em “A Gaia Ciência”, de 1887:

cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!”.

Vamos nos ver de novo, sim… nem que seja no terceiro ou quarto uisk… e o garçon amigo vai-tá-aqui… é o mar vai-tá-ali… e quem é de Amor pra valer vai se reencontrar again, vai se enrabichar again, se engalhar again… e de boa, mago, de boa… pra além de tudo, de todos, de toda a Eternidade…

Sai da frente, mano, que a energia do Amor é bem mais forte que nós, como cantam Nicole Croisille e Pierre Baroux, no filme Un Homme et une Femme, 1966

mas é também a energia mais suave, mais doidona, mais toda que tudo e todos… que espicha-encolhe, sofre-des-sofre, goza-des-goza, arranca, arresta, arrosta, arrasta… ainda e sempretá ligado?… mas ondecomoquando a gente se vê de novo?… sei não, parça… pelaí… na firmeza dos engarranchos e sonhos…

Ruben G Nunes

Ruben G Nunes

Desfilósofo-romancista & croniKero

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas da semana