5 perguntas para Maria Maria Gomes, do Seridó ao mundo

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Das minhas lembranças, meu primeiro encantamento com poesia potiguar se deu com Maria Maria. Isso graças ao saudoso Moacy Cirne. Éramos vizinhos de blog, por assim dizer. Eu com meu Diário do Tempo e ele com o Balaio Porreta, com poesias diárias e a poeta seridoense era figura tarimbada por lá.

Maria Maria Gomes (hoje com o adendo do sobrenome) carrega sua Currais Novos nas lembranças e nos escritos. E com a cidade debaixo do braço voa junto a Tolstoi quando quer ser universal, pintando sua aldeia. E na imaginação ou no encaixe das palavras, Menina Maria, como gosto de chamar, ganha o mundo.

Maria Maria integrará o timaço presente no Festival Livro Vivo, Cultura Viva, com início nesta segunda (confira tudo AQUI). Traz a bagagem de 13 livros publicados, uma pós-graduação em Literatura Luso-Brasileira e o status de consulesa do Seridó, título conferido pelo movimento poético Poetas del Mundo, com sede no Chile.

E traz também ao festival a voz mansa e doce de quem também canta e encanta. E um novo livro de poesia, intitulado Os Cântaros do Mundo. Conversamos rapidinho com essa Menina Maria:

Cântaro: vaso grego para se beber. Do que você bebeu para escrever seu 13º livro?

Escrever é, para mim, uma missão. Escrevo desde criança, mas Os Cântaros do Mundo, o 13º trabalho da minha carreira, foi uma produção inspirada nas mulheres quilombolas do Seridó e na história de vida de minha mãe biológica que carregava agua para encher os potes da casa. Essas pessoas são os próprios cântaros porque elas conseguem manter a “água viva”, que é a fé, a coragem e a perseverança para sobreviverem neste mundo de desigualdade social, especialmente no Brasil.

Qual líquido currais-novense enche um cântaro de poesia?

A paisagem transformada em vinho faz com que os poetas currais-novenses se encham de poesia. A cidade e sua história antiga, feito vinho bom, nos mantém inspirados e conectados ao universo memorialístico e esse desejo de preservar a nossa história é capaz de encher mais de um cântaro.

O que lhe incentiva a escrever? Em que momento você distingue essa vontade em poesia e prosa?

A vida é a minha mais forte inspiração. Escrevo a qualquer hora, em qualquer momento e lugar. Já fui surpreendida várias vezes encostada a uma parede, escrevendo um poema em uma nota de compras para a inspiração não fugir. Esse fato se configura especialmente quando algo curioso me prende a atenção, um beijo entre dois passarinhos, por exemplo. Depois chego em casa e guardo logo a minha ideia. Sou esquecida! Quanto me vem o desejo de produzir um texto em prosa, eu o faço logo antes que o dia amanheça. Gosto muito do tempo nublado, ele me leva a outros extremos de mim mesma. Não tenho uma só trilha, sou meio palha de coqueiro, cheia de veredas.

Sua intervenção na Flivivo tem o tema “Há um verso que se tece em fios de imaginação” e será junto ao poeta João Andrade. Esses fios de imaginação entre a poeta e o poeta são diferentes do ponto de vista de gênero?

João Andrade, que prefiro chamá-lo de João Jardim, tem muitas afinidades comigo. Somos amigos e escrevemos nos dois gêneros, além de amarmos jardinagem. A poesia dele é extraordinária e eu o vejo como um grande poeta potiguar que habita as estrelas. É autêntico e carrega uma Natal dentro dele igual a mim em relação ao Seridó. O meu sertão vai comigo para onde eu for. Quanto ao tema, certamente teremos muitas “aranhas, tecendo poemas” nesse papo cultural.

Você também é muito ativa em eventos literários promovidos em Natal. Quais as cores da poesia litorânea e seridoense?

Eu enxergo a poesia do litoral muito parecida com a poesia do Seridó. Primeiro porque há “solidões” em ambas e porque as realidades não são tão destoantes assim. O que muda mesmo é o aspecto físico geográfico. Segundo, a poesia do mar tem intensa relação e se harmoniza com a do açude caatingueiro, ambas são revelações humanas transformadas em palavras. As areias existem nas bordas e as águas baldeiam-se em comunhão com os elementos naturais. Poesia potiguar é o que designa o que produzimos.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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