Croniketa da Burakera #10, por Ruben G Nunes
Meus campanhas de copo-papo-y-pasión!
O GrandeAmor não morre. Ou quase.
Só tira férias. Ou licença-prêmio. Ou liga-desliga que nem interruptor de luz.
“Amo el amor de los marineros
que besan y se van”
Ou vai-e-vem que nem marujo-velho, de porto em porto, no desespero de causa do penúltimo chupão,
chapado-linguado, na penúltima mulha, na penúltima viagem, no penúltimo cais…
Ou voa-revoa nas sonhaduras do poetamante lunalunandolunático seus amorespossíveisimpossíveis.
GrandesAmores não são só “infinitos enquanto durem“, como canta nosso poetinha Vinicius.
São também eternos em suas profundas intensidades.
…. e vamuquivamu…
Mesmo que pareça morrer, o GrandeAmor esperneia e dá o bote.
Bukowski, o velho-Buka, escritor maldito, profissional dos bares-perdidos, avisa: “o amor é um cão do
inferno, mesmo morto rosna”.
O GrandeAmor é eterno retorno. Sempre. Como são todos os movimentos, enrêdos, currupios, tramóias,
da própria Vida, segundo os ganchos filosóficos de tio-Nietzsche!… Saravá, tio-Nietzsche!…
Mesmo que esse “eterno retorno” seja, no frigir dos bagos nas coxas, um delirante salseiro de egos.
Um de nó-de-emoções com a Outra-do-Outro-do-Outro-da-Outra-da-Outra..! – num engancho desvairado
duma ruma de nós de destinos e redestinos humanos.
E não tem essa de homo, hetero, de bi, tri, penta, trans, inter, glbt, queer, lésbicas, trava, bicha-louca,
casado, arrumado, corno, corna, idoso, alto, baixo, branco, preto, moreno, azul, amarelo, malhado,
judeu, palestino, ateu, mengo, bota, nense, gringo, padre, freira, pastor, pai-de-santo, médico-cubano,
e todas as diferenças da canalhada humana.
O GrandeAmor baixa em qualquer pessoa e terreiro, cumpadi. Seja lá o que você for, se o olhar grudou e
sai faísca, estrelas, músicas, flores, luas, vôos… e você sente aquela vontadezinha de grudar – então, ajoelhe
e reze: você tafú.
“En cada puerto una mujer espera:
los marineros besan y se van”
Por ironia dos tempos e destinos o sentir mais terno-eterno do GrandeAmor é quando ele
se entoca numa GrandeAmizade. Aí, chaparia, a coisa toda vira uma gostosa e inseparável
confraria a dois. É papo encaixado. Coisa das eternidades.
De férias ou licença-prêmio, porém, o GrandeAmor fica lá cavucando a Prainha do Coração
esperando pra dar o bote do “eterno retorno”. Encanando paixões, ausências, solidão, músicas,
xifres e gamações.
(cês sabem que xifre com “x” é coisa humana, tem xana no meio; com “ch” é dos animais)
De repente, sem você pedir, sai lá de dentro, – lá das dores-de-cotovelos – uma musiquinha que
fica tocando, tocando e trollando, com tuas recaídas sentimenteiras.
(com a tecno-evolução, pós-darwiniana, todos nós ganhamos um DJ-dos-Cotovelos, espécie
de entidade-sacaninha, enviada pelos deuses-uivantes, que fica lá nos cotovêlos-inchados
tirando sarro com nossas gamações fracassadas)
E a musiquinha coça que coça, chefia. Coceira que dói pra danado. Dor fininha.
Que vai se espalhando por todas as almas, duendes, vampiros, caboclos e chips, que moram dentro
de nós. E eles baixam com tudo, mizifio… – ogunhê, meu pai!
As musiquinhas do cotovêlo vão cutucando cada cicatriz das paixões. Repuxando os fios das lembruxas.
Dos bagos aos sonhos-perdidos. Dos xifres culposos aos xifres dolosos.
Dor fininha, velha-guarda, que não desencana nunca. Dor dialética. Que você não quer, mas quer.
Marcando fundo o silêncio da solidão de cada um. Quem já não quis um repeteco de certos momentos?
Aqueles certos momentos dos GrandesAmores que se foram e, de repente, voltam com tudo na solidão
nossa de cada dia.
Solidão solitária, solidão-avec-together, solidão dos shoppings, solidão doméstica, solidão dos bares,
solidão dos portos. Solidão da solidão.
GrandesAmores sempre voltam!.. sacumé, o tal do “eterno retorno”… mesmo que seja só na secura dos
lembrares e faltares. E fazem um rolézinho daporra nos chopis-centis do coração. Queimam pneus nas
ruas das saudades. E as vitrines dos cotovêlos que se lasquem. Um fuzuê danado! Te guenta, maluco!
GrandesAmores sempre voltam!.. Aqui ou ali, nalgum cais das estrelas-perdidas. Aqui ou ali, nos enroscos
dos destinos e das morreduras. Como o casal de esqueletos, de 700 anos, encontrados rindo felizes, de mãos
dadas, num rala-e-rola de ossos, numa capela medieval da Inglaterra. Sinistro, amigão!
“Una noche se acuestan con la muerte
en el lecho del mar”
Ou então, os GrandesAmores, voltam por aqui mesmo. Nessa nossa vidinha enroladinha. No inicio da
penúltima dose. Da penúltima separação. Ou da penúltima solidão. Quando o DJ-dos-Cotovelos parte
pra ignorância-passional e joga no telão das amorâncias-perdidas o sonzão do filme Casablanca,
“As Times Goes By”. (clic)
E ataca também de Altemar Dutra, Julio Iglesias, Djavan, Stevie Wonder, Barry White e os boleraços de
Nana Caymmi, como Contradições… (clic)
Daí tu fica areado, mano, e sai caçando um porrilhão de vagalumes por ai,(clic) nas “naites e bares“, pra
encher o vazio dos velhos tempos. Te segura, malandro!
O GrandeAmor não morre. Quer dizer: se morre é uma morte não morrida. Mas te joga num vácuo de
solidão que pode matar de saudade. Isso pode. MorteViva. Que nem zumbi desembestado.
E não tem arrêgo não, mago! Saudade e solidão, saem esvoando do mar imenso dentro de nós,
que nem gaivotas riscando o tempo… lá longe um navio velho sempre partindo, carregado de
faltas-e-perdas… e o cais lá, esperando outra viagem… outros navios… outros amores largados…
outros marujos… que besán y se van, como diz Neruda…
De férias, o GrandeAmor se torna mesmo pesada solidão, encharcada do banzo de lembranças antigas,
pré-antigas e pós-antigas…
… velhos tempos… velhos tempos… velhos tempos… zoooompassandozoooompassopassando… tempos…
… dos cafofos, dos inferninhos, dos cabarés, das mulhas-fatais, das paixonites, da gamação crônica…
… dos desejos se derramando nos bolerões e nas ancas da parceirinha…
… e havia sempre umas cuba-libres, umas vodkas, pra alegrar corações e ilusões…
… a liberdade dos belos dias… os belos dias de liberdade… Quando todos nós éramos donos do mundo.
Quem já não foi dono do mundo, por um instante?
Quando a gente colhia uma flor e roubava beijos. Quando a gente saia com a turma na burakera-sem-fim
de cada noite. E as estrelas piscavam só para nós como um harém de odaliscas no cio…
São tempos meio embaçados na memória. Mas fluem lá na Prainha do Coração e chegam com força
nas saudades das musiquinhas-de-cotovelo.
Tempos em que certos encontros de olhares faziam deslizar luas e sorrisos. Era faísca pra todo lado, mano
E a transa já começava ali, dançando, olho-no-olho, língua-na-língua, coisa-na-coisa…
A paixão, e cada paixão, criava um idioma mágico que só na poesia, só na música, só no beijo molhado,
só no olhar desvairado, se podia compreender.
E a gente voava nas asas de la pasión… de la pasión… de la pasión…
e do Eu sei que vou te amar (clic) forever… ééé, bixo!
Quantas sintonias perdidas-achadas-perdidas-achadas… pelas esquinas e becos do coração… Quantas?
Velhos tempos das burakeras, da bagunça solta, donde de repente surge inesperado o
GrandeAmor.
Turbilhão de sonhodesejo locurapasión aconchêgoternura eternidadefugaz…
“Amor que puede ser eterno
y puede ser fugaz”
Velhos tempos em que solidão-e-saudades eram só sombras passageiras e as ilusões eram até amigas.
Em que o amor transbordava em bizarras-locuras, cumplicidade e sexihumor.
Como a do Príncipe Charles que queria ser o tampax de sua amante Camila.
Cês lembram do causo: o jornal The Sun, num serviço de espionagem romântica, publicou o
grampo da conversa telefônica entre Charles e Camilla, onde o futuro rei da Inglaterra em
desvairado surto romântico sussurava para a amante o bizarro desejo loucamoroso de virar seu
absorvente íntimo.
“Eu poderia simplesmente viver dentro das suas calças ou algo assim”, disse Charles, com ardor.
Camilla entra no jogo, já molhadinha: “Em que você vai se transformar? Numa calcinha?”.
Ele rebate babando na gravata real e voz de fetichismo babão pleno de paixão: “Deus me perdoe,
mas num Tampax. Seria minha sorte!”.
Dizem as más línguas desromânticas que foi tudo uma jogada de marketing do Tampax e não um gesto
de crazy-gamation-fetichista do Príncipe.
Mas talvez – quemsabe? – que o apaixonado Príncipe Charles tenha pirado-se-inspirado em Kerouac,
poetaromancista maldito da geração beatnik, do submundo de San Francisco, anos 50, que com
seu estilo de avalanche alucinógena escreveu On the Road a “Bíblia Hippie”. E em Os Subterrâneos
narra sua tórrida paixão por Mardou Fox, uma moça meio negra, meio índia, que o inspira escrever:
a essência da vida está na mulher.
Daí lança um mantra-beat: “as coxas contêm a essência“.
É isso aí, Kerouac-velho! A essência da Vida tá entremulhacoxas!
Numa palavra: a energia da vida tá na Xana! Na Xanergia que vem da Xana!
Portal da Vida por onde todos passamos! Xanavá Kerouac!
Em busca da essência de Kerouac, entrefeminacoxas, nem ciência, nem saber, funcionam.
Pois a Xanergia é um sentir. Um quase-poema… .
Que só poetas sentem. E os marujos pressentem…
… ouvindo-mar-imenso na noite pesada d’estrelas e no cheiro de maresia entrecoxas d’amante…
Um quase-poema…
… do ponto-G ao ponto oco, o sexo sabor oral traz na vertigem do gozo-sugado os gemidos
e cheiros do infinito…
… ou traz desejos de sensualidade safada como na arte de Schiele…
… a mistura xanalínguabocaolhar, seja talvez a mais madura e mais alta forma de
carnespiritualizar a essência de Kerouac…
… um quase-poema… morte-quase-imortal… poetas e marujos sabem…
XavascaCrushSuckZings!!!
Mas será que nesses tempos de ficação o GrandeAmor, do legítimo, entrou em recessão?
Virou retrô. Coisa do passado. Papo da velharia outonal. Virou kitsch de solidãosaudadeamor.
Quevaivem… Será? Será mesmo?
“Amor divinizado que se acerca,
Amor divinizado que se va”
…………..
“Yo me voy. Estoy triste pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia donde voy.”
Neruda, Farewell y los sollozos
… esquenta não, mago, que nessas batalhas, marujos e poetas, dos sete mil mares, bares, luas e
motéis, têm o corpo-fechado e são retrôs sim, mas sempre inquietos nas suas bolhas de sonhos.
Daí sempre atuais nos amassos do Tempo. Daí, marujos e poetas, são quase-imortais…
Foi o que me segredou, meia-voz-lenta, um amigo poeta e marujo-velho-de-guerra, papeando comigo,
lá no Boteco do (In)Finito, numa dessas imponderáveis tardesmansas, ponteada de uísque e rum,
de mar remanso, gaivotas e esperas…
O marujo-velho, com voz ainda arrastada, de muitas milhas-e-ancas navegadas, muitos portos,
muitos bares, muitos beijos e linguações, e muitos Grandes Amores, tomou uma lapada de rum
preto dos piratas caribeños – e acrescentou com um olho fechado outro aberto:
… mano, o GrandeAmor, pode ser um, pode ser zents, tá sabendo?…
… mas se é do legítimo e uma espécie de Apocalipse-Craw, que te gadunha-forever, que
acaba-mas-não-acaba, grudando-se-coçando, como um carrapato-luminoso, no infinito de cada um…
… que nem as estrelinhas lá no céu, com suas patas luminosas, grudando-se-explodindo no infinito de todos nós…
… o Grande Amor, quando é amor crush pra valer, é que nem navio sempre chegando-partindo, mas sempre
voltando em seu eterno retorno à Prainha do Coração…
… no rastro daquela penúltima mulha esperando…
… com sua essência inchada-molhada de saudade…
… buscando naquele olhar-de-mar-e-destino traços d’amor (clic)… e ilusões perdidas…
picirico muito irado! – nenão, bixo? – diga aí!
2 Comments
Achei interessante a descrição de um grande Amor: como navio que vai e volta…isso mesmo.
Beleza de croniketa da buraqueira professor Ruben G. Nunes, enviei p/ o meu primo Dr. Eugênio Sérgio lá em Currais Novos, roqueiro velho e ele respondeu assim: MASSA… talvez porque a nossa geração foi fã do poeta Belchior e essas citações aos filósofos na intimidade do seu professor tio Nietzsche, poetas românticos malditos beatnik, da geração alucinógena, do poeta romancista Kerouac, da geração anos 50, quando podia ser hippie. Andou nas trilhas e estradas dos bares perdidos na noite, do grande poeta Neruda, Vinicius de Morais. Valeu professor. Mande sempre essas croniketas que enriquece o meu aprendizado a longa distância.