Singularidade de uma Rapariga Loura

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À luz dos pressupostos estéticos do Realismo, se faz necessário uma apreciação crítica do conto “Singularidade de uma Rapariga Loura”, de Eça de Queiroz, onde é possível apontar alguma moralidade embutida no desfecho do conto.

“Os Marcarios eram uma antiga família, quase uma dinastia de comerciantes, que mantinham com uma severidade religiosa a sua velha tradição de honra e escrúpulos”. A Revolução Industrial, iniciada no século XVII, entra numa nova fase, caracterizada pela utilização do petróleo e o desenvolvimento do comércio. O protagonista trabalha em um armazém quando conhece a formosura de uma mulher loura.

Essa nova sociedade serve de pano de fundo para esse conto de Eça de Queiroz, que pode gerar uma postura ideológica da realidade, preocupando-se com a verossimilhança no arranjo dos fatos selecionados, unificando, apontando numa direção. O autor expressa uma certa preferência por personagens populares e vulgares: um tradicional comerciante cego de amor por uma loura, cujo comportamento é condenável e moralmente delituoso.

Na casa de Vilaça há uma descrição de uma reunião social burguesa, segundo os padrões do romantismo. Ideologicamente, o autor é visivelmente antimonárquico, assumindo uma defesa clara do ideal republicano. Nega a burguesia a partir da célula-mãe da sociedade: a família. A hipocrisia é destacada com uma análise completa do ocorrido na casa dos Arcos, quando uma moeda de ouro é subtraída por Luíza (a rapariga loura) e o nosso herói finge não perceber o roubo, o primeiro sinal de um comportamento estranho, ajudada por um tal “amigo do chapéu de palha”, que mais tarde engana o próprio Macário. Tempos depois, o tio do protagonista desconfia que Luísa também subtrai uma caixa de lenços, mostrando uma personagem complexa, característica do Realismo.

Quando Macário “pediu licença para casar”, o tio Francisco o expulsou de casa para que ele pudesse enxergar a realidade da vida. A cada dia, nosso herói ficava mais pobre, mas não deixava de ver a amada todas as tardes, e as vezes naqueles encontros Luíza tinha sono: “era muito singular o temperamento de Luíza. Tinha o caráter louro como o cabelo”.

Quando Macário não tinha mais dinheiro, Luíza o proibiu de vê-la: “Macário rompeu a chorar, os soluços saíam violentos e desesperados”. Nesse momento, imbuído pela paixão, o protagonista foi procurar lucros em Cabo Verde para poder casar com sua querida Luíza. Quando voltou da viagem perdeu todo o dinheiro por ser fiador de um “amigo do chapéu de palha” e quando se viu só e pobre, destacou-se a chorar.

Mesmo diante de tantas evidências acerca da anormalidade do comportamento de Luíza, Macário continuava cego pelo amor e pela paixão. Numa loja do ourives, quando o casal estava na plenitude do amor e da alegria, Luíza roubou um anel e o “caixeiro começou a olhar fixamente para Macário”, desconfiando da sua noiva. Foi nesse momento que o nosso herói percebeu que sua noiva era uma ladra e a mandou ir embora. A moralidade do herói, por ser um homem honesto, choca-se com o comportamento cleptomaníaco de sua amada, que é rejeitado por ele no final do conto.

Os incidentes mostrados no conto “Singularidade de uma Rapariga Loura” decorrem do caráter das personagens e os motivos humanos que dominam a narrativa. São seres humanos completos, vivos, cujos motivos e emoções, o Realismo retrata e interpreta com fidelidade. Daí a relação com a psicologia humana.

Alex Gurgel

Alex Gurgel

Fotógrafo e viajante

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