Viva a Oktoberfest à brasileira!

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Ein Prosit![1]Oktoberfesteiros”!

Hoje completamos 1 ano de postagens sobre cervejas, variedades e demais assuntos etílicos no Blog Papo Cultura! Após 53 textos ininterruptos, já que toda quarta-feira, “religiosamente” temos um novo texto sobre cerveja, completamos um ano de postagens para enriquecer a cultura cervejeira e expandir o conhecimento na comunidade etílica!

Comemoremos!

Como diria o decrépito fanfarrão Sílvio Santos: em ritmo de festa! Vamos trazer um texto que combina exatamente com o clima festeiro de um ano de postagens. Falaremos sobre a festa mais cervejeira do mundo (os irlandeses discordam, dizem, seguramente, que é o St. Patrick’s Day): a Oktoberfest! Quando se pensa em festa e cerveja, é pouco provável que alguém não se lembre das grandes canecas do estilo Maßkrug (de um litro de volume) totalmente cheias com muitos festejos entre os presentes!

Nesse clima de folguedo popular regado à muita cerveja vamos falar um pouco de como a Oktoberfest (e quase todos os estilos de cerveja, vale salientar) foram moldados a fim de satisfazer o gosto popular dos brasileiros. Isto é, falaremos como a Oktoberfest hoje é popular em todo o Brasil (não apenas nas regiões de maior presença de colonos alemães) e como ela foi abrasileirada com o tempo.

Então, pegue sua caneca, encha de cerveja e tenha uma boa leitura!

O’zapft is! [2]

No Brasil, a Oktoberfest é sempre em outubro

Na Alemanha, o calendário da Oktoberfest é variável, dura sempre, pelo menos, mais do que uma semana. A princípio, a festa sequer era uma ode à cerveja, ela foi festejada pela primeira vez em 12 de outubro de 1810 em Munique, em ocasião do casamento do príncipe da Bavária, Ludwig e a princesa Therese von Sachsen-Hildburghausen. Todavia, com o passar do tempo a festa foi antecipada para aproveitar o clima mais favorável (mais próximo do verão do que outono).

Noites mais quentes e dias mais ensolarados são dois requisitos essenciais para os alemães ficarem felizes, já que são dois elementos escassos em sua climatologia. Por causa desses fatores, a festa que inicialmente ia de 12 a 17 de outubro, acabou sendo antecipada para começar em meados de setembro e finalizar no início de outubro (ao menos essa é a tradição em Munique, em outras cidades alemãs ela acaba ainda em setembro).

Já no Brasil, Oktoberfest é sinônimo de Outubro. Até porque a questão do clima não é algo tão relevante para nós, principalmente no Nordeste, de onde vos escrevo, por sequer existir outono propriamente dito. Temos estações chuvosas, mas elas não costumam ser nem em setembro e nem em outubro, então antecipar a festa cervejeira no Brasil não possui sentido algum. O brasileiro vai ser sempre capaz de beber litros de cerveja, faça chuva ou faça sol, na comemoração de sua Oktoberfest!

Por mais que não haja o costume de a Oktoberfest tupiniquim começar em 12 de outubro (data original alemã), basicamente porque o feriado por aqui comemorado é outro, e de índole religiosa, é costume que ela seja realizada no final de semana de meados de outubro. Por costume, também, apenas em Blumenau e algumas outras cidades de maior influência alemã no sul do país a festa se estende por mais de uma semana, sendo comum que ela dure apenas um sábado, ou, no máximo um final de semana nas demais localidades, sendo bem raro que ela seja comemorada em dias de semana.

Na Oktoberfest à brasileira se tem muita música e pouca dança

A Oktoberfest (a original, alemã) é conhecida por suas músicas folclóricas, por seus desfiles, por seus festivais de dança e por suas competições, das quais, particularmente, destaca-se a de beber “cerveja de metro” (um recipiente volumétrico que mede um metro), e que ganha quem beber tudo primeiro. E algumas competições que acabaram não sendo importadas para o Brasil, como o tiro com arco e flecha (não recomendada para quem está degustando boas cervejas no local).

A música, desde os primórdios casamenteiros da Oktoberfest, já era uma das marcas registradas da festança. Aliás, a princípio, a música era o que mais atraía as pessoas para o evento, mais até do que a cerveja, já que não era um festival propriamente cervejeiro, e sim uma comemoração das bodas do príncipe da Bavária.

As danças tradicionais alemãs, por seu turno, estavam profundamente associadas às músicas que eram executadas no evento, sendo uma expressão muito peculiar da cultura local, e algo que se mantém até hoje nas celebrações da Oktoberfest em Munique. A presença e a prevalência das danças e das músicas locais é tão forte na maioria dos locais da Oktoberfest que há um pavilhão (tenda) inteiro dedicado aos turistas estrangeiros, o Armbrustschützenzelt, onde não há músicas nem danças folclóricas locais, onde se pode degustar um Eisbein (joelho de porco) com Sauerkraut (chucrute) bebericando uma cerveja (Festbier) mais tranquilamente.

Nas Oktoberfest’s brasileiras os ritmos musicais são mais diversos, e variam de acordo com a amplitude nacional em termos geográficos. Em Blumenau, ainda se tem desfiles e músicas folclóricas (ainda que já abrasileiradas, às vezes cantadas em alemão, às vezes cantadas em português, e às vezes misturando os dois idiomas). Nos demais locais, não é raro ver até bandas carnavalescas animando a Oktoberfest! Todavia, o mais comum é que bandas de pop/rock façam as honras musicais.

Contudo, danças folclóricas é algo bem estranho aos eventos que celebram a Oktoberfest por aqui. Quando muito, há desfiles ou concursos de pessoas que vão a caráter, mas o elemento musical é algo que se diluiu bastante no formato brasileiro da celebração.

Cervejas de todos os tipos e todos os gostos na Oktoberfest tupiniquim

Os alemães costumam ser tradicionalistas em sua lida cotidiana e sabidamente puristas em termos de cervejas. Todavia, a Oktoberfest acabou sendo um pequeno desvio de rota nessa tradição. Até a década de 1970, o estilo de cerveja vendido na Oktoberfest era o Märzen, uma Amber Lager mais maltada e encorpada produzida no mês de março (daí o sufixo Marz, que significa “março” em alemão). A cerveja do estilo Märzen foi a cerveja oficial da Oktoberfest por bastante tempo, desde 1872 (31 anos após o primeiro registro oficial de sua receita, feito em 1841 pela cervejaria Spaten) e perdurou com exclusividade até o século passado.

Todavia, em 1970, a cervejaria Paulaner (uma das Big 6 do evento, juntamente com a Augustiner, Hacker-Pschorr, Hofbräu, Löwenbräu, Spaten; apenas elas podem vender cervejas no perímetro da Oktoberfest em Munique) decidiu desenvolver um novo estilo especificamente para os festejos. Daí se criou o estilo denominado de Festbier (que é comercializado apenas no evento como Oktoberfestbier), que é maltada, todavia, mais leve que a Märzen e dourada (enquanto que a antecessora era alaranjada ou cor de âmbar).

Por possuir uma maior drinkability e agradar mais os frequentadores do evento, a partir de 1990 o estilo Festbier se tornou a regra, e todas as demais cervejarias participantes aderiram à fabricação do estilo para ser consumido durante a Oktoberfest, tanto que nessa comemoração ele recebe a denominação de Oktoberfestbier (quando produzido por outras cervejarias que não as Big 6, ou fora do período da Oktoberfest, ele é chamado apenas de Festbier).

A Oktoberfestbier é um verdadeiro tributo à Wiesn (outro nome dado à Oktoberfest em terras tedescas). Ela é uma cerveja especial produzida para o evento em tela, é um mosto lupulado de baixa fermentação, com teor alcoólico variando entre 5,7 a 6,3%, utiliza-se de lúpulos alemães nobres, como Herkules, Perle, Magnum ou Select, e malte de cevada claro (Pilsen) e malte de Munique. Tais elementos de produção lhe conferem um delicado tom dourado brilhante e intenso, seu aroma é levemente maltado, com a lupulagem quase imperceptível. No sabor, ela é suave e macia, leve, amargor baixo e com um toque final ligeiramente doce advindo dos maltes empregados.

Já a Oktoberfest à brasileira não possui nenhum desses regramentos, embora seja comum que se busque, ao menos, beber algum estilo alemão mais tradicional. Não é raro, portanto, nos eventos ter a disposição cervejas do estilo Weiss (o estilo alemão mais popular no Brasil, ainda que ele nem seja consumido na Oktoberfest original), e eventualmente uma Pilsen (se bem que esse estilo no Brasil é qualquer coisa…), uma Helles, e, às vezes, uma Dunkel. Procurar uma Festbier (ou uma Märzen) para se beber na Oktoberfest nacional é uma tarefa hercúlea e praticamente impossível, já que o estilo sumariamente não é produzido por aqui em larga escala.

Todavia, em terras de Pindorama, para se ter uma Oktoberfest é necessário apenas ter cerveja, ela nem precisa ser no estilo alemão. Aliás, as cervejas podem ser dos mais variados estilos e escolas cervejeiras, podem ser encontradas Witbier’s (que são belgas), Blonde’s e Stout’s (que são inglesas) e também muitas IPA’s (cervejas da escola americana), que é o estilo em maior profusão no momento. A regra cervejeira na Oktoberfest à brasileira é ter cerveja, pouco importando, especificamente, qual o seu estilo ou sua origem.

A Oktoberfest brasileira é democrática! Como temos a tradição de ser! (Embora ultimamente…). Cabem todos estilos cervejeiros, cabem todos os ritmos musicais, a lei da festa é a diversão e a irreverência não-dogmática!

Saideira

Concluímos que a Oktoberfest à brasileira é o verdadeiro puro suco cervejeiro de Brasil! Tal fato, saliente-se, é algo estupendamente maravilhoso, diversificado e ainda mais festivo!

Então, pegue sua caneca, encha com sua cerveja preferida, seja um estilo alemão ou não, e brindemos a mais um festival cervejeiro!

Sem complexo de vira-lata algum, devemos comemorar! Viva a Oktoberfest à brasileira!

Recomendação musical para degustação

Como recomendação musical, deixo para vocês uma das músicas que mais serão ouvidas por quem quer que se aventure um dia a ir à Oktoberfest em Blumenau. Lá ela é executada por qualquer banda que esteja tocando no momento, é uma das canções mais populares de todo o evento, sem dúvida alguma.

Brindo-vos com a versão da banda Os Montanari da onipresente em tempos de Oktoberfest: a música ícone dos cervejeiros “inimigos do fim” Zic Zac. Puro suco de Brasil: uma banda com integrantes de origem italiana cantando em alemão na Oktoberfest brasileira. This is Brasil, mein amigo!

Zigge-zagge, zigge-zagge hoi, hoi, hoi

Wir geh’n noch nicht nach Haus!”

Viva a Oktoberfest!

Zum wohl! [3]

[1] Brinde alemão que equivale, em português, a “saúde!”

[2] Proclamação feita pelo prefeito de Munique, na Alemanha, queda início aos trabalhos na Oktoberfest!

[3] Mais uma forma de saudar o cervejeiro dizendo: saúde!

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

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A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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