Porque beber cervejas (ao invés de vinhos) no Chile

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Cumprimentos, cervejeiros e viajantes!

Depois de uma breve pausa nos textos de aproximadamente quinze dias, vamos retomar aos textos cervejeiros semanais.

A referida pausa foi mais do que justificada, afinal, tive uma rápida, porém bastante proveitosa, digressão no território chileno, na qual, pude aproveitar para beber cervejas locais e importadas (que não chegam aqui no Brasil).

O ponto fundamental que consegui alcançar nesses 15 dias do outro lado da cordilheira foi que, em termos valorativos e econômicos, vale mais a pena beber cervejas do que vinhos no país visitado. Isso pode até ser um contrassenso, já que Argentina e Chile (com suas 4 regiões e 13 sub-regiões vitivinícolas demarcadas) são reconhecidamente grandes produtores de vinho na América do Sul, tendo muito mais destaque nessa área que o Brasil.

Contudo, no decorrer do texto vou tentar explanar melhor esse entendimento. Ele não se foca na premissa de que os vinhos chilenos não são bons, muito pelo contrário, eles são excelentes, e, por mais que eu não tenha tanta bagagem no fermentado de uva quanto no líquido das massas, é possível traçar um paralelo de valor ao degustar ambos no país citado.

Assim, convido-os a ler a minha opinião sobre porque é melhor beber cervejas, e não vinhos, ao visitar o Chile.

Beber cervejas no Chile, mas trazer vinhos na mala

Inicialmente, cumpre trazer uma notícia que é uma verdadeira utilidade pública, embora, por vezes, não tão conhecida pelos viajantes.

Em viagens internacionais, cada pessoa pode trazer ao Brasil até 12 litros de bebidas alcoólicas. Reparem que não são 12 garrafas ou 12 latas, e sim, 12 litros, somando todos os recipientes. A peculiaridade de quem viaja para o Chile, é que pode trazer, na bagagem de mão, até 5 litros de bebidas alcoólicas, algo que na maioria dos países é vedado, pois há o limite de apenas 100ml em frascos nesse tipo de bagagem.

Claro que os limites de valores alfandegários (até 1000 dólares) devem ser respeitados, bem como o limite de porcentagem alcoólica da bebida, que deve ter até 70% de teor alcoólico.

Dada a informação de teor público, eu conclui que trazer os vinhos na mala (seja de mão ou despachada) acaba sendo mais vantajoso do que beber por lá. A princípio, porque os vinhos vendidos em taça geralmente não são os melhores e os valores não são tão atrativos.

Por outro lado, fazer compras em distribuidoras especializadas, como a Cavas de la Reina, ou no Supermercado Diez, acaba sendo bastante vantajoso quando se compra acima de 6 unidades de vinho (não precisa ser tudo de um mesmo rótulo). Assim, trazer os mais caros na bagagem de mão é ainda mais vantajoso, pois, zera-se o risco de que eles quebrem ou vazem.

Bebendo cervejas no Chile: as cervejas importadas

Quanto às cervejas, em alguns casos, pode ser deveras vantajoso trazê-las na bagagem, despachada ou de mão. No entanto, eu acredito que há maior vantagem em bebê-las por lá, tanto nas versões enlatadas ou de garrafa, quanto em bares especializados.

A princípio, há de se dizer que, ao contrário do nosso vizinho, a Argentina, passear e turistar de um modo geral no Chile é muito caro! Muito caro mesmo! Principalmente a questão da alimentação. Para quem não mora num grande centro como Rio ou São Paulo e não está acostumado a pagar mais de 150 reais em um prato individual no restaurante, os preços no Chile realmente soam proibitivos.

Todavia há a particularidade que no Chile, cervejas e vinhos não são caros! Acredito que com relação aos vinhos chilenos o motivo disso seja bem óbvio, mas, quanto às cervejas, tanto as nacionais quanto as importadas, não são caras! Pelo contrário, eu acredito que o custo-benefício das cervejas importadas no Chile é quase que imbatível!

E não estou falando de cervejas importadas comuns que se acha em qualquer supermercado do Brasil ou algo parecido. Estou falando de cervejas renomadas, principalmente belgas e americanas, como To Øl, Evil Twin, Omnipollo, 3 Fonteinen, Fantome e De Struise, dentre outras mais.

A maioria delas, inclusive as Barrel Aged, saindo com preços convidativos orbitando entre 50 e 70 reais. Algo que eu vi no Brasil apenas em 2014, quando o dólar não era nem 3 reais e ainda existia o Wbeer (depois, Clubeer) vendendo nessa faixa de preço. Ou seja, são preços realmente muito atrativos.

De modo comparativo, é impossível, mesmo no Chile, conseguir um vinho local, de qualidade equivalente, por esses mesmos preços, simplesmente não existe!

Bebendo cervejas no Chile: as cervejas nacionais

De outra banda, o mercado de cervejas artesanais chilenas parece ter sofrido uma certa estagnação nos últimos anos. Falo isso porque minha última visita a um dos países mais sísmicos do mundo havia sido em 2018, ou seja, há mais de 5 anos, e, infelizmente, não vi uma evolução na oferta local.

Certamente que o Chile conta com boas cervejarias, como a Granizo, a Jester, Bundor e Hasta Pronto, para citar as artesanais, já que a maioria conhece apenas a maior e mais famosa, a Kunstmann. Na época da minha visita anterior (2018), a Granizo, por exemplo, já produzia cervejas Barrel Aged, e utilizava muito bem barris de vinhos de vinícolas locais, algo mais do que adequado, dada a facilidade em adquiri-los.

Contudo, parece que 5 anos depois, não houve nenhuma curva de evolução no nível das cervejas produzidas localmente. Todo o potencial que eu havia experimentado naquela ocasião não desabrochou como se poderia esperar. De modo que as cervejas que bebi agora não empolgaram e pareceram mais do mesmo. Até mesmo as cervejas da Granizo, que eram sempre mais destacadas qualitativamente no mercado local chileno.

Cotejando o cenário chileno com o brasileiro, não há como notar que estamos anos-luz à frente dos nossos “Hermanos”. O mercado nacional é muito mais desenvolvido e a qualidade das cervejas brasileiras é bem superior, sem comparação factível entre eles.

Derradeiramente, as cervejas nacionais chilenas acabam tendo um bom custo-benefício, já que costumam variar entre 20 e 35 reais, sendo as mais caras envelhecidas em barris. Então, acaba sendo algo viável experimentar uma ou outra cerveja local para conhecer o que está sendo feito lá do outro lado da cordilheira.

Saideira

No geral, no texto de hoje, tentei mais transmitir a surpresa que pode ser para alguém ao chegar no Chile observar a variedade de cervejas importadas a um preço tão acessível e se questionar se essa não seria uma opção mais adequada ao óbvio. Já que o óbvio seria beber e consumir, prioritária e preferencialmente, vinhos. Haja vista que a fama do país é por esse tipo de bebida.

Inobstante, pretendo nos textos seguintes, trazer mais pormenorizações de onde comprar e também de onde beber cervejas no Chile, em especial em Santiago e em Viña del Mar, que foram os dois locais em que estive. Algo que sirva mais como um guia ou um manual de onde comprar e onde beber as melhores cervejas com os melhores preços, sempre.

Em conclusão, eu deixo a indicação de que é melhor consumir, localmente, cervejas, principalmente as importadas, que valem bem mais a pena, e deixar os vinhos para serem trazidos e degustados no retorno, já que as suas garrafas podem ser encontradas a melhores valores que seus similares em taça.

No geral, eu repito, o Chile é um país muito caro de se visitar e de se passear (mais caro que muitos países da Europa), os preços nos tours de degustação nas vinícolas costumam ser bem altos, e elas não são fáceis de chegar. Então, preferir beber as cervejas importadas a preços bem razoáveis e acessíveis é uma pedida bem mais justa, qualitativa e economicamente.

Acredito que é melhor subverter a lógica do senso comum e beber cervejas ao invés de vinhos ao se visitar o Chile!

Recomendação Musical

O Chile é um país muito interessante, infelizmente, menos seguro desde quando fiz minha última visita (2018), ainda assim, acredito que valha a pena conhecê-lo.

Em termos musicais, fui apresentado dessa vez a uma banda icônica do país, chamada Los Prisioneros!

A banda fez muito sucesso na época da sanguinária ditadura fascista do Pinochet, e até hoje mora no corações de muitos chilenos. Grande parte de seu sucesso na época se deu em virtude da censura sobre seus álbuns, mas eles não faziam apenas letras políticas, como se pode ver na canção Estrechez de Corazón, e também sabiam fazer hits chiclete! Brindo-vos com essa pérola.

Saúde!

 

Lauro Ericksen

Lauro Ericksen

Um cervejeiro fiel, opositor ferrenho de Mammon (מָמוֹן) - o "deus mercado" -, e que só gosta de beber cerveja boa, a preços justos, sempre fazendo análise sensorial do que degusta.
Ministro honorário do STC: Supremo Tribunal da Cerveja.
Doutor (com doutorado) pela UFRN, mas, que, para pagar as contas das cervejas, a divisão social do trabalho obriga a ser: Oficial de Justiça Avaliador Federal e Professor Universitário. Flamenguista por opção do coração (ou seja, campeão sempre!).

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A verdade doa a quem doer... E aí, doeu?

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