No campus central, um templo das artes

Escola de música da ufrn

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Na condição de Reitor da UFRN, de 1987 a 1991, assisti a vários recitais de professores e alunos da Escola. de Música, em auditórios com instalações precárias e improvisadas. Ficava evidente que os mestres, de elevado padrão profissional, e os seus discípulos, mereciam um lugar bem melhor para exercerem suas tarefas e para mostrarem seus talentos artísticos.  Um fato marcante foi a visita à UFRN de um trio canadense, que usava um piano. A direção da Escola sugeriu de a apresentação se fazer no auditório da Reitoria e, para suprir a falta do piano, foi disposto um teclado. O piano existente estava inacessível no auditório, sempre em obras, da E. de Música. Após essa marcante decepção, o Reitor resolveu comprar um piano de meia cauda para o auditório da Reitoria, decisão logo cumprida, e tudo fazer para construir um novo prédio para a Escola de Música, projeto que, felizmente, foi alcançado com total êxito.

Em novembro de 2022, a Escola de Música, criada pelo Reitor Onofre Lopes, celebrou seus 60 anos.  Sob a atual direção do Professor Zilmar Fernandes, a data foi festejada com apresentações musicais, homenagens e poucos discursos. A solenidade ocorreu no auditório Onofre Lopes, com capacidade para acolher público de 250 pessoas, dispondo de conforto e de acústica raros de se encontrar em locais com o mesmo destino. Um dos destaques foi a apresentação da orquestra filarmônica da UFRN, que conta com mais de 50 alunos da Universidade e que tem a regência do professor André Luiz Muniz de Oliveira. A orquestra ocupa a função de laboratório orquestral para alunos da graduação e de pós-graduação da UFRN.

Muitas homenagens merecidas foram prestadas a ex-reitores, ex-diretores da Escola, ex-professores e a quantos foram úteis na evolução da E. de Música.  Afinal, são seis décadas de ótima atuação em prol da arte musical do RN, e que, desde 1991, ano da estreia do novo prédio, ocupa a melhor sede de escolas de música do Brasil.

Serei sempre grato por ter meu nome entre os homenageados. Não compareci à solenidade dos 60 anos, por motivo de cuidados com a saúde. Para falar em nome dos ex-diretores, a escolha recaiu no Professor Eugênio de Lima Souza, que integra um clã de pessoas dotadas de grande pendor musical, além de deter os maiores títulos acadêmicos na área do violão.  Eugênio é sócio de uma empresa familiar de venda de instrumentos musicais.  Nesse afã, conheceu um cliente que é motorista aposentado da UFRN e que trabalhou no gabinete do reitor Daladier. Esse motorista contou que, numa noite de fortes chuvas, recebeu uma ligação do reitor, pedindo para ele ir à UFRN a fim de pegar o carro para conduzi-lo à Escola de Música, pois estava preocupado com a água que, provavelmente, estaria alagando o piso em madeira do palco do novo prédio, em fase final de construção. Para resumir, quando o dia amanheceu, estavam o reitor, sua esposa, o motorista e um funcionário, com vassouras, panos e rodos às mãos, tentando enxugar o piso do palco da atual Escola de Música, “este mesmo piso sobre o qual, agora, estamos em pé.”

Alguns dias depois, Eugênio me enviou um vídeo do seu discurso e me disse que relembrou aquele episódio, para servir de exemplo do amor por uma causa, de quantos abraçaram a ideia de edificar, no campus central da UFRN, um templo das artes, principalmente, da música.

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CRÉDITO DA FOTO: Cícero Oliveira

Daladier Pessoa Cunha Lima

Daladier Pessoa Cunha Lima

Primeiro reitor eleito da UFRN. Exerceu o cargo de 1987 a 1991. Graduado em Medicina pela UFRN (1965), tem especialização em Medicina do Trabalho e Administração Universitária, com vivência em instituições universitárias no exterior. Ao se aposentar, abdicou da Medicina e optou pela Educação, tendo se dedicado à instalação da FARN, atual UNI-RN, no ano de 1999. É, ainda, membro da Academia de Medicina do RN e do Instituto Histórico e Geográfico do RN. É autor dos livros Noilde Ramalho – uma história de amor à educação e Retratos da Vida, além de outras publicações. E em abril/2017 foi eleito para a cadeira nº 3, da Academia Norte-rio-grandense de Letras.

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