POETA DA SEMANA: Marina Rabelo

PIX: 007.486.114-01

Colabore com o jornalismo independente

Marina Rabelo é formada em Engenharia Química pela UFRN, mas anda de mãos dadas com a poesia. É autora nos livros de poesia Por Cada Uma (Una, 2011), Livro de Sete Cabeças (Kelps, 2016) e Das coisas que larguei na calçada (Caravela Selo Cultural, Dezembro/2016). Também colaboradora das peças Memórias do Alecrim (Natal/RN, Agosto/2015) e de João ou Eu só queria ver os pássaros (Natal/RN, Novembro/2016), Marina, além de poeta e dramaturga, é também uma colecionadora de silêncios e isso está refletido em sua poesia.

Marina Rabelo é nossa POETA DA SEMANA

—————

ORIGAMI

nem sempre somos
o que queremos ser.

um dia,
pássaros.
um dia,
papel amassado
no chão.

[somos as dobraduras da vida]

—————

A POESIA (MENTE)

A poesia está na sala.
Nos restos em cima da mesa.
Inquieta e sedutoramente viva.

A poesia está no quarto.
Na poeira debaixo da cama.
Tranquila e assustadoramente só.

A poesia sorri,
Debocha e diz:
— A poesia não está.

E assim a poesia descaradamente é.

—————

DA NATUREZA

quando criança
caí entre cactos
ainda me sinto
cercada de espinhos

quando menina
pude gritar
desde então
trago ecos
dentro de mim

quando mulher
uni o espinho
ao grito

—————

Agora teu corpo
Está cheio de arame
Farpado.
Não me toques.
Desejos de muros
Altos.
A grama verde
Proibida de ser pisada.
Só falta uma placa:

Cuidado com o não
Raivoso.

—————

ETÉREO

cobri-me de rosas
colibri-me

—————

A MULHER E O ATIRADOR

pode me atirar
facas pedras pérolas
estou aqui
nua e oferecida

pode me atirar
balas bombas rosas
estou aqui
cega e estremecida

quero ser
seu alvo
sua vítima
a mulher de sua vida

(Obs: ‘a mulher e o atirador’ foi musicado recentemente por Antonio Ronaldo)

—————

quero escrever pra você
mas todo início do poema
parece uma música do Djavan
“só eu sei as esquinas
por que passei…” ou
“o amor é um grande laço
um passo pr’uma armadilha…”
desde quando caminho nesse
djavanear de sentimentos?
o amor é uma canção popular que
toca na 104 FM desde os anos 90
a gente conhece a letra de cor
nunca cansa e sempre dança
é um oceano de incertezas
talvez seja mais fácil mesmo
aprender japonês em braile
quem sabe se sim ou se não?
você continua adorando o
se…

—————

antes que eu anoiteça
soletro teu nome
descendo as escadas
degrau por degrau
da solidão
antes que eu esqueça
desenho teu rosto torto
no papel em branco
que está no bolso
da consolação
antes que eu mude
de telefone e endereço
ligo na tua casa
para ouvir o último suspiro
da rejeição
antes do primeiro delírio
um novo amor
antes do íntimo desespero
um novo amor
antes da falta de coragem
um novo amor
há de chegar

Sérgio Vilar

Sérgio Vilar

Jornalista com alma de boteco ao som de Belchior

WhatsApp
Telegram
Facebook
Twitter
LinkedIn

2 Comments

  • Marina Medeiros

    Uma engenheira das letras! Parabéns Xará!

  • Ruben G Nunes

    Muito bom Marina Rabelo! Muito bom!
    Gostei do teu ritmo, do teu toque. E da música….
    … que sai do teu silêncio sonoro…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidos do mês