#CaminhosdeNatal: Rua João Pessoa do Grande Ponto e do saudoso Teatro Santa Cruz

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A rua João Pessoa fica localizada na Cidade Alta, entre as atuais ruas General Osório e Coronel Cascudo, no trecho compreendido entre a praça padre João Maria e a avenida Deodoro.

Até 1845, a última rua ao leste da área urbana de Natal era a atual avenida Rio Branco, cujas edificações ocupavam apenas o lado do nascente. Já existia então, a parte da atual João Pessoa, no seu trecho limitado pelas atuais Vaz Gondim e Rio Branco.

Na gestão do presidente Casimiro de Morais Sarmento (1845/1847), foi edificada naquela rua a Casa-da-Aula, no mesmo local onde depois funcionou o Natal-Clube, posteriormente o prédio foi substituído pelo Banco Nacional S.A. e que atualmente abriga uma loja de confecções.

Na administração do presidente Sarmento, foi autorizada a abertura de duas novas ruas em Natal. O matagal era tão espesso que as citadas ruas foram abertas a golpe de machado. Uma delas ficou conhecida como a rua dos Tocos, a atual Princesa Isabel, tomando a outra a denominação de rua do Sarmento, correspondente ao trecho da atual João Pessoa, entre a Rio Branco e a Princesa Isabel.

Teatro Santa Cruz

No trecho primitivo da rua foi edificado um prédio, que se tornou um motivo de orgulho para Natal: o Teatro Santa Cruz. O comerciante João Crisóstomo de Oliveira, que sonhava edificar aquela casa de espetáculos, conseguiu autorização para o início das obras, através da Lei nº 678, de 6 de agosto de 1873. O prédio foi inaugurado em 1880, logo entrando em funcionamento, apresentando as maiores demonstrações artísticas da época.

O Teatro Santa Cruz também foi palco de grandes acontecimentos políticos, nos anos de euforia que antecederam a Proclamação da República. O movimento abolicionista instalou no Teatro, a Sociedade Libertadora Natalense. Ali também funcionou o Clube Republicano 15 de novembro.

O prédio não resistiu ao rigoroso inverno de 1894. No dia 17 de abril daquele ano, o teto desabou. O tradicional teatro não foi mais recuperado. No terreno foi construída uma luxuosa residência, depois convertida na Escola de Comércio. No mesmo local
funcionou o Cinema Nordeste. Atualmente, abriga uma loja de departamento.

Visconde de lnhomerim

O decreto municipal de 13 de fevereiro de 1888 deu a denominação de Visconde de lnhomerim, ao trecho completo da rua: da atual Vaz Gondim à avenida Deodoro. Segundo informava o texto daquele decreto, a rua Visconde de lnhomerim compreendia “da casa de Maria da Luz em direção ao sítio de Antônio Guaju’’. Maria da Luz era uma parteira que morava na atual rua Vaz Gondim; o sítio de Antônio Guaju correspondia à área onde hoje existe a Catedral Metropolitana (ex-praça Pio X).

Francisco Sales Torres Homem, o Visconde de lnhomerim, nasceu no Rio de Janeiro, em 1811. Foi homem de destaque na política e no jornalismo brasileiro. Foi, ao lado de Evaristo da Veiga, um dos principais redatores do jornal “Aurora Fluminense”, órgão do Partido Liberal, de expressiva influência no 1º período regencial.

No 2º quartel do século XIX, Francisco Sales Torres Homem exerceu em Paris o cargo de Secretário de Legação e Encarregado de Negócios do Brasil na França. Ingressou no curso de Direito da Universidade de Paris, recebendo o grau de bacharel em 1833.

O Visconde de Inhomerim regressou ao Brasil em 1836, e fundou o “Jornal de Debates”. Combateu os conservadores, em 1837, apoiando o Ministério da Maioridade. Em 1842, com a perda do poder pelos liberais, foi deportado para a Europa.

Retornando em seguida ao Brasil, o Visconde de lnhomerim elegeu-se Deputado-Geral pela Província de Minas Gerais em 1844, e pelo Rio de Janeiro em 1848. Defendeu a política de conciliação e combateu a monarquia. Tornou-se conservador, a partir de 1857. Foi Ministro da Fazenda, em 1858; Conselheiro de Estado, em 1866; Presidente do Banco do Brasil e Senador pelo Rio Grande do Norte, em 1870.

Francisco Sales Torres Homem faleceu aos 65 anos de idade, na cidade de Paris, em 1876.

Coronel Pedro Soares

A rua Visconde de lnhomerim conservou o topônimo até princípios do século XX, quando foi convertida em rua Coronel Pedro Soares. Este nasceu no Açu, aos 29 de agosto de 1855. Figura de destaque na política norte-rio-grandense, sempre fiel ao Partido Conservador.

Iniciou sua carreira política em 1882, elegendo-se deputado provincial. No período republicano, foi por sete vezes deputado, sempre reelegendo-se vice-presidente do Congresso Legislativo. Inspetor do Tesouro Estadual, de 1902 a 1925. Abolicionista, estudioso da História, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, durante 10 anos.

O historiador Luís Câmara Cascudo, assim o descreveu: “Magro, ágil, o jaquetão escuro bem abotoado, a calça de casimira de cor, o chapéu do chile impecável, a gravata preta borboleta, no colarinho reduzido, a voz clara, meio irônica’’.

joão pessoaO coronel Pedro Soares distinguiu-se como funcionário burocrata exemplar, profundo conhecedor da legislação fiscal. Foi um homem simples, respeitado por todos, tenaz e incorruptível. Aposentou-se aos 70 anos, como Inspetor do Tesouro Estadual.

Faleceu dois anos depois, aos 11 de abril de 1927, em Natal.

João  Pessoa

Poucos anos depois, a rua Coronel Pedro Soares recebeu a denominação de João Pessoa, homenagem prestada ao político paraibano, morto a tiros em 1930, por João Duarte Dantas, inimigo pessoal.

João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque nasceu em 1878, no município paraibano de Umbuzeiro. Em 1903 bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Em 1920, no governo do seu tio, Epitácio Pessoa, foi Ministro do Superior Tribunal Militar. Em 1928, eleito Presidente do Estado da Paraíba.

No ano seguinte, candidatou-se à Vice-Presidência da República, na chapa de Getúlio Vargas. Passou então a enfrentar sérios problemas políticos em seu Estado, culminados com o seu assassinato no Recife, o que representou o estopim da Revolução de 1930, com a deposição do Presidente Washington Luís e a elevação de Getúlio Vargas ao Poder.

Praça Kennedy

Atualmente a rua João Pessoa, que já foi o ponto de convergência da cultura natalense, não guarda mais a feição de outrora. Transformaram o casario colonial, substituíram o prédio do Teatro Santa Cruz e o parque que lhe ficava ao lado, outrora cercado por um belo gradil de ferro. No seu largo foi construída a praça Kennedy, homenagem prestada ao Presidente John Fitzgerald Kennedy.

Aquele ex-presidente americano nasceu a 29 de maio de 1917, no Brooklin, subúrbio de Boston, Estado de Massachussetts, EUA. Foi o segundo filho do casal Joseph Patrick Kennedy e Rose Fitzgerald Kennedy. Graduou-se em 1940 pela Universidade de Harvard. Serviu à marinha americana, no período de 1940 a 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido ferido em combate e condecorado pelo seu heroísmo.

Kennedy iniciou sua carreira política em 1946, elegendo-se para a Câmara dos Deputados, mandato que exerceu por mais duas legislaturas (1948-1950). Em 1952 venceu as eleições para o Senado. Casou-se em 1953, com Jacqueline Lee Bouvier.

Nas eleições presidenciais de 1960, derrotou o candidato republicano Richard M. Nixon. Assumiu a presidência do Estados Unidos, em 20 de janeiro de 1961. Enfrentou grandes problemas internos, como desemprego, tensões raciais e o lento desenvolvimento da economia americana.

Kennedy pretendia concorrer à reeleição presidencial, mas antes de concluir o seu primeiro mandato, foi morto a tiros, em Dallas
Texas, no dia 22 de novembro de 1963.

O Grande Ponto

A rua João Pessoa, em Natal, foi o maior e mais movimentado ponto de encontro da Cidade. Recebeu dos seus frequentadores, a merecida e carinhosa denominação de “O Grande Ponto”. Ali discutia-se política, esportes e ficava-se em dia com as “fofocas” da Cidade.

O Grande Ponto roubou a fama, outrora pertencente ao Cantão das Gameleiras, que existia na então praça da Alegria (hoje Padre João Maria).

O Grande Ponto era também o local dos encontros amorosos, da exibição de vestidos novos, e o quartel general dos boatos, em Natal.

Ainda hoje o calçadão da João Pessoa é um local de concentração de artistas, passeatas e comícios políticos. Nas suas proximidades, existiu o Café São Luís, que reunia os antigos frequentadores do Grande Ponto.

Jeanne Nesi

Jeanne Nesi

Superintendente do IPHAN-RN, Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do RN, e Sócia correspondente do Instituto Histórico Geográfico e Arqueológico de PE. Fundou a Folha da Memória, com periodicidade mensal. Publicou cinco livros, sendo dois como co-autora. Publicou folhetos, folders e cordéis e mais de 300 artigos sobre o assunto em uma coluna semanal no jornal Poti, na Folha da Memória e em revistas do IHGRN.
Atualmente aposentada, mas sempre em defesa do patrimônio histórico.

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