Chegou o fim de ano, aquele período mágico onde acumulamos promessas, calorias e contas. É o momento em que acreditamos, com a fé ingênua de quem compra roupa branca na promoção, que uma virada de calendário pode resetar nossas vidas. Confesso: sou a rainha do “ano que vem vai ser diferente”. Meu otimismo tem a força de uma adolescente apaixonada, mas a resistência de uma dieta começada na segunda-feira.
Para mim, o ano acaba com uma overdose de reflexões. Sabe aquele meme: “não sei se conto o que vivi ou o que sobrevivi”? Pois bem, eu conto os boletos, os livramentos e, com sorte, algumas vitórias. Enquanto rola a trilha melancólica da retrospectiva na TV, a dúvida me consome: “será que fiz o suficiente?”. E a resposta automática vem: claro que não! Porque vivemos com a régua tão alta que até um salto 15 se sente intimidado.
Esse é o peso das expectativas, o fardo das listas intermináveis e a eterna sensação de que o tempo escorreu pelos dedos. Enquanto escrevo aqui Letrux canta:
“Na mala do carro, de costas pra rua
Dando um tchau pro carro que vem de frente
Vem de frente pra gente…
Tô louca pro mundo acabar. Tô louca pro mundo começar.”
E é isso. Substituo “mundo” por “ano” e sigo viagem. Enquanto o carro do ano que passou se afasta, o do ano novo vem em nossa direção, e a gente vai, meio desajeitados, tentando arrumar as malas no meio do caminho, carregando só o que vale a pena.
Fim de ano é época de limpeza – dos armários, das mágoas e, claro, das agendas. Vou confessar: sou completamente viciada em agendas. Tenho umas cinco, todas iniciadas com entusiasmo, frases motivacionais e canetas coloridas. E todas terminam abandonadas, como as promessas de entrar na academia.
Aí vem a temporada de planejamento. Ah, as estratégias! Lindas no papel, caóticas na prática. Quem nunca fez um plano detalhado e acabou tomando decisões ao som de um “seja o que Deus quiser”? A verdade é que confundimos organização com garantia de sucesso. Fazemos listas e metas como CEOs de nossas vidas, mas o universo opera como um estagiário de marketing: confuso, criativo e, às vezes, catastrófico.
Planejar é como lavar Tupperware!
Uma tarefa mundana que ninguém celebra, mas todos enfrentam. É chato, às vezes pegajoso, e sempre exige mais esforço do que parece. As tampas somem, o sabão escorrega, mas quando está tudo limpo e organizado, a vida parece fazer um pouco mais de sentido. Planejar é como aquele plástico brilhante no escorredor: um pequeno triunfo cotidiano para manter o caos à distância.
Mas calma, existe a esperança. Para 2025, adotei uma abordagem diferente: em vez de planejar o que quero, vou listar o que não quero mais. Tipo:
- Não quero mais dar moral para quem não merece.
- Não quero fingir que gostei de um presente horrível e da comida ruim só para ser educada.
- Não quero fingir que sei o que estou fazendo na vida (spoiler: ninguém sabe).
- Não quero as opiniões que eu não pedi.
- Não quero menos do que mereço – seja em afeto, dinheiro ou amizade.
Será que vai funcionar? Quem sabe? Mas se eu me livrar de relações tóxicas e trabalhos que pagam mal, já é um começo.
Porque, no fundo, a vida é isso: um eterno malabarismo entre tentar ser leve e se manter firme. É como pular ondas no Réveillon – a gente tenta se equilibrar, se molha um pouco, ri muito e, no fim, sai com a sensação de que talvez tenha valido a pena.
Ah, e sobre a tradicional lista de resoluções? Este ano, vou deixar a cargo do universo. Afinal, ele pode ser confuso, mas sabe nos surpreender. E, se der errado, pelo menos vou ter uma boa crônica para escrever no próximo dezembro.
2 Comments
Sempre maravilhosas as suas crônicas!!!
Parabéns, obg e um 2025 lindo e cheio de alegria pra vc 😘
Pessimista e otimista na medida certa! Amei! Porque, acima de tudo, é realista!