Qual a identidade musical do RN?

Ítalo Babini

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Natal nasceu na esquina do Continente. Durante a Segunda Grande Guerra recebeu uma enxurrada de norte-americanos. Quase 10% de sua população era de yankees, que chacoalharam a cidade e foram embora. Até hoje dizem que Natal só ter olhos para o Atlântico à espera da volta daqueles tempos de fartura e agitação. Sem construção de uma história própria, a carência de identidade cultural divide opiniões. De certo é influenciada pela verve geográfica. E pelo menos na seara musical é difícil um encontro de opiniões definidas de qual seja a maior representação natalense na música. Há quem defenda o Zambê e o Coco, sem contar sequer três nomes reconhecidos nacionalmente. O forró ou for all? Qual a tradição?

Mas na música instrumental, o Rio Grande do Norte exportou e exporta gênios. Talvez até em número (a qualidade é indiscutível) suficiente para definir a identidade musical potiguar como vocacionada à Música Instrumental. Mas dentro da própria música instrumental – que mostrou Tonheca Dantas, Oswaldo de Souza, Waldemar de Almeida, K-Ximbinho, Waldermar Ernesto e Tico da Costa, ou a nova geração de gênios: Lola, os irmãos Taufic, Júnior Primata, Joca Costa, Manoca Barreto, Edu Gomez, Jubileu Filho e Bethoven, Sérgio Groove – há ainda uma particularidade mais identitária da música local: o violoncelo, símbolo da geração antiga de instrumentistas potiguares. E o sobrenome Babini talvez explique alguma coisa.

O VIOLONCELO NO RN

Thomaz Babini

Tomazzo Babini ou Thomaz Babini como ficou conhecido na vida artística, nasceu em 1885 em Faenza, na Itália. Na primeira década do século 20, já violoncelista, chegou ao Brasil, primeiramente no Rio de Janeiro, onde foi assistente de Heitor Villa Lobos – posto que logo se inverteu, proposto pelo próprio maestro brasileiro que passou a ser seu assistente. Mas consta que em 1907 ele veio a Natal, onde criou uma orquestra de câmara e dirigiu a escola de música no então Teatro Carlos Gomes, nomeado Teatro Alberto Maranhão em 1957. Morreu em 1949, em Recife. Thomaz é considerado um dos músicos de concerto mais conceituados do século passado.

Em Natal, Thomaz ensinou violoncelo ao filho Italo Babini e ao também natalense e enteado Aldo Parisot, residente famoso do bairro da Ribeira, que deram prosseguimento à tradição de violoncelistas notáveis, reconhecidos no mundo. Parisot também foi colaborador de Villa Lobos e dirigiu algumas das maiores orquestras do mundo. Hoje ambos vivem nos EUA. Parisot completou 100 anos no último 30 de setembro e tem sido homenageado na programação da 8ª Mostra de Violoncelos de Natal, que culminará nesta quinta com um concerto gratuito reunindo 100 violoncelistas do Brasil e do mundo no auditório do Holiday Inn, em Natal.

O violoncelista professor da Escola de Música da UFRN, Fábio Presgrave, conseguiu uma entrevista exclusiva e rara com Ítalo Babini, filho de Thomaz e hoje com 90 anos. Nessa entrevista, realizada oito anos atrás, quando Babini esteve em Natal, ele discorre sobre sua formação básica, sua infância em Natal, peculiaridades geniais de seu pai, seu período europeu, sua carreira, a história de seu milionário violoncelo e visão sobre o violoncelo e sua pedagogia. Uma entrevista memorável feita por Presgrave sobre um instrumentista símbolo da tradição natalense conhecido apenas por um seleto grupo de músicos.

ENTREVISTA COM ÍTALO BABINI

Presgrave – O senhor pode nos falar sobre o início da vida violoncelística, sobre seu pai e sua subsequente vinda ao Brasil?

Babini – Thomaz nasceu em Faenza, na época uma pequena vila de camponeses, hoje uma cidade cosmopolita, que exporta para o mundo inteiro seus produtos. Ele sempre me dizia que, quando ia estudar, sentia as cordas do violoncelo cortarem seus dedos devido ao intenso frio do inverno. Sobre sua motivação inicial para estudar o violoncelo, nada posso dizer. Durante seus anos de formação, ele tomava duas vezes por mês um trem para Bologna para fazer aulas com Francesco Serato, um renomado professor da época. Quando ele veio ao Brasil, trouxe um violoncelo que foi feito por Nicola Utili, de Castel Bolog nese, uma cidade vizinha a Faenza. Meu pai sempre dizia ter ajudado na construção de seu instrumento.

A pianista Ruth Smith e Ítalo Babini

Quanto à razão que ele teve para visitar o Brasil, acredito ter sido motivada pelo espírito de aventuras. Ele tocava em um trio de cordas e dava concertos para financiar as viagens. Em uma dessas viagens, ele foi ao Rio de Janeiro, e veio a conhecer o Villa-Lobos. Na época, o compositor era o primeiro violoncelista da orquestra sinfônica da cidade. Os dois construíram uma só lida amizade e meu pai ficou tocando na orquestra como o assistente do Villa. Reconhecendo a superioridade de meu pai como violoncelista, o Villa-Lobos falou com o maestro para colocar o Thomaz na cadeira de primeiro violoncelo da Orquestra, ficando o compositor como assistente dele.

A temporada de concertos da orquestra era pequena e meu pai continuou a tocar com seu Trio, visitando Belém, Fortaleza, Recife e, quando chegou a Natal, ficou encantando com a cidade e o clima da mesma. Apesar da cidade não possuir um violoncelista, eram muitos os natalenses que possuíam um considerável conhecimento e gosto pela música clássica, e essas pessoas o convenceram a ficar morando em Natal. Para criar uma escola de violoncelistas, o Professor Severino Bezerra, diretor de um Ginásio, o ajudou muito na sua realocação. Meu pai aos poucos se transformou em uma atração no mundo musical de Natal; ele era também um bom pianista, e nessas “horas de música” que fazia, veio a conhecer Luiz Parisot, um engenheiro que se casaria com minha mãe. No casamento de Luiz Parisot com a minha mãe, meu pai tocou um belo programa na Igreja.

Parisot faleceu após dez anos de casado e, então, meu pai se casou com a minha mãe, sendo um pai exemplar para os filhos do Parisot – Danilo, que faleceu recentemente e o Aldo que, apesar dos seus 95 anos, continua vigorosamente ensinando na Yale University.

Presgrave – Poderia nos descrever seu pai, Thomaz Babini, como professor?

Babini – A dedicação de meu pai a inúmeros alunos é algo que merece ser mencionado, algo excepcional… Uma hora marcada para uma aula de violoncelo terminava sendo duas ou mais. Cada aluno era precioso para ele, passavas horas avaliando mentalmente “qual o estudo ou a escala que o estudante deveria observar na próxima aula”. Muitas vezes, após a aula de violoncelo ter acabado, ele prosseguia com uma aula de solfejo. Na concepção dele, realizar a leitura métrica não era suficiente, o aluno tinha que conseguir entoar as notas também.

Presgrave – O senhor poderia descrever Thomaz como violoncelista?

Babini – Meu pai era um excelente violoncelista, com um ótimo controle da mão esquerda, um belo som e uma musicalidade notável. Infelizmente, a dedicação dele para o ensino do instrumento tirou dele as horas que ele deveria ter usado no violoncelo. Apesar disso, ele adorava estudar escalas, estudos e os Concertos de Karl Davidoff. Quando ele tinha um raro momento livre, tocava, com minha mãe ao piano, um recital para os filhos.Da minha parte, agradeço aos céus pela rara oportunidade de ter tido Thomas Babini como pai. Ele me iniciou no violoncelo quando eu ainda tinha sete anos (colocou um espigão em uma viola para que eu pudesse estudar) e era totalmente inflexível quando eu não estudava ou demonstrava pouco interesse nas aulas.

Presgrave – Em um momento posterior, seu pai se mudou com a família para Recife?

Babini – Sim, ele recebeu um bom convite para ir para Recife, ensinar no Conservatório de Música da cidade e ser o primeiro violoncelo da Orquestra do Recife. Em Recife, o número de alunos duplicou. Muitas vezes ele dava aula comendo o jantar dele ou o almoço. Uma vez, lembro-me que o aluno chegou um pouco cedo para a aula, meu pai estava tomando um banho e, quando o aluno começou a tocar, ele gritou: “Não, não, Fá natural!”. Outra vez, saiu do banheiro coberto de sabão com uma toalha na cintura, molhando o chão todo para apontar na música que era um Fá Natural. Enfim, dedicação ao extremo!

Presgrave – Como foi o seu início ao violoncelo?

Babini – O violinista Nicolino Milano ajudou meu pai a encontrar uma viola e a colocar um espigão na mesma. Confesso não ter gostado da ideia de esfregar as cordas do instrumento e preferia passar o tempo brincando com as crianças de minha idade. Aos nove anos fui premiado com um violoncelo inteiro e cometi o gravíssimo erro de usar uma tesoura para cortar duas cordas pensando que iria demorar pelo menos dois meses até que novas cordas chegassem do Rio. O velho Babini “realmente” não gostou muito, e lembro ter tido dificuldades em “me sentar” muitos dias após isso.

Presgrave – Quais os procedimentos pedagógicos do seu pai e como foram os anos seguintes?

Babini – Escalas e estudos faziam parte da dieta do dia e, aos poucos, a vontade de me dedicar seriamente ao violoncelo apareceu. Ao mesmo tempo, eu frequentava o colégio Marista e estudava o piano com minha mãe. Quando meu pai aceitou o convite para morar em Recife, lembro de ter tocado o Concerto de Haydn em Ré Maior com o maestro Vicenti Fittipaldi, regente da Orquestra Sinfônica do Recife, aos 11 anos de idade. Vários anos após isso, o Aldo veio do Rio para tocar um recital e convenceu meu pai para me mandar para o Rio, estudar com o Iberê Gomes Grosso. Hoje em dia, reavaliando meu passado, vejo como foi imensamente benéfico eu ter passado pela escola italiana de meu pai; sem o alicerce que ele criou, a pedagogia de Diran Alexanian, usada pelo Iberê, não teria dado os resultados que deram.

Presgrave – Poderia nos falar mais sobre sua relação com Iberê?

Babini – Iberê foi muito mais que um professor, foi um amigo, e com ele regendo a Orquestra Sinfônica da Radio Nacional (cujo Diretor Artístico era Leo Peracchi) toquei o Concerto de Dvorak. Iberê convidou seu grande amigo Villa-Lobos para ouvir o concerto. Isso ajudou muito minha vida musical, porque o Villa sempre batalhava no Ministério da Educação, com o objetivo de ajudar os jovens músicos do Brasil. Uma carta de recomendação dele realmente quebrava empecilhos e representava um antídoto para a falta de inteligência que existia naquele tempo no Governo.

Presgrave – Pode nos falar sobre o início da sua vida profissional?

Babini – Aos 17 anos, tive que voltar para Recife, pois meu pai sofreu uma hemorragia cerebral e não pode mais trabalhar. Assumi a responsabilidade de sustentar minha mãe e duas irmãs, e de prover tudo que meu pai necessitava. Na época eu estava tocando na pequena orquestra da Rádio Clube do Recife, ensinando no conservatório e tocando como primeiro violoncelo nos poucos concertos que a Sinfônica do Recife dava por ano. Foi um período de grande crescimento pessoal para mim. Infelizmente ou felizmente, a situação financeira da Radio Clube causou o fim da sua pequena orquestra e do dia para noite o dinheiro para sustentar a família desapareceu. Mandei uma carta para o Iberê contando a situação e ele ligou para o Villa, que pessoalmente falou com o Eleazar de Carvalho para me ouvir. O Iberê mandou minhas passagens e por um ano fiz parte da Orquestra Sinfônica Brasileira. Nesse período, uma vaga para a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal apareceu. Uma vaga para a Orquestra do Teatro era comparável à “Corrida do Ouro da Califórnia”. Era o melhor emprego que existia no mundo musical do Brasil. Após alguns meses tocando ópera, a situação política no Brasil recebeu o impacto da morte do presidente Getúlio Vargas, um verdadeiro caos no país. O prefeito do Rio estava sem autoridade para assinar as folhas de pagamento dos músicos do Teatro. Ficamos seis meses sem receber um centavo. Lembro-me que me chamavam para tocar com uma orquestra numa rádio, que o Alceu Bocchino regia, quando eles precisavam de um violoncelista, e também tocava na orquestra da televisão Tupy, na Urca. Porém, o dinheiro não era suficiente – eu mandava a metade do que ganhava para minha mãe e, durante esse período, lembro-me de ter perdido trinta quilos. Com essa situação, pude aprender como é bom poder comer todos os dias…

Presgrave – E após os seis meses de dificuldades?

Babini – Após esse período, aos poucos a situação do Brasil ficou normalizada e o Teatro Municipal pagou os seis meses acumulados. Com isso, o anúncio do Concurso do Ministério da Educação, que premiava com uma bolsa de estudos por um ano na Europa, não despertou muito entusiasmo para mim, afinal eu tinha o melhor emprego que existia, e só teria que trabalhar por 25 anos no teatro, aposentar-me e continuar trabalhando, ganhando o salário em dobro. Fiquei pensando no risco de deixar o que era certo para algo duvidoso. O Prêmio do Concurso era uma bolsa para ser disputada entre pianistas, violinistas e cellistas. Um dia, quando estava terminando o ensaio de Rigolleto, o Iberê chegou no Teatro e disse: “O Maestro Villa que falar com você!” , e então me fez entrar em seu carro. Ao chegar à casa do Villa, a Arminda falou que o maestro estava no estúdio dele. Encontrei, então, o maestro escrevendo música, com as cinzas do charuto dele espalhadas por todos os cantos, um papagaio falando e um rádio tocando samba. Sem tirar os olhos do que estava escrevendo, o Villa falou: “Babini, você tem que entrar nesse Concurso!”. O Iberê estava muito aborrecido porque eu realmente não queria sair do Teatro. Sem tirar os olhos da partitura e continuando a compor ao mesmo tempo em que falava, o Villa falou dos esforços dele para “acordar essa gente do Ministério…”, citou também que o pianista Oriano de Almeida muito contribuiu para os detalhes do concurso.

Presgrave – Então o senhor foi convencido a fazer a prova?

Babini – Sim e me mudei para Munique, na Alemanha. A Academia de Música de Munique da época é algo que mereceria ser imitada, era a última palavra em organização. Meu professor foi Herman von Berckerath, ex-aluno de Julius Klengel, ele foi algo muito especial em minha formação musical. Os melhores alunos eram premiados com viagens pagas para participar das Masterclasses com os grandes nomes da Europa. Como exemplos, posso citar: Pablo Casals, em Zermat, Maurice Gendron e Paul Tortellier, em Salzburg. Minha bolsa foi renovada por três anos, e a direção da Academia não criou empecilho quando fiz o concurso para a vaga na Orquestra de Câmara de Munique. Quando viajava com a orquestra, o prof. Von Bercherath me dava o material para estudar e, quando retornava das viagens, tinha aulas diárias. O sistema utilizado na época na Alemanha é algo que deveria ser copiado: era obrigatório o estudo do piano, e de outro instrumento, eu acabei estudando Tímpano e Viola concomitantemente com minhas aulas de Composição e Harmonia. A Educação Musical, na Alemanha, é considerada prioridade. Para os alemães, o sucesso de seus alunos é a principal propaganda para as Universidades. As escolas fazem o impossível para ajudar os alunos e criam situações para fomentar suas carreiras. Vejo isso de forma bem distinta aqui nos EUA, onde o sistema de Educação da Música Clássica precisa de modificações urgentes, e também posso imaginar que a situação aí no Brasil seja semelhante.

Presgrave – Como ocorreu a mudança para os EUA?

Babini – Quando cheguei aqui, morei na casa do Aldo por alguns meses. Ir a Tanglewood foi uma nova experiência para mim. Deram-me o primeiro prêmio, que estava sem vencedor há três anos, e toquei as Variações Rococó de Tchaikovsky, com Charles Munch regendo a Orquestra do Berkshire Festival, em Lenox.

Presgrave – Pode nos falar da sua experiência profissional nos Estados Unidos?

Babini – Fui durante 39 anos primeiro violoncelo da Detroit Symphony Orchestra. Toquei com a regência de Antal Dorati os Concertos de Barber e Walton pela primeira vez em Michigan. Certa vez, Dorati programou uma semana com composições de Samuel Barber e, então, convidou-me para tocar o Concerto de Violoncelo que estava inativo por mais de 13 anos. Fui tocar para Barber em Nova Iorque e Dorati convidou Barber para ir a Detroit. O compositor já estava com câncer em estágio adiantado, mas passou oito horas no Aeroporto de La Guardia tentando conseguir um vôo para Detroit. A costa leste americana estava toda coberta de neve e as más condições do tempo fecharam a maior parte dos aeroportos, de Nova York a Washington. Dorati mandou a gravação dos concertos para que o compositor pudesse ouvir e Barber escreveu uma carta, que foi lida em público por Dorati, expressando entre outros comentários que a interpretação do seu concerto “esquecido” trouxe um oceano de lágrimas aos seus olhos moribundos. Em Detroit, tivemos a sorte de ter o violinista Mischa Mischakoff como nosso spalla. Ele havia ocupado o cargo de spalla do Maestro Toscannini durante os 15 anos de existência da NBC Orchestra. Apresentei com ele o Concerto Duplo de Brahms quarenta e duas vezes, com as mais diversas orquestras americanas. Também com ele, toquei em um trio que foi muito bem recebido pelas platéias americanas. A nossa pianista, maravilhosa, era a Ruth Smith, mãe do renomado violoncelista Brinton Smith. Eu fui o primeiro professor de violoncelo do Brinton, guiei as mãos deles pela primeira vez quando ainda tinha sete anos e sinto-me muito feliz por tê-lo feito. Antes de me mudar para Detroit, passei seis meses como primeiro violoncelo da Connecticut Symphony Orchetra, cujo Diretor Musical era Joel Perlea, que era ao mesmo tempo Diretor da Orquestra de Bamberg. Ainda em Detroit, participei das comemorações dos 100 anos de relações entre EUA e Finlândia. O mais importante violoncelista finlandês, Arto Noras, veio a Detroit e eu fui a Helsinque tocar Schlomo com a Filarmônica de Helsinque. Uma orquestra formidável, mas o frio de dezembro era algo horroroso.

Presgrave – Pode nos falar sobre a história do seu violoncelo?

Babini – A história do meu Andrea Guarnerius Figlius (de 1708)… O grande Paul Paray era o Diretor Musical da Detroit Simphony Orchestra. Eu tinha um instrumento bastante inferior e Paray me colocou como solista do Don Quixote de Richard Strauss. Em Boston, um crítico escreveu uma matéria com grandes elogios e também mencionou que “a DSO deveria oferecer ajuda para Babini comprar um instrumento de qualidade superior” (Deus abençoe esse crítico do Boston Globe). O Conselho da Orquestra me autorizou a procurar um instrumento e, assim que coloquei meus olhos no instrumento em Chicago, sabia que era o instrumento que o universo tinha me mandado. Na época, a orquestra pagou quatorze mil dólares. Imagine que hoje em dia esses instrumentos podem chegar a dois ou três milhões. Eu paguei tudo de volta e a orquestra utilizou de um artifício para que eu ficasse vinculado: eu só poderia pagar vinte e cinco dólares por mês e não poderia me desligar do grupo enquanto estivesse pagando. Você conhece uma música popular que diz: “Pegou o touro amarrado no pé de cajarana”? Atualmente, tenho um Matteo Goffriller, que minha filha Susan está usando. O Goffriller está em uma condição primorosa, não tem nenhuma rachadura e está em uma condição de preservação incrível. O Gofriller foi comprado em Londres, quando vendi o Guarnieri.

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

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