Retrospectiva 2021: top 5 das melhores cervejas

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Olá, cervejeiros saudosistas!

Confesso que eu amo escrever. Amo ainda mais escrever sobre cervejas semanalmente nesse espaço do Blog Papo Cultura. Acrescento, um dos textos fixos que eu mais gosto de escrever é justamente a retrospectiva anual, no caso, de hoje, a retrospectiva 2021.

Não podemos apontar que 2021 foi tal qual 2020, um cover do protagonista do filme Matrix (Keanu oh-Reeves – agora em modo turbo em Resurrection). Entretanto, 2021 também não foi nenhum primor, convenhamos. Ainda assim, pode-se dizer que no âmbito cervejeiro (e musical) tivemos algumas boas novidades.

O texto, portanto, vai buscar fazer um breve apanhado, em 5 atos, sobre as melhores cervejas do ano, com a devida recomendação musical dos melhores álbuns lançados.

A metodologia é simples, é necessário que a cerveja tenha sido lançadas em 2021 e tenha sido degustada (por mim, obviamente) no mesmo ano. Recorri aos meus alfarrábios estatísticos do Untappd para lhes trazer tal apanhado. O mesmo vale para as recomendações musicais (vide acervo do Last.FM).

Depois de mais de 437 cervejas diferentes provadas ao longo do ano (meu Untappd não me deixa mentir) e de mais de 185 álbuns lançados em 2021 ouvidos na íntegra (meu Last.FM também não me deixa mentir), acho que me qualifico como um bom julgador em ambas as frentes.

Esse é um dos únicos textos que é desenvolvido ao longo de todo ano, já que sempre é uma retomada do que foi feito, experimentado e pensado noutras ocasiões.

Assim, convido-os a mergulhar numa saudosa retrospectiva 2021, sobre as melhores cervejas e os melhores álbuns musicais do ano! Saúde!

#1 Cerveja: Areté – Tomo II, da cervejaria Spartacus

A melhor cerveja degustada por mim em 2021 foi a Areté – Tomo II. Uma cerveja sobre a qual eu até já falei noutra oportunidade, quando falei sobre o salto qualitativo das cervejas Barrel Aged no mercado cervejeiro nacional (clique aqui).

Na oportunidade, mencionei que o embate maior era entre ela e a Ynfynyty da Croma, já que se encaixam (quase) no mesmo estilo, tanto que optei pela Areté – Tomo II, e também fiz a escolha por colocar apenas uma delas no ranking.

Ela é uma cerveja do estilo Russian Imperial Stout composta por um blend de cervejas que transitaram em barris diversos, como, por exemplo, os do Weller Wheated Bourbon, do Woodford Reserve Double Oaked e do Pikesville Rye Whiskey. Possui também adição de favas de baunilha e de cacau amazônico e guianês.

Alcançou nota máxima no Untappd: 5/5 (assim como todas as demais cervejas aqui listadas, por isso não mais repetirei essa informação, utilizarei apenas a outra mensuração) e numa escala macro de 100 pontos ela atinge 99 pontos.

Simplesmente um altíssimo nível de complexidade! Carimba o número um nela!

#1 Álbum Musical: Iskuros, da banda Plastique Noir

Confesso que tenho pouquíssima proximidade com a música e a cultura gótica em geral, menos ainda com a cena gótica nacional. Contudo, o melhor álbum (Iskuros) do ano pertence a esse estilo e é de uma banda cearense (Plastique Noir). O álbum em referência alcançou nota 98, numa escala de 100 pontos totais.

Misturando letras em português e em inglês, teores políticos e sociais com bom-humor, batidas dançantes com uma pegada gótica-eufórica-deprê, esse é de longe o melhor álbum do ano! Não tem como não se viciar em refrãos chicletes e politizados como “Quero cafeína não quero cloroquina! Quero qualquer ‘ina’ só não quero cloroquina!”. Coisas que parecem até que eu mesmo quem escrevi.

O grande destaque fica para os vocais icônicos de Ayrton S. O vocal dele é uma mistura de Renato Russo com Humberto Gessinger. Também tem algo de Cauby Peixoto em seus tons vocais lúgubres-pop. Acrescento, por fim, que é tudo isso junto, com pitadas de Peter Steele e Robert Smith.

São realmente linhas vocais únicas e marcantes em um álbum definitivamente memorável.

Brindo-vos com a recomendação da exuberante faixa “Catedrais em Chamas”, a melhor do álbum.

“O mal-estar deixou sua marca nesse tempo,

que ainda tortura quem já foi crucificado…”

#2 Cerveja: Peixe-Lua, da cervejaria Captain Brew

Admito que comprei a cerveja Peixe-Lua, da cervejaria Captain Brew, sem muitas pretensões na época. Pensava que poderia ser, no máximo, boazinha… nada demais e que pouco chamaria minha atenção no geral…

Fui totalmente surpreendido!

Apesar de despretensiosa, a Peixe-Lua é simplesmente um espetáculo engarrafado! Sua base é uma Tripel Ale, no entanto, por causa dos múltiplos envelhecimentos em diferentes tipos de barris, ela deve ser considerada como uma American Wild Ale. Muito selvagem pelo sinal.

Ela é um blend de uma base jovem (Tripel) com outras duas cervejas que passaram, respectivamente, por um barril que continha vinho Tannat e outro barril que continha anteriormente cachaça. Assim, os barris conferem camadas de aroma com coco, baunilha, mirtilo, morango, amoras, cravo. No sabor, os taninos são evidentes, a acidez amigável, adornada também com notas de laranja, banana, figo, damasco, e com um final doce para arrematar bem o conjunto.

Estupenda! Alcançou numa escala macro 97 pontos.

#2 Álbum Musical: Mære, da banda Harakiri For The Sky

Tal qual a cerveja #1, o segundo melhor álbum do ano também já deu as caras por aqui (quando falamos de Growlers).

Certamente, o álbum do ano da banda Harakiri For The Sky é a nata da nata do que se convencionou chamar de Post-Black Metal. Com grandes participações, a exemplo do que o versátil e rápido Krimh faz na bateria, e também com o complemento de Neige do Alcest fazendo vocais em uma das faixas. Mære foi muito aguardado e correspondeu totalmente.

Um álbum capaz de atingir 96 pontos, na escala de 100 pontos máximos.

Fica como recomendação a faixa em que o Neige dá seu show particular, a depressiva, rápida e visceral Sing for the Damage We’ve Done.

#3 Cerveja: Red Power, da Dude Collective Brewing

Difícil escapar das Pastries Stout’s na listagem final, isso é um #fato.

Porém, aqui, ela vem com todo o seu esplendor!

O terceiro lugar é ocupado brilhantemente pela Red Power, uma das excelentes Patries da Dude Collective Brewing lançadas nesse ano de 2021. Ela alcançou a nota de 95 pontos.

A cerveja emula (com maestria) a sobremesa americana Velvet Cake! Já chama atenção pela sua cor, avermelhada, resultante da adição de beterraba (que não influencia muito o sabor, ressalte-se) e atinge seu ápice com suas notas achocolatadas advindas de cacau amazônico plantado no Estado do Pará.

Seu sabor estupendo também é acompanhado de notas terrosas e de muitas frutas vermelhas. A cerveja finaliza com um amargor médio, corpo alto, bastante chocolate e algumas notas de café, para deixar o conjunto bem equilibrado.

Certamente, ela é digna do nosso pódio cervejeiro.

#3 Álbum Musical: Helloween, da banda Helloween

O álbum homônimo da banda alemã de Power Metal, Helloween foi o melhor em seu segmento (bisonhamente conhecido no Brasil como “metal melódico”) e conseguiu faturar a terceira posição geral, marcando 93 pontos no geral.

Depois da reunião da banda, finalmente foi possível engendrar um álbum com os três vocalistas da banda cantando ao mesmo tempo. Uma verdadeira explosão vocal ter Hansen (que assume também nas guitarras base), Kiske e Deris alternando vocais e até mesmo combinando-os com uma harmonia incrível entre eles.

Para além da parte vocal, há muita harmonia musical em todos os seguimentos! Guitarras duplas (e, às vezes, triplas) duelando, baixo pulsante, bateria bem marcada e alguns solos de teclado para não esquecermos de onde vem o poder do Power Metal alemão.

A recomendação musical do álbum fica por conta do colosso de 12 minutos chamado: Skyfall. Seu clipe é igualmente épico e retrata bem o espírito da música, que fala sobre um alien que caiu do céu (literalmente) e por isso começou a se sentir um pouco “para baixo” aqui na Terra… Por que será?

obs. Infelizmente, o clipe oficial foi feito com a edição do single, com apenas 6 minutos de duração.

#4 Cerveja: The Big Picture, da cervejaria Spartacus

Indubitavelmente, a cervejaria Spartacus é uma das melhores do Brasil, se é que não é a melhor, definitivamente. Não falo isso por mera afinidade, já que também a critico quando necessário, almejo ser, sempre, imparcial.

Contudo, é cristalina a sua versatilidade cervejeira, emplacando duas posições no Ranking da Retrospectiva 2021, com uma Barrel Aged e com uma Triple NEIPA.

Tem quem diga que suas RIS’ usam maltodextrina (algo que eles negam) e há um infame vídeo que os acusam de manipular o teor alcoólico nas Triple NEIPA’s (em breve, um texto sobre esse tema por aqui, aguardem). Mas, a verdade é que eles são sensacionais em suas produções.

No quarto lugar, emplacaram a The Big Picture, uma TIPA com a lupulagem não divulgada, apenas com a menção que foi usado um blend de Cryo POP™, a qual foi atribuída a nota de 93 pontos.

Ela possui um perfil altamente terpenado no aroma, exalando muito zest, limão, lima, e algum mentolado também. No sabor, ela possui um corpo muito alto, suave e bem cremoso. Seu dulçor residual é baixo, e seu amargor quase zero. Bastante cítrica e refrescante. É uma cerveja muito juicy e turva, com uma cor bem clara.

Surpreendente! Harsh 0!

#4 Álbum Musical: Montero, de Lil Nas X

A The Big Picture usou Pop Cryo Blend em sua composição para combinar com o representante do Pop na nossa lista musical: o álbum de estreia de Lil Nas X, denominado Montero (que é o nome de registro do Rapper em questão, saliente-se), ganhou 92 pontos em minha lista anual. Sim, para mim, Rap, Hip-Hop, Funk, R’n’B e afins entram na categoria maior denominada: “Pop”.

O álbum é bem variado, varia do Rap ao Hip-Hop, mas também tem alguns momentos com guitarras mais estridentes e sem tantas rimas (vocais mais cantados). Sempre com vocais cativantes do astro principal. Claro que sua estética estridente e de apelo chocante são seus atrativos principais, contudo, a qualidade musical também é salutar.

A melhor música do álbum é também a recomendação musical (o que não aconteceu na maioria das recomendações até o momento), e já era minha favorita antes de ter um clipe.

O clipe é um tanto quanto que inspirado no filme “O Segredo de Brokeback Mountain” (bem cliché), mas a música é realmente muito boa, com suas linhas acústicas e seu ritmo mais acelerado.

Confiram.

#5 Cerveja: Multiverso, da cervejaria Devaneio do Velhaco

A última cerveja colocada na lista das melhores do ano é a Multiverso, da cervejaria Devaneio do Velhaco.

A cervejaria em tela lançou dois kits de cervejas Barrel Aged esse ano, que vinham em caixas de madeira personalizadas: um mediano (o primeiro) e um muito bom (o segundo, no qual se insere a cerveja Multiverso). A cerveja em apreço, a Multiverso, é uma Wheatwine, sabidamente um dos meus estilos favoritos, e, diferentemente das demais do kit, não é envelhecida (em barris, apenas em garrafa).

No entanto, o não-envelhecimento em barris, não faz com que ela seja menos interessante que suas congêneres de kit. Pelo contrário, o envelhecimento em garrafa já foi capaz de prover bastante oxidação (positiva), e muitas notas de complexidade, e um certo tom fenólico diferenciado.

Tem um teor alcoólico altíssimo (15%) o que a faz candidata a ser estrela solitária da noite. Ademais, como o próprio estilo pede, tem um dulçor bem forte, que combina bem com sua proposta diferenciada e extremista (no bom sentido cervejeiro, é claro). Tem múltiplas camadas maltadas, o que lhe faz ter notas de toffee, muito melaço e um perfil de “Maillard” bem complexo.

Uma cerveja ímpar, que te fará viajar entre vários “versos” da multiplicidade quântica dos instantes da vida.

#5 Álbum Musical: Noktvrn, da banda Der Weg Einer Freiheit

Der Weg Einer Freiheit (numa tradução livre do alemão, quer dizer, o caminho para a liberdade) é uma banda que não cansa de surpreender. É classificada como Black Metal, contudo, seu som é progressivo e avant-garde o suficiente para que eles testem e empurrem os limites dessa classificação o tempo todo.

Com o álbum Noktvrn, que atingiu incríveis 92 pontos na contagem geral dos melhores plays de 2021, a banda mais uma vez se destacou. Se a discografia da banda já é algo pouco usual, o álbum em relevo é ainda mais inovador.

Atmosferas calmas, blast-beats ultrassônicos, texturas esparsas e riffs de guitarras em tremolo são apenas a parte já costumeira. Some-se a isso longas passagens com teclados, toda criatividade do compositor Nikita Kamprad, o qual até usa vocais em falsete durante uma canção inteira (a última do álbum, chamada Haven).

A recomendação musical fica com a canção: Monument.

Com o perdão do trocadilho, um verdadeiro monumento musical do corrente ano. Um vídeo gravado ao vídeo, com a tecnologia VR (virtual reality) em 360°, aproveite para movimentar livremente a câmera e focar no seu instrumento favorito.

Saideira

Adoro listas e recomendações de final de ano. Fazer a retrospectiva do que foi bebido (de bom e de ruim) e escutado (do maravilhoso ao péssimo) é um dos melhores momentos, e um dos mais saudosistas também.

Por isso que digo que esse é um texto feito um pouquinho a cada momento do ano, sempre recorro a alguma anotação para poder escrever com mais precisão, já que algumas lembranças não são exatamente recentes.

Relembrar é viver, por isso que a retrospectiva é parte desse exercício de ressignificação das vivências tidas.

Este foi o TOP 5 do ano. E seu qual seria? Concorda com esse? Tiraria alguma indicação? Acrescentaria alguma?

Comentem se gostaram.

Recomendações finais

Deixo o link final com a lista completa de todos os álbuns, por estilo e por nota, em uma tabela do Excel que eu monto ao longo do ano.

https://docs.google.com/spreadsheets/d/1KRFwsHWsj-s3yiVZ4tyRAz3IB_odphiE/edit?usp=sharing&ouid=105733936720101897366&rtpof=true&sd=true

Fica a dica para quem quiser conhecer mais algumas coisinhas inusitadas ou que passaram despercebidas no seu radar.

Saúde e boas cervejas/músicas!

Feliz 2022!


FOTO DA CAPA: publicada no face Doutor Breja

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

Sigam-me no Untappd (https://untappd.com/user/Ericksen) para mais avaliações cervejeiras sinceras, sem jabá (todavia, se for dado, eu só não bebo veneno).

A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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