O historiador potiguar Pedro Câmara foi pioneiro no Brasil em abordar um tema delicado: a história da Igreja Católica Palmariana, uma espécie de seita dissidente da tradicional Igreja Católica Apostólica Romana.
Com farta pesquisa e fontes de informações preciosas garimpadas em cidades espanholas como Barcelona e Sevilla, de membros e ex-membros da Igreja, Pedro alicerçou sua dissertação de mestrado que agora virou livro, intitulado O Vaticano do Deserto.
A pesquisa foi desenvolvida entre 2018 e 2020. “Parte das fontes, que integraram o clero dessa Igreja, e também ex-fiéis, são conhecidos na Espanha pela quantidade de polêmicas que se envolveram. Inclusive o canal Movistar fez uma série de TV sobre a Igreja no ano passado”, contou Pedro ao blog.
Na apresentação do livro, Pedro Câmara lembra que no Brasil, a Igreja Palmariana ainda é uma instituição religiosa pouco conhecida e pouco estudada pela academia, mesmo tendo possuído entre os anos 1980 e 2001, um considerável número de membros espalhados pelas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do país.
Os palmarianos, apesar de se considerarem a verdadeira religião católica de todos os tempos, fabricaram sua própria versão do Cristianismo, enaltecendo profundamente a figura de Maria, elaborando uma nova missa que dura menos de cinco minutos e, acima de tudo, elegendo seus próprios Papas, que se comportam como imperadores do universo.
Igreja palmariana: religião perigosa?
O povoado de El Palmar de Troya, situado na Andaluzia, logo desperta curiosidade e interesse por causa da presença da Igreja Palmariana, que o transformou numa espécie de Avignon espanhol, de onde um Papa alternativo ao de Roma comanda seu Vaticano particular “escondido” em meio à desértica paisagem do interior sevilhano.
O movimento religioso de El Palmar de Troya é considerado uma seita perigosa e destrutiva por muitos de seus ex-seguidores e vários estudiosos, mesmo sendo uma organização religiosa com total autonomia e independência do ponto de vista jurídico e econômico, configurando-se como religião devidamente inscrita no Registro de Entidades Religiosas do Ministério de Justiça da Espanha, e que permanece em plena atividade desde sua fundação em 1978.
O Vaticano do Deserto
O livro aborda a ordem dos acontecimentos que deram origem à Igreja Palmariana: as narrativas das aparições palmarianas como pressupostos para a formação da Ordem em 1975, a construção do espaço sagrado no âmbito de sua extensão física: a Catedral Basílica de Nossa Mãe do Palmar Coroada, sede mundial da Igreja.
E ainda toda a cosmogonia palmariana, a partir da construção do espaço sagrado, encabeçada pelo Papa Gregório XVII. Toda a corte celestial. Deus, Maria, os anjos e santos, aparecem citados em passagens que os colocam como agentes de realidades fora da Terra, que não se correspondem somente aos Céus originalmente idealizados pelo pensamento católico, mas moradas físicas e espirituais em outros mundos, como nos casos dos Planetas de Maria e de Lúcifer.
E ainda outras análises, comparativos e contextualizações, a exemplo das figuras de Maria e José, que ganharam atributos especiais elevando-os a um patamar de superioridade em relação aos demais santos católicos e palmarianos.