A sinopse resumida do filme Zona de Interesse (2023) é o cotidiano da convivência familiar na Alemanha de Hitler, em uma residência confortável situada ao lado de Auschwitz. O propósito escancarado do diretor Jonathan Glazer foi mostrar a normalidade da família do comandante do Exército alemão na Segunda Guerra ante os horrores do mais brutal campo de concentração nazista.
O filme tem seus méritos, recebeu e tem recebido todas as loas da comunidade cinematográfica. É diferentão, ousado; foge do comum. Já começa com uma tela preta que dura minutos. O som transmitido pelo campo de concentração à residência familiar é algo sutil e ao mesmo tempo perturbador, como também é extremamente incômoda a naturalidade das cenas ante o extermínio logo ao lado.
Mas as cenas são extremamente arrastadas. Definitivamente não há clímax nem sobressaltos no filme. Uma linearidade entediante, sobretudo quando o propósito do filme é evidenciado já nas primeiras cenas e prossegue o mesmo até o último segundo, de diferentes maneiras, mas sempre o retrato da banalidade cotidiana de uma família perante o holocausto, o que já não traz nenhuma novidade. Ou alguém ainda se assusta com a barbárie humana?
Outros filmes excelentes sobre o mesmo tema conseguiram transmitir a mesma temática ao telespectador com emoção e outros sentimentos aflorados, a exemplo de A Lista de Schindler (1993), A Vida é Bela (1997) e O Menino do Pijama Listrado (2008). Também foram ousados ao seus modos e permanecem na lembrança de muitos e na história do cinema. Não acho que será o caso de Zona de Interesse.
A diferença está em explicitar os horrores de Auschwitz. Em Zona de Interesse é retratado apenas a rotina de um pai amoroso com sua esposa e filhos, em uma casa confortável, em local aprazível. São esses os “interesses” a serem mostrados; cenas banais e arrastadas enquanto a agonia grita do outro lado do muro e ninguém vê. E nos leva a sairmos da nossa zona de conforto.
É um filme que merece ser visto, mas ao contrário da crítica especializada que coloca o filme no status de preferido entre indicações ao Oscar, eu pendo mais ao 8 do que ao 80. Uma experiência válida, mas entediante; diferente, mas ao mesmo tempo aquela mesmice em retratar o que já sabemos e, infelizmente, nem assusta mais, nem causa revolta porque já sabemos, desde o alemão Nietzsche, que somos humanos, demasiado humanos.