Garoto deprê

Lil-Depressed-Boy

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

Pessoas introvertidas, em geral, costumam criar alteregos para conseguir se expressar com o mundo à sua volta.

Foi assim que o roteirista Shaun Steven Struble resgatou um apelido de infância para criar Li´l Depressed Boy (ou LDB), atribuindo-lhe sua timidez e uma certa fobia social, trazendo enxertos de experiências pessoais às histórias.

The Li´l Depressed Boy teve início como uma webcomic, e logo chamou a atenção da Image Comics. Em 2011, a Image lançou o primeiro arco encadernado, The Li´l Depressed Boy – She is staggering (edição que compila os quatro primeiros números da série), no qual vemos como a falta de jeito de LDB em lidar com pessoas fez com que ele passasse a viver em seu próprio mundo, largando o curso de poesia e encarando uma rotina solitária de TV, livros, videogame e músicas, dentro de sua casa.

Entediado, ele resolve ultrapassar o limite do portão para a rua, saindo para conversar com seu amigo Drew Blood (um amigo do Struble, na vida real). Aí, no meio da conversa, do nada, uma estranha garota tatuada aparece, citando uma porção de bons games dos anos 1990 (Streets of Rage, Golden Axe, Battletoads, Megaman 3). LDB fica intrigado e encantado, pois acabava de ganhar um excelente motivo para voltar à sociedade.

A garota passa a esbarrar com ele em diversos lugares, gosta das mesmas bandas, e logo estão saindo juntos. LDB concentra todas as suas forças naquele relacionamento, mas se toca do vacilo de não ter perguntado o nome dela, passando a bolar mil planos para obter a informação.

Apesar de o enredo ser aquele velho “garoto encontra garota”, e o garoto em questão ser caracterizado como um boneco de pano, Struble desenvolve a narrativa de forma tão orgânica, reforçada pela arte de Sina Grace, que LDB cativa o leitor logo nas primeiras páginas.

The Li´l Depressed Boy é uma espécie de Charlie Brown adulto e contemporâneo, funcionando como aquele tipo de quadrinho introdutório para se presentear amigos/amigas e namorado/namorada, principalmente se eles curtirem bandas indie norte-americanas de meados dos anos 2000 (em cada encadernado há participação especial de algumas bandas, nesse primeiro foram Kepi Ghoulies e as meninas do The Like).

Como bônus, há concepts de personagens, esboços de páginas e ilustrações feitas por diversos artistas, sendo duas delas paródias: uma do filme Digam o que quiserem, com LDB imitando o personagem de John Cusack, e outra da série em quadrinhos Scott Pilgrim, do Brian Lee O´Malley.

Uma curiosidade: à época, Sina Grace era diretor editorial do selo Skybound, de Robert Kirkman, daí eles prestarem uma pequena homenagem a The Walking Dead (e aos filmes/games de zumbis) nesse encadernado.

A Image Comics lançou, ao todo, cinco encadernados de The Li´l Depressed Boy, mas dá para ler gratuitamente o primeiro deles através do site Internet Archive (basta se cadastrar):

https://archive.org/details/lildepressedboyv0000stru/mode/2up

Milena Azevedo

Milena Azevedo

Mestre em História (Unisinos/RS), já foi professora e empresária, e desde 2005 milita no campo das histórias em quadrinhos. Atualmente segue como diagramadora, letrista e roteirista de HQs e games, com trabalhos publicados em coletâneas locais, nacionais e em Portugal e Angola, finalistas do Troféu HQ Mix, do Troféu Angelo Agostini e da categoria Quadrinho Alternativo do Festival de Angoulême (França), entre eles: Visualizando Citações - vols. 1 e 2, Fronteira Livre, Máquina Zero - vol.2, Imaginários em Quadrinhos - vol. 4, Haole (webcomic), Amor em Quadrinhos, Penpengusa, Contos Urbanos e Café Espacial #19. Vencedora do Troféu Angelo Agostini de 2019 (Melhor Lançamento) e dos HQ Mix de 2019 e 2020 (Melhor Publicação Mix e Melhor Publicação Aventura/Terror/Fantasia) com Gibi de Menininha 1 e 2. Em 2022, roteirizou as HQs “Oscar e o Pan de 87” e “Viúva Veneno”, ambas publicadas pela editora Ultimato de Bacon. Também criou a webtira Aprendiz de Bruxa, em parceria com Ju Loyola, e atualmente a parceria segue com a desenhista Mari Santtos. Em 2018, fez sua estreia na literatura infantojuvenil com o livro Dara, Dora e as estrelas, escrito a quatro mãos com Glacia Marillac.

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas da semana