Natural de Natal e erradicado na Paraíba, Allan Araújo tem como ofício a publicidade e a produção cultural. A poesia é sua ocupação pra alma e pro ego. É um “poeta etílico”, daqueles que tomam coragem após uns goles para recitar sua poesia, já que costuma guardar seus escritos como propriedade privada, sem nunca pensar em eternizá-los em livros ou outras plataformas. “Ser poeta sóbrio tem que ser poeta de ofício, poeta profissional, então sou mesmo um poeta amador e amando, e isso é o que importa”.
Allan Araújo é nosso POETA DA SEMANA:
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ACRÔNICO
Aqui vamos ao mar
Dias de luta encantada!
Desmembre o desafeto
No coração amargurado
Como um dia de mar,
em ondas desassisadas.
O tempo é quente
pra ser aproveitado,
em uma louca paixão.
Que é apenas desejo,
E que voa, voa longe
Se tornando diversão.
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FUGITIVOS
Ela entrou, a minha menina,
Chegou feliz feito um pássaro
Em uma mão uma flor que brilha,
Na boca uma música de rádio
Esta noite é a único do mundo
Cuja resposta ferirá nossos corações.
Onde de tão profunda angústia
pretendo em claros amanhecer!
Mas não – Minha juventude, não mais.
Adeus meu amor, feixe o doce que te dei.
Perfume-se, você menina, sempre em harmonia.
Felicidade se foi, passou – E dela eu fugi!
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ANDALUZ
Teus olhos , junção de eclipse lunar,
Com fragmentos estelar.
Luz incandescente, de brilho reluzente
a me incendiar.
Eu, solitário, solidário com resquícios
de uma ilusão.
Sobrevivo contemplando-te diante
da imensidão.
Balsamo raro, cura eu, cura você
Livrando-nos de nos perder.
Vida e cruz, caminho de luz.
Reluz andaluz!
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SE E SÊ
Se não puderes ser coqueiro,
Na beira da duna,
Sê uma carnaúba no vale, mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo,
Se faça um pouco de relva,
Então dê alegria a mais triste estrada.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas um miúdo atalho,
Se não puderes ser um sol,
Sê uma estrela num coração.
Não é pelo tamanho que,
Se mostrará êxito ou fracasso.
Sê tente melhor no que quer se sejas.