Discos que mudaram minha vida #1
Lançado depois do confessional e fantástico “Plastic Ono Band” de 1970, o segundo álbum de John Lennon foi seu primeiro grande êxito comercial após a dissolução dos Beatles. Reconhecido, em parte, pelo retumbante sucesso da faixa título, este disco é frequentemente associado à visão idealista de Lennon como o “príncipe da paz” da música mundial.
Mas ao imaginar um mundo “sem propriedades” e “sem religiões”, John também cutucava as bases da sociedade ocidental. Mais tarde, ele afirmaria: “Ela é tão contundente quanto o Manifesto Comunista, mas como é açucarada, é aceita”.
Trabalhando com músicos como o pianista Nicky Hopkins, o baterista Alan White, o baixista Klaus Voormann, a banda Badfinger e George Harrison, Lennon ampliou seus horizontes sonoros e líricos ao mesmo tempo em que enfrentava seus fantasmas pessoais.
O disco também é marcado pela diversidade de temas. Tristeza, impotência, ciúmes, desamor, raiva e vingança. O desespero de um artista vivendo a perturbadora realidade da “Era Nixon”.
O Lennon político aparece pleno nestas canções. Da paulada na hipocrisia capitalista de “Give Me Some Truth” e “Crippled Inside” à crítica direta à carnificina do Vietnã de “I Don’t Wanna Be A Soldier”. O ressentimento também dá as caras na cruel “How Do You Sleep” endereçada ao (agora) rival Paul McCartney.
Seu lado frágil e romântico está presente na linda e imortal balada “Jealous Guy”, na lírica “Oh My Love”, na pungente “How” e no suave country de “Oh Yoko”.
Longe de ser o “tratado de paz” imaginado por muitos, o álbum é um emocional caleidoscópico dos contraditórios sentimentos de Lennon.
Sua breve carreira individual ainda teria belos álbuns, mas “Imagine” segue arrebatando gerações 47 anos após seu lançamento. Sem dúvida, este é o melhor retrato da cristalização de suas ideias.
Um dia, o mestre Stevie Wonder falou que o mundo se tornou um lugar bem mais triste sem John Lennon. Ao ouvir este álbum do início ao fim, a percepção do gênio se transforma numa sentença universal.
Sing again…Johnny…
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