Bunda vasta bunda

vasta bunda

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Croniketa da Burakera #31, por Ruben G Nunes

Levantai-vos hermanos!

Sursum corda et fodicare memorĭa iõ (Corações ao alto! E chacoalhem as lembranças!)…

… que é chegado e passado o Dia Internacional do Orgasmo:  dia 31/7.

O Dia do Orgasmo foi criado por sex shops inglesas. Em 1999. Com o justo objetivo empreendedor capitaleiro de promover o aumento das vendas de seus produtos voltados para o prazer sexual.

Segundo pesquisas da época, 80% das mulhas britânicas tinham dificuldades ou não atingiam o orgasmo no ato sexual com seus parceiros. Já nos homens essa dificuldade era 10 vezes menor.

Havia pois nesse campo uma boa fatia de mercado feminino. Pesquisas, debates e conversas francas com o público foram organizadas pelas sex shops.

Segundo especialistas, há uma pá de fatores que podem atrapalhar e inibir o orgasmo, em geral. Mas é principalmente o orgasmo feminino que é bem mais complicado. Tão imprevisível quantos as misteriosas bolsas de mulher.

Desde inibições ou fantasias psicológicas; desde ajustes físicos da idade, da pegada, de posições, de ambiente; desde a preferência do canal mais prazeroso para penetração – bocavaginânus – o quesito orgasmo é um perrengue daporra. Que encrencalha mais com nossas queridas mulhas.

Várias soluções do problema do orgasmo foram apresentadas pelas sexshops. Chás, pomadas, catuaba, nó de cachorro, ginseng, por aí. E também uma variedade de sex-brinquedinhos mecânicos ou a pilhas, falos de borracha com vibros de qualidades assustadoras… Garanhão, Destroyer, Invasor Penetric... que prometiam super orgasmos infalíveis.

Seja como for, casais apaixonados, ou sexualmente empolgados, mesmo que tenham mil perrengues orgásmicos, sempre irão repetir e-terna-mente seus rala-e-rola e rapidinhas. Com ou sem brinquedinhos eróticos. Para o gáudio dos dignos donos de motéis e da sensível bolsa de valores do setor.

Na verdade, em geral, mas sempre de modo relativo a cada um, enquanto dos pés à cabeça, dos corações às almas, dos olhos às bocas, dos bagos aos xibíus… ainda badalarem os sinos d’alegria de vidavivere você ouvir rosas

… fluindocantandoMy cherie amour e s’esparrando pelas ancas… entrecoxas… entreolhos… da mulhamada

então-nesse-então… apenas um abraço ainda… apenas um sorriso ainda... apenas um roçar d’olhos e lábios… ahnn… e arrulhos e amassos na tardemansa

… e você sentirá que essa coisa do tamujuntos com a pessoa certa, já faz parte do gôzorgasmo nosso de cada dia…

Dizem os populistas políticos que “A voz do povo é a voz de Deus”. Aliás, bem antes dos populistas de nosso tempo, já no final do séc. 7 DC,  o Abade Alcuíno De York, numa carta a Carlos Magno, primeiro Imperador do Sacro Império Romano, assim aconselhava: “Não devem ser ouvidos quem costuma dizer,  a voz do povo é a voz de deus, visto que o ímpeto do povo está sempre próximo da insânia” (Nec audiendi qui solent dicere, Vox populi, vox Dei, quum tumultuositas vulgi semper insaniae proxima sit).

O ocidente político conservou tão só o “Vox populi, Vox Dei”, como algo politicamente divino. E, portanto, correto. Daí que, o aconselhamento de Alcuíno sobre a loucura popular foi distorcido e esquecido pela demagogia política.

bunda nacionalSeja como for, voz de Deus ou não, no Dia do Orgasmo é interessante lembrar que é de fato a voz do povo, vox populi, aqui em nossa santa terrinha velha-de-guerra, que aponta a tal preferência nacional de sexo como sendo a bunda vasta bunda.

Tal preferência, diga-se, é bem antiga, genética, cultural, profunda. E coisa da macharada colonial portuguesa. É o que nos conta o grande sociólogo brasileiro Gilberto Freyre.

Aos 84 anos Freyre publica na revista Playboy, nº113, dezembro, 1984, o alentado ensaio – “Bunda Paixão Nacional”.

Esse encanto do brasileiro pela bunda, como surge? Para Freyre isso vem desde o XVI com a portugalhada e os patriarcas coloniais.

Transcrevo alguns trechos interessantes da pesquisa de Freyre sobre o fascínio atrativo dos glúteos e ancas daquela época: “A miscigenação pode-se sugerir ter dado ritmos de andar e, portanto, de flexões de nádegas, suscetíveis de ser considerados afrodisíacos” …(…)… “Os ritmos de andar da miscigenada brasileira chegam a ser musicais, na sua dependência de bundas moderadamente ondulantes…(,,,)… “Para o ideal feminino predominante no Brasil patriarcal, de “gorda e bonita”, ? de se supor ter concorrido influência árabe,… o de sinhá dona de meia-idade, gorda, ostensivamente bem nutrida, dignamente bunduda, apta ao desempenho de mulher, mãe de sucessivos filhos e a cujo físico não faltavam bundas mais dignamente maternas que provocantemente sexuais. Pois para a satisfação de ardores sexuais o macho patriarcal brasileiro tinha, a seu dispor – por vezes defrontando-se com ciúmes de esposas ciosas de seus direitos conjugais – escravas, mucamas, morenidades em vários graus de mulheres. Isto, dentro da reciprocidade casa grande-senzala.”. 

Antônio Fagundes, famoso e competente ator da TV Globo afirmou recentemente, de modo claro e direto, sobre a preferência nacional: “O homem brasileiro não gosta de peito. A gente gosta de bunda. No entanto, elas estão botando peito e ficando magras. Mas a gente gosta do violão!”.

Entre as celebridades televisivas e da mídia digital atual há também a inesperada opinião aberta e corajosa de uma mulher.

Trata-se da musa fitness Gabriela Pugliesi que recentemente em seu Instagram respondeu algumas perguntas de internautas seguidores.

Numa das perguntas, um seguidor partiu pra cima: “O que pensa sobre sexo anal?”.

Gabriela encarou: “Eu penso que cada um faz o que quer com a própria bunda, né gente?!”.

Um outro seguidor entrou de sola: “Já fez sexo anal?”.

A musa empinou o nariz virtual e disparou uma bala perdida: “Gente, faça-me o favor né?! Só não fiz orelha, porque de resto”.

Cai o pano digital! E vamuquivamu, hermanitos… qu’essa mina é louca!

Preferência nacional ou não, emana da bunda – e estou falando da bunda-fêmea – uma verdade inevitável. Que é a própria presença viva da bunda… o sentir da bunda… sentir do qual não se pode fugir. Como fosse energia sutil, envolvente. Poderosasedutora.

.. a forma-mulher da bunda, desde as alucinantes curvas até o fascínio hipnótico de ancas e nádegas … ondeando ondeante ondulante… movimentos sobre movimentos…   arrastando alma- bagos-coração…

… a forma-mulher da bunda nos envolve num certo mix-sedutório de poesia-música-desejo. Obra-prima de carnisonho… plena de música sensual exótica

belagrotesca

levepesada

cheia-murcha

quase-animal

quase-espiritual

paixão-expansa

que cativa todo sexo ou gênero que a contemple…

Tal vício contemplativo foi eternizado na Arte com a  descoberta da Vênus Calipígia, IV aC, pós morte de Alexandre. A famosa estátua original era esculpida em bronze. Posteriormente, surgiram várias cópias em mármore.

Segundo alguns especialistas, a Vênus Calipígia olha intencionalmente e encantada para suas próprias nádegas.

Aliás, a palavra Calipígia significa em grego “belas nádegas”. Daí a interpretação de que ela olha para trás vaidosa de si mesma.

Seria sua preferência profunda ou só preferência shallow now?

Sobre essas perturbadoras protuberâncias, olha só o que alegremente diz Carlos Drummond de Andrade em seu poema A Bunda, que Engraçada:

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
redunda

Há na bunda-femina espécie de contínuo transbordamento, de cores, músicas, safadices, sacanices, secretudes, como se fosse espécie de arrastão das libidos cautas e incautas. Êxtase e perigo, desejamento e acolhimento, acalanto e rendição, sublimação e tara, borogodós e tesão.

Não só falo-falando. Não só falo-falando, repito… Mas quero falo-falar na loucura de sua estética-encantatória que faz flutuar sonhos sobre sonhos, sobre sonhos sobre luas sobre luas, sobre flores… nuvens… estrelas… mares e destinos… num turbilhão de gozolhar-espiritual estrugindo que nem maré de tempestade dentro de nós.

bunda-femina transborda em suas ancas e estrias uma sinfonia de finitudes e infinitudes que ecoa através da pele de carne e enrosca a alma.

Que fascina a todos nós vidaviventes, seja qual for o gênero que a sinta e contemple: feminino, masculino, gays, lésbicas, travestis, transexuais e suas multi-mix-diversidades.

Aliás, qualquer que seja também a forma e o peso da marquetagem televisiva da bundimulher: melancia, jaca, uva, pera, pêssego, passas… a bunda-femina ao se remexer, remexe o mundo.

É certo que as mais avantajadas são mais alucinatórias, por isso, chamam mais aos brios e correções monetárias.

Daí que o rala-e-rola já começa no gozolhar. Todavia é um chamamento, por vezes, de uma profundidade quase inalcançável. A bunda volumosa é delírio, colírio, tormento. Abismos…

Hay que tener cullones rojos, hermanito, hay que tener cullones rojos!

Abismos… inalcançáveis… E fica sempre a questão da “falta”. Prato cheio pros psicas lacanianos, com aquela história de diferenciar o gozo de vida do gozo de sexo. Ou Nietzsche de Freud.

Mas também é certo que as mais chapadas são mais vorazes e “não deixam atrasado pra receber“, como diz, ávido, o velho marujo a perigo, num cais qualquer, dum porto qualquer… pelaí… A magrabunda levanta moral e brios! E quita as correções monetárias! É osso no osso, mago-véi!

Volumosa ou magrosa, maré cheia ou maré vazante, no problem my friend! Pois toda bunda possui um aplicativo dos seiscentos porrilhões de demônios!!!, como praguejaria talvez um pirata caribeño encharcado de grog e rum preto de barrica. Como assim?… Com um olho fechado o velho flibusteiro explica para o grupo de pirata spapudinhos, com voz roufenha… “é o seguinte, cães-do-mar, essaporra de esfíncter é uma desgraceira dum bixo mordedor… é uma treta que te ferra pra valer, cumpadi… moendo e desmoendo… é um engancho que só te solta quando tu estrebucha no Apocalipse-cráu!… yo-ho-yo-ho…”.

Sem dúvida que há sempre encantos e espantos bundiáticos e até poemáticos quando uma Vênus Calipígia cruza nosso foco.

Mas não foi justo isso que me xavecou num certo dezembro, numa certa tarde, diante de uma certa bundivisão incendiária… digaí!?

A Vênus Calipígia fazendo mercado em Natal

… fui ferrado pelo acaso, manos.

literalmente rebocado é que fui.

atração fatal, indefensável.

tocou zorra no meu GPS individual.

Minha SantaFilosofinhazinha-da-pá-virada, que é aquilo-aquilão?

que bunda imensa é essa, trafegando, impávida, absoluta, desavergonhada?

donde? donde? donde?

Espaço: ExtraSuperMercado, Capim Macio, Natal, Brasil-Esquina.

Tempo: dia 7 de dezembro, às 1730.

Disposição: sentires se espreguiçando na tardemansa…

manos mios, não era só simples bundaimensa.

era uma bundíssimabunda!

uma galáxia inteira de…!!!

Algo criminosa. Algo majestosa. Algo daliniana.

belamulhamadura… parecia uma madona grega.

vestes compridas, branca, quase transparente.

calcinha riscando ancas, e desaparecendo no GranCanyon.

quem sabe uma bacante que errou a porta-do-tempo?

quem sabe a Vênus Calipígia que caiu do Olimpo e veio fazer feira em Natal?

sei lá, galera! Só sei que tava ali sacolejando. Bagunçando fantasias e desejos.

mais cheia do que magra, mais churrasco do que osso.

da cintura cavada irrompiam poderosas ancas e nadégas, bundimágicas,

em circunvoluções monumentais.

caminhava majestosa…

Deusa de todas as Bundas…

quando as ancas iam prum lado, no passo majestoso,

as protuberâncias das nádegas iam pra outro lado.

daí as duas megaprotuberâncias glúteas automoventes  se chocavam divinamente.

e divinamente estremeciam.

– movências over movências –

com uma certa dureza, com uma certa maciez.

côncavo-convexo em movimentos concêntricos-excêntricos.

bombordo… boreste… porão…

autonomia absoluta.

traseiro autosustentável,

trepidante,

hipnótico.

grau-8 na escala Richter…

 

Flanando por aí com radar ligado, a gente compreende que as nádegas não são tão somente objetos de desejosexobeleza. Não só isso.

Imaginemos o Homem na História, ou na vida corrente… conversando, debatendo, trocando ideias e projetos… juízes, reis, caciques, professores, políticos, no campo de futebol, na escola, na universidade, nas palestras, no cinema, teatro, na TV, no bar, no carro, no avião, pesquisando, estudando, no lar… o que se vê?… a gente vê que na maior parte de suas grandes decisões, de seus pensares e sentires, o Homem está sentado sobre seu traseiro. Como a famosa escultura em bronze de O Pensador, de Rodin

Quer dizer: é como se nossas nádegas fossem um fundamento material confortável, um apoio físico – uma base – para os fundamentos racionais ou imaginários de nossa existencialidade civilizatória.

No livro “A Face Oculta das Nádegas”, lançado em 2009 na França, os autores Caroline Pochon, documentarista e Allan Rothschild, jornalista, afirmam que “Há mil coisas a dizer sobre as nádegas… (…)… Elas nos falam sobre os fundamentos – no sentido literal e figurado – de nossa sociedade, os seus tabus e os seus desejos”.

E lembram, os autores, o pensamento existencialista do filósofo Jean-Paul Sartre: “A pátria, a honra, a liberdade, nada existe: o universo gira em torno de um par de nádegas”.

Yo-ho-yo-ho, tiozão Sartre!

Eis, portanto, mis hermanitos, nessa passagem do Dia do Orgasmo, o registro da importância exótica da bundi-pesquisa, teórica e prática.

Seja nos textos clássicos e modernos; seja na Arte e Filosofia; seja nas tardesmansas ou noitesvadias, nalgum motel, por-aí; seja no espanto dos bares e esquinas; seja na risada e solidão eterna dos deuses… que nos olham do último andar do infinito… buscando compreender como criaram uma raça “à nossa imagem, conforme nossa semelhança” (Gênesis 1:26), mas tão marrenta, trapalhenta, sonhadeira e amorenta…

Ruben G Nunes

Ruben G Nunes

Desfilósofo-romancista & croniKero

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