Pessoas introvertidas, em geral, costumam criar alteregos para conseguir se expressar com o mundo à sua volta.
Foi assim que o roteirista Shaun Steven Struble resgatou um apelido de infância para criar Li´l Depressed Boy (ou LDB), atribuindo-lhe sua timidez e uma certa fobia social, trazendo enxertos de experiências pessoais às histórias.
The Li´l Depressed Boy teve início como uma webcomic, e logo chamou a atenção da Image Comics. Em 2011, a Image lançou o primeiro arco encadernado, The Li´l Depressed Boy – She is staggering (edição que compila os quatro primeiros números da série), no qual vemos como a falta de jeito de LDB em lidar com pessoas fez com que ele passasse a viver em seu próprio mundo, largando o curso de poesia e encarando uma rotina solitária de TV, livros, videogame e músicas, dentro de sua casa.
Entediado, ele resolve ultrapassar o limite do portão para a rua, saindo para conversar com seu amigo Drew Blood (um amigo do Struble, na vida real). Aí, no meio da conversa, do nada, uma estranha garota tatuada aparece, citando uma porção de bons games dos anos 1990 (Streets of Rage, Golden Axe, Battletoads, Megaman 3). LDB fica intrigado e encantado, pois acabava de ganhar um excelente motivo para voltar à sociedade.
A garota passa a esbarrar com ele em diversos lugares, gosta das mesmas bandas, e logo estão saindo juntos. LDB concentra todas as suas forças naquele relacionamento, mas se toca do vacilo de não ter perguntado o nome dela, passando a bolar mil planos para obter a informação.
Apesar de o enredo ser aquele velho “garoto encontra garota”, e o garoto em questão ser caracterizado como um boneco de pano, Struble desenvolve a narrativa de forma tão orgânica, reforçada pela arte de Sina Grace, que LDB cativa o leitor logo nas primeiras páginas.
The Li´l Depressed Boy é uma espécie de Charlie Brown adulto e contemporâneo, funcionando como aquele tipo de quadrinho introdutório para se presentear amigos/amigas e namorado/namorada, principalmente se eles curtirem bandas indie norte-americanas de meados dos anos 2000 (em cada encadernado há participação especial de algumas bandas, nesse primeiro foram Kepi Ghoulies e as meninas do The Like).
Como bônus, há concepts de personagens, esboços de páginas e ilustrações feitas por diversos artistas, sendo duas delas paródias: uma do filme Digam o que quiserem, com LDB imitando o personagem de John Cusack, e outra da série em quadrinhos Scott Pilgrim, do Brian Lee O´Malley.
Uma curiosidade: à época, Sina Grace era diretor editorial do selo Skybound, de Robert Kirkman, daí eles prestarem uma pequena homenagem a The Walking Dead (e aos filmes/games de zumbis) nesse encadernado.
A Image Comics lançou, ao todo, cinco encadernados de The Li´l Depressed Boy, mas dá para ler gratuitamente o primeiro deles através do site Internet Archive (basta se cadastrar):