Pode ser impressão, mas percebo nova pandemia em Natal para além da Covid: um verdadeiro surto de carência afetiva, sobretudo amorosa. Seja nos apps de relacionamento, seja em baladas, bares e afins ou mesmo em pessoas as quais me relacionei.
O texto de Carlota publicano semana passada neste espaço explica um pouco isso. O título “Ser solteira em Natal, clichê ou sorte” soa irônico, mas flerta mesmo é com a realidade, com a falta de interesse em relações compromissadas, sólidas, por parte dos homens.
E apesar de concordar com as palavras da nossa nova colunista, acho que cabe um complemento, um outro viés que também explica esse epidemia de carências. E não é defesa do homem em geral, mas de um pequeno nicho da espécie: o tímido.
Carlota questiona a falta de atitude dos homens, elenca estereótipos realmente comuns nos quarteirões badalados de Natal e da preguiça dos joguinhos de interesse. Mas, penso, há uma mea-culpa nesses cenários: a das mulheres, vítimas ou fãs, dos hétero tops.
A expressão hétero top surgiu recentemente. Tem algumas interpretações. A minha sugere um oposto ao homem tímido. O hétero top é inflado de autoconfiança, normalmente alimentada pela beleza física e pelo status financeiro, com boas doses de machismo.
Uma alto-estima que transmite segurança, testosterona elevada e saltam aos olhos das mulheres carentes de afeto, de “cangote para cheirar”, da “conchinha para dormir”, da “barba para roçar no pescoço”, como citou Carlota. E nesse afã são fisgadas facilmente como mais uma figurinha para a coleção.
Os hétero tops são produtos da modernidade, desse mundo de amores líquidos, da valorização do ter em detrimento ao ser; da pressa, do instantâneo, da ansiedade e, porque não, de um resultado possível para esse combo: a depressão.
E a carência, a fantasia do príncipe dura o tempo de uma balada, talvez até de apenas algumas canções sertanejas ou pagodes repetitivos. E ao fim, a solidão costumeira para as mulheres carentes, ou alguns momentos de diversão às que tinham realmente essa única intenção.
Ali ao lado, provavelmente, estava aquele tímido simpático, interessado em algo mais. Um rapaz sem aquele queixo quadrado, sem sobrancelhas perfeitas ou relógio de marca no pulso. Também sem iniciativa para uma abordagem certeira, de sucesso.
Mas certamente um homem bem intencionado, com mais neurônios, com interesse em viver a mesma alquimia de desejos e que, se ultrapassada a enorme barreira do primeiro passo, da iniciativa, poderia suprir a tal carência afetiva.
“Ah, mas gosto de homem de atitude”. Precisa ser, necessariamente, a primeira atitude? Será que o hétero top é tão cheio de atitudes após a conquista? Será que o tímido não pode lhe surpreender se partir de você a abordagem?
Se há um mundo de homens privilegiados socialmente, fãs de campari e áreas vip, há também o de mulheres empoderadas capazes de salvar esse realidade. Então, que tal você, mulher desprendida e livre de preconceitos, enviar um bilhetinho àquele cara de sorriso contido, de olhar mais perdido, mas que transborda simpatia e boas intenções?
O mundo pode ser de vocês!
2 Comments
Sérgio, acho que o teu texto foi complementar ao da Carlota,sabe? Um pouco de lá e um pouco de cá e “montamos” o homem perfeito: introspectivo no início e um espetacular após algum introsamento participativo.
Acho fofo homem tímido, mas isso não significa necessariamente sem atitude, não é mesmo? Além disso, as Redes e os App’s estão aí para ajudar a acabar um pouco com essa timidez e criar relações, ainda que superficiais. Mas tudo vai depender do quão genuíno estão sendo os diálogos!
Posicionamentos aceitos: vamos à caça aos tímidos! Hahaha
Eu diria que a dificuldade maior é a primeira atitude, a iniciativa. E aí falando por mim, depois da pra desenrolar bem rs. Qto aos apps e Redes sociais, sim, é ótima ferramenta. Estou por lá rs